Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Luiza Possi finaliza álbum produzido por Dadi e feito com adesão de Lulu

Postada por Luiza Possi em sua página oficial no Facebook, a foto flagra a cantora carioca com Dadi Carvalho, produtor e arranjador do quinto álbum de estúdio da artista, Sobre amor e o tempo. Já em fase final de produção, o disco tem a participação de Lulu Santos numa canção do compositor carioca, Tempo em movimento. No vídeo posto em rotação no YouTube com trecho da gravação dessa faixa, Lulu sentencia que Luiza tem a voz mais bonita dentre as cantoras de sua geração. O último CD de estúdio de Luiza Possi, Bons ventos sempre chegam, foi lançado em 2009. Na sequência, em 2011, a cantora lançou seu segundo registro ao vivo de show, Seguir cantando. O CD Sobre amor e o tempo vai ser lançado ainda neste ano de 2013.

Simone vai de Joanna a Ivone, passando por Alzira, no CD 'É melhor ser'

É melhor ser é o título do CD com que Simone festeja seus 40 anos de carreira fonográfica. O álbum chega às lojas em outubro de 2013 em edição da gravadora Biscoito Fino. A cantora baiana - em foto de Leonardo Aversa - abre o disco com A propósito, parceria sua com Fernanda Montenegro, concretizada quando Simone musicou bilhete enviado pela atriz. Mas a faixa escolhida para promover o disco no iTunes e em outras plataformas digitais é Mulher o suficiente, parceria de Alzira Espíndola com Vera Lúcia Mota, gravada por Tetê Espíndola no álbum Canção do amor (Movieplay, 1995) e coincidentemente também regravada neste ano de 2013 por Ana Cañas no seu primeiro DVD, Coração inevitável, nas lojas também em outubro. Sob produção musical de Bia Paes Leme e Leandro Braga, Simone dá voz ao primeiro sucesso de Joanna - Descaminhos, parceria de Joanna com Sarah Benchimol, lançada pela cantora carioca em compacto de 1979 - e revive Acreditar, samba de Ivone Lara e Délcio Carvalho lançado em 1976 na voz do cantor Roberto Ribeiro (1940 - 1996). De Rita Lee, a Cigarra escolheu Mutante, parceria de Rita com Roberto de Carvalho, lançada no álbum Saúde (1981). De gênese feminina, o repertório inclui ainda Haicai - inédita de Fátima Guedes - e Charme do mundo (Marina Lima e Antonio Cícero, 1981), além de parceria de Simone com Zélia Duncan, Só se for. O CD É melhor ser tem ainda músicas de Angela Ro Ro, Joyce Moreno e Sueli Costa.

Nile Rodgers figura em duas músicas do disco álbum de inéditas do Jota

Além de Mandou bem, ótima faixa já lançada como single, o guitarrista norte-americano Nile Rodgers figura em outra música do sétimo álbum de inéditas do Jota Quest, Imperfeito. Já Adriano Cintra assina a produção de outras duas faixas, Entre sem bater e Toxina voyeur, embora tenha formatado outras - como O sono dos justos - que foram descartadas na seleção final do repertório. Como revelado por Rogério Flausino no palco do Rock in Rio, o disco se chama Funk funk boom boom. Calcado no groove da black music, o CD - que tem a levada da percussão de Pretinho da Serrinha - tem edição prevista para outubro de 2013 via Sony Music.

Bowie relança 'The next day' em 'box' triplo com quatro músicas inéditas

Lançado em 8 de março de 2013, o aclamado 24º álbum de estúdio de David Bowie - The next day, disco que trouxe o cantor e compositor britânico de volta à cena após anos de reclusão - vai ser relançado com músicas adicionais e com clipes em box triplo intitulado The next day extra e programado para chegar às lojas do Reino Unido a partir de 4 de novembro de 2013. Além de DVD com clipes das músicas Where are we now?, The stars (are out tonight), Valentine's day e The next day, o box inclui CD com as 14 faixas do álbum original e um CD-bônus com quatro músicas inéditas - Atomica, Born in a Ufo, Like a rocket man e The informer - e não cinco, como informa erroneamente o site oficial de Bowie por relacionar God bless the girl (música lançada como faixa-bônus na edição japonesa do álbum The next day) entre as composições inéditas. O CD-bônus inclui também remixes de Love is lost (assinado por James Murphy, o mentor do desativado LCD Soundsystem) e I'd rather be high. Sairá via Sony.

Elbow programa a edição de seu sexto disco de estúdio para 10 de março

Por ora intitulado All at once, o vindouro sexto álbum de estúdio do grupo britânico Elbow tem lançamento agendado para 10 de março de 2014. O disco está sendo gravado no Blueprint Studios (de propriedade do quinteto), em Salford (Manchester, Inglaterra), sob produção do tecladista Craig Potter. This blue world é a música que vai abrir o CD. Charge é outra música garantida no repertório. O álbum já pode ser encomendado no site oficial do Elbow de forma avulsa ou juntamente com o combo de DVD e dois CDs ao vivo intitulado Live at Jodrell Bank.

domingo, 29 de setembro de 2013

Ator que virou cantor nos anos 70, Cláudio Cavalcanti sai de cena aos 73

O carioca Cláudio Murillo Cavalcanti (24 de fevereiro de 1940 - 29 de setembro de 2013) vai ser sempre lembrado por suas atuações em novelas e pelo ativismo na defesa dos animais, mas o fato é que também se aventurou como cantor - fato até corriqueiro entre os atores nos anos 70. Em 1970, no auge da popularidade por estar encarnando Jerônimo Coragem, um dos protagonistas da novela Irmãos Coragem (TV Globo, 1970 / 1971), Cavalcanti gravou e lançou seu primeiro LP, no qual se destacou a regravação de Menina, sucesso de Paulinho Nogueira. Em 1972, lançou pela Philips um compacto simples com as músicas Não gosto mais de mim (Sérgio Ricardo) e Se eu morresse (Roberto Menescal e Paulinho Tapajós). Dois anos depois, em 1974, o ator gravou pela CID um segundo LP (foto), mas Cavalcanti - que saiu de cena neste domingo, aos 73 anos, no Rio de Janeiro (RJ) - entrou mesmo para a história como ator.

