Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 30 de junho de 2015

Retrô 2° trimestre de 2015: Duda, Gal, Lenine e Virgínia fazem 'discos do ano'

RETROSPECTIVA 2º TRIMESTRE DE 2015 - Diferentemente do primeiro trimestre do ano, período em que os shows foram mais marcantes do que os discos, o segundo trimestre deste ano de 2015 - encerrado hoje, 30 de junho - legou ao universo pop quatro álbuns espetaculares, perfeitos, que fizeram jus às cinco estrelas na avaliação de Notas Musicais e, por isso mesmo, já estão garantidos nas listas de melhores discos do ano. Três foram lançados em abril e um veio ao mundo em maio. Lançado em abril, Mama kalunga (Casa de Fulô Produções) reacendeu o fogo sagrado do canto da cantora baiana Virgínia Rodrigues, emanando orgulho negro e saudando os ancestrais numa trama que juntou tambores e cordas com maestria na produção capitaneada por Sebastian Notini e Tiganá Santana. Também lançado em abril, em edição inicialmente apenas digital, É (Independente) revelou e afirmou Duda Brack, jovem cantora gaúcha radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), como a grata revelação do ano. Sob a produção de Bruno Giorgi, Brack apresentou um disco (in)tenso, urgente, experimental, que passa pelo filtro do indie rock músicas identificadas com o universo da MPB. Lançado oficialmente em 30 de abril, Carbono (Universal Music) abriu e expandiu as parcerias e conexões de Lenine, fazendo o artista evoluir na atmosfera densa do álbum de inéditas autorais, em alquimia com seus pares. Bruno Giorgi, JR Tostoi e o próprio Lenine assinaram a produção do álbum em química perfeita. Por fim, em maio, Estratosférica (Sony Music) confirmou a alta expectativa depositada sobre o primeiro disco de estúdio de Gal Costa após o revigorante Recanto (Universal Music, 2011). O resultado foi um disco moderno, mais pop e menos radical na sonoridade eletrônica que ampliou as conexões da cantora baiana com a cena contemporânea. Sob a direção artística de Marcus Preto, personagem-chave do disco produzido por Moreno Veloso e Kassin, Gal deu voz a músicas de compositores como Arthur Nogueira, Céu, Jonas Sá, Junio Barreto, Lira, Mallu Magalhães, Marisa Monte e Tom Zé, entre outros nomes. O repertório de (alta) qualidade originou CD à altura do histórico fonográfico de Gal.

Poesia quente impede que Lira se perca no solo 'O labirinto e o desmantelo'

Resenha de CD
Título: O labirinto e o desmantelo
Artista: Lira
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 

Aos primeiros acordes de Desamar (Lira e Guri Assis Brasil), primeira música do segundo álbum solo de José Paes Lira, o ouvinte fica com a sensação de que vai ouvir um rock. Essa sensação até permanece ao longo da faixa. Contudo, O labirinto e o desmantelo jamais pode ser caracterizado como um disco de rock. É, sim, um disco que transita por caminhos cada vez mais universais e menos regionais, afastando Lira, o o pernambucano Lirinha, do som do grupo que o projetou, Cordel do Fogo Encantado. Apesar de eventuais referências regionais como a montanha que dá nome à bela Jabitacá (Lira, Junio Barreto e Bactéria), última das 11 músicas autorais do álbum, o cordel de Lira está cada vez mais urbano, quase pop. A propósito, a gravação de Jabitacá com Gal Costa - lançada no álbum Estratosférica (Sony Music, 2015) - é superior ao registro do autor, simplesmente porque a voz da cantora tem mais brilho para encarar a canção que remove montanhas psicodélicas para fazer uma declaração de amor. Aviso aos (intérpretes) navegantes: há outras boas músicas em O labirinto e o desmantelo à espera de cantores com artilharia vocal mais viçosa. Uma das seis parcerias de Lira com Pupillo, produtor do disco, Pra fora da terra é a mais bonita. O labirinto e o desmantelo destila poesia. Tanto que as melodias nem sempre acompanham as forças dos versos imagéticos de músicas como Odin (Lira e Pupillo), Nuvem (Lira e Vítor Araújo) e Mergulho (Lira). Versos como "Transformei a ferida / Numa orquídea de luz mineral" (de Ser, uma das parcerias de Lira e Pupillo) ou "Entra no espelho do meu quarto / Eu moro dentro de um relógio / Na torre do alto" (de Vasto, outra música de Lira e Pupillo) indicam combinações de referências como a poesia armorial, a prosa rimada dos cordelistas nordestinos e o discurso sentimental da canção popular. A poesia de O labirinto e o desmantelo é quente, como mostra a alta temperatura erótica de Filtre-me (Céu, Lira e Pupillo), música cantada por Pupillo em dueto com a cantora e compositora paulistana Céu, parceira no tema. Mas o som e o canto do artista soam amenos em contraste que alimenta o disco, mas, ao mesmo tempo indica que Lira parecia mais à vontade no ponto de fervura do Cordel do Fogo Encantado, algo que já detectado no anterior Lira (Independente,  2014), ligeiramente superior pelo tom mais melodioso e harmonioso.

Calcanhotto ceva o amargo da obra de Lupicínio em registro ao vivo de show

Adriana Calcanhotto vai lançar em julho de 2015, em edição da Sony Music, o registro ao vivo do show em que celebrou o centenário do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), em apresentação feita em Porto Alegre (RS), em dezembro de 2014. O CD Loucura - Adriana Calcanhotto canta Lupicínio Rodrigues (capa à esquerda) alinha basicamente sucessos do compositor - conterrâneo da artista gaúcha - em repertório que surpreende em Cevando o amargo (Lupicínio Rodrigues e Paratini), toada gaúcha lançada em 1953 pelo conjunto vocal Farroupilha com o título de Amargo. Calcanhotto - vista em cena do show na foto maior, extraída de vídeo postado no YouTube - dá voz a sucessos Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1950), Castigo (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1953), Ela disse-me assim (Vai embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959), Esses moços (pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948), Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947), Homenagem (Lupicínio Rodrigues, 1961), Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971), Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1953), Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947), Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952), Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1948), Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins,1938), Vingança (Lupicínio Rodrigues,1951) e Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957).

Dream Team do Passinho evolui na batida pop funk do álbum 'Aperte o play'

Resenha de CD
Título: Aperte o play
Artista: Dream Team do Passinho
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 

Movimento criado nos anos 2000, nos bailes e nas ruas das comunidades que têm o funk como trilha sonora preferencial, o Passinho é uma das traduções do pancadão que fala a língua da juventude que consome o gênero. Surgido em 2014, o Dream Team do Passinho - grupo formado por jovens do Rio de Janeiro (RJ) e da Baixada Fluminense (RJ) - foi atrás de seu sonho, materializado através de seu primeiro álbum, Aperte o play, lançado neste mês de junho de 2105 em edição da Sony Music. Precedido pelo sucesso do single De ladin (Rafael Mike, Rene, Breder e Lellêzinha), o álbum apresenta 12 músicas em meros 32 minutos, mostrando o suingue e a sintonia entre Diogo Breguete (morador da Favela da Cachoeirinha, situada no subúrbio carioca), Pablinho (egresso da Favela da Rocinha), Lellêzinha (cantora e atriz vinda da Zona Oeste do Rio de Janeiro, bendito fruto na formação masculina do quinteto), Hiltinho (morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense) e Rafael Mike (morador de Nova Iguaçu que já se radicou na cidade do Rio de Janeiro). No disco, o funk do grupo passa pelo filtro pop dos produtores Umberto Tavares e Mãozinha, os mesmos que formataram o som de Anitta para além do universo funk. Time que sonha (Mike, Breder, Breguete e Pablinho) e Quadradinho junto (Rafael Mike e Breder) sobressaem em repertório aditivado com boa dose de eletrônica, especialmente alta em Caracoles (Mike, Breder e Fernando Barcello), faixa de sons sintetizados. Batidas à parte, o discurso é jovem, feliz e desencanado. Batom com batom (Mike e Breder), por exemplo, recorre ao batidão para contar casos de duas meninas que se pegam no baile para inveja dos manos. A letra culmina com citação de verso d'O xote das meninas (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1953). Enfim, temas como A fila (Rafael Mike, Rene e Breder) dialogam com o universo dos jovens que curtem o passinho. E, no fim, entra em cena em Qual foi (Rafael Mike, Bolinho Fantástico, Diogo Breguete, Breder e Pablinho) até um baticum que evoca o samba de matriz africana. Enfim, há todo um polimento, uma maquiagem pop, no som ouvido no disco do Dream Team do Passinho. Mas Aperte o play tem seus méritos. É som de preto, de favelado, mas, quando toca, (quase...) ninguém vai ficar parado.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Eis a capa e o repertório de 'Meu ziriguidum', terceiro álbum de Aline Calixto

