Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 31 de outubro de 2015

Eis a capa de 'Funk pop', álbum que Buchecha vai lançar em 20 de novembro

Com capa que expõe arte criada por Marcelo Moreira (da empresa Tecnopop) a partir de foto de Marcos Hermes, o sexto álbum solo do cantor e compositor fluminense Buchecha, Funk pop, vai chegar ao mercado fonográfico brasileiro a partir de 20 de novembro de 2015. Clique aqui para conhecer detalhes do repertório (calcado em regravações) do disco produzido por Alexandre Kassin.

Los Hermanos provam no Rio que show do grupo é algo além do que se vê...

Resenha de show
Título: Los Hermanos
Artista: Los Hermanos (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Marina da Glória (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 30 de outubro de 2015
Cotação: * * * 1/2

"A gente fica atônito, sem palavras para descrever o que acontece toda a vez que a gente se encontra", afagou Marcelo Camelo, entre agradecimentos ao público que compareceu à Marina da Glória para ver a primeira das quatro apresentações carioca do show da turnê nacional que aportou na cidade natal do grupo Los Hermanos na noite de ontem, 30 de outubro de 2015. O Rio é o destino final da turnê que passou por dez cidades neste mês de outubro. Talvez não haja mesmo palavras para descrever a devoção do público a uma banda que lançou seu último álbum de inéditas há dez anos e que, desde 2007 em recesso por tempo indeterminado, reaparece em cena de tempos em tempos com turnê que rebobina as mesmas músicas. A expressiva afluência do público do quarteto aos shows desta turnê de 2015 sinaliza que o Carnaval dos Hermanos ainda está longe do fim. De todo modo, ficou nítido, no primeiro dos quatro shows cariocas, que um espaço aberto dispersa a histeria do público e acalma os ânimos, mais exaltados entre os devotos que se posicionam na frente do palco. Em cima do palco, nada pareceu ter mudado em relação ao show de 2012. O roteiro similar alterna músicas de Amarante e Camelo, sendo que este confirmou em cena a superioridade de sua emissão vocal, já que a dicção de Amarante prejudica a compreensão de letras de músicas como Do sétimo andar (Rodrigo Amarante, 2003) - número mais morno - e Paquetá (Rodrigo Amarante, 2005). O que - verdade seja dita - em nada atrapalha a cantoria do séquito de fãs que já conhecem de cor todas as letras do cancioneiro do quarteto. Por ser música de botas menos batidas, Paquetá até soa como sutil novidade do roteiro formado por sucessos já previsíveis. O trio de metais acoplados à banda aquece músicas como Um par (Rodrigo Amarante, 2003) e A outra (Marcelo Camelo, 2003), ambientando Samba a dois (Marcelo Camelo, 2003) em clima de gafieira. Tais metais ficam em brasa em Descoberta (Marcelo Camelo, 1999), fazendo com que o número evoque os shows calientes do artista francês Manu Chao. As eventuais projeções - usadas para simular a imagem de um céu estrelado em Sentimental (Rodrigo Amarante, 2001), acentuando o romantismo de um dos temas mais populares do repertório do grupo - colaboram para aprimorar o visual de um show calcado basicamente no poder de sedução da banda e de seu repertório. E quem se atreve a dizer do que é feito o som do Los Hermanos? Dizer que é mistura azeitada de samba, rock, MPB, samba-canção, pop e canções sentimentais é insuficiente para explicar um som que influenciou toda a música brasileira a partir dos anos 2000. Show do Los Hermanos é sempre algo além do que se vê em cena. Sim, faltam palavras para descrever o que de fato acontece entre palco e plateia a cada reencontro dos Los Hermanos com seu fervoroso público.

Los Hermanos estreiam show no Rio com roteiro similar ao da turnê de 2012

Desta vez sem músicas inéditas no repertório, o grupo carioca Los Hermanos estreou na sua cidade natal - o Rio de Janeiro (RJ) - a turnê nacional que vem mobilizando seu fiel público desde a estreia, em Belém (PA), no início do mês, em 2 de outubro de 2015. Cidade com maior número de shows (quatro, ao todo, sendo que três com ingressos esgotados), o Rio é o destino final da turnê que aportou na noite de ontem, 30 de outubro de 2015, na Marina da Glória, onde fica em cartaz até 2 de novembro, totalizando 14 shows feitos em 10 cidades. O roteiro apresentado por Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba na estreia carioca foi similar ao roteiro do show da última turnê nacional do quarteto, realizada em 2012. De todo modo, músicas menos batidas do quarto e último álbum de estúdio da banda, Quatro (Sony Music, 2005), reapareceram em cena, casos de Paquetá (Rodrigo Amarante, 2005) e Pois é (Marcelo Camelo, 2005). Eis o roteiro seguido em 30 de outubro de 2015 pelo grupo Los Hermanos - visto em foto de Rodrigo Goffredo - na Marina da Glória, no Rio de Janeiro (RJ), ao longo de duas horas de (azeitado) show:

1. O vencedor (Marcelo Camelo, 2003)
2. Retrato pra Iaiá (Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo, 2001)
3. Além do que se vê (Marcelo Camelo, 2003)
4. Todo carnaval tem seu fim (Marcelo Camelo, 2001)
5. O vento (Rodrigo Amarante, 2005)
6. Cadê teu suin? (Marcelo Camelo, 2001)
7. Do sétimo andar (Rodrigo Amarante, 2003)
8. Samba a dois (Marcelo Camelo, 2003)
9. Condicional (Rodrigo Amarante, 2005)
10. Azedume (Marcelo Camelo, 1999)
11. Pois é (Marcelo Camelo, 2005)
12. Morena (Marcelo Camelo, 2005)
13. Um par (Rodrigo Amarante, 2003)
14. O velho e o moço (Rodrigo Amarante, 2003)
15. A outra (Marcelo Camelo, 2003)
16. Paquetá (Rodrigo Amarante, 2005)
17. Sentimental (Rodrigo Amarante, 2001)
18. Primeiro andar (Rodrigo Amarante, 2005)
19. Tenha dó (Marcelo Camelo, 1999)
20. Descoberta (Marcelo Camelo, 1999)
21. Deixa o verão (Rodrigo Amarante, 2003)
22. De onde vem a calma (Marcelo Camelo, 2003)
23. Conversa de botas batidas (Marcelo Camelo, 2003)
24. Último romance (Rodrigo Amarante, 2003)
25. A flor (Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, 2001)
Bis:
26. Adeus você (Marcelo Camelo, 2001)
27. Anna Júlia (Marcelo Camelo, 1999)
28. Quem sabe (Rodrigo Amarante, 1999)
29. Pierrot (Marcelo Camelo, 1999)

Zélia revive samba de 1984 na gravação ao vivo de DVD do Fundo de Quintal

A IMAGEM DO SOM - Postada na página de Zélia Duncan no Facebook, a foto flagra a cantora e compositora fluminense no palco do Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ), no ensaio da gravação ao vivo feita pelo grupo carioca na noite de quinta-feira, 29 de outubro de 2015. Zélia cantou com o grupo no show - captado ao vivo para edição de CD e DVD - Parei, samba de Arlindo Cruz e Acyr Marques, lançado pelo Fundo de Quintal há 31 anos no álbum Seja sambista também (RGE, 1984).