Arnaldo, Lenine, Takai e Zélia em CD que celebra cancioneiro de Sullivan

Dominante nas paradas musicais brasileiras da década de 80, em escalada iniciada em 1983 com o estouro da gravação de Me dê motivo na voz de Tim Maia (1942 - 1998), o cancioneiro de Michael Sullivan - sobretudo o composto com Paulo Massadas - perdeu força ao longo dos anos por ter começado a ser fabricado em escala industrial. Mas deixou algumas canções populares que resistiram ao tempo e atravessaram gerações. Algumas delas estão sendo regravadas em disco que pode redimensionar a obra de Sullivan na música brasileira - sem o carimbo brega lhe imposto na época de sua criação. Parceria de Sullivan e Massadas lançada pelo cantor José Augusto em 1988, Fui eu ganhou a voz de Fernanda Takai. Canção gravada por Fafá de Belém em 1987, Meu dilema - parceria de Sullivan com seu irmão Leonardo - foi regravada por Zélia Duncan. Arnaldo Antunes e Lenine também figuram no disco, cujo elenco também inclui a novata Alice Caymmi, representante da terceira geração da Família Caymmi.

Filme toca ao focar luta de Sosa contra opressão e o 'pássaro' da solidão

Resenha de documentário
Título: Mercedes Sosa - La voz de latinoamerica
Direção: Rodrigo H. Vila
Roteiro: Rodrigo H. Vila e Fabián Matus
Cotação: * * * * 1/2
Filme em cartaz no Festival do Rio 2013, no Rio de Janeiro (RJ)
Sessões em 2 de outubro (Estação Ipanema 1, às 13h10m e 19h30m) e 4 de outubro de 2013 (Estação Vivo Gávea, às 17h50m)

"A solidão é um pássaro grande e multicolorido que já não tem asas para voar", poetizou o compositor cubano Pablo Milanés na letra de música, La soledad, dedicada a Mercedes Sosa (9 de julho de 1935 - 4 de outubro de 2009). Numa das cenas mais comoventes do documentário Mercedes Sosa - La voz de latinoamerica, em cartaz no Festival do Rio três meses após ter estreado na Argentina, a cantora que deu voz à luta contra a opressão na América Latina se confessa solitária, às voltas com esse grande e indomável pássaro. "Minha voz conforta todo mundo, mas não a mim", sintetiza a mais emblemática intérprete argentina em fala lapidar reproduzida no filme dirigido por Rodrigo H Vila sob a produção de Fabián Matus, filho de Sosa e coautor do roteiro. É Matus quem conduz as entrevistas inseridas na fluente narrativa entre imagens raras de arquivo que flagram Sosa em todas as fases de sua vida. Contudo, qualquer eventual egolatria do filho da cantora é diluída na tela pela força da voz e da mensagem da música de Mercedes Sosa, falecida aos 74 anos. Mercedes Sosa - La voz de latinoamerica comove ao focar a luta contínua da cantora contra a  tirania dos governos ditatoriais que amordaçaram vários países da América Latina ao longo dos anos 60 e 70 - batalha que levou a cantora argentina a ser expulsa de sua pátria e a ser barrada em aeroporto do Brasil, em 1978 - e também contra os pássaros e demônios internos. O filme é informativo sem cair no didatismo. Bem encadeado, o roteiro mantém presa a atenção do espectador ao longo dos 93 minutos do filme. Talvez porque a história de vida de Mercedes dê mesmo um filme trabalhado na sensibilidade e na emoção. É tocante a cena em que, voltando à vida pública após ter enfrentado doença e depressão, Sosa assiste a um show de Pablo Milanés quando é intimada pelo amigo cubano a cantar da plateia. Ao soltar a voz em trecho de Años (Pablo Milanés e Luís Peña, 1980), diante do público prestes a cair no choro, Sosa recuperou o sentido de sua vida e renasceu artisticamente, levando adiante carreira que a juntou em palcos e estúdios com nomes tão díspares quanto o tenor Luciano Pavarotti (1935 - 2007), a cantora colombiana Shakira, o cantor e compositor inglês Sting e o rapper porto-riquenho René Pérez, com quem a artista fez sua última gravação, em 2009, para o álbum duplo Cantora. Trajetória luminosa e improvável para a menina pobre nascida e criada em Tucumán (província argentina) que precisava esperar os sábados para poder comer macarrão com manteiga - a refeição mais farta proporcionada pelos pais, incansáveis lutadores na labuta cotidiana. Mercedes Sosa - La voz de latinoamerica enfatiza o elo de Sosa com seus genitores, sobretudo com a mãe, esteio da família mesmo depois que a filha - projetada nos anos 60 com o movimento El nuevo cancioneiro - já estava consagrada em âmbito mundial, reconhecida como a voz que se levantou contra a opressão social e política. Grande voz de contralto, aliás, capaz de atingir regiões profundas da emoção de seu público."Mercedes era um símbolo da liberdade de todos nós", resume Chico Buarque, visto em cena com a cantora em número do programa Chico & Caetano, então comandado pelo cantor e compositor carioca na TV Globo com seu colega baiano Caetano Veloso. No take visto no filme, os anfitriões cantam trecho de Volver a los 17 (1966) - um dos clássicos do repertório combativo de Violeta Parra (1917 - 1967), compositora chilena que não chegou a conhecer pessoalmente Mercedes, mas que sempre esteve ideologicamente afinada com sua colega de país vizinho - em palco dividido com Milton Nascimento (um dos entrevistados), Gal Costa e a própria Mercedes. "Ouvir 'Gracias a la vida' foi a introdução de um novo mundo", revela o compositor norte-americano David Byrne em depoimento que cita outro clássico de Violeta Parra associado ao canto de Sosa e que reitera o alcance planetário da voz da intérprete argentina, que regressou à sua pátria em 1982 em show retratado no documentário com a ênfase necessária por toda sua forte simbologia de coragem e resistência. Enfim, Mercedes Sosa - La voz de latinoamerica é filme sensível, tocante, à altura do canto humanitário e valente de La Negra.

CD 'Zeski' sinaliza que Tiago Iorc perde tempo ao cantar em português...