Com capa assinada por Formiga e Leonardo Cezário, o terceiro álbum da cantora carioca (de criação mineira) Aline Calixto, Meu ziriguidum, vai ser lançado em julho de 2015 por vias independentes. Com participações de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho, além do rapper paulistano Emicida, o disco foi produzido por Paulo Sete Cordas com Thiago Delegado ao longo de 2014. O primeiro single do álbum, Papo de samba (Carlos Caetano, Moisés Santiago e Flavinho Silva, 2001), já está em rotação em rádios voltadas para o samba. Eis, na ordem do CD, as 11 músicas do álbum Meu ziriguidum, o sucessor de Flor morena (Warner Music,  2011) na discografia de Aline Calixto:

1. Meu ziriguidum (Aline Calixto e Gabriel Moura, 2015)
2. No pé miudinho (Moacyr Luz e Délcio Luz, 2015) - com Zeca Pagodinho
3. Entre você e eu (Leandro Fregonesi, 2015)
4. Papo de samba (Carlos Caetano, Moisés Santiago e Flavinho Silva, 2001)
5. Toda noite (Arlindo Cruz e Maurição, 2015) - com Arlindo Cruz
6. Ibamolê (Sérginho Beagá, 2015)
7. Musas (Arlindo Cruz e Rogê, 2015)
8. Pedreira (Fabinho do Terreiro e Ricardo Barrão, 2015)
9. Conto de areia (Romildo e Toninho Nascimento, 1974) - com Emicida

10. Lenda das matas (João Martins e Raul DiCaprio, 2015)
11. Eu sou assim (Serginho Beagá, 2015)

Russo grava Herivelto em álbum em tributo à Mangueira produzido por Rildo

Está em fase de produção, no Rio de Janeiro (RJ), um disco em tributo à escola de samba Estação Primeira de Mangueira. O álbum está sendo produzido e arranjado por Rildo Hora. Vários intérpretes estão gravando sambas em exaltação à Mangueira para o disco. O cantor e compositor carioca Leo Russo, por exemplo, pôs voz no samba Lá em Mangueira (Herivelto Martins e Heitor dos Prazeres),  lançado em 1942 nas vozes do Trio de Ouro.  O disco sairá ainda neste ano de 2015.

Otto alinhava o repertório de seu sexto disco solo de estúdio, 'Ottomatopeia'

Otto já alinhava o repertório inédito e autoral de seu sexto álbum solo de estúdio. O sucessor do álbum The moon 1111 (Deck, 2012) vai se chama Ottomatopeia. Uma das músicas do disco, Pode falar, cowboy, já está sendo tocada pelo cantor e compositor pernambucano nas apresentações do show da recém-estreada turnê Recupera, de caráter retrospectivo. A intenção de Otto - em foto de seu Instagram - é entrar em estúdio entre julho e agosto de 2015  para começar a gravar o CD.

Bethânia opta por gravar ao vivo show dos 50 anos em São Paulo em agosto

Maria Bethânia - em foto de Rodrigo Goffredo - optou por fazer na cidade de São Paulo (SP) a gravação ao vivo do espetáculo comemorativo de seus 50 anos de carreira. Embora o cronograma inicial da turnê nacional do show Abraçar e agradecer previsse para setembro de 2015, no Rio de Janeiro (RJ), o registro audiovisual do espetáculo, a gravação ao vivo vai ser efetivamente feita em 7 e 8 de agosto de 2015 em apresentações do show na casa paulista HSBC Brasil. CD e DVD serão lançados no mercado fonográfico ainda em 2015 pela gravadora Biscoito Fino. Clique aqui para ler a resenha do show Abraçar e agradecer, publicada em Notas Musicais  em 12 de janeiro de 2015.

domingo, 28 de junho de 2015

Eis a capa de 'Segredo', volume inicial de projeto de inéditas de Cássia Eller

♪ Esta é a capa de Segredo, primeiro volume de O espírito do som, projeto que intenciona trazer a público gravações inéditas de Cássia Eller (1962 - 2001) de forma progressiva. O primeiro volume alinha 10 gravações caseiras da cantora, trabalhadas a partir de registros descompromissados feitos pela cantora carioca em 1983, em Brasília (DF), e registrados em fita cassete. O cancioneiro do grupo inglês The Beatles domina o repertório. Eis, na ordem, as dez músicas de O espírito do som - Vol. 1 - Segredo - Cássia Eller em Brasília, CD distribuído pela carioca Coqueiro Verde Records:

1. Segredo (Luiz Melodia, 1975)
2. For no one (John Lennon e Paul McCartney, 1966)
3. Happiness is a warm gun (John Lennon e Paul McCartney, 1968)
4. Flor do sol (Cássia Eller e Simone Saback, 1982)
5. Ne me quitte pas (Jacques Brel, 1959)
6. Airecillos (Marluí Miranda, 1976)
7. Ausência (Ednardo, 1974)
8. Sua estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969)
9. Good morning, heartache (Irene Higginbotham, Ervin Drake e Dan Fischer, 1946)
10. Golden slumbers (John Lennon & Paul McCartney, 1969)

Reedição em vinil do primeiro álbum de Gal chega efetivamente ao mercado

Embora anunciada em outubro de 2014 pela Polysom, a reedição em vinil do primeiro álbum solo da cantora baiana Gal Costa - Gal Costa, lançado originalmente no formato de LP no início de 1969 pela gravadora Philips - está efetivamente chegando ao mercado fonográfico neste mês de junho de 2015. Produzida sob licença da gravadora Universal Music, a reedição foi fabricada com vinil de 180 gramas. Relançado em LP dentro da coleção Clássicos em vinil, Gal Costa volta ao catálogo com as 12 músicas originais na mesma ordem. Eis, na disposição do LP, as 12 faixas de Gal Costa:

Lado A:
1. Não identificado (Caetano Veloso, 1969)
2. Sebastiana (Rosil Cavalcanti, 1953) - com Gilberto Gil)
3. Lost in paradise (Caetano Veloso, 1969)
4. Namorinho de portão (Tom Zé, 1968) - com Gilberto Gil)
5. Saudosismo (Caetano Veloso, 1968)
6. Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968)
Lado B:
1. Vou recomeçar (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969)
2. Divino maravilhoso (Gilberto Gil e Caetano Veloso, 1968)
3. Que pena (Ele já não gosta mais de mim) (Jorge Ben Jor, 1969) - com Caetano Veloso
4. Baby (Caetano Veloso, 1968) - com Caetano Veloso
5. A coisa mais linda que existe (Gilberto Gil e Torquato Neto, 1968)
6. Deus é o amor (Jorge Ben Jor, 1969)