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Los Porongas lançam terceiro álbum, 'Infinito agora', que inclui Dado e Bruno

Formado em 2003 na então inexistente cena indie de Rio Branco, capital do Acre, o grupo Los Porongas lança seu terceiro álbum, Infinito agora, neste mês de outubro de 2015. Gravado com recursos obtidos em plataforma de financiamento coletivo, Infinito agora tem intervenções de Bruno Gouveia (voz do grupo carioca Biquini Cavadão) e Dado Villa-Lobos ao longo das dez músicas que compõem o repertório autoral do disco produzido pelos quatro músicos do grupo com João Vasconcelos, ex-integrante de Los Porongas (Carlos Gadelha, aliás, é o substituto de João na atual formação da banda). Bruno divide a interpretação da música Tarde pra voltar atrás com o vocalista Diogo Soares. Já Dado Villa-Lobos toca sua guitarra na faixa Sobre mim. Infinito agora também ostenta participações do tecladista Henrique Portugal - o músico do Skank toca na música Caminho - e de Fernando TRZ (Cérebro Eletrônico), cujos sintetizadores embasam Menino velho. João Leão toca teclados em várias faixas. Infinito agora sucede os álbuns Los Porongas (Senhor F, 2007) e O segundo depois do silêncio (Tratore, 2011) na discografia independente do quarteto ora formado por Diogo Soares (voz), Carlos Gadelha (guitarra), Márcio Murad (no baixo) e Jorge Anzol (bateria).

Em casa, Glaucia cruza 'porteira' das Geraes em disco com canções mineiras

Resenha de CD
Título: Em casa
Artista: Glaucia Nasser
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * 1/2


Lá se vão quinze anos desde que Glaucia Nasser teve as primeiras aulas de canto lírico, em Belo Horizonte (MG), em 2000. Antes, a cantora mineira já tinha posto os pés na profissão nos bailes da vida notura da cidade natal de Patos de Minas (MG). Foi uma longa caminhada, com passagens por Estados Unidos e Inglaterra, que trouxe a artista de volta para o ponto de partida. Tanto que o sexto álbum da discografia da cantora - iniciada há 12 anos com a edição do CD Glaucia Nasser (Independente, 2003) - se chama Em casa. O título alude ao fato de Glaucia dar sua voz quente e afinada a 17 músicas criadas por compositores mineiros em seleção que vai de Ary Barroso (1903 - 1964) a Tunai, passando naturalmente por João Bosco e Milton Nascimento. Em sua maioria, as canções são certas para este disco concebido e produzido por Alexandre Lemos. Gravado de março a setembro de 2013, Em casa é disco pautado por violas caipiras e violões, tocados por Sandro Prêmmero, piloto também dos baixos e guitarras ouvidos nos arranjos criados por Lemos com Prêmmero. O álbum ficou com sotaque interiorano que caiu bem em Cruzada (Tavinho Moura e Márcio Borges, 1978), se adequou a Fazenda (Nelson Angelo, 1976), se ajustou com fidelidade ao tom já naturalmente caipira de No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931) - ainda que a composição mais antiga do repertório seja originalmente um samba - e deu frescor à abolerada canção Quando o amor acontece (João Bosco e Abel Silva, 1987). Em casa soa mais aconchegante quando Glaucia Nasser canta músicas que ainda não alcançaram a merecida projeção nacional, casos de Nós dois (Celso Adolfo, 1984) - uma das mais belas melodias do disco - e de Jardim da infância (Paulinho Pedra Azul, 1982), de lirismo romântico. Em contrapartida, há músicas às quais a cantora nada acrescenta. É fato que as músicas do Clube da esquina são referenciais para artistas mineiros. Mas é fato também que, decorridos 43 anos da apresentação do movimento pop em álbum duplo lançado em 1972 por Milton Nascimento e Lô Borges, é cada vez mais difícil descobrir nuances em temas já exaustivamente (bem) gravados e regravados por grandes cantores do Brasil como Clube da esquina (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1970) e Clube da esquina nº 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1972). Sem falar que o sócio majoritário do clube, Milton, já deixou sua voz divina em canções como Beijo partido (Toninho Horta, 1975), outra música pela qual Glaucia nada faz, ainda mais se levado em conta que os versos doídos são mais talhados para cantoras como Nana Caymmi, intérprete até mais associada à canção do que o próprio Milton. Em casa surpreende mais quando Glaucia dá tom de country-rock ao samba Laranja madura (Ataulfo Alves, 1966). A cantora em si sempre mostra segurança, seja no falsete que conduz Nascente (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1977), seja no fluxo lento de Dois rios (Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis, 2003), canção que cruza a porteira das Geraes no tom interiorano deste álbum em que Glaucia Nasser parece de fato à vontade em sua casa mineira.

Sem virar de fato o disco, 'Primera fila' posiciona 'rey' no lugar já consagrado

Resenha de CD
Título: Primera fila 
Artista: Roberto Carlos
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Projeto direcionado primordialmente por Roberto Carlos para o vasto mercado fonográfico latino formado pelos países de língua hispânica, embora tenha sido curiosamente gravado no londrino estúdio Abbey Road, Primera fila - lançado hoje, 30 de outubro de 2015, em escala mundial - posiciona el Rey no seu lugar habitual e já consagrado. Os dois singles previamente liberados pela gravadora Sony Music - as regravações de Eu te amo, te amo, te Amo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) em ritmo de reggae e de As curvas da estrada de Santos (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) com arranjo soul que também desemboca na praia do reggae - soam como pistas falsas diante da audição das 17 músicas do CD gravado ao vivo em 11 e 12 de maio na Inglaterra. Primera fila esboça mudança na discografia do cantor e compositor capixaba, por afastá-lo momentaneamente de seu maestro Eduardo Lages, sem conseguir virar de fato o disco. Feita sob a supervisão do produtor Afo Verde, presidente da Sony Music na região latino-ibérica, a direção musical de Tim Mitchell - nome associado aos discos da cantora e compositora colombiana Shakira - soa, afinal, tão conservadora quanto o artista brasileiro. Justiça seja feita: o arranjo da balada A distância (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1972), por exemplo, está bem próximo do estilo de Lages. A profusão de cordas orquestradas em O portão (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1974) chega a pecar pelo excesso, pois dilui a melancolia da canção. Já Cama e mesa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981) perde a sensualidade calculada e familiar da gravação original. Enfim, nada muda tanto assim no som de Roberto Carlos em Primera fila, projeto lançado em CD, em DVD e em edição dupla que junta CD e DVD em embalagem de DVD. Aos primeiros acordes do fox Emoções (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1981), música tradicionalmente alocada na abertura dos shows do cantor, já dá para perceber que as novidades se resumem a sutilezas dos arranjos. Como a onda surf rock de Ilegal, imoral ou engorda (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976), por exemplo. Aos 74 anos, Roberto Carlos já não canta para a juventude. O Rei canta para o público que foi jovem como ele nas tardes dominicais dos anos 1960 e que, como ele, amadureceu ao longo da década de 1970 sem virar a mesa. Um dos maiores ídolos populares da história da música do Brasil, Roberto Carlos já não precisa provar mais nada para ninguém. Sua obra - primorosa no período que vai de 1965 a 1983 - é seu legado e fala por si só. Primera fila - projeto lançado no Brasil em versão nacional que inclui sete músicas cantadas em espanhol e uma em inglês, And I love her (John Lennon e Paul McCartney, 1964), talvez incluída somente para justificar o fato de Roberto ter gravado seu projeto hispânico no estúdio em que o grupo inglês The Beatles formatou álbuns históricos - talvez faça mais sentido para os países de língua hispânica. O público desses países provavelmente encontrará mais graça nas versões em espanhol da flamenca Mulher pequena (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1992) e de Amada amante (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971), cujo refrão é entoado em coro pelo público convidado de Abbey Road com tanta gana que Roberto exclama ao fim: 'Son todos cantantes'. Não, o único cantor de verdade ali é o próprio Roberto. A voz já perdeu um pouco do viço, mas ainda continua extremamente afinada e bem colocada. Por mais que esteja sem motivação para virar de fato o disco, Roberto Carlos tem lugar garantido na primeira fila reservada para os geniais cantores e compositores do Brasil e do mundo.