Resenha de CD
Título: Zeski
Artista: Tiago Iorc
Gravadora: Slap (Som Livre)
Cotação: * * 1/2

Arrastado cover de sucesso do repertório da banda brasiliense Legião Urbana (1982 - 1996), Tempo perdido (Renato Russo, 1986), fecha Zeski, o terceiro álbum do cantor e compositor brasiliense Tiago Iorc, também ele nascido em Brasília (DF). Além de apagado, o cover soa artificial na voz deste artista habituado a cantar e a compor em inglês por ter sido criado entre Inglaterra e Estados Unidos. Zeski se diferencia de seus antecessores Let yourself in (2008) e Umbilical (2011) - inteiramente gravados em inglês - por conter quatro faixas em português, efeitos de prováveis interferências da indústria do disco na criação do som de Iorc. Aliás, Iorczeski - como informa o texto sobre o CD enviado aos formadores de opinião pelo selo Slap, associado à gravadora Som Livre. Sim, Zeski é o fim do sobrenome de batismo de Iorc. A ideia é fazer crer que Zeski, o disco, soa condizente com a trajetória artística do cantor, atualmente radicado em Curitiba (PR). Um providencial dueto com Maria Gadú - estrela do Slap - na fluente Música inédita (Duca Leindecker) reforça a sensação de interferências externas na gestação de Zeski, álbum produzido (de forma bem eficiente - verdade seja dita) por Maycon Ananias, tecladista da banda de Gadú. Seja como for, o fato é que Iorc soa bem mais à vontade e sedutor nas músicas autorais compostas e cantadas em inglês. Life of my love (Tiago Iorc) é pop de ótimo nível, com vocação para hit. Já Yes and nothing less (Tiago Iorc) e It's a fluke (Tiago Iorc, Maycon Ananias e Jesse Harris) são inspiradas canções imersas no universo folk. Shelford road (Tiago Iorc) cativa mais pelo arranjo de cordas que evidencia o bom acabamento harmônico das 11 faixas do álbum, cuja música-título, Zeski (Tiago Iorc), é tema instrumental que separa as faixas em inglês das canções em português. Sinal, aliás, de que um muro separa a criação de umas e outras. Um dia após o outro - música na qual Daniel Lopes é parceiro e convidado de Iorc - abre o naipe de faixas em português sem impressionar. Na sequência, Forasteiro (parceria de Iorc com Silva, convidado da faixa) reitera impressão de que, por mais que soe aparentemente natural, o canto de Iorc em português é tempo perdido.

Leny finaliza 'Iluminados', disco com 11 canções de Ivan Lins e Vitor Martins

 A cantora carioca Leny Andrade ainda nem lançou o disco em que dá voz em espanhol a sucessos de Roberto Carlos, Canciones del Rey, e já finalizou outro álbum. Trata-se de Iluminados, álbum dedicado à obra composta por Ivan Lins em parceria com Vitor Martins. A balada que batiza o CD, Iluminados, foi lançada por Ivan no álbum Mãos (1987). Leny canta no disco a 11 músicas da dupla.

sábado, 28 de setembro de 2013

Arranjador e violonista da bossa, Oscar Castro Neves sai de cena aos 73

É difícil dimensionar a real importância de Oscar Castro Neves (15 de maio de 1940 - 27 de setembro de 2013) na música brasileira, sobretudo na música feita e gravada nos anos 60. O cantor, compositor e músico saiu ontem de cena em Los Angeles (EUA), aos 73 anos, vítima de câncer, sem ter essa importância (re)conhecida pelo Brasil. Poucos talvez saibam que Neves compôs em 1956, aos 16 anos, em parceria como Luvercy Fiori (um arquiteto transformado por ele em letrista), Chora tua tristeza, uma das músicas mais gravadas ao longo da década de 60. Com o mesmo Luvercy Fiori, Neves compôs Onde está você?, sucesso perene desde que a canção foi lançada na voz de Alaíde Costa. O Brasil certamente também ignora que Neves - músico que começou tocando cavaquinho, passou para o piano e se consagrou com o violão - foi um dos arranjadores fundamentais da música brasileira pós-Bossa Nova. A bossa que Oscar Castro Neves também ajudou, de certa forma, a moldar a partir de 1954, ano em que foi fundado o influente quarteto Irmãos Castro Neves, formado por Oscar com seus manos Iko (baixo), Léo (bateria) - dos quais era trigêmeo - e Mário (piano). Como arranjador, ele atuou em discos e shows antológicos como o feito por Dorival Caymmi (1914 - 2008) com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) em 1964 na boate Zum Zum, no Rio de Janeiro (RJ), berço da bossa e deste artista fundamental, de legado imortal, que se radicou nos Estados Unidos em 1967, mas continuou trabalhando desde então em eventos e discos associados, em maior ou menor grau, ao som que Oscar ajudou a formatar. João Gilberto sabe bem quem foi Oscar Castro Neves...

Gloria Estefan dilui a força de 'standards' em mais um álbum equivocado

Resenha de CD
Título: The standards
Artista: Gloria Estefan
Gravadora: Crescent Moon Records / Sony Music
Cotação: *

O tempo parece estar fazendo mal a Gloria Estefan. Após se jogar na pista mais trivial do pop dance sob a condução de Pharrell Williams, produtor do equivocado 14º álbum de estúdio da artista cubana, Miss little Havana (2011), a cantora e compositora - outrora sólida referência da música latina produzida nos Estados Unidos - recorre à fórmula dos clássicos em seu 15º álbum. Recém-lançado no Brasil via Sony Music, o álbum é óbvio até no título The standards. Na capa, Estefan traja vestido de gala para não deixar dúvidas sobre a natureza previsível deste disco produzido pela própria artista. Os arranjos - justiça seja feita - são classudos e o canto de Estefan soa comedido. Mas o fato é que a abordagem destes standards pela cantora - alguns tratados com leve toque jazzy, caso de They can't take that away from me (George Gershwin e Ira Gershwin, 1937), outros com leve toque de latinidade, caso de You made me love you (James Monaco e Joseph McCarthy, 1937) - resulta bem insossa. Mesmo quando a orquestração se revela acertadamente econômica, como em I've grown accustomed to his face (Frederick Loewe e Alan Jay Lerner, canção de 1956 - e não de 1936, como desatentamente grafado no encarte do CD), a interpretação de Estefan carece de um algo mais que justifique a regravação de músicas já registradas de forma definitiva. Cantora caliente habituada a manter o fogo alto dos ritmos latinos, Estefan tem emoção rala para encarar um tema doído como Good morning heartache (Irene Higginbotham, Ervin Drake e Dan Fischer, 1946), talhado para cantoras capazes de mergulhos mais profundos nos versos de uma canção, caso de Billie Holiday (1915 - 1959), a quem tal standard estará para sempre associado. Estefan tampouco parece à vontade em The day you say you love me, versão em inglês (escrita pela própria artista) da abolerada canção El día que me quieras (Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, 1934). A faixa é quase risível, assim como o português carregado ouvido no registro de Eu sei que vou te amar (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), envolto em arranjo-clichê de cordas. O único momento do álbum em que é possível ouvir Estefan sem lembrar imediatamente de registros anteriores muito mais felizes é Embraceable you (George Gershwin e Ira Gershwin, 1928), faixa de tom terno. No mais, Estefan nada acrescenta ou faz por standards como What a difference a day makes (Maria Grever e Stanley Adams, 1934) e What a wonderful world (George David Weiss e Bob Thiele, 1936). How long has this been going on? (George Gershwin e Ira Gershwin, 1928) ao menos se escora no suingue do (refinado) arranjo de metais. E o que dizer do dueto feito por Estefan com a cantora italiana Laura Pausini em Sonríe, versão em espanhol (feita por Estefan) de Smile (Charles Chaplin, John Turner e Geoffrey Parsons, 1954)? Enfim, o renascimento de Rod Stewart no mercado fonográfico em 2002, com o primeiro dos cinco volumes da série The great american songbook, fez a indústria do disco crer que um punhado de regravações de standards tinha o poder de trazer à tona artistas já sem fôlego comercial. The standards - o segundo consecutivo álbum equivocado de Gloria Estefan - prova que a gasta fórmula já está exaurida.