Cenário de Carvalho valoriza show em que Salmaso eleva Guinga e Pinheiro

Resenha de show
Título: Corpo de baile
Artista: Mônica Salmaso (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Tom Jobim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de junho de 2015
Cotação: * * * * *
 Show em cartaz no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), até 28 de junho de 2015

A ruptura de Guinga com Paulo César Pinheiro, nos anos 1980, transformou a obra lapidar dos compositores cariocas em fonte abandonada. São músicas feitas nas décadas de 1970 e 1980 que, em parte, jazem em baú de joias a que a cantora paulistana Mônica Salmaso teve acesso há cerca de dez anos. Em 2014, parte do tesouro desse baú veio a público em álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino, Corpo de baile, que logo se impôs como o melhor de Salmaso e como um dos melhores discos do ano passado por conta da perfeição das interpretações e dos arranjos assinados por Dori Caymmi, Luca Raele, Nailor Azevedo Proveta, Nelson Ayres, Paulo Aragão, Teco Cardoso e Tiago Costa. No show Corpo de baile, que chegou na noite de 27 de junho de 2015 à cidade do Rio de Janeiro (RJ) após estrear em São Paulo (SP), Salmaso bisa a perfeição do disco, dividindo o palco com a maior parte dos músicos e arranjadores do CD. Além da cantora, são nove músicos em cena: Teco Cardoso (nos sopros e na direção musical), Nailor Proveta (clarinete e saxofones), Paulo Aragão (violão), Nelson Ayres (piano e acordeom), Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e os músicos que manuseiam com virtuosismo as cordas do Quarteto Carlos Gomes, formado por Adonhiran Reis (violino), Alceu Reis (cello), Cláudio Cruz (violino) e Gabriel Marin (viola). Para abrilhantar ainda mais a cena, um majestoso vídeo-cenário criado pelo cineasta Walter Carvalho - diretor de cinema que já havia trabalhado com a cantora no registro audiovisual do show Alma lírica brasileira que gerou o DVD editado em 2012 - engrandece o show com projeções veiculadas em tela de tule alocada à beira do palco, entre a cantora e a plateia. As imagens projetadas por Carvalho funcionam como telas que traduzem visualmente o universo das músicas do disco e que enquadram a cantora e os músicos dentro dessas telas, criando inebriantes efeitos visuais. É, de certa forma, como se o espectador estivesse assistindo a vários curtas-metragens com música tocada ao vivo. E a música em si é sublime. A obra de Guinga e Paulo César Pinheiro tem formato clássico que alude a um Brasil antigo cuja trilha sonora era formada por modinhas, valsas e canções. Mas, dentro desse formato tradicional, Guinga embute a modernidade de sua obra, plenamente entendida por Salmaso. Desde o primeiro número, o choro-canção Fim dos tempos (inédito até ser gravado em 2014 pela cantora em Corpo de baile), até o bis, dado com a modinha Senhorinha (1986), única das 15 músicas do roteiro ausente do disco por já ter sido gravada por Salmaso no álbum Voadeira (Eldorado, 1999), o que se vê e ouve é uma cantora em estado de graça, totalmente segura na interpretação de cancioneiro denso que exige rigor estilístico e técnica apurada. Salmaso jamais sai do tom, seja mergulhando no além-mar do fado Navegante (uma das seis inéditas que somente chegaram ao disco em Corpo de baile), no pântano de mágoas e solidão em que está imerso Bolero de Satã (1976), na tribo indígena de Curimã (2014), no universo afrancesado da valsa Nonsense (1989) e no salão vintage em que roda a valsa com ar de modinha Sedutora (2014), número em que sobressai o toque límpido do piano de Nelson Ayres. À vontade dentro do universo camerístico do show, Salmaso segue Procissão de padroeira (2010), marcha pelo Rancho das sete cores (2014) - guiada pelo arranjo e clarinete de Nailor Proveta - e se embrenha na floresta caipira em que Quadrão (1980) propaga ecos dos cancioneiros de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959)  no toque da viola caipira de Neymar Dias. O coco de passo embolado Violada (1992) também ressoa sons desse Brasil caboclo. No seu salão virtuoso, Mônica evolui majestosa e dá baile como cantora ao som de valsas como Noturna (1989) e Corpo de baile (2014). E tudo é sedutor, como sentencia verso da música-título do show. Valorizado pelo vídeo-cenário de Walter Carvalho, composto de retratos de um Brasil tão antigo quanto atemporal, todo o corpo de baile envolve o espectador neste show sublime - e memorável - de Mônica Salmaso.

'Senhorinha' é belo bônus do show em que Salmaso eleva Guinga e Pinheiro

Modinha dos compositores cariocas Guinga e Paulo César Pinheiro, lançada na voz do cantor fluminense Ronnie Von em gravação feita há 29 anos para a trilha sonora da primeira versão da novela Sinhá moça (TV Globo, 1986), Senhorinha ganhou a voz límpida de Mônica Salmaso em registro feito para o terceiro álbum da cantora paulistana, Voadeira (Eldorado, 1999). Por isso, Senhorinha não entrou no repertório do perfeito álbum em que Salmaso canta somente músicas da já extinta parceria de Guinga e Pinheiro, Corpo de baile (Biscoito Fino, 2014). Mas Senhorinha foi o precioso e sensível bônus do show Corpo de baile, que chegou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 27 de junho de 2015, em apresentação que bisou a perfeição do disco e que embeveceu o público que encheu o Teatro Tom Jobim, onde Corpo de baile fica em cartaz até hoje, 28 de junho. Além de Senhorinha, Salmaso apresentou - com fidelidade aos arranjos sublimes do disco - as 14 músicas do álbum Corpo de baile. Eis o roteiro seguido em 27 de junho de 2015 por Mônica Salmaso - em foto de Mauro Ferreira - na estreia carioca de Corpo de baile, show de música elevada, engrandecido pelo belo vídeo-cenário criado pelo cineasta Walter Carvalho:

1. Fim dos tempos (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
2. Fonte abandonada (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2003)
3. Navegante (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
4. Bolero de Satã (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1976)
5. Curimã (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
6. Nonsense (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989)
7. Sedutora (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
8. Rancho das sete cores (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
9. Quadrão (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1980)
10. Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989)
11. Noturna (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989)
12. Violada (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1992)
13. Procissão da padroeira (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2010)
14. Corpo de baile (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
Bis:
15. Senhorinha (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1986)

sábado, 27 de junho de 2015

Em transição, Mariene experimenta tempos de delicadeza no show 'Lindeza'

Resenha de show
Título: Lindeza
Artista: Mariene de Castro (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de junho de 2015
Cotação: * * * 1/2

