Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Arnaldo se copia em 'Já é' sem risco e sem evitar desperdício no longo disco

Resenha de CD
Título: Já é
Artista: Arnaldo Antunes
Gravadora: Rosa Celeste / Sony Music
Cotação: * * 

É no mínimo curioso que o 17º título da discografia de Arnaldo Antunes pós-Titãs, Já é, não reproduza no encarte as letras das 15 músicas inéditas que compõem o repertório do longo álbum. Com aviso de que as letras se encontram disponíveis no site oficial do artista paulista, Já é apresenta músicas com nível poético abaixo do histórico discográfico do cantor e compositor. Do ponto de vista musical, o CD confirma a apatia que o álbum anterior do artista, Disco (Rosa Celeste / Radar Records, 2013), já havia sinalizado. Arnaldo parece estar compondo no piloto automático, repetindo fórmulas e parceiros. A maioria das 15 músicas de Já é soa como rascunho diante de um cancioneiro que alcançou picos de beleza poética e melódica da segunda metade da década de 1990 até o fim dos anos 2000, encerrados em grande estilo com a edição do apoteótico álbum Iê iê iê (Rosa Celeste / Microservice, 2009). Nem a inédita conexão de Arnaldo com o disputado produtor carioca Kassin contribui para dar ar de novidade a Já é - talvez porque Kassin também já esteja produzindo discos no piloto automático. Recorrentes na ficha técnica, as presenças de (grandes) músicos como o guitarrista Pedro Sá e o baterista Domenico Lancellotti indicam que Kassin também já repete fórmulas e colaboradores. E o fato é que Arnaldo está lançando neste mês de setembro de 2015 um dos álbuns mais anêmicos de sua discografia. É difícil se deixar seduzir por músicas como Azul e prateado (Arnaldo Antunes), a monocórdica canção Antes (Arnaldo Antunes) - formatada com objetos percutidos por Carlinhos Brown - e Peraí, repara, canção composta e gravada com Marisa Monte (voz) e Dadi Carvalho (violão de nylon). A alardeada influência da viagem do artista à Índia se faz notar no mantra que encerra o disco, Aqui onde está (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier), e na filosofia zen-budista da doce canção Se você nadar (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier), destaque do disco ao pregar a diluição das mágoas como a receita para libertar o ser preso a ressentimentos. Contudo, o roteiro indiano não chega a dar um norte ou um mote para o repertório. Em Já é, Arnaldo explora fronteiras musicais já conhecidas. A ágil Põe fé que já é (Arnaldo Antunes, André Lima e Betão Aguiar) flerta com o regionalismo pop brasileiro. Óbitos (Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti) se banha na praia do reggae e, de lá, alveja políticos que produzem mortes em escala industrial ao promover guerras. Dos dois rocks, Na fissura (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar e Chico Salem) é o que soa mais interessante pelo toque furioso das guitarras de Pedro Sá. O outro rock, O metereologista (Arnaldo Antunes), se diferencia pela temática inusitada. Com versos diretos, a letra discorre sobre um casal que se deleita na cama após erro na previsão do tempo. De modo geral, Já é um disco mais zen e cool. Saudade farta (Arnaldo Antunes) - canção sobre a distância de um casal apaixonado que soaria trivial se um dos amantes não fizesse programa para sobreviver (financeiramente) - esboça clima de bossa nova, expandido no cinzento sambossa Só solidão (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier) pelo violão de Cezar Mendes. Outro tema de coração partido pela distância do ser amado, As estrelas sabem é balada conduzida pelo piano de José Miguel Wisnik - parceiro de Arnaldo na composição - e adornada pelo violoncelo de Jaques Morelenbaum. Alocada em sequência na disposição das 15 músicas no disco, As estrelas cadentes (Arnaldo Antunes e Ortton) eleva o nível poético ao versar sobre amor finito com foco numa luz ao fim do túnel afetivo. De levada letárgica, Dança (Arnaldo Antunes e Marisa Monte) mantém elevado o nível poético de um disco que vive na gangorra, com mais baixos do que altos. Sim, há eventuais belas canções ao longo das 15 faixas do longo Já é. De espírito tribalista, a melodiosa balada Naturalmente, naturalmente (Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Dadi Carvalho) é uma delas. No entanto, o álbum jamais dilui a sensação de que Arnaldo Antunes se copia - sem o brilho de outrora - em Já é. Até pela longa duração do álbum, faltou atenção aos conselhos dados em uns versos de Antes:  "Antes a perda / Do que o desperdício / Antes o risco / Que a repetição".