Elba diz sim para Taviani na gravação ao vivo do show 'Eu raio x', no Rio

Música que inspirou o título do terceiro CD da cantora e compositora carioca Isabella Taviani, Diga sim (Universal Music, 2007), Diga sim pra mim (Isabella Taviani) ganhou a voz de Elba Ramalho. O dueto feito por Taviani com sua colega paraibana na música, recriada em ritmo de xote, foi um dos melhores números da gravação ao vivo do show Eu raio x, realizada em 26 de setembro de 2013, no Imperator, no Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro (RJ).

Taviani vai do bolero ao samba-rock em inéditas de DVD que inclui Zélia

"Dez anos não são dez dias", ressaltou Zélia Duncan, no palco do Imperator, no Centro Cultural João Nogueira, para saudar Isabella Taviani, sua parceira na música Arranjo (2009). Zélia foi uma das convidadas da gravação ao vivo feita na noite de quinta-feira, 26 de setembro de 2013, para festejar os dez anos de carreira da cantora e compositora carioca - iniciada em 2003 com a edição do álbum Isabella Taviani. E coube a Zélia cantar com Taviani uma das quatro músicas inéditas inseridas no roteiro do show Eu raio x, captado no Rio de Janeiro (RJ), cidade onde o espetáculo estreou em 25 de maio de 2012, para edição de DVD e CD ao vivo. A participação de Zélia aconteceu em parceria de Taviani com Myllena, Queria ver você no meu lugar, tema passional de batida roqueira que já vinha sendo cantado em shows por Taviani com Mylenna desde 2012. As outras inéditas registradas por Taviani na gravação ao vivo foram Ao telefone (bolero à moda clássica), Galega brasileira (samba-rock que prega a democracia racial do suingue nativo com balanço que remete ao som de Seu Jorge) e Se assim for, canção definida em cena por Taviani como uma balada de amor ("Se assim não fosse, não seria eu. Sou tão apaixonadinha por essa canção"). Eis o roteiro seguido por Isabella Taviani - vista com Zélia Duncan na foto de Mauro Ferreira - na gravação ao vivo do show Eu raio x:

1. Deixa Estar (Isabella Taviani, 2012)
2. Norte (Isabella Taviani, 2012)
3. Foto Polaroid (Isabella Taviani, 2003)
4. A Palavra Errada (Isabella Taviani, 2012)
5. Digitais (Isabella Taviani, 2003)

    - com a participação de Moska
6. Contradição (Isabella Taviani, 2012)
7. A Canção que Faltava (Isabella Taviani, 2012)
8. Queria ver você no meu lugar (Isabella Taviani e Myllena, 2013) * inédita
     - com a participação de Zélia Duncan
9. Sentido Contrário (Isabella Taviani, 2005)
10. Raio X (Myllena, 2012)
11. Se assim for (Isabella Taviani, 2013) * inédita
12. Estrategista (Isabella Taviani, 2012)
13. A Imperatriz e a Princesa (Isabella Taviani e Myllena, 2012)
      - com a participação de Myllena
14. Se eu fosse te esperar (Isabella Taviani, 2012)
15. Ao telefone (Isabella Taviani e Myllena, 2013) * inédita
16. Diga Sim pra Mim (Isabella Taviani, 2007)
      - com a participação de Elba Ramalho

17. Encaixotei Minha Paz (Isabella Taviani e Myllena, 2012)
      - Número feito de improviso enquanto a fita era trocada
18. Galega brasileira (Isabella Taviani e Myllena, 2013) * inédita
19. Último Grão (Isabella Taviani, 2005)
20. Luxúria (Isabella Taviani, 2007)
21. De Qualquer Maneira (Isabella Taviani, 2003)

'Digitais' de Taviani demoram a imprimir em Moska em gravação ao vivo

"Mas precisa entrar de novo? Não tem como cortar com uma câmera?", indagou Moska, ao saber que teria que repetir pela terceira vez sua entrada no palco do Imperator do Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro (RJ), onde a cantora e compositora carioca Isabella Taviani fez na noite de quinta-feira, 26 de setembro de 2013, a gravação ao vivo de seu show Eu raio x para edição de CD e DVD. Sim, foi preciso entrar de novo. É que Moska - visto com Taviani na foto de Mauro Ferreira - errara três vezes a letra de Digitais (Isabella Taviani, 2013), um dos primeiros sucessos da anfitriã da noite. "A letra dessa música não é fácil. Até eu me enrolo", minimizou Taviani. No quarto take, Moska acertou enfim sua parte na letra e o número foi concluído. O cantor formou - com Elba Ramalho, Myllena e Zélia Duncan - o naipe de convidados da gravação feita por Taviani para festejar seus 10 anos de carreira fonográfica.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Eis a capa da 'Deluxe Edition' de 'New', o álbum de inéditas de McCartney

Esta é a capa da Deluxe Edition de New, o álbum de inéditas que Paul McCartney vai lançar em 14 de outubro de 2013. A Deluxe Edition de New adiciona duas músicas-bônus, Get me out of here e Turned out, às 12 faixas da edição standard do primeiro disco de inéditas do cantor e compositor inglês desde Memory almost full (2007). New foi urdido com quatro produtores.