Mariene de Castro está em processo de transição. Lindeza - show de entressafra, criado para manter a cantora em cena enquanto não se concretiza a gravação de seu terceiro projeto fonográfico audiovisual, previsto para ser registrado em Salvador (BA) no segundo semestre deste ano de  2015 - reflete esse momento transitório. É um show de formação inusitada na trajetória da cantora baiana nos palcos. Estão lá as percussões que sustentam os ritmos afro-brasileiros, mote do repertório original da intérprete. Mas está lá também um piano acústico, de cauda, tocado por Rafael Vernet. É somente com o toque do piano de Vernet que Mariene experimenta número de tom camerístico, entoando com correção Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957), canção de arquitetura clássica que refina o clima sentimental dos temas folhetinescos típicos da década de 1950 sem perda da intensidade. Em Lindeza, Mariene se permite experimentar tempos de delicadeza, ainda que o santo baixe com alguma força na parte final do show, deixando a cantora em casa com suas saudações aos orixás. Mas não é essa Mariene efusiva, calorosa, que domina a cena, sobretudo na primeira metade de Lindeza. Já no primeiro número, Sinfonia da paz (Altay Veloso, 1991), fica evidente que a cantora baixou intencionalmente os tons. Opção estética confirmada na música seguinte, Flor de ir embora (Fátima Guedes, 1990), canção lançada por Maria Bethânia há 25 anos. De certa forma, os versos de Fátima Guedes simbolizam o momento e o movimento artístico esboçado por Mariene em seu último álbum de estúdio, Colheita (Universal Music, 2014). Sem romper radicalmente com os sons de sua terra, Mariene está sendo movida pelo desejo de correr o mundo (musical) afora, amadurecendo aos poucos. O show Lindeza poderia até esticado esse movimento. Seu bloco inicial supõe um roteiro mais surpreendente do que efetivamente é o repertório deste show em que Mariene revisita sucessos da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) - cuja obra abordou no CD e DVD Ser de luz - Homenagem a Clara Nunes (Universal Music, 2013) - e músicas de seus discos anteriores como Amuleto de sorte (Nelson Rufino, 2012) - cantado com gosto pela plateia - e o infalível Abre caminho (Roque Ferreira, J. Velloso e Mariene de Castro, 2004). O atrapalhamento da cantora com a letra de João Valentão (Dorival Caymmi, 1953) evidenciou sério momento de desconcentração da artista em número valorizado pelo floreio jazzy do baixo de Adalberto Miranda. Um medley com toadas e baiões da nação nordestina - partindo de Hora do adeus (Onildo de Almeida e Luiz Queiroga, 1966), lembrança do reinado de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), e culminando com Assum preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950) - mostrou que Mariene, fora da seara do samba de sua terra, tem mais facilidade para dominar o idioma sentimental dessas canções, como Dono dos teus olhos (Humberto Teixeira, 1956), sem cair no drama. Lindamente vestida com figurinos de Cris Cordeiro, a cantora abriu espaço - na hora de trocar de vestido - para o inebriante solo de percussão (conduzido pelo berimbau) de Marco Lobo que culminou com afetiva citação de Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) em ponte que ligou Bahia a Minas Gerais do imortal poeta Fernando Brant (1946 - 2015). Música inédita que Mariene já vem cantando em shows, desde a temporada de Colheita, Eu quero ir com você confirma a inspiração da emergente compositora paraibana Flavia Wenceslau, de quem Mariene já gravara o maracatu Filha do mar no álbum Tabaroinha (Universal Music, 2012). A canção é tão simples quanto bela, evocando o repertório romântico do compositor pernambucano Dominguinhos (1941- 2013) e se insinuando como hit assim que for promovida (a cantora já gravou a música e vai lançá-la com clipe). Na sequência final, Mariene voltou a cair no samba de sua terra com a manemolência e a ginga que a tornaram uma das mais destacadas intérpretes do gênero. Show que não chega a delimitar de fato novo ciclo na carreira de Mariene de Castro,  Lindeza aduba o terreno para colheitas mundo afora.

Mariene canta Dolores, Fátima Guedes e nova de Flavia no ciclo de 'Lindeza'

Cantora associada ao calor dos ritmos da Bahia, Mariene de Castro experimenta o que caracteriza como "novo ciclo" em Lindeza, show que chegou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 26 de junho de 2015, em apresentação que seduziu o público que encheu o Theatro Net Rio para ver a cantora baiana dar voz a composições - recolhidas tanto em sua memória afetiva como em sua discografia - com formação musical inusitada para Mariene. Com o toque do piano acústico de Rafael Vernet, do baixo acústico de Adalberto Miranda e das percussões de Marco Lobo e Bóka Reis, Mariene cantou músicas como Flor de ir embora (canção de Fátima Guedes lançada por Maria Bethânia em álbum de 1990), Eu quero ir com você - inédita da compositora paraibana Flavia Wenceslau que vai ser lançada em breve por Mariene em gravação já alvo de clipe - e Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957), esta em número de tom camerístico que juntou a cantora somente ao piano de cauda de Vernet. Eis o roteiro seguido em 26 de junho de 2015 por Mariene de Castro - em foto de Rodrigo Goffredo - no palco do Theatro Net Rio, na estreia carioca de Lindeza, show transitório que debutou em Belo Horizonte (MG), em 5 de junho:

1. Sinfonia da paz (Altay Veloso, 1991)
2. Flor de ir embora (Fátima Guedes, 1990)
3. Coração leviano (Paulinho da Viola, 1977) /
4. Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976)
5. João Valentão (Dorival Caymmi, 1953)
6. Canto das três raças (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, 1976)
7. Hora do adeus (Onildo de Almeida e Luiz Queiroga, 1966) /
8. Lamento sertanejo (Dominguinhos e Gilberto Gil, 1973) /
9. Dono dos teus olhos (Humberto Teixeira, 1956) /
10. Assum preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1950)
11. Ponto de Nanã (Roque Ferreira, 2007)
      - com citação de Cordeiro de Nanã (Tincoãs, 1973)

12. Ponto de Oxossi (tema tradicional de domínio público) /
13. Oxossi (Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro, 2004)
14. Solo de Marco Lobo no berimbau
      - com citação de Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974)

15. Berimbau (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1964)
      - Número instrumento em dueto de Marco Lobo com Rafael Vernet

16. Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957)
17. Eu quero ir com você (Flavia Wenceslau, 2015) - música inédita
18. Amuleto de sorte (Nelson Rufino, 2012)
19. Ilha de maré (Walmir Lima e Lupa, 1977)
20. Falsa baiana (Geraldo Pereira, 1944)
21. Abre caminho (Roque Ferreira, Jota Velloso e Mariene de Castro, 2004)
Bis:
22. Ijexá (Edil Pacheco, 1982)
23. Embala eu (Albaléria, 1979) /
24. Samba da minha terra (Dorival Caymmi, 1940) /

25. Flor da laranjeira (tema tradicional de domínio público) /
26. Ê baiana (Fabrício da Silva, Baianinho, Ênio Santos Ribeiro e Miguel Pancrácio, 1971) /
27. Marinheiro só (Tema tradicional de domínio público) /
28. Canção da partida (Suíte dos pescadores) (Dorival Caymmi, 1957) /
29. Pontos de caboclo (Tema tradicional de domínio público)

Fernando Zor produz e arranja - sem músicos - música composta por MC Gui

A IMAGEM DO SOM - A foto de Lan Rodrigues mostra MC Gui (à esquerda) e o produtor Fernando Zor no FS Estúdios, em São Paulo (SP), durante a gravação de Sua história, música do álbum de Gui, nome artístico do cantor e compositor paulistano Guilherme Kaue Castanheira Alves. Zor - metade da dupla Fernando & Sorocaba - produziu a faixa para o jovem ídolo do gênero conhecido como funk ostentação. Composta por Gui, Sua história é homenagem do MC a seu irmão, Gustavo, falecido recentemente. É o próximo single do artista. Zor produziu e arranjou a música inteiramente no computador, sem a participação de músicos, apenas com beats eletrônicos.