Nana pode ter DVD revisionista, em 2016, por conta dos 50 anos de 'Saveiros'

Arquitetado há anos pelo produtor José Milton, um projeto ao vivo de tom retrospectivo da carreira fonográfica de Nana Caymmi pode enfim sair do plano das ideias em 2016 - ano em que a cantora carioca completará 75 anos de vida. Nana - em foto de Lívio Campos - nunca gravou um DVD solo com registro de show. Para a realização do tributo, a ideia é tomar como gancho os 50 anos da projeção da cantora na defesa da canção Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta) em 1966 no I Festival Internacional da Canção, promovido e exibido pela TV Globo naquele ano de 1966. A rigor, a artista iniciou sua carreira fonográfica em 1960 com a edição de um disco de 78 rotações por minuto lançado pela gravadora Odeon antes de Nana casar e se radicar na Venezuela em 1961.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

EP 'Milagro' sinaliza em sete faixas álbum que Antonia Morais lança em 2016

Antonia Morais pretende lançar em 2016 seu primeiro álbum, planejado de início para ter sido editado neste ano de 2015. Disponível para audição no portal SoundCloud, o EP Milagro sinaliza o tom contemporâneo deste álbum com sete músicas gravadas em inglês pela cantora e compositora. Rise and shine, Japanese karaoke, Child, Kepler - 186F, Fuel, Revolution of the mind e 7 seconds of youth são - pela ordem do disco - as sete músicas do repertório autoral do EP, composto em período de isolamento da artista. Duas, Child e Fuel, já foram lançadas individualmente como singles digitais. Carioca de 23 anos, Antonia faz um som que mistura elementos de trip hop, dupstep e future r&b - resultado de suas andanças pelo mundo (aos 16 anos, ela foi morar na França com os pais, o cantor Orlando Morais - autor da foto da capa do EP - e a atriz Glória Pires).

Edson & Hudson celebram 20 anos de disco com álbum 'Escândalo de amor'

Contratada pela gravadora multinacional Universal Music após fase de reabilitação no universo sertanejo vivida na companhia paulistana Radar Records, a dupla sertaneja Edson & Hudson tenta consolidar sua volta ao mercado fonográfico neste mês de outubro de 2015 com o lançamento de Escândalo de amor, álbum de estúdio que reconectam os irmãos paulistas Huelinton Cadorini Silva (o Edson) e Udson Cadorini Silva (o Hudson) com Luis Gustavo Garcia, produtor de discos da fase áurea da dupla. Escândalo de amor chega ao mercado fonográfico 20 anos após a edição do primeiro álbum da dupla, Edson & Hudson (RGE, 1995). Apesar de contar com a participação do jovem cantor Gusttavo Lima na música Tem que ter paixão (João Melo, Frederico, Everton Matos, Diego Ferreira e Hugo Del Vecchio), o álbum Escândalo de amor não fala a língua pop do subgênero rotulado como sertanejo universitário. A música-título Escândalo de amor - assinada por Fátima Leão, Waléria Leão, Rodrigo Oliveira e Alex Torricelli - trilha o tradicional caminho rancheiro com metais orquestrados pelo arranjador Evêncio Raña Martinez.  Escândalo de amor é o nono álbum de estúdio de Edson & Hudson, mas já o 15º  título da discografia da dupla, se incluídos os registros ao vivo, e o 20º se contabilizadas as cinco coletâneas dos irmãos. Os problemas de Hudson com drogas - assumidos pelo artista de forma corajosa e pioneira no universo sertanejo brasileiro - fizeram a dupla sair de cena entre 2010 e boa parte de 2011 (o retorno à cena aconteceu somente em 22 de outubro de 2011). Mesmo quando voltaram a se reunir, os irmãos tiveram que enfrentar o vício de Hudson. Tanto que o último álbum da dupla, De Edson para Hudson (Radar Records, 2014), foi gravado no período em que Hudson estava internado em clínica para se livrar do vício. Buscando superar os problemas do passado recente, os irmãos apresentam álbum em sintonia com sua discografia pregressa. Escândalo de amor refaz, inclusive, a conexão de Edson & Hudson com Bruno & Marrone na música Contagem regressiva (Gabriel Agra, Maraísa e Frederico). É a terceira vez que as duplas gravam juntas. Para Edson & Hudson, cuja carreira é gerenciada atualmente pela agência Live Talentos,  é um bom negócio voltar ao passado.

André Marques jazzifica obras de Hermeto em CD feito com Patitucci e Blade

Hermeto Pascoal faz música em fluxo criativo tão intenso e espontâneo que nem sempre registra tudo o que compõe e toca em shows. Na guaribada da noite - tema que o compositor e multi-instrumentista alagoano chegou a tocar em shows feitos na década de 1980, mas nunca gravou em disco - e Ramos de girassol figuram entre as composições que nunca ganharam registro do Bruxo. Ambas figuram entre as 13 músicas de Viva Hermeto, álbum instrumental lançado pela gravadora paulistana Borandá em que o pianista paulistano André Marques jazzifica a obra de Hermeto na companhia de dois músicos norte-americanos, o baterista Brian Blade e o baixista John Patitucci. O trio gravou o disco em estúdio de Nova Jersey, nos Estados Unidos, em novembro de 2014. Líder do trio Curupira e da orquestra Vintena Brasileira, Marques tem grande intimidade com a música de Hermeto por figurar há 21 anos na banda que toca com o Bruxo no Brasil e no exterior. Foi, aliás, em turnê pela Europa, em 2013, que o pianista idealizou o álbum ao perceber a idolatria de Hermeto por Blade e Patitucci. Contatados através do percussionista Rogério Boccato, músico paulista radicado em Nova York (EUA), Blade e Patitucci aceitaram de imediato o convite para gravar o disco e entraram em estúdio sem sequer se encontrarem antes do início das gravações. Nada assim tão incomum entre músicos que falam a língua do jazz e improvisam música. Além de tocar em Viva Hermeto, Boccato assina a produção executiva do disco no qual o trio jazzifica a obra de Hermeto em repertório que mistura standards do repertório do artista - Bebê (Hermeto Pascoal, 1970), Chorinho pra ele (Hermeto Pascoal, 1976) e o baião O ovo (Hermeto Pascoal, 1967), entre eles - com temas obscuros do cancioneiro do Bruxo, caso de Ferragens, espécie de peça erudita composta em quatro breves movimentos. Nesta música, André Marques extrai sons de ferragens das teclas de seu piano. Tema relativamente recente, Boiada (Hermeto Pascoal, 1999) fecha o CD, no qual o virtuoso trio aborda a obra viva de Hermeto Pascoal com a liberdade do jazz.

Gil participa da música em que é celebrado por Daniela no disco 'Vinil virtual'

A IMAGEM DO SOM - Postada por Daniela Mercury em sua página oficial no Facebook, a foto flagra a cantora e compositora baiana com seu conterrâneo Gilberto Gil em estúdio, na gravação da música feita pela artista para celebrar o cantor, compositor e músico baiano. A composição se chama De Deus, de Alah, de Gilberto Gil e integra o repertório inédito e autoral de Vinil virtual, álbum que Daniela planeja lançar em novembro deste ano de 2015. Além do tributo a Gil, o disco Vinil virtual inclui músicas como Alegria e lamento (samba-reggae gravado com a percussão de Márcio Victor, vocalista do grupo baiano Psirico), Maria casaria (poema feito para Malu Verçosa - esposa da artista - e musicado por Daniela), Sem argumento (outra música composta por Daniela a partir de poema escrito para Malu), Tô samba da vida (música já mostrada por Daniela no seu corrente show A voz e o violão) e, claro, A rainha do axé (A rainha má), música lançada pela cantora na web em novembro de 2014 cuja letra contém o título do álbum Vinil  virtual, 15º título da discografia solo da artista. O repertório inteiramente autoral do CD totaliza 15 músicas inéditas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ian Ramil se eleva ao captar aflições e ruídos urbanos em 'Derivacivilização'

Resenha de CD
Título: Derivacivilização
Artista: Ian Ramil
Gravadora: Escápula Records
Cotação: * * * * 1/2