Parceria póstuma de Partimpim com Vinicius é a novidade da atual 'Arca'

Parceria póstuma de Adriana Partimpim sobre poema de Vinicius de Moraes (1913 - 1980), O elefantinho é a única música inédita da edição revista e atualizada do disco A arca de Noé, projeto infantil lançado por Vinicius em LP de 1980 (um segundo volume foi editado em 1981). A música é ouvida no disco na voz de Partimpim, heterônimo infantil da cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto. Produzido por Calcanhotto com Dé Palmeira, o CD com novas gravações do cancioneiro d'A arca de Noé vai ser lançado pela gravadora Sony Music em outubro de 2013, dentro das homenagens pelo centenário de nascimento de Vinicius de Moraes. A ideia de refazer o projeto infantil foi de Susana Moraes, filha do poeta. O elenco estelar inclui nomes como Arnaldo Antunes (O peru), Caetano Veloso (O leão, em dueto com seu filho Moreno Veloso), Chico Buarque (O pinguim), Erasmo Carlos (O pintinho), Gal Costa (As borboletas - parceria póstuma de Cid Campos com Vinicius de Moraes, concretizada para o projeto, mas lançada por Adriana Partimpim em disco de 2009), Ivete Sangalo (A galinha d'Angola, com o grupo português Buraka Som Sistema), Maria Bethânia (A arca de noé, faixa dividida com Péricles e Seu Jorge) e Marisa Monte (As abelhas), entre outras estrelas da MPB.

CD póstumo de Charlie Brown chega às lojas em outubro via Som Livre

Preparado desde 2012 pela banda Charlie Brown Jr, o álbum de inéditas La família 013 chega às lojas em outubro de 2013 com distribuição da gravadora Som Livre. Por conta das mortes trágicas e precoces de Alexandre Magno Abrão (9 de abril de 1970 - 5 de março de 2013), o Chorão, e de Luiz Carlos Leão Duarte Junior (16 de junho de 1978 - 9 de setembro de 2013), o Champignon, La família 013 se tornou um disco póstumo do grupo formado em Santos (SP). Curiosamente e estranhamente, Um dia a gente se encontra é o nome da música que abre o CD. O repertório totaliza 13 composições inéditas, sendo que Meu novo mundo já foi lançada em março, ironicamente no dia da morte de Chorão. Camisa preta, Cheia de vida, Contrastes da vida, Fina arte, Rock starSamba triste e Vem ser minha são sete das 13 músicas do disco. 

Flávio canta sucessos de Caetano e Piaf no álbum de inéditas 'Venturini'

Venturini é o título do CD que o cantor e compositor mineiro Flávio Venturini vai lançar em outubro de 2013. Embora seja um álbum de músicas inéditas, como Enquanto você não vem (André Mehmari e Murilo Antunes) e  Sol interior (Flávio Venturini e Márcio Borges), Venturini alinha no repertório regravações de O leãozinho - canção lançada por seu compositor Caetano Veloso em 1977 - e de Hino ao amor, versão em português de Hymne à l'amour (Edith Piaf e Marguerite Monnot, 1950), grande sucesso da cantora francesa Edith Piaf (1915 - 1963). Ivan Lins figura no CD em Tarde solar, parceria de Venturini com Alexandre Blasifera, lançada pela cantora paulista Patricia Talem em seu primeiro álbum, de 2008. Em Venturini, disco gravado em Belo Horizonte (MG) desde 2012, o artista abre parceria com o também mineiro Vander Lee e dá voz a Saiba, música de Maurício Oliveira e Barbara Mendes. A edição é independente.

Skank adia para 2014 lançamento de seu nono disco de inéditas autorais

Embora esteja sendo gravado desde maio de 2013, em Belo Horizonte (MG), o nono álbum de inéditas autorais do grupo mineiro Skank vai ser lançado somente em 2014 - o que aumenta para seis anos a distância entre esse (esperado) novo disco e o último trabalho de inéditas do quarteto, Estandarte, lançado em 2008. O álbum vai ser lançado pela gravadora Sony Music.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Biquini reedita 'Roda-gigante' com 'demos', clipes e gravações acústicas

Com capa azul, diferente da capa original em vermelho, a edição especial do 14º título da discografia oficial do grupo carioca Biquini Cavadão, Roda-gigante (2013), vai estar disponível em breve no iTunes. Além das 12 músicas do repertório original, a edição especial de Roda-gigante vai apresentar uma gravação demo de cada uma das faixas do CD, com arranjos diferentes. Em Descer as ondas, por exemplo, o vocal da gravação demo é do guitarrista Carlos Coelho, e não do habitual cantor do grupo, Bruno Gouveia. Há também quatro registros acústicos de músicas do repertório original - com destaque para a versão acústica de Entre beijos e mais beijos, masterizada no estúdio Abbey Road, em Londres - e cinco clipes, além de dois making ofs, de slideshow e de encarte digital com as letras de todas as músicas do álbum.

Obra de Dylan é embalada em caixa que sai em novembro com 41 álbuns

Nas lojas a partir de 4 de novembro de 2013, em edição da Columbia Records, a caixa The complete album collection embala 41 álbuns de Bob Dylan e coletânea dupla com gravações avulsas da discografia do cantor e compositor norte-americano. Destes 41 álbuns, 14 passaram por novo processo de masterização. Foram encaixotados 35 álbuns de estúdio - em seleção que abrange 50 anos, indo do seminal Bob Dylan (1962) ao recente Tempest (2012) - e seis discos com registros ao vivo de shows. Livro luxuoso vai trazer ensaios sobre a obra do artista assinados por Bill Flanagan e Clinton Heylin. Simultaneamente, no mesmo dia 4 de novembro, a Columbia vai lançar coletânea inédita do bardo, The very best of Bob Dylan, nos formatos de CD simples e duplo. Um outra caixa está prevista para 2014 com a reunião de todas os discos extra-oficiais - os chamados bootlegs - da discografia de Dylan. Eis o conteúdo do primeiro volume da caixa The complete album collection, produto que não deverá ser lançado no Brasil:

Álbuns de estúdio:

Bob Dylan (1962)
The Freewheelin' Bob Dylan (1963)
The Times They Are A-Changin' (1964)
Another Side Of Bob Dylan (1964)
Bringing It All Back Home (1965)
Highway 61 Revisited (1965)
Blonde On Blonde (1966)
John Wesley Harding (1967)
Nashville Skyline (1969)
Self Portrait (1970 – novamente remasterizado)
New Morning (1970)
Pat Garret & Billy The Kid (1973 – 
novamente remasterizado)
Dylan (1973 – 
novamente remasterizado
Planet Waves (1974)
Blood on the Tracks (1975)
The Basement Tapes (1975)
Desire (1976)
Street Legal (1978 – 
novamente remasterizado)
Slow Train Coming (1979)
Saved (1980 – 
novamente remasterizado)
Shot of Love (1981)
Infidels (1983)
Empire Burlesque (1985 – 
novamente remasterizado)
Knocked Out Loaded (1986 – 
novamente remasterizado)
Down in the Groove (1988 – 
novamente remasterizado)
Oh Mercy (1989)
Under the Red Sky (1990 – 
novamente remasterizado)
Good as I Been to You (1992 – 
novamente remasterizado)
World Gone Wrong (1993 – 
novamente remasterizado
)
Time Out of Mind (1997)
Love and Theft (2001)
Modern Times (2006)
Together Through Life (2009)
Christmas in the Heart (2009)
Tempest (2012)


Álbuns ao vivo

Before the Flood (1972)
Hard Rain (1976 – 
novamente remasterizado)
Bob Dylan at Budokan (1979 – 
novamente remasterizado)
Real Live (1984 – 
novamente remasterizado
)
Dylan & the Dead (1989)
MTV Unplugged (1995)


Gravações avulsas da coletânea:

Baby, I'm in the mood for you
Mixed-up confusion
Tomorrow Is a long time (ao vivo)
Lay down your weary tune
Percy's song
I'll keep It with mine
Can you please crawl out your window?
Positively 4th street
Jet pilot
I wanna be your lover
I don't believe you (She acts like we never have met) (ao vivo)
Visions of Johanna (ao vivo)
Quinn the eskimo
Watching the river flow
When I paint my masterpiece

Down in the flood
I shall be released
You ain't goin' nowhere
George Jackson (versão acústica)
Forever young
You're a big girl now
Up to me
Abandoned love
Isis (ao vivo)
Romance in Durango (ao vivo)
Caribbean wind
Heart of mine (ao vivo)
Series of dreams
Dignity
Things have changed

Familiar, Juju abre ala com 'Feliz da Vila' para saudar sua escola e seu pai

Resenha de CD
Título: Feliz da Vila
Artista: Juju Ferreirah
Gravadora: ZFM Records
Cotação: * * * 

Na casa de Martinho da Vila, todo mundo é bamba. Juju Ferreirah também saiu ao seus e não degenerou neste primeiro disco de caráter familiar, Feliz da Vila, produzido por Wanderson Martins para o selo ZFM Records. Até então habituada ao posto lateral reservado às vocalistas, Juju vem para frente da cena, se posiciona sob os holofotes e abre alas para saudar sua escola Unidos de Vila Isabel e os 75 anos de seu pai, Martinho José Ferreira, também da Vila. O que justifica o dueto do criador com uma de suas criaturas no samba-enredo A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo - Água no feijão (Martinho da Vila, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Tunico da Vila) da última folia. Pai e filha repõem na avenida o samba que ajudou a Unidos de Vila Isabel a se sagrar campeã do Carnaval carioca neste ano de 2013. Tributos à escola e ao bairro carioca de Vila Isabel - onde está situada a agremiação azul e branca - são enfileirados na primeira metade desde CD conceitual, aberto com o samba-enredo Você semba de lá... que eu sambo cá - O canto livre de Angola (Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Arthur das Ferragens), enquanto a segunda metade concentra homenagens a Martinho. Juju surpreende ao tirar da cartola um samba obscuro, Cadeira vazia, em que mangueirense Cartola (1908 - 1980) e seu parceiro Nuno Velloso celebram a Vila e Martinho. Também desconhecido, mas menos raro por ter sido gravado por Martinho no álbum Martinho da Vila Isabel (1984), Fala mulato (Ataulfo Alves e Alcebíades Nogueira) também reverencia o bairro de Vila Isabel que gerou samba e que deu ao mundo Noel Rosa (1910 - 1937), o genial compositor carioca de quem Juju alinha Palpite infeliz (Noel Rosa), Três apitos (Noel Rosa) e Estrela da manhã (Noel Rosa e Ary Barroso) em medley. Nessa faixa, sobretudo em Palpite infeliz, a cantora adota registro vocal mais informal, à vontade, menos rigoroso, quase marrento. Mesmo sem ter na voz a graça e o charme pop do canto de sua irmã Mart'nália, Juju Ferreirah está em casa em Feliz da Vila. Canta inédita do pai (um samba feliz, A tal brisa da manhã, parceria de Martinho com o saudoso Luiz Carlos da Vila) e recebe seu filho rapper, MC JoohLipe, que discursa ao fim do medley que junta Agora é moda (Resposta da aba) (Serginho Tonelada e Dunga) e o sucesso Na aba (Paulinho da Aba, Nei Silva e Trambique), hit de Martinho em 1984. Aliás, a mistura de rap com samba gera um dos melhores momentos do disco (que soa um pouco repetitivo por jamais trair a sua intenção de reverenciar a Vila e Martinho). Trata-se de Martinho da Vila Isabel (Rappin' Hood, Paulinho Sampagode e Jotha Ehre), samba turbinado com o rap do paulista Rappin' Hood, que versa bonito sobre a obra do patriarca da casa de bamba. Outro trunfo do repertório conceitual é Zé Ferreira (Neoci e Jorge Aragão), contagiante samba de fundo de quintal que prepara o terreno para a entrada do nobre Monarco, convidado de Amigo Martinho, sua parceria com Ratinho, feita em tributo a Seu Ferreira. Enfim, Feliz da Vida é disco familiar que põe o canto de Jujuh Ferreirah em destaque na avenida, sem pretensões, para saudar seu clã e suas origens.