Antonio Adolfo toca dez composições de sua obra no CD instrumental 'Tema'

Em atividade musical desde 1963, o pianista, arranjador e compositor carioca Antonio Adolfo iniciou, a partir de 1967, parceria com o compositor (também carioca) Tibério Gaspar. Dessa primeira fornada de composições com Gaspar, saiu Tema triste, registrado em disco na voz de Iracema Werneck, em 1968, um ano antes da gravação de Maysa (1936 - 1977). Decorridos quase 50 anos da composição da música, Adolfo apresenta Variações sobre Tema triste na última das dez faixas de seu 24º álbum, intitulado justamente Tema. Produzido e arranjado pelo próprio Antonio Adolfo para o mercado fonográfico dos Estados Unidos, mas com distribuição no Brasil sendo feita pela gravadora carioca Rob Digital, o CD Tema rebobina - no tom de jazz à moda brasileira que caracteriza o som de Adolfo - composições criadas pelo artista ao longo dessas suas mais de cinco décadas de trajetória musical. A seleção inclui Alegria for all (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar), Natureza (Antonio Adolfo e Xic Chaves) e Trem da serra (Antonio Adolfo), entre outros temas. O sopro de novidade vem da banda formada por Adolfo para tocar no disco e que inclui, além obviamente do próprio Adolfo, Armado Marçal (percussão), Claudio Spiewak (violão), Jorge Helder (baixo), Leo Amuedo (guitarra), Marcelo Martins (sax e flauta) e Rafael Barata (bateria e percussão). Com capa criada por Julia Liberati a partir de uma tela de Bruno Liberati, Tema é CD gravado nos Estados Unidos para ser consumido (primordialmente)  pelo público dos Estados Unidos.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Eis o roteiro da turnê de Caetano e Gil que, provavelmente, vai originar DVD

Caetano Veloso e Gilberto Gil estrearam na noite de ontem, 25 de junho de 2015, o show Dois amigos - Um século de música, calcado em suas vozes, obras e violões. A rota internacional da turnê - que chega ao Brasil a partir de agosto - foi iniciada em Amsterdam, nos Países Baixos. Embora nada tenha se falado (ainda) sobre o registro audiovisual da turnê, é provável que o show seja gravado ao vivo para dar origem a CD e DVD em 2016 ou mesmo ainda no fim deste ano de 2015. Caso o registro se concretize, o público que admira os dois cantores e compositores baianos - vistos no palco da sala Concertgebouw em foto postada na página de Caetano no Facebook - terá a oportunidade de ver e ouvir em casa um show centrado em sucessos da lavra dos artistas. Mas o roteiro também abre espaço para uma canção italiana  - Come Prima (Alessandro Taccani, Enzo Di Paola e Mario Panzeri, 1957) - e um bolero de autoria do compositor cubano Osvaldo Farrés (1902 - 1985), Tres palabras, já presente no repertório de Gil. Sem falar no tema venezuelano Tonada de luna llena (Simón Díaz, 1973), gravado por Caetano no álbum em que abordou o cancioneiro latino-americano, Fina estampa (PolyGram, 1994). Eis o roteiro seguido por Caetano Veloso e Gilberto em 25 de junho de 2015, na cidade de Amsterdam, na estreia mundial da turnê do show Dois amigos, um século de música, com o qual eles celebram cinco décadas de carreira e amizade:

1. Back in Bahia (Gilberto Gil, 1972)
2. Coração vagabundo (Caetano Veloso, 1967)
3. Tropicália (Caetano Veloso, 1967)
4. Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto, 1967)
5. É luxo só (Ary Barroso e Luiz Peixoto, 1957)
6. De manhã (Caetano Veloso, 1965)
7. Sampa (Caetano Veloso, 1978)
8. Terra (Caetano Veloso, 1978)
9. Nine out of ten (Caetano Veloso, 1972)
10. Odeio (Caetano Veloso, 2006)
11. Tonada de luna Ilena (Simón Díaz, 1973)
12. Eu vim da Bahia (Gilberto Gil, 1965)
13. Super homem, a canção (Gilberto Gil, 1979)
14. Come Prima (Alessandro Taccani, Enzo Di Paola e Mario Panzeri, 1957)
15. Esotérico (Gilberto Gil, 1976)
16. Tres Palabras (Osvaldo Farrés, 1946)
17. Drão (Gilberto Gil, 1982)
18. Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil, 1980)
19. Expresso 2222 (Gilberto Gil, 1972)
20. Toda menina baiana (Gilberto Gil, 1979)
21. São João Xangô Menino (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1976)
22. Nossa gente (Avisa lá) (Roque Carvalho, 1992)
23. Andar com fé (Gilberto Gil, 1982)
24. Filhos de Gandhi (Gilberto Gil, 1973)
Bis
25. Desde que o samba é samba (Caetano Veloso, 1993)
Bis 2:
26. O leãozinho (Caetano Veloso, 1977)
27. Domingo no parque (Gilberto Gil, 1967)

Krieger lança 'Xeque-mate', tema sobre aborto, e cogita EP com série social

♪ O cantor e compositor carioca Edu Krieger lançou hoje, 26 de junho de 2015, mais uma música inédita de sua autoria - de cunho social - em seu canal no YouTube. Gravada somente com  a voz e o violão de Krieger, a música se chama Xeque-mate e versa sobre a controvertida questão do aborto, sendo que, na letra de narrativa cinematográfica, o tema é correlacionado com assuntos igualmente espinhosos como tráfico de drogas, redução da maioridade penal e o envolvimento da religião na campanha contra a legalização do aborto. O artista - em foto de Natalia Voss - cogita lançar EP com todas essas músicas de tom sócio-político que vem jogando na rede nos últimos anos.

Dirigida por Roberta Sá, Ratto revisa obra em DVD que inclui Erasmo e Lucas

Já no mercado fonográfico, com realização do Canal Brasil e com distribuição da Coqueiro Verde Records, o primeiro DVD da cantora e compositora carioca Anna Ratto, Ao vivo, alinha 18 músicas captadas em apresentação feita por Ratto em 12 de fevereiro de 2014 no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), sob a direção artística de Roberta Sá. No DVD, que tem direção geral de David Pacheco, a cantora rebobina músicas de seus três álbuns oficiais, canta Tom Zé - Se o caso é chorar (parceria do compositor baiano com Perna, lançada por Zé em 1972) e Frevo (Tom Zé e Tuzé de Abreu, 1972) - e recebe Erasmo Carlos para beber do suingue de Cachaça mecânica (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1973). Outro convidado do vídeo é Lucas Vasconcelos, compositor e instrumentista do duo Letuce. Parceira de Lucas em Desalento, Ratto recebe o colega no registro de Eu não vou chorar por fora, tema da lavra solitária de Lucas. Nos extras, o DVD exibe o clipe da canção Nem sequer dormir (Anna Ratto, 2012), gravado com Roberta Sá na orla do Rio de Janeiro.

Hanna presta sua homenagem a João Gilberto com CD 'O amor é bossa nova'

Cantora nascida em Maceió (AL) e radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Hanna aproveitou os 84 anos completados por João Gilberto neste mês de junho de 2015 para lançar seu álbum em homenagem ao cantor baiano.  Produzido e arranjado por Dodô Moraes, sob a direção artística de Christine Valença, o CD O amor é bossa nova - Homenagem a João Gilberto alinha 16 músicas gravadas pelo cantor e violonista que redefiniu os  conceitos e os parâmetros da música brasileira a partir de 1958. A seleção de Hanna inclui Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959), Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), Menino do Rio (Caetano Veloso, 1979), Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959), Nem eu (Dorival Caymmi, 1952), Bahia com H (Denis Brean, 1947) e Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967), entre outros standards de porte similar.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

'Estado de poesia' não altera consciência social de Chico em CD apaixonado

Resenha de CD
Título: Estado de poesia
Artista: Chico César
Gravadora: Chita Discos / Urban Jungle / Pommelo Distribuições / Lab Fantasma
Cotação: * * * *