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ É no mínimo curioso que o 17º título da discografia de Arnaldo Antunes pós-Titãs, Já é, não reproduza no encarte as letras das 15 músicas inéditas que compõem o repertório do longo álbum. Com aviso de que as letras se encontram disponíveis no site oficial do artista paulista, Já é apresenta músicas com nível poético abaixo do histórico discográfico do cantor e compositor. Do ponto de vista musical, o CD confirma a apatia que o álbum anterior do artista, Disco (Rosa Celeste / Radar Records, 2013), já havia sinalizado. Arnaldo parece estar compondo no piloto automático, repetindo fórmulas e parceiros. A maioria das 15 músicas de Já é soa como rascunho diante de um cancioneiro que alcançou picos de beleza poética e melódica da segunda metade da década de 1990 até o fim dos anos 2000, encerrados em grande estilo com a edição do apoteótico álbum Iê iê iê (Rosa Celeste / Microservice, 2009). Nem a inédita conexão de Arnaldo com o disputado produtor carioca Kassin contribui para dar ar de novidade a Já é - talvez porque Kassin também já esteja produzindo discos no piloto automático. Recorrentes na ficha técnica, as presenças de (grandes) músicos como o guitarrista Pedro Sá e o baterista Domenico Lancellotti indicam que Kassin também já repete fórmulas e colaboradores. E o fato é que Arnaldo está lançando neste mês de setembro de 2015 um dos álbuns mais anêmicos de sua discografia. É difícil se deixar seduzir por músicas como Azul e prateado (Arnaldo Antunes), a monocórdica canção Antes (Arnaldo Antunes) - formatada com objetos percutidos por Carlinhos Brown - e Peraí, repara, canção composta e gravada com Marisa Monte (voz) e Dadi Carvalho (violão de nylon). A alardeada influência da viagem do artista à Índia se faz notar no mantra que encerra o disco, Aqui onde está (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier), e na filosofia zen-budista da doce canção Se você nadar (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier), destaque do disco ao pregar a diluição das mágoas como a receita para libertar o ser preso a ressentimentos. Contudo, o roteiro indiano não chega a dar um norte ou um mote para o repertório. Em Já é, Arnaldo explora fronteiras musicais já conhecidas. A ágil Põe fé que já é (Arnaldo Antunes, André Lima e Betão Aguiar) flerta com o regionalismo pop brasileiro. Óbitos (Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti) se banha na praia do reggae e, de lá, alveja políticos que produzem mortes em escala industrial ao promover guerras. Dos dois rocks, Na fissura (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar e Chico Salem) é o que soa mais interessante pelo toque furioso das guitarras de Pedro Sá. O outro rock, O metereologista (Arnaldo Antunes), se diferencia pela temática inusitada. Com versos diretos, a letra discorre sobre um casal que se deleita na cama após erro na previsão do tempo.

Mauro Ferreira disse...

De modo geral, Já é um disco mais zen e cool. Saudade farta (Arnaldo Antunes) - canção sobre a distância de um casal apaixonado que soaria trivial se um dos amantes não fizesse programa para sobreviver (financeiramente) - esboça clima de bossa nova, expandido no cinzento sambossa Só solidão (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier) pelo violão de Cezar Mendes. Outro tema de coração partido pela distância do ser amado, As estrelas sabem é balada conduzida pelo piano de José Miguel Wisnik - parceiro de Arnaldo na composição - e adornada pelo violoncelo de Jaques Morelenbaum. Alocada em sequência na disposição das 15 músicas no disco, As estrelas cadentes (Arnaldo Antunes e Ortton) eleva o nível poético ao versar sobre amor finito com foco numa luz ao fim do túnel afetivo. De levada letárgica, Dança (Arnaldo Antunes e Marisa Monte) mantém elevado o nível poético de um disco que vive na gangorra, com mais baixos do que altos. Sim, há eventuais belas canções ao longo das 15 faixas do longo Já é. De espírito tribalista, a melodiosa balada Naturalmente, naturalmente (Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Dadi Carvalho) é uma delas. No entanto, o álbum jamais dilui a sensação de que Arnaldo Antunes se copia - sem o brilho de outrora - em Já é. Até pela longa duração do álbum, faltou atenção aos conselhos dados em uns versos de Antes: "Antes a perda / Do que o desperdício / Antes o risco / Que a repetição".

ADEMAR AMANCIO disse...

8 faixas em cada disco,por favor.

Rafael disse...

Ainda não ouvi esse trabalho, estou curioso para ouvir...

Victor Moraes, disse...

Só ouvi uma faixa do disco (pelo video clipe). Animada, mas não sensacional. O "îê, iê, iê" foi o primeiro CD do Arnaldo que me fez ouvi-lo todo, repetidas vezes, por um longo tempo... como faço no que vicio. Antes e depois só músicas esporádicas e participações.
Bem, o CD "disco" e a faixa que vi o clipe desse CD (já não lembro o nome) não me deram instiga pra ouvir ainda... Dia desses com mais tempo.
A crítica também levou a minha curiosidade a quase zero. Bom, sei de ouvir da boca de alguns artistas que eles leem e esperam pela crítica do Mauro. Os novatos até torcem pra ter uma crítica no lugar de uma nota apenas sobre um lançamento. Maaaas, não estou certo se o Arnaldo faria algo no "automático". Não parece em nada com a personalidade dele. Então, fico pensando nele ler uma opinião dessa sobre o trabalho - na expectativa de sua estréia - ou subir no palco pra cantar a faixa "Antes" e não linkar às opiniões... deve ser muito difícil. Vou torcer pra que a maturidade do Arnaldo como artista o faça encarar isso numa boa e como uma aprendizagem para os futuros trabalhos. Por que o negócio foi "pesado". rs.
Bem, quanto ao Kassin... ALELUIA que alguém concorda comigo que o trabalho dele está no automático. Virou uma assinatura e nada mais. Disse isso pra uma amiga jornalista de uma rádio uma vez e ela só faltou me bater em público.

Unknown disse...

Realmente "disco" nao foi um bom trabalho, vou ouvir "jaé" apenas ouvi poe fé que ja é e gostei nao é uma cançao que tem a cara do arnaldo mais eu curti

Henrique disse...

Acredito que fazer algo no automático não é muito a cara do Arnaldo.

O blog disse...

Já escutei o disco 3x e curti muito. Não achei mais do mesmo ou repetitivo. Repetitivo é Roberto Carlos e nossas "maravilhosas" duplas sertanejas atuais. Acho que o disco tem a cara de Arnaldo, um cara que demonstra muita personalidade, originalidade e criatividade. Pode não ser seu melhor trabalho, mas não fica também pra trás.