Gessinger lidera 'exército de um homem só' no coeso e reflexivo 'Insular'

Resenha de CD
Título: Insular
Artista: Humberto Gessinger
Gravadora: Stereophonica
Cotação: * * * 1/2

A rigor, Insular pode ser caracterizado como o primeiro disco solo de Humberto Gessinger, ainda que, ao longo de sua discografia, o cantor e compositor gaúcho várias vezes tenha sido o comandante do exército de um homem só no papel de líder e resistente mentor do grupo Engenheiros do Hawaii. Em Insular, bom disco que versa inclusive sobre a solidão, Gessinger comanda exército de virtuosos músicos gaúchos - como Luis Carlos Borges, cujo acordeom pontua a regionalista Recarga - sem deixar de estar essencialmente solitário na criação e na apresentação de inspirada safra autoral. Prestes a completar 50 anos, em 24 de dezembro de 2013, o artista já não é o guri desbocado que se tornou um porta-voz da juventude brasileira - surda às patrulhas da crítica que sempre minimizou a importância dos Engenheiros - à medida em que avançava na highway que acreditava ser infinita. Harmonizando a linguagem do rock com as influências gaúchas sempre presentes na música de Gessinger, Insular transita pelas trilhas da maturidade, nas quais já é possível vislumbrar o fim da outrora infinita highway. Tanto que na música que abre o CD, Terei vivido, o cantor reflete sobre o fato de já ter percorrido a maior parte do caminho existencial. Na mesma sintonia, Segura a onda, DJ - faixa de vibe roqueira que conta com a voz e o acordeom do gaúcho Nico Nicolaiewsky - flagra Gessinger assustado diante do espelho com a consciência de que envelheceu ao longo dos anos. Afinal, o pop não poupa ninguém. Produzido pelo próprio Gessinger, Insular é o primeiro álbum de inéditas da lavra do artista gaúcho desde Dançando em campo minado (2003), disco lançado há dez anos pelo grupo Engenheiros do Hawaii. Ao longo dessa década, Gessinger engatou projetos paralelos - um trio de duração efêmera e o duo Pouco Vogal, formado com o conterrâneo Duca Leindecker - sem deixar de ser e parecer um homem só, longe demais do hype das capitais. Insular não o desvia dessa rota geográfica-existencial. A repetição do termo gaúcho Prenda minha na letra da balada Essas vidas da gente, para citar somente um único exemplo, situa Gessinger em seu habitat natural, de onde surgem milongas como a Milonga do xeque-mate, de gauchismo diluído pelo toque universal da guitarra de Frank Solari. Entre rock de pegada mais tradicional (Bora, do significativo verso "O tempo vai passando, o passando vai pesando"), rock de arquitetura folk (Sua graça, faixa pontuada pela harmônica tocada pelo próprio Gessinger) e canção estruturada no tempo da delicadeza (a boa música-título Insular), Gessinger reforça sua (sempre nítida) assinatura como compositor sem se escorar tanto nas autorreferências que diluíram com o tempo a força do repertório dos Engenheiros do Hawaii. Insular prova que o artista anda com coerência e coesão pela highway que já se revela finita.

'AM' delineia curva descendente da discografia do grupo Arctic Monkeys

Resenha do CD
Título: AM
Artista: Arctic Monkeys
Gravadora: Domino Records / Sony Music
Cotação: * * 1/2

Fora de foco, sem uma direção específica, o quinto álbum do grupo inglês Arctic Monkeys, AM, delineia com maior nitidez a curva descendente da discografia do quarteto - queda evidenciada a partir de seu antecessor, Suck it and see (2011), álbum de cara também indefinida. Influenciado pelo rock dos anos 70 (evocado sobretudo em Arabella, bom fruto da safra irregular) e em menor grau pelo soul, AM começa muito bem - com as duas ótimas músicas já previamente divulgadas, Do I wanna know? e R U mine? - mas logo perde o pique. Há no meio do caminho bela balada (No. 1 party anthem) e outra nem tão bela assim (Mad sounds), mas, independentemente do maior ou menor poder de sedução de faixas isoladas, AM não se encontra, perdendo o fio da meada ao longo de suas 12 músicas. A rigor, verdade seja dita, o Arctic Monkeys sempre mudou a face de seu rock a cada álbum. O jorro jovial de energia do seminal Whatever people say I am, that's what I'm not (2006) deu lugar aos sons menos básicos e à urgência sexista de Favourite worst nightmare (2007), com rock que foi encorpado e que ganhou densidade no posterior Hamburg (2009). Sem sintonia com a obra pregressa do Arctic Monkeys, AM enfileira músicas - One for the road, I want it all, Fireside, Snap out of it - cantadas sem energia. Não é a contínua mudança de rota que incomoda em AM, mas a sensação de que o grupo ligou o piloto automático, dissipando a energia que - de uma forma ou de outra - sempre guiou a obra da banda do vocalista e guitarrista Alex Turner.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Braz cai no 'Samba em prelúdio' com Miúcha no CD que celebra Vinicius

Uma das (muitas) obras-primas da parceria de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) com Baden Powell (1937 - 2000), Samba em prelúdio ganha as vozes de Renato Braz e Miúcha 50 anos após ter sido lançado em disco, em 1963, em gravação feita por Geraldo Vandré com Ana Lúcia. O inédito dueto de Braz com Miúcha foi gravado para o CD A vida tem sempre razão, produzido por José Milton para a Sony Music, com arranjos do pianista Cristóvão Bastos, para celebrar os 100 anos de nascimento de Vinicius. O tributo vai ser lançado em outubro de 2013.

Caetano representa Brasil em Grammy Latino que minimiza som do país

A divulgação da longa lista de indicados ao 14º Grammy Latino mostra que, mais uma vez, a vertente latina do prêmio minimiza a produção fonográfica nacional. Caetano Veloso (em foto de Fernando Young), Clarice Falcão e Roberto Carlos são os únicos brasileiros que disputam as mais importantes categorias gerais. Com cinco indicações ao todo, o compositor concorre ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Compositor com seu CD Abraçaço (2012), cuja faixa-título, Um abraçaço (Caetano Veloso), está no páreo para levar os prêmios de Canção do AnoGravação do Ano. Clarice Falcão - a cantora que virou sensação entre o público jovem com seu álbum Monomania (2013) - disputa o Grammy Latino de Novo Artista. Já Roberto Carlos concorre ao prêmio de Melhor Canção com Esse cara sou eu (Roberto Carlos, 2012). No mais, os artistas brasileiros ficaram confinados às categorias dedicadas à produção nacional - uma maneira política de inserir a produção fonográfica nacional no prêmio, mas sempre de forma periférica, sem chances de abocanhar os troféus principais, aos quais concorrem artistas de vários países. Tanto que não há sequer um disco brasileiro entre os 10 CDs indicados ao prêmio de Álbum do Ano. Eis os indicados ao 14º Grammy Latino nas categorias principais do prêmio de 2013, cuja entrega está programada para 21 de novembro de 2013 em Los Angeles (EUA):

Álbum do ano:
Corazón profundo - Carlos Vives
En español - Natalie Cole
Escultura - Guaco
La música no se toca - Alejandro Sanz
Lo mejor que hay en mi vida - Andrés Cepeda
Papitwo - Miguel Bosé
Presente - Bajofondo
Tanto - Pablo Alborán
Versiones - Gian Marco
Vida - Draco Rosa