Quando tudo era ausência, de discos e de amor, Chico César esperou. Até que encontrou a paraibana Bárbara Santos, paixão à primeira vista que inspirou parte do repertório de seu nono álbum solo, Estado de poesia, o primeiro disco de inéditas desde o inspirado Francisco, forró y frevo (Chita Discos e EMI Music, 2008). Represada em disco há sete anos, a produção autoral inédita do compositor se (re)apresenta com vigor, derramando na calda da maioria das 14 composições autorais a polpa da paixão, mote do disco gravado pelo cantor e compositor paraibano com músicos de sua terra natal e finalizado por Chico com o guitarrista austríaco Michi Ruzitschka, produtor do disco ao lado do próprio artista. Explicitado em músicas como Museu (Chico César), esse tom apaixonado já havia sido sinalizado pelo single Da taça (Chico César), lançado em 2 de junho de 2015. Embriagante, Da taça bebe da abolerada canção sentimental com leve toque de erotismo. Mas a canção que melhor traduz o estado inebriante da paixão é a música que dá título ao disco, Estado de poesia (Chico César), a belíssima canção lançada por Maria Bethânia no show Carta de amor (2012 / 2013), entranhada no oásis sertanejo do universo da intérprete que nos últimos anos mais tem dado a voz a Chico César, artista revelado há 20 anos com CD, Aos vivos (Velas, 1995), que jogou no mercado um repertório que provocou disputas entre cantoras. Estado de poesia é a única música já conhecida de um disco que derrama paixão sem cair na breguice. Feita na ponte amorosa que ligava Caracas (cidade da Venezuela onde Chico se encontrava na ocasião) e Aracaju (onde estava a musa Bárbara), Caracajus (Chico César) faz poesia com versos que mostram a alma apaixonada saindo pela boca ("Apalpo muito pouco a pouco / Palpos dos sonhos mais loucos"). Já Caninana (Chico César) - xote de guitarra e de pegada roqueira - expele um xêro no cangote, antídoto contra o despertar do sonho amoroso vivido ao som de um acordeom. Já o reggae Palavra mágica (Chico César) entra na batida de um coração de novela. Contudo, o estado de poesia amorosa de Chico César não altera sua consciência social e política. Iluminado pela musa que atravessa a cidade para lhe fazer cidadão, como poetiza no samba-rock à Jorge Ben Jor Atravessa-me (Chico César), mas também pela experiência de ter ocupado cargo público em João Pessoa (PB), o compositor dá seus toques sociais entre as 14 composições do disco com a mesma intensidade de sua paixão pela musa do álbum. Como um trovador à moda de Bob Dylan, Chico dispara ao longo de onze minutos - munido somente de sua voz e sua guitarra - as denúncias políticas de Os reis do agronegócio (Chico César e Carlos Rennó), libelo contra a praga da agricultura sem lei e sem controle de qualidade. Alberto (Chico César) é frevo frenético que alude poeticamente à homossexualidade do aeronauta mineiro Santos Dumont (1873 - 1932) em versos como "Alado qual borboleta / Na nuvem Alberto vai". Samba à moda do compositor paulista Adoniran Barbosa (1910 - 1982), cantado por Chico em dueto com o cantor Escurinho, No Sumaré dá rasante sobre a paisagem noturna atualmente povoada por cracudos paulistanos num dos corações da cidade. Mas há vida na morte. Parceria póstuma com o poeta tropicalista Torcuato Neto (1944 - 1972), gerada a partir de show feito pelo cantor em 2011, Quero viver exala vivacidade rítmica na pulsação forrozeira do Nordeste que gerou o poeta piauiense. Já Negão é reggae que não nega a raça nem o racismo disseminado como uma praga que dizima as plantações humanas. Chico divide a interpretação provocativa de Negão com o cantor baiano Lazzo Matumbi, mostrando como tentam negar a cor real do Brasil. Entre temas de formatação explicitamente pop, como Guru (Chico César), o artista celebra a beleza a e liberdade da vida em Miaêro (Chico César), tema que evoca as mornas de Cabo Verde. Em estado de paixão e plena musicalidade, Chico César volta ao mercado fonográfico com um ótimo disco dirigido aos vivos, aos que ainda se permitem entorpecer pelo estado de poesia sem se anestesiar face à vida e aos dilemas cotidianos.

Emicida propaga 'Boa esperança', música (inédita) feita com Nave e J Ghetto

Já em rotação no YouTube, Boa esperança está sendo propagada pelo rapper paulistano Emicida. Inédita, a música é parceria do artista com o produtor curitibano Vinícius Nave e figura no segundo álbum de estúdio em Emicida (em foto de Bruno Miranda / Na Lata). Emicida e Nave assinam a composição e a produção da faixa, gravada com a participação do rapper J. Ghetto. Com versos virulentos que pregam contra o racismo, Boa esperança é rap batizado com título de navio negreiro citado em A rainha ginga (Editora Foz, 2014), o livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa.

Documentário desencava inéditas de Garoto, o (centenário) gênio das cordas

Aníbal Augusto Sardinha (São Paulo - SP, 28 de junho de 1915 / Rio de Janeiro - RJ, 3 de maio de 1955), o Garoto, nascido há 100 anos e morto precocemente há 60, foi um compositor e violonista que marcou sua época mais como violonista do que como compositor. Embora boa parte do público o conheça pela melodia de Gente humilde, letrada em 1969 por Vinicius de Moraes (com adesão afetiva de Chico Buarque) e popularizada em vozes como a de Angela Maria. Como violonista, Garoto faz jus a rótulo de precursor da Bossa Nova. Basta dizer que o toque de seu violão - aprendido com o pai português aos 11 anos, aprimorado com um professor paulistano de violão clássico (Atílio Bernadini) e maturado na escola da vida - influenciou nomes como João Gilberto e Carlos Lyra. Garoto faria 100 anos no próximo domingo, 28 de junho de 2015. A indústria fonográfica jaz em silêncio sobre o centenário deste músico presente em gravações de artistas da era-pré-Bossa como Dorival Caymmi (1914 - 2008), Orlando Silva (1915 - 1978) - cantor que também se torna centenário em 2015 - e Silvio Caldas (1908 - 1998). Mas um documentário - em fase adiantada de produção, mas ainda dependente de patrocínio para ser finalizado e estrear em 2016, como previsto no cronograma - está a caminho, sob a direção de Rafael Veríssimo, para jogar luz sobre a obra e a importância de Aníbal Augusto Sardinha, compositor de músicas como Duas contas. Intitulado Garoto - O gênio das cordas, o documentário vai mostrar como o violonista flertou com o jazz - sobretudo na viagem feita aos Estados Unidos para tocar com a cantora Carmen Miranda (1909 - 1955) - e bebeu do impressionismo francês dos cancioneiros de compositores como Debussy (1862 - 1918) até trocar influências no Brasil com o pianista, compositor, arramjador e maestro gaúcho Radamés Gnattali (1906 - 1988). Lucas Nobile assina a pesquisa e a produção musical do filme, para qual já foram colhidos depoimentos inéditos de Carlos Lyra, Dori Caymmi, Guinga, Hamilton de Holanda, Henrique Cazes, João Donato, Joel Nascimento, Paulinho da Viola e Ron Carter, entre outros nomes. A pesquisa no material de arquivo descobriu músicas e partituras inéditas de Garoto,  além de diários escritos pelo centenário gênio das cordas.

'Mil Tom 2' acerta mais do que o 1 ao apontar trilhos para trem 'bão' de Milton

Resenha de disco
Título: Mil Tom - Disco 2
Artista: Vários
Gravadora: Edição independente do produtor
Cotação: * * *
Disco disponível para download gratuito e legalizado no site Scream & Yell

Por mais que cada uma das 15 inéditas gravações alocadas no segundo volume do projeto Mil Tom reitere a soberania dos registros originais do cancioneiro de Milton Nascimento, sobretudo os feitos entre 1967 e 1982 pelo próprio artista e por intérpretes como Elis Regina (1945 - 1982) e Nana Caymmi, o Disco 2 soa mais coeso e sedutor do que o primeiro volume do tributo idealizado pelo produtor Pedro Ferreira. Boa parte dos convidados aponta trilhos interessantes para o trem bão deste compositor carioca de alma mineira. Aliás, o arranjo da banda carioca Baleia para E daí? (A queda) (Milton Nascimento e Ruy Guerra, 1978) evoca ligeiramente o barulho de um trem, símbolo da obra de Milton, entranhada entre as montanhas das Geraes, entre ares sempre novos. Há boas surpresas entre inevitáveis subversões. A cantora paranaense Ana Larousse inventa um belo Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972) sem inventar moda. Verônica Ferriani também trabalha bem a Canção do sal (Milton Nascimento, 1966), confirmando sua evolução como intérprete em arranjo que remete ao tom indie de seu terceiro álbum. Já a cantora gaúcha Gisele de Santi encara Nos bailes da vida (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981) com serenidade sem forçar um tom efusivo - o que valoriza a música e seu fraseado vocal. Voz de Curitiba (PR) que tem se feito ouvir no eixo Rio-São Paulo, Thaís Gulin confirma a afinação de sua voz límpida, de início soberana e quase solitária em registro de Amor de índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos, 1978) cujo arranjo vai sobressaindo ao longo da gravação. Já Dani Black se excede nos floreios que mais embaçam do que enfeitam Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant, 1971). Por sua vez, o grupo cearense de rock Selvagens à Procura de Lei arma roda folk para fazer passar Nuvem cigana (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972). Caindo no suingue, o paraense Felipe Cordeiro põe seu tempero do Norte em Cravo e canela (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1971). A Banda Mais Bonita da Cidade chega a Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) com climas e personalidade. Já Blubell esfacela as mágoas de Beijo partido (Toninho Horta, 1975) entre um tom jazzy e um clima bluesy. Por fim, o grupo acriano Los Porongas toca Nada será como antes (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972), mostrando que, sim, resiste na boca da noite um gosto de sol. Com saldo positivo, Mil Tom - Disco 2 tem seus momentos de brilho entre subversões.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Primeiro DVD de Lucas Santtana já entra em fase de mixagem em São Paulo

O primeiro DVD do cantor, compositor e multi-instrumentista baiano Lucas Santtana está em fase de mixagem, capitaneada por Fernando Sanches em São Paulo (SP). Gravado em 7 de maio deste ano de 2015, em show apresentação por Santtana na choperia do Sesc Pompeia, em São Paulo (SP), o DVD celebra os 15 anos de carreira do artista. David Pacheco assina a direção e a produção do DVD. Na companhia de Caetano Malta (guitarra, baixo e MPC) e Bruno Buarque (bateria e efeitos), Lucas Santtana (voz, guitarra, cavaco, baixo, sinth e monome) revisitou músicas dos repertórios de seus seis álbuns com ênfase no cancioneiro do sexto, Sobre noites e dias (Diginois, 2014), último e melhor disco do artista (em foto de Loiro Cunha). O DVD será editado no segundo semestre do ano.

Anitta grava clipe de 'Deixa ele sofrer', primeiro single de seu terceiro álbum

Já pronto, o terceiro álbum de estúdio de Anitta vai ser lançado no segundo semestre deste ano de 2015 pela gravadora Warner Music. A cantora e compositora carioca está gravando hoje, 24 de junho, o clipe do primeiro single do CD que vai suceder Ritmo perfeito (Warner Music, 2014) na discografia de estúdio da artista de funk pop. De sua autoria, a música se chama Deixa ele sofrer.

Acidente de carro faz cantor goiano Cristiano Araújo sair de cena aos 29 anos

Cristiano Melo Araújo (24 de janeiro de 1986 - 24 de junho de 2015) - cantor e compositor goiano que tinha conquistado popularidade nos últimos anos entre o público consumidor da vertente pop da música sertaneja - saiu de cena na manhã de hoje. Um acidente de carro na altura do KM 613 da rodovia BR-153 - entre as cidades de Pontalina (GO) e Morrinhos (GO) - abreviou o percurso de Cristiano Araújo na estrada da vida. O artista chegou a ser levado para um hospital de Goiânia, mas, pelos relatos, já entrou sem vida no hospital. O cantor tinha 29 anos e saboreava momento de sucesso popular, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, onde sua mistura de sertanejo com ritmos como arrocha era recebida sem preconceitos pelo público. Nascido em Goiânia (GO), terra fértil para o cultivo de astros sertanejos, Cristiano Araújo cantou e gravou discos já na adolescência, sem repercussão. Ora em dupla, ora em carreira solo, o artista tentou o sucesso ao longo dos anos 2000. Mas a fama veio somente a partir de 2010 com singles como Efeitos. Contratado pela gravadora Som Livre, Araújo seguiu então a fórmula do sertanejo pop. Gravou mais DVDs e CDs ao vivo do que álbuns de estúdio - Continua, primeiro e único a pós o início na adolescência, lhe rendeu o hit Maus bocados - e se conectou com produtores do gênero como Dudu Borges. Cristiano Araújo atuava no mesmo mercado jovem sertanejo que referenda nomes como Gusttavo Lima e Luna Santana. O último projeto fonográfico do artista, In the cities - Ao vivo em Goiânia, foi lançado em novembro de 2014 via Som Livre, nos formatos de CD e DVD.

'Mil Tom 1' oscila entre reverências, (in)capacidades e subversões de Milton

Resenha de álbuns
Título: Mil Tom - Disco 1
Artista: vários
Gravadora: Edição independente do produtor
Cotação: * * 1/2
Disco disponível para download gratuito e legalizado no site Scream & Yell

Tributo duplo organizado e produzido por Pedro Ferreira para celebrar a obra e o legado de Milton Nascimento, Mil Tom é - quase sempre - para quem desconhece essa obra. É para quem nunca cruzou as esquinas mineiras que gerou um repertório de arquitetura universal. Para quem conhece os registros originais, seria injusto e cruel qualquer comparação com os fonogramas inéditos apresentados neste tributo que totaliza 32 nomes recrutados na cena indie de todo o Brasil. Até pelo fato de as 30 músicas ouvidas nos dois álbuns - produzidos somente em edição digital, ambos já disponíveis para download gratuito e legalizado no site Scream & Yell - terem sido gravados por Milton, um dos maiores cantores do mundo. Com o detalhe de que a maioria das composições ganhou a voz divina do cantor e compositor carioca (de alma mineira) nos anos 1970 quando o artista estava no auge vocal. No primeiro volume, Mil Tom - Disco 1, os artistas se debatem entre a subversão e a excessiva reverência. Há quem corra riscos e encare o desafio de trazer a música de Milton para o seu universo contemporâneo. É o caso da rapper curitibana Karol Conka, que se aliou a Boss in Drama para fazer O rouxinol (Milton Nascimento, 1997) voar em outro céu, desconstruindo a canção e o lirismo a serviço de sua batida. Pedro Morais falha na tarefa ingrata de dar alguma emoção a Travessia (MIlton Nascimento e Fernando Brant, 1967), feita com arranjo modernoso. Já a Filarmônica de Pasárgada embarca com segurança em Canoa, Canoa (Nelson Ângelo e Fernando Brant, 1977). Há uma real modernidade no registro do grupo paulistano que valoriza a canção. O grupo carioca Tono iria gravar Pablo (Milton Nascimento, 1973), mas acabou optando por Lágrima do Sul (Milton Nascimento e Marco Antônio Guimarães, 1985) e acertou na troca. Com arranjo eletrônico-tribal, o Tono revitaliza música pouco ouvida no cancioneiro de Milton. Já o cantor paulistano Pélico e a cantora carioca Barbara Eugenia diluem a pulsação inebriante de Paula e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso, 1975). Não, qualquer maneira de cantar nem sempre vale a pena... Por sua vez, o carioca Fernando Temporão se mostra intérprete sem alcance para música da altura de Para Lennon & McCartney (Márcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant, 1970). Em contrapartida, a cantora mineira Aline Calixto surpreende positivamente ao encarar a perda e a dor embutida em Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1967), música difícil de ser cantada (com muitas de Milton, aliás), mas que Calixto leva bem até o fim. Dentro do time dos reverentes, a carioca Banda Tereza refaz Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1976) com arranjo vocal calcado na gravação de Milton. Há reverência em excesso, no caso. Quase no mesmo tom, o Vanguart segue a rota original de Clube da Esquina 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1972) sem tropeços, mas tampouco sem um lampejo de novidade. Já a banda paranaense Simonani cria climas dentro da mata escurta de Caçador de mim (Sérgio Magro e Luiz Carlos Sá, 1980), merecendo a honra de fechar o primeiro volume de Mil Tom. Enfim, entre reverências a Milton e subversões de sua obra, Mil Tom - Disco 1 está aí, no ar e na rede, cumprindo adicionalmente a função de propagar a poesia imortal de Fernando Brant (1946 - 2015), cujos versos são indissociáveis do cancioneiro de Milton Nascimento. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Cauby canta Nat King Cole em disco nos tons apropriados para seus 84 anos

Resenha de CD
Título: Cauby sings Nat King Cole
Artista: Cauby Peixoto
Gravadora: Nova Estação
Cotação: * * *

Morto há 50 anos, Nathaniel Adams Coles (17 de março de 1919 - 15 de fevereiro de 1965) se tornou Nat King Cole, um dos reis do canto da canção norte-americana. Mas, se quisesse, Cole poderia ter gravitado somente em torno do universo do jazz por ter sido um pianista de toque elegante. Mas Cole, embora influenciado pelo jazz e pelo suingue libertário do jazz, exercitou sua voz aveludada na interpretação de canções mais tradicionais do universo pop. E, por tradicional no caso, entenda-se a canção de requinte alcançável pelo grande público. É esse Nat King Cole que Cauby Peixoto canta, do alto de seus 84 anos, em álbum recém-lançado pela gravadora Nova Estação. Cauby - que canta Cole em inglês em oito das dez faixas do disco - também sofreu a tal influência do jazz no início da carreira, no começo da década de 1950, e até tentou (em vão) a sorte nos Estados Unidos com o pseudônimo artístico de Ron Coby. Foi dessa época - o fim dos românticos anos 1950 - que o cantor de origem fluminense tirou com o colega norte-americano a foto estampada na capa do CD Cauby sings Nat King Cole, produzido por Thiago Marques Luiz sob a direção musical do pianista Daniel Bondaczuk, criador dos arranjos de moldes tradicionais como canções como An affair to remember (Our love affair) (Harry Warren, Leo McCarey e Harold Adamson, 1957) - música envolta em cordas de ambiência clássica - e When I fall in love (Edward Heyman e Victor Young, 1952). Cauby canta Nat King Cole nos tempos e nos tons apropriados para seus 84 anos. A personalíssima voz de barítono - outrora amplificada por intencionais arroubos de interpretação - já perdeu naturalmente parte do alcance, da potência e do viço de tempos idos. Mas ainda é uma voz. E, quando Cauby dá essa voz grave a uma canção como Unforgettable (Irving Gordon, 1951), tem-se a certeza de se estar ainda diante de um senhor cantor. Dentro da atmosfera sempre tradicionalista do disco, Daniel Bondaczuk surpreende mais ao imprimir acento renascentista ao arranjode Monalisa (Jay Livingston e Ray Evans, 1959) - com o toque de seu acordeom - do que ao esboçar clima flamenco na introdução do bolero mexicano Noche de ronda (Agustín Lara, 1935), única música cantada em espanhol. Já Blue Gardenia (Bob Russell e Lester Lee, 1953) - única música do disco a que o público de Cauby já estava habituado a ouvir em sua voz desde os anos 1950, mas em versão em português - ganha certo suingue no toque do baixo de Eric Budney. No fim, em bom português, Cauby força emoção levemente mais exacerbada em Sorri (Smile) (Charlie Chaplin, John Turner e Geoffrey Parsons, 1936/1954, na versão em português de Braguinha). Enfim, Cauby Peixoto canta Nat King Cole em álbum dirigido aos seus velhos e fiéis fãs.

Livro 'Som & pausa' reflete, na superfície, sobre a atual cena musical carioca

Resenha de livro
Título: Som & pausa
Autor: vários (sob curadoria de Fabiane Pereira)
Editora: Guarda-chuva
Cotação: * * 1/2

É curioso que se chame Guarda-chuva a editora que publica Som & Pausa, livro em que 50 nomes discorrem - em tons ora lúcidos, ora vagos - sobre a cena musical contemporânea da cidade do Rio de Janeiro (RJ). A curiosidade reside no fato de, afinal, essa cena - de importância fundamental para a renovação da música brasileira nos anos 2000, mas suplantada em relevância pela cena paulistana a partir dos anos 2010 - parecer sobreviver dentro de uma rede de proteção formada por cantores, músicos, produtores, assessores e jornalistas amigos. Essa rede alimenta a cena com a troca de elogios e favores mútuos entre seus integrantes (todos são bons, até os ruins), sendo que o público - elemento indispensável para legitimar a carreira de um artista ou grupo - nem sempre faz parte dessa cadeia alimentar, já que muitos shows são feitos basicamente para amigos e conhecidos com patrocínio obtido em editais ("Nós somos a lista amiga, embora às vezes inimiga", conceita o cantor e compositor carioca Daniel Lopes em frase lapidar de seu ótimo texto). Esses aspectos - em si relevantes para discutir a longevidade da cena abordada em Som & Pausa - jamais são abordados com profundidade pelos 50 eleitos. A quase totalidade dos textos ignora tais questões, aliás. Mas isso não tira (de todo) o mérito do livro organizado sob curadoria de Fabiane Pereira, jornalista que tem aberto espaço para a nova geração como programadora do Faro MPB, atração da rádio MPB FM. A ideia do livro é propor uma diversidade de olhares sobre a cena carioca e, por extensão, sobre a relação do artista com a música produzida na cidade do Rio de Janeiro. Dentro do material apresentado, há textos que roçam em questões interessantes. Editor de um blog que virou compositor e produtor musical, Márcio Bulk é corajoso ao caracterizar - com orgulho! - a geração como amadora ("Sem grandes gravadoras, sem grande mídia, sem nada ou quase nada que nos resguarde, e por conta disso, meio marginais à la Sganzerla, meio malditos à la Macao, estamos fazendo um trabalho do caralho"). Integrante do grupo Tono, Rafael Rocha preferiu historiar seus caminhos na música carioca. Já Letícia Novaes recorda um momento determinante, seminal, na sua vida musical: um show do duo Letuce em agosto de 2009, ironicamente feito na cidade de São Paulo (SP). Talvez pela ausência de uma diretriz mais nítida que os pautasse, os textos oscilam e soam desiguais. Se Ava Rocha divaga sobre a natureza indecifrável da música, o produtor cultural Léo Feijó ressalta a importância real de uma de suas casas, a extinta Cinemathèque, que abrigou nomes e uma produção musical relevante entre 2007 e 2010. Enfim, o assunto - já em si amplo, vago, sem um foco mais estreito - dá margem a muitas interpretações, sob diversos prismas. Som & pausa somente reproduz o material que foi enviado à curadora. Mas, até pelo reduzido tamanho do livro (de gracioso projeto gráfico) e dos textos, a pauta é discutida na superfície. Ótimo, o tema rende outro livro, escrito fora da rede de proteção.