"Eu compro um tênis novo e morre alguém / Corro, paro, olho, choro, grito, eu ando a cada dia mais vulgar e aflito / O mundo é um skinhead e eu sou um gay", detona Ian Ramil em versos explosivos de Coquetel molotov (Ian Ramil), primeira das dez músicas do segundo álbum do cantor, compositor e músico gaúcho Ian Ramil, Derivacivilização, lançado neste mês de outubro de 2015. Ruídos industriais pontuam música que fala a língua do indie rock, dando pista certeira do tom experimental adotado por Ramil em disco que representa avanço em relação ao antecessor Ian (Escápula Records, 2014). No seu álbum de estreia, Ramil já honrou o sobrenome ilustre - ele é filho de Vitor Ramil e sobrinho de Kledir Ramil e Kleiton Ramil - ao mostrar forte personalidade musical. Mas em Derivacivilização o artista encontra sua turma e afia sua linguagem, encontrando o tom apropriado para obra ora calcada no indie rock, embora até haja uma canção mais calma e de formato mais tradicional, Devagarinho (Ian Ramil), no repertório inteiramente inédito e autoral do álbum produzido por Ian com o baixista Guilherme Ceron. Mas Devagarinho representa no disco a tentativa vã de fuga da veloz vida urbana que engana e que inspira o discurso aguçado do artista. "As coisas não ditas apodrecem em nós", vomita Ramil na tensa música-título Derivacivilização (Ian Ramil), faixa que esconde a voz potente do cantor Filipe Catto, conterrâneo de Ramil e convidado quase imperceptível da gravação. Ramil apresenta um disco nervoso que capta as aflições e os ruídos urbanos do mundo contemporâneo - e que diz coisas até desagradáveis. "A história muito se escreve / No calor dos tumultos", sentencia em Salvo conduto (Ian Ramil e Poty Burch), destaque de um álbum que evoca as experimentações do grupo inglês Radiohead. Derivacivilização é disco ruidoso, raivoso, de digestão difícil pelo conteúdo corrosivo. "O amor corrói", aliás, é o verso inicial de Corpo vazio (Ian Ramil), tema conduzido pela batida seca e pesada da bateria de Martin Estevez. Com letra baseada em texto de artigo da Constituição Federal do Brasil promulgada em 1988, Artigo 5º (Leo Aprato e Ian Ramil) destina ironias com a voz da convidada Gutcha Ramil entre ruídos, dissonâncias, tempos subvertidos e jogos de palavras ("que dá nada" vira "que danada"). Música gravada com a voz de Alexandre Kumpinski, cantor do grupo gaúcho Apanhador Só, A voz da indústria (Ian Ramil e Daniel Má) se joga na pista com suingue tropical sem suavizar o discurso. "A massa aperta o play", alerta Ramil, desafinando o coro dos contentes. Mesmo quando se reaproxima da canção de formato mais usual, como em Quiproquó (Ian Ramil), o artista mantém Derivacivilização em temperatura alta, já distante da estética do frio que pauta o som de seu pai, Vitor Ramil, e que ecoou em seu álbum inicial Ian. Derivacivilização se embrenha na selva das cidades, com seus sons cotidianos, distorcidos e nervosos - todos devidamente inseridos na (des)contrução de Rita-Cassete (A re par ti ção) (Ian Ramil e Guilherme Ceron), faixa formatada basicamente com ruídos e dissonâncias. No fim, Não vou ser chão pros teus pés (Ian Ramil) reforça o clima inquieto e tenso do CD, reiterando a altitude alcançada por Ian Ramil nesse álbum que eleva seu nome na contemporânea cena musical do Brasil.

Karina acrescenta 'h' ao nome artístico e volta com álbum que inclui Péricles

Karinah - cantora nascida em Curitiba (PR) e radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) - está de volta ao mercado fonográfico com a adição de h ao nome artístico. Três anos após lançar seu primeiro álbum com produção de Leandro Sapucahy, Você merece samba (Sony Music, 2012), a artista se prepara para apresentar seu segundo álbum. Uma das músicas do repertório do CD é uma composição de Claudemir, Não mete essa não, gravada em dueto com o cantor paulista Péricles (com Karinah na foto tirada em estúdio na gravação da faixa). O registro de Não mete essa não foi feito com arranjo de Thiago Santana e tem cordas orquestradas por Bruno Santos. Além de Péricles,  o segundo álbum de Karinah tem participações  de Martinho da Vila e de Xande de Pilares.

Cantora potiguar Thábata Mendes é a voz da banda Calypso a partir de 2016

Cantora potiguar de 28 anos, nascida em Mossoró (RN), Thábata Mendes (foto) foi escolhida pelo guitarrista e produtor musical Chimbinha para assumir o posto de vocalista da banda paraense Calypso a partir de janeiro de 2016. Thábata - que já tinha tentado carreira no ramo da axé music e no universo sertanejo - foi convidada a substituir Joelma Mendes, que rompeu sua união afetiva e musical com Cledivan Almeida Farias, o Chimbinha, em agosto deste ano de 2015. Por contrato, Joelma ainda é oficialmente a vocalista da Calypso até 31 de dezembro. Mas sua saída da banda - formada em 1999 em Belém (PA) - é irreversível. A partir de 1º de janeiro, a vocalista da Calypso passa a ser Thábata.  Mas o nome da banda talvez sofra alguma leve alteração por razões jurídicas.

Daniela vai gravar ao vivo na Bahia, em novembro, o show 'A voz e o violão'

Antes mesmo de lançar Vinil virtual, o álbum que gravou em estúdio com repertório inédito e autoral e que planeja lançar em dezembro deste ano de 2015, Daniela Mercury vai fazer o registro do show A voz e o violão. A gravação ao vivo do show acústico feito pela cantora baiana com o violonista Alex Mesquita - visto com Daniela na foto de Célia Santos - vai ser feita em 13 de novembro na Sala Principal do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA). No show, que roda o Brasil desde agosto deste ano, a cantora dá voz a composições de seu repertório entre músicas da MPB que nunca gravou, casos de Noturno (Graco e Caio Silvio, 1979) - sucesso na voz de Fagner - e de O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc, 1979). A gravação ao vivo do show A voz e o violão é resultado de parceria da empresa de Daniela Mercury, Páginas do Mar, com o Canal Brasil.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Bambas historiam em dicionário os significados sociais e musicais do samba

Ao descrever o significado do termo pagode no Dicionário da história social do samba, livro recém-lançado pela editora Civilização Brasileira, os autores Nei Lopes e Luiz Antonio Simas traçam a evolução da palavra ao longo do primeiro século do quase centenário samba, lembrando que, a partir da década de 1990, a indústria fonográfica brasileira se apropriou do termo pagode para designar grupos que cantavam e tocavam um samba diluído em solução pop, em que os teclados disputavam espaço com as percussões. Bambas no assunto, Lopes e Simas apresentam aos estudiosos dos caminhos da música brasileira uma valiosa obra de referência para quem se interessa por samba, discorrendo com propriedade sobre todos os significados sociais e musicais do gênero nascido oficialmente em 1916. Em bom português, o Dicionário da história social do samba não se limita a explicar as modalidades do gênero, os instrumentos usados para produzir a cadência bonita do samba e outros termos de cunho técnico. Há também verbetes de caráter mais abstrato, como consciência negra, que justificam o adjetivo social aplicado no título do dicionário. Há, inclusive, verbetes de cunho político. Em Estado Novo, por exemplo, Lopes e Simas contextualizam o samba no período ditatorial brasileiro que foi de 1937 a 1945. Além dos textos dos verbetes serem bem escritos, o conhecimento de causa dos dois autores do Dicionário da história social do samba credencia o livro como obra segura para consulta e pesquisa de termos relacionados ao gênero. Além de ser expressivo compositor de samba, revelado nos anos 1970, Nei Lopes é bacharel em Direito e Ciências sociais, sendo uma das autoridades nacionais quando o assunto é cultura negra. Luiz Antonio Simas é mestre em História social, tendo escrito diversos livros e artigos sobre escolas de samba do Rio de Janeiro (RJ) e sobre comunidades  nas quais se criam tais agremiações.

Sylvia Patricia repisa alguns passos em DVD e CD editados pelo Canal Brasil

Em 1º de dezembro de 2014, a cantora e compositora baiana Sylvia Patricia gravou 13 músicas ao vivo nos estúdios da 24P Cinema Digital, no Rio de Janeiro (RJ). Havia, a rigor, uma real novidade nesse repertório, caso da música inédita Quisera, de autoria da própria artista. A maioria das 13 composições já tinha sido registrada pela cantora em discografia iniciada então há 25 anos com a edição do primeiro álbum da artista, Sylvia Patricia (Epic / CBS, 1989). A gravação ao vivo rendeu o segundo título audiovisual da discografia da cantora, Sylvia, lançado através da Coleção Canal Brasil em edição dupla que junta CD e DVD em embalagem de DVD. Em Sylvia, projeto que sucede o álbum Andante (Lua Music, 2010) na discografia da artista, a cantora dá nova voz a relativos sucessos como Marca de amor não sai (1989), versão em português (escrita por Sylvia com e E. Roberto) da canção norte-americana Is it okay if I call you mine? (Paul McCrane, 1980), tema do filme musical Fame. Em Sylvia, Patricia recebe convidados como a percussionista baiana Lan Lan - voz e pandeiro em Cenas de violência e tensão (Sylvia Patricia, 1989) e bongô em De vuelta (Sylvia Patricia e Cecelo Frony, 2014), música lançada pela cantora somente em EP digital gravado em Barcelona, na Espanha - e Zélia Duncan, que canta com a anfitriã Meu olhos (Sylvia Patricia e Kal Venturi, 2010), composição lançada por Zélia no seu primeiro álbum, Outra luz (Eldorado, 1990), e regravada por Sylvia em 2010 no já mencionado disco Andante. Marcio Lomiranda toca piano rhodes e clarinete em Quero outra vez (1998), música que compôs com Sylvia e Paulo Rafael.

Fundo de Quintal grava ao vivo no Rio com as adesões de Zélia e Monobloco

O grupo carioca Fundo de Quintal vai fazer mais um registro de show. A gravação ao vivo do sexteto está agendada para a próxima quinta-feira, 29 de outubro de 2015, em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ). Estão previstas participações do cantor e compositor carioca Cleber Augusto (ex-integrante do Fundo de Quintal), do coletivo carioca Monobloco e de Zélia Duncan, cantora e compositora fluminense que acaba de lançar seu primeiro álbum dedicado ao samba, Antes do mundo acabar (Biscoito Fino, 2015). A gravação originará CD ao vivo e DVD, previstos para serem editados em 2016. Feito em estúdio, o último disco do Fundo de Quintal, Só felicidade (LGK Music  /  Radar Records), chegou ao mercado em dezembro de 2014, com repertório inédito.

Maíra expande fluxo espontâneo e leve de sua criação em 'Piano e batucada'

Resenha de CD
Título: Piano e batucada
Artista: Maíra Freitas
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Em seu inusitado primeiro álbum, Maíra Freitas (Biscoito Fino, 2012), a artista carioca se revelou excelente pianista, boa cantora e promissora compositora. Pois a filha de Martinho da Vila cumpre a promessa e supera expectativas como compositora no sedutor segundo álbum, Piano e batucada, orquestrado com patrocínio obtido no projeto Natura musical e lançado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de outubro de 2015. Tal evolução por si só garante o êxito do disco, já que Maíra se expõe muito mais como compositora, assinando dez das 13 músicas de Piano e batucada. A música autoral de Maíra parece surgir de um fluxo espontâneo de criação, sem regras, amarras ou métricas pré-estabelecidas (nesse sentido, e somente nesse, há um paralelo entre sua obra e o cancioneiro igualmente livre de Vanessa da Mata). Em Piano e batucada, o piano é o da própria Maíra, instrumentista formada em escola erudita, cujos ensinamentos lhe permitem tocar e compor um tema mais camerístico como Não sei, sei lá (Maíra Freitas), alocado no fecho do disco. A batucada são os vários instrumentos percutidos por Bernardo Aguiar. Já os sintetizadores - fundamentais na arquitetura eletroacústica das faixas, mas não expostos no título - são pilotados por Sacha Amback, hábil produtor deste álbum em que Maíra canta samba com leveza, feminilidade e balanço envolvente. Da ótima safra autoral, a obra-prima é Êta (Maíra Freitas e Edu Krieger), samba de requebrado porreta em que melodia, ritmo e letra se afinam em total sintonia. Com letra baseada em versos do poeta português Fernando Pessoa (1888 - 1935), Lembrar de que? (Maíra Freitas) segue a trilha sincopada de Piano e batucada com uma tecla no jazz e outra na África. Cativante, o samba Gargalhada (Maíra Freitas e Felipe Cordeiro) jorra como riso espontâneo com o toque nortista da guitarra de Felipe Cordeiro e a leveza do canto de Mart'nália, meia-irmã de Maíra. Cuidado, moça (Maíra Freitas e Daniel Má) mostra que o samba da artista balança, mas não cai em clichês melódicos e poéticos. Pousa (Maíra Freitas, João Sabiá e Osvaldo Pereira) abre tempo mais lento de delicadeza no disco com a voz de João Sabiá e um piano que, na introdução, parece emular sons de uma caixinha de música. Volta (Maíra Freitas) indica que, se há uma raiz no samba de Maíra, esta vem do sambalanço que brotou na década de 1960, na era pós-Bossa Nova. Aliás, Desavisado (Maíra Freitas, Mart'nália, Beto Landau e Gabriel Moura) ostenta a bossa própria da artista enquanto Nua (Maíra Freitas) sobressai no repertório autoral ao expor sem pudor a face fresca, livre, leve e solta da criação de Maíra, compositora capaz de embarcar na viagem onírica de Danilo dormindo (Maíra Freitas). Piano e batucada expande o fluxo espontâneo dessa criação, mostrando a evolução da artista em relação ao álbum de estreia Maíra Freitas, mas quase desafina na parte das releituras de obras alheias. Das três, a que alcança melhor resultado é a abordagem, no compasso ternário da valsa, do samba Minha festa (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1973). Música associada à cantora norte-americana Nina Simone (1933 - 2003), Feeling good (Anthony Newley e Leslie Bricusse, 1964) é embasada pelos tambores do grupo afro-baiano Ylê Aiyê. Na teoria, a ideia é boa porque o Ylê é um esteio da negritude tão bem defendida por Nina Simone em músicas e entrevistas. Na prática, os tambores soam sem a força habitual do Ylê (talvez o problema tenha sido na captação dos sons do grupo, feita em Salvador, na Bahia), esmaecendo a negritude da faixa. Mas o que de fato não funciona em Piano e batucada é a tentativa vã de transformar a balada Estranha loucura (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1987) num ska. O ritmo veloz da gravação dilui a dramaticidade da música, lançada com sucesso e com propriedade por Alcione, e desperdiça a força de intérprete do gaúcho Filipe Catto, ótimo cantor talhado para temas teatrais (de todo modo, a letra Estranha loucura não sugere um dueto, sendo feita para um solo vocal). Estranhezas e loucuras à parte, Maíra Freitas dá largo passo à frente com  Piano e batucada, tirando nota alta na perigosa (e temida) prova do segundo disco.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Anelis lança compacto com remix em 'dub' de música de seu segundo álbum

Anelis Assumpção está lançado compacto de vinil com remix, em dub, de Eu gosto assim, música de autoria da cantora e compositora paulistana, lançada pela artista em seu segundo álbum, Anelis Assumpção e os Amigos Imaginários (Scubidu Records / Pommelo Distribuições, 2014). Assinado por Victor Rice, o remix de Eu gosto assim ocupa o lado A do compacto produzido a convite da Vynil Lab e da Brasilis Grooves. No lado B,  o disco reproduz apenas arte do artista de rua Paulo Ito.

Eis a capa de 'Pirâmide', primeiro disco solo de Rafael Rocha, do grupo Tono

Na sequência da edição do primeiro álbum solo da cantora e compositora baiana Ana Cláudia Lomelino (mãeana, lançado pela gravadora Joia Moderna neste mês de outubro de 2015), o baterista e compositor do grupo Tono, Rafael Rocha, também lança seu primeiro álbum solo paralelamente ao trabalho que desenvolve na banda carioca da qual Lomelino é vocalista. Com capa que expõe foto de Carolina Amorim, o disco se chama Pirâmide e tem lançamento programado para 10 de novembro de 2015 em edição digital e em edição física em CD. Pirâmide vai chegar ao mercado fonográfico com distribuição da Tratore. Cantor, compositor, baterista e produtor musical carioca, Rafael Rocha é o autor de Delírio - a marcha pop que batiza o recém-lançado sexto álbum de Roberta Sá - e de duas músicas do Tono que ganharam a voz icônica de Ney Matogrosso, Não consigo (Rafael Rocha, 2011) e  Samba do blackberry (Alberto Continentino e Rafael Rocha, 2011).

Safra de sambas e enredos da série A do Carnaval carioca de 2016 é mediana

Resenha de CD
Título: Sambas de enredo Carnaval 2016 - Série A
Artista: vários
Gravadora: Som Livre / Lierj
Cotação: * * 1/2

Enquanto os sambas de enredo de 2016 das escolas do Grupo Especial do Carnaval carioca ainda estão sendo gravados, para disco previsto para chegar ao mercado fonográfico entre o fim de novembro e o início de dezembro deste ano 2015, a gravadora Som Livre lança neste mês de outubro - por enquanto somente nas plataformas digitais - o disco com os 14 sambas-enredo das escolas da Série A do Carnaval do Rio de Janeiro (RJ). Ivo Meirelles assina a produção do álbum. Com edição em CD prevista para chegar às lojas em novembro, a capa expõe imagem do desfile de Unidos de Padre Miguel, escola vice-campeã no grupo de acesso A no Carnaval de 2015. Remexendo na história do Brasil imperial, a Unidos de Padre Miguel conta um enredo fabuloso, O quinto dos infernos (Toninho do Trailler, Jr Beija flor, Marcelo do Rap, Thiago Alves, Alair Perobelli, Diego Alan e Samir Trindade), que gerou samba mediano, puxado por Luizinho Andanças. É o samba que abre este disco de sambas que ficam no mesmo nível regular. Um dos que pairam acima é o samba da Império Serrano. Recorrendo ao nome de Silas de Oliveira (1916 - 1972), a escola do bairro carioca de Madureira celebra o centenário de nascimento do compositor e as sementes plantadas pela Prazer da Serrinha, escola que gerou o Império em 1947. Puxado por Pixulé, o bom samba Silas canta Serrinha (Arlindo Cruz, Aloísio Machado, Arlindo Neto, Zé Gloria, Andinho Samara e Lucas Donato) termina no ritmo seminal do jongo. Escola rebaixada no Carnaval de 2015, a niteroiense Unidos do Viradouro aposta no filão africano com a ópera-samba-enredo O alabê de Jerusalém, a saga de Ogumdana (Paulo César Feital, Zé Gloria, Felipe Filósofo, Maria Preta, Fabio Borges , William, Zé Augusto e Bertolo), explorando tema de tom mitológico. O puxador José Paulo Ferreira Sierra (Zé Paulo) faz sua parte em samba que empolga. Ainda neste terreiro, o enredo sobre crianças da Renascer de Jacarepaguá gerou samba de gente grande, Ibejís - Nas Brincadeiras de criança: Os orixás que viraram santos no Brasil (Cláudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina), puxado por Diego Nicolau e Evandro Malandro no disco com igual empolgação. Já A Acadêmicos do Cubango também recorre aos orixás em versos de Um banho de mar à fantasia (Sardinha, Gustavo Soares, Wagner Big, Diego Moura, Julio Alves, Marco Moreno, Samir Trindade, Elson Ramires, Cláudio Russo e Adriano Boinha), samba puxado por Hugo Júnior. Mas o enredo versa basicamente sobre a água. Mais acelerado e animado, com chances de crescer na avenida, o samba-enredo da Paraíso do Tuiuti, A farra do boi (Rafael Júnior, Jorge Maia, W. Correia, Dilson Marimba e Claudio Russo) também fala de água, mas em contexto nordestino. O enredo abarca a seca do sertão e as crendices que fazem chover de acordo com a fé do povo. Agremiação que tradicionalmente apresenta grandes sambas, a Império da Tijuca vai entrar na avenida com samba menor do que o talento do ator José Wilker (1944 - 2014), celebrado no enredo que tem o melhor título do disco. O tempo ruge, a Sapucaí é grande e o Império aplaude o felomenal (Jussara Pereira, Dalton da Nelci, Luiza Fontella, Adriana Vieira e LID) - samba puxado por Rogerinho cujo título alude ao bordão do bicheiro Giovanni Improta, uma das personagens mais populares da trajetória de Wilker nas novelas - tem letra que alude a outros bordões e personagens do ator. Samba puxado por Thiago Brito que também está aquém do histórico da Caprichosos de Pilares, Tem gringo no samba! (Gabriel Fraga, Régis, Rute Labre, Franco Cava, Luiz Careca e Ricardo Santiago) fala da mistura de crenças e culturas que dá o tom da arte do Brasil. Samba-enredo de arquitetura tradicional, Cacá Diegues - Retratos de um Brasil em cena (Tentenzinho, Serginho Castro, Rudá Neto e Marcelo Fernandes) é bem defendido pelo puxador Nino do Milênio e ostenta um segundo refrão bem forte. O enredo é - como o título já explicita - homenagem da Inocentes de Belford Roxo ao cineasta Carlos Diegues. Também com refrão forte (sobretudo o primeiro, mas o segundo também é bom e pode crescer no desfile), o samba-enredo da Acadêmicos da Santa Cruz - Diz mata! Digo verde. A natureza veste a incerteza. E o amanhã? (O clamor da floresta) (Zé Gloria, André Felix, Júnior, Marquinho Beija-flor, Roni Remandiola, Betinho, De Araújo e J. Giovanni), gravado pelo puxador Pavarotti com a adesão da voz calorosa Gaby Moura - versa sobre a questão ambiental e sobressai na safra mediana. Trazendo o disco de volta ao mundo infantil, a Unidos do Porto da Pedra celebra a trajetória do palhaço fluminense George Savalla Gomes (1915 - 2006), o Carequinha, e arma seu circo com Palhaço Carequinha, paixão e orgulho de São Gonçalo. Tá certo ou não tá? (Porkinho, Kiko Ribeiro, Vitor Gabriel, Daniel Morais, Marcio Souza, Bizzar e Flavinho), samba puxado por Anderson Paz que pode crescer na avenida Sapucaí. Em universo lúdico similar ao do samba da Porto da Pedra, a União do Parque Curicica põe apropriado toque nordestino no samba-enredo Corações mamulengos! (Washington Motta, Pitimbu, Vagner Silva, Alexandre Alegria, Telmo, Léo da Taberna e Marcelo Valência). O enredo são as caravanas itinerantes que divertem a nação nordestina com seus mamulengos. Cantora paraibana que sempre levantou a bandeira da música da região, Elba Ramalho divide a interpretação do samba com o puxador Ronaldo Ylê e, no fim da gravação, saúda a escola de Jacarepaguá. Já a Alegria da Zona Sul se volta para a tradição africana e saúda um dos orixás mais populares, Ogum, no homônimo samba-enredo puxado por Tiganá assinado por Pixulé, Thiago Meiners, Rafael Tubino, James Bernardes, Alex Bagé, André K, Gilson, José Mario, Júnior e Victor Alves. Por fim, a Acadêmicos da Rocinha saúda a valentia do povo brasileiro e da própria comunidade carioca que gerou a escola no samba-enredo Nova Roma é Brasil, Brasil é Rocinha (Edinho, Diego do Carmo, Vitor Coutinho, Rico Bernardes, Rafael Mikaiá e Wander Timbalada), puxado com força por Leléu. Enfim, a safra das escolas do grupo A do Carnaval do Rio de Janeiro para o Carnaval de 2016 está longe de ser antológica. Mas o disco tem o mérito de apresentar, na medida do possível, gravações calorosas dos 14 sambas. A empolgação maior vai ser na avenida e, a julgar pelos sambas regulares ouvidos no disco lançado pela gravadora Som Livre, embora um ou outro sobressaia na gravação, as 14 agremiações vão entrar em pé de igualdade na Avenida Sapucaí para disputar a sonhada vaga no Grupo Especial no Carnaval de 2017.

'Workshop' monta um painel do canto feminino no Brasil, de Carmen a Alice

País de cantoras, o Brasil sempre foi fértil celeiro de vozes femininas. Organizado em quatro ágeis módulos, o workshop A sedução da voz - De Carmen Miranda a Alice Caymmi vai montar um painel do canto feminino no Brasil desde 1930 - ano do estouro da então emergente Carmen Miranda (1909 - 1955) - até os anos 2010, década que projetou vozes como a da carioca Alice Caymmi. Promovido pela empresa Art Hunter Produções Artísticas e ministrado pelo jornalista carioca Mauro Ferreira, editor de Notas Musicais, o workshop está programado para acontecer em 10, 12, 17 e 19 de novembro de 2015. As inscrições já podem ser feitas a partir de hoje através do site oficial da Art Hunter. Quem se inscrever vai ganhar de brinde, na primeira das quatro aulas-palestras, o livro Cantadas - A sedução da voz feminina em 25 anos de jornalismo musical, escrito por Mauro Ferreira e lançado em 2013. Clique aqui para ser direcionado para a página de inscrições no site oficial da Art Hunter Produções Artísticas, escritório carioca de agenciamento artístico que também pode levar o  workshop  sobre o canto feminino para outras cidades do Brasil.

domingo, 25 de outubro de 2015

Com fé nos orixás e no rock, Nasi conserva sua pegada no CD e DVD 'EGBE'

Resenha de CD e DVD
Título: EGBE
Artista: Nasi
Gravadora: Deck / Coleção Canal Brasil
Cotação: * * * *

Nasi está salvo dos perigos da selva urbana. Com fé no rock e nos orixás das religiões e cultos afro-brasileiros, o paulistano Marcos Valadão Rodolfo mostra aos 53 anos que ainda tem pegada no CD e DVD EGBE. Neste projeto, Nasi apresenta duas inéditas - Alma noturna (Nasi, Kiko Dinucci e Johnny Boy) e Egbe Oniri (Nasi, Johnny Boy e King), música que dá nome à gravação feita no Audio Arena e que foi composta com base em cântico yorubá de louvor ao orixá Egbe - e revisita música menos conhecida do repertório de seu reativado grupo Ira!, Rubro Zorro (Nasi, Edgard Scandurra, Ricardo Gaspa e André Jung), lançada pela banda paulistana no álbum Psicoacústica (WEA, 1988), além de reviver com reverência (e um berimbau) um tema da safra inicial de Alceu Valença, Sol e chuva, lançado em 1976 pelo cantor e compositor pernambucano. Contudo, em essência, EGBE rebobina com energia o repertório do último álbum de estúdio de Nasi, Perigoso (Coqueiro Verde Records, 2012), disco cru em que o artista transitou por rock, country, blues e soul. Das 13 músicas de EGBE, oito vem do repertório de Perigoso, inclusive a abordagem eletrizante de Dois animais perdidos na selva suja das ruas, rock de Taiguara (1945 - 1996) lançado em disco por Erasmo Carlos em 1971. A voz de Nasi pode já estar dando sinais de cansaço em shows, mas soa cheia de vida e energia em EGBE, parecendo mais forte do que realmente é. O rock Ori e o country-rock Amuleto - duas parcerias de Nasi com Johnny Boy lançadas no disco Perigoso - expõem a devoção do artista aos signos dos cultos afro-brasileiros. Já Feitiço da Rua 23 (Nasi e Nivaldo Campopiano) reza pela cartilha do blues. Aliás, a música-título do CD de 2012, Perigoso (Nasi e Johnny Boy), se aproxima do universo rural do norte-americano bluegrass - o que justifica a presença inusitada do cantor e músico paulista Renato Teixeira (voz e violão) e de seu filho, Chico Teixeira (violão de 12 cordas), convidados do número. Gravado ao vivo no estúdio montado no estádio Morumbi, mas sem plateia, EGBE mostra que Nasi vem conseguindo sobreviver aos perigos da selva suja das ruas. Axé!

'Nave-mãeana' estica cordão umbilical na viagem espacial de show sensorial

Resenha de show 
Título: mãeana
Artista: Ana Cláudia Lomelino (em foto de Vitor Jorge)
Local: Teatro do Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de outubro de 2015
Cotação: * * * *

 No seu recém-lançado primeiro álbum solo, mãeana (Joia Moderna), Ana Cláudia Lomelino puxou o cordão umbilical de seu canto cool ao dar voz a repertório formatado pelo produtor Bem Gil com tons espaciais, nordestinos, cariocas e afro-brasileiros - harmonizados dentro da estética indie-contemporânea deste disco maternal. No show mãeana, que estreou no Rio de Janeiro (RJ) neste fim de semana dentro da programação do projeto Levada, Lomelino esticou o cordão umbilical, agregando no palco e nos bastidores os amigos que a ajudaram a dar luz ao álbum gestado há dois anos. O espírito gregário do show ficou evidente na reprise da música-título Mãe Ana (Rubinho Jacobina, 2015), reapresentada no bis em abordagem carnavalizante. Um dos trunfos do disco, Mãe Ana, a música, já tinha sido cantada antes com foco no arranjo espacial-tropicalista que dá a pista da rota seguida por Lomelino neste primeiro trabalho fora do Tono, grupo carioca do qual é vocalista. A nave-mãeana levantou voo com segurança no palco do teatro do Oi Futuro Ipanema para fazer viagem sensorial que combinou elementos de artes plásticas e de teatro. A teatralidade pontuou o show, estando evidente, por exemplo, quando Lomelino deitou no palco, no início do bis, para se acomodar na placidez de Minha cama (Marcelo Callado). Ainda no bis, a artista deu sua voz pequena a uma versão em português de Beautiful boy (Darling boy) (John Lennon, 1980) - cantada de início a capella e, na sequência, com o balanço tropical da banda - que ressaltou a grandeza do amor de mãe que pauta show e disco. Essa fiel versão em português é inédita, tendo sido feita por Gilberto Gil especialmente para Ana. Antes mesmo do início do show, já havia uma teatralidade em cena. Giulia Drummond e Vanessa Matos preparavam ritual de tom espiritualista em saudação às Iabás (orixás femininos das águas) que culminou com o canto (na voz grave e forte de Giulia) de temas afro-brasileiros como Ponto de Oxum (Luhli e Lucina, 1982) e Cordeiro de Nanã (Mateus Aleluia e Dadinho, 1977), este puxado do repertório do grupo baiano Os Tincoãs. Foi a deixa para que o baterista Stéphane San Juan evocasse o toque dos tambores ancestrais e abrisse a cena para Lomelino - artista de origem baiana - emergir no palco nas águas de Mãe imã (2015), inédito tema afro-brasileiro de Luana Carvalho que Ana gravou no seu disco solo. Na sequência, Pérola-poesia (Domenico Lancellotti e Ana Cláudia Lomelino) - música que prenunciou o voo solo de Lomelino ao ser jogada na web em abril de 2014 - e Sonho de voo (Bem Gil e Ana Cláudia Lomelino, 2015) içaram  o onirismo alado que conduz a nave-mãeana por viagem de escalas apropriadas para a voz cool da cantora. Vontade (André Dahmer, 2015) e Dom (Ana Cláudia Lomelino e João Bernardo, 2015) seguiram a viagem por pontos menos cintilantes do show iluminado por feixes de laser por Marc Kraus. A nave-mãeana ganhou altitude em cena quando Lomelino cantou a pérola de poesia feminina que ganhou de Caetano Veloso - Não sei amar (2015) moderno samba-canção - e quando a artista se caracterizou como uma santa para dar voz à inspiração sagrada do compositor Chico Buarque, de quem Lomelino reviveu com propriedade Não fala de Maria (1970) somente com sua voz e o toque do violão de Bem Gil. Na sequência, com a banda já de volta à cena, a nave-mãeana manteve sua altitude quando Lomelino subiu em pedestal para, do alto, realçar o sentido dos versos de Romance espacial (Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, 2015), número em que a cantora - livre, leve e solta - parece flutuar no abismo, em sintonia com os versos do tema. Músico cuja presença na tripulação do show valorizou o voo solo de Lomelino, o acordeonista Mestrinho brilhou inclusive ao dissonar os acordes de seu instrumento em fina sintonia com os versos de Músico simples (1974), música obscura do cancioneiro autoral do compositor baiano Gilberto Gil, dada pelo sogro de Lomelino para o cantor, compositor e pianista carioca Johnny Alf (1929 - 2010), um dos pioneiros das desafinações que gestaram a revolução feita pela Bossa Nova em 1958. Na próxima escala da viagem, a cantora - tanto filha da bossa quanto da tropicalista Bahia ia ia ia ia - sustentou a aconchegante leveza de Colo do mundo (Cezar Mendes e Quito Ribeiro, 2015) com a voz e o toque do quarteto fantástico completado pelo baixista Bruno Di Lullo. Na sequência, a nave-mãeana incluiu na tripulação João Paulo Lomelino. O irmão da comandante do voo tocou o cavaquinho carioca que adornou Bem feito (2015), o samba minimalista fornecido pela gaúcha Adriana Calcanhotto para o disco mãeana. Após Lomelino cantar Meu filho (Paulo Camacho, 2015), música que estende o cordão umbilical entranhando no repertório do disco e do show, foi a vez de Letícia Novaes entrar em cena para, com presença vivaz, ampliar no show o tamanho de sua Conchinha (2015), música que deu para o disco solo de Lomelino e que, em cena, foi emendada na voz da autora com o cântico de um ponto de Yemanjá. Já sem Letícia na tripulação, a nave-mãeana abarcou um E.T. no interlúdio teatral que remeteu ao clima de Guerra nas estrelas. E, como amor incondicional de mãe parece mesmo coisa de outro mundo, Lôu Caldeira entrou em cena e carnavalizou ao se portar como um erê ao dividir com Lomelino a interpretação de sua música Ufolclore (Porto do Conde) (2015). E foi no colo de Lôu que Lomelino saiu de cena antes de voltar para o bis, destino final da viagem tropicalista feita pela navemãeana em rota sensorial que amplificou os signos e significados do repertório do bom primeiro álbum solo de Ana Lomelino, joia moderna desta artista de canto cool e leve que parece se afinar mais fora do Tono.

'Nave-mãeana' inclui Chico, Gil, Lennon e Yemanjá na rota espacial do show

Uma das composições mais obscuras do cancioneiro autoral de Gilberto Gil - Músico simples, lançada pelo cantor, compositor e pianista carioca Johnny Alf (1929 - 2010) no álbum Nós (EMI-Odeon, 1974) - entrou na rota especial e tropicalista seguida por Ana Cláudia Lomelino, nora de Gil, no voo solo de seu show mãeana. Apresentado em 23 e 24 de outubro de 2015 no projeto Levada, no teatro do Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), o show foi feito na sequência imediata da edição do primeiro álbum solo da artista de origem baiana, mãeana, recém-lançado pela gravadora Joia Moderna em edição digital e em luxuosa edição física em CD. Além das 14 músicas do afetivo repertório do disco produzido por Bem Gil e da pérola rara do cancioneiro de Gilberto Gil, Lomelino deu voz a uma canção de Chico Buarque, Não fala de Maria (1970), e a uma versão em português de Beautiful boy (Darling boy), música de John Lennon (1940 - 1980), lançada há 25 anos pelo artista inglês no seu último álbum, Double fantasy (Geffen, 1980). Essa versão em português é inédita, tendo sido feita por Gilberto Gil especialmente para a artista. Em cena aberta por músicas afro-brasileiras cantadas pela voz forte de Giulia Drummond, em número ritualístico de saudação às Iabás feito antes do início do show propriamente dito, Lomelino recebeu convidados como Letícia Novaes (que cantou um ponto de Yemanjá após ampliar no show, com sua presença vivaz, o tamanho de Conchinha, música de sua autoria lançada por Lomelino em mãeana), Lôu Caldeira - com a alegria de um erê no canto de Ufolclore (Porto do Conde), música de sua lavra também incluída no repertório do álbum mãeana - e João Paulo Lomelino. Tal como no disco, o irmão de Ana Cláudia tocou cavaquinho em Bem feito, samba inédito de Adriana Calcanhotto, fornecido para o voo solo da vocalista do grupo carioca Tono. Eis o roteiro seguido por Ana Cláudia Lomelino - em foto de Vitor Jorge - na bonita apresentação de 24 de outubro de 2015 do gregário show mãeana:

 Abertura com temas afro-brasileiros - Giulia Drummond e Vanessa Matos
    A rainha e a princesa (Paulo César Pinheiro, 2015) /
    Iansã (Luhli, 1982) /
    Ponto de Oxum (Luhli e Lucina, 1982) /
    Cordeiro de Nanã (Mateus Aleluia e Dadinho, 1977)
1. Mãe imã (Luana Carvalho, 2015)
2. Pérola-poesia (Domenico Lancellotti e Ana Cláudia Lomelino, 2015)
3. Sonho de voo (Ana Cláudia Lomelino e Bem Gil, 2015)
4. Mãe Ana (Rubinho Jacobina, 2015)
5. Vontade (André Dahmer, 2015)
6. Dom (João Bernardo e Ana Cláudia Lomelino, 2015)
7. Não sei amar (Caetano Veloso, 2015)
8. Não fala de Maria (Chico Buarque, 1970)
9. Romance espacial (Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, 2015)
10. Músico simples (Gilberto Gil, 1974)
11. Colo do mundo (Cézar Mendes e Quito Ribeiro, 2015)
12. Bem feito (Adriana Calcanhotto, 2015) - com João Paulo Lomelino
13. Meu filho (Paulo Camacho, 2015)
14. Conchinha (Letícia Novaes, 2015) /  - com Letícia Novaes
15. Ponto de Yemanjá (tema do folclore afro-brasileiro, de domínio público) - Letícia Novaes
16. Ufolclore (Porto do Conde) (Lôu Caldeira, 2015) - com Lôu Caldeira
Bis:
17. Minha cama (Marcelo Callado, 2015)
18. Filho bonito / Beautiful boy (Darling boy)
      (John Lennon, 1980, em inédita versão em português de Gilberto Gil, 2015) 
19. Mãe Ana (Rubinho Jacobina, 2015) - com todos os convidados

Ana Carolina e Seu Jorge podem vir a lançar o volume dois de 'Ana & Jorge'

Há articulações nos bastidores da indústria fonográfica brasileira para que Ana Carolina e Seu Jorge bisem sua bem-sucedida parceria em disco, iniciada há dez anos com a edição do DVD e CD ao vivo Ana & Jorge (Sony Music, 2005). Nada foi anunciado até o momento e tudo pode ser mera intenção, mas a ideia do segundo volume do projeto já é comentada nos corredores da indústria do disco. Cabe lembrar que o lançamento de Ana & Jorge representou pico de popularidade e vendas nas discografias dos dois artistas (vistos em foto de Jotha R, da agência Fred Pontes) há dez anos.

sábado, 24 de outubro de 2015

Banda criada em 2012, no Rio, Ventre lança primeiro