Canção do ano
Esse cara sou eu (Roberto Carlos) - Roberto Carlos
La que me gusta (José Luis Pardo) - Los Amigos Invisibles
Llorar (Jesse & Joy) - Jesse & Joy (com Mario Domm)
Lo mejor que hay en mi vida (Amaury Gutierrez) - Andrés Cepeda
Mi marciana (Alejandro Sanz) - Alejandro Sanz
Mi novia se me esta poniendo vieja (Ricardo Arjona) - Ricardo Arjona
Se yo fuera tu (Jorge Luis Piloto) - Gilberto Santa Rosa
Solo el amor nos salvará (Syntek) - Syntek com Malu
Um abraçaço (Caetano Veloso) - Caetano Veloso
Volví a nacer - Carlos Vives


Gravação do ano:
Bachata Rosa - Natalie Cole com Juan Luis Guerra
Desde lejos - Santiago Cruz
La nave del olvido - Buika
Lo mejor que hay en mi vida - Andrés Cepeda
Más y más - Draco Rosa (com Ricky Martin)
Mi marciana - Alejandro Sanz
Tanto - Pablo Alborán
Um abraçaço - Caetano Veloso

Vivir mi vida - Marc Anthony
Volví a nacer - Carlos Vives


Novo artista:
A Band of Bitches
Clarice Falcão
EliaCim
Gaby Moreno
Jesús Hidalgo
Leslie Cartaya
Maluma
Milton Salcedo
Mojito Lite
Quattro

Faixa gravada com T.I. e produzida por Pharrell anuncia álbum de Hudson

Cantora  norte-americana de estilo parecido com o de sua antecessora Whitney Houston (1963- 2012), Jennifer Hudson suaviza seu canto e se joga na pista, com ecos da disco music, em I can't describe (The way I feel), single que anuncia seu terceiro álbum de estúdio. Gravada com a adesão do rap de T.I., I can't describe (The way I feel) é música composta e produzida por Pharrell Williams. O CD, que vai ser lançado pela RCA Records, foi feito com colaborações dos produtores Salaam Remi e Timbaland, entre outros nomes valorizados na indústria do disco.

Emicida expõe os riscos e tensões da glória e dos guetos no primeiro álbum

Resenha de CD
Título: O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui
Artista: Emicida
Gravadora: Laboratório Fantasma
Cotação: * * * * *

 "...Graças aos raps / Hoje eu ligo mais quebradas do que o Google Maps / Então respeite meus cabelos crespos, ok? Ok?", rima o paulistano Emicida - o rapper da vez na cena hip hop do Brasil - em Uruntu fristaili (Emicida). A marra da rima é diluída pela saudação aos orixás feita nesta última faixa do primeiro álbum do artista com o reforço de coro estelar que dilui a identidade das vozes de convidadas como Fabiana Cozza e Tulipa Ruiz. Com contundência e o sarcasmo exposto já no título O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui, o CD expande o caminho do artista, selando a condução de Emicida das rinhas dos guetos ao sucesso midiático. Em rotação na trilha sonora da novela Sangue bom, a sombria Zoião (Emicida, Felipe Vassão e DJ Zala) é a prova de que o som de Leandro Roque de Oliveira já transcendeu as quebradas do hip hop tupiniquim. Após duas mixtapes que abriram caminhos e um (recente) registro ao vivo de show feito com Criolo, o rapper da vez em 2011, Emicida amplia seu discurso num primeiro álbum pontuado tanto pelas levadas de samba como pelo poema Milionários do sonho (Elisa Lucinda), espalhado como jogral ao longo das 14 faixas do CD. O rapper avança e celebra conquistas sem deixar de olhar para trás e de reconhecer os companheiros da jornada, como sinaliza Nóiz (Emicida e Felipe Vassão), um dos raps mais tradicionais do álbum. Ao expor riscos e tensões da glória e dos guetos, O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui de certa forma costura a trajetória de Emicida, mirando o futuro com pé no passado. Tema de pressão pop roqueira, gravado com a adesão de Pitty, Hoje cedo (Emicida e Felipe Vassão) lembra que a chapa continua quente ao redor dos trilham o caminho do bem. Contudo, a delicadeza lúdica de Sol de giz de cera (Emicida e Felipe Vassão) - faixa gravada com os vocais de Tulipa Ruiz e Estela Virgílio (filha de Emicida) - mostra que é possível enternecer sem perder a consciência da dureza da luta cotidiana. "Sou eu quem mata o leão / Quem vence o dragão, ufa /.../ E ainda volto pra casa com a mistura / Cantando / Pa-pa-pa-pa-ráa", ressalta o pai amoroso. Em outro momento-família de O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui, Emicida põe sua mãe, Dona Jacira, na roda de samba armada ao fundo de Crisântemo (Emicida, Dona Jacira e Felipe Vassão), destaque do repertório autoral com sua batida inebriante e a azeitada mistura de samba e rap. Sem pesar a mão, Cristântemo aflora a dor dos que crescem órfãos de pai nas quebradas da vida. É cada um com sua cruz no gueto, como diz um dos versos de Bang! (Emicida, Ogi, Rael e Felipe Vassão), rap mais tenso em que o artista vencedor prega a perseverança no caminho do bem. Em tom que beira o blá-blá-blá cafajeste da vertente gangsta do hip hop norte-americano, o discurso de Trepadeira (Emicida e Felipe Vassão) - samba cantado por Emicida com Wilson das Neves - destoa da ideologia do CD ao expiar a dor de corno do homem traído e ferido em seu orgulho de macho. Gueto (Emicida e Leo Justi) vai mais fundo ao cavucar o resistente preconceito social / racial para concluir no fim da letra: "Nóiz sempre vai ser gueto". Contudo, a música tirou Emicida do gueto e, por isso, o rapper celebra o suingue do ritmista em Hino vira-lata (Emicida e Beatnick & K-Salaam), samba aditivado com o molejo do Quinteto em Branco e Preto, referência do bom samba de São Paulo (SP). Ainda dentro da roda, Samba do fim do mundo (Emicida e Felipe Vassão) sentencia que é preciso estar atento e forte enquanto Alma gêmea - tema que evoca o mel de um charm dos bailes de música preta brasileira - salpica poesia para exaltar a mulher amada. Enfim, O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui prova que os cabelos crespos de Emicida merecem respeito pela rota traçada pelo rapper do gueto à justa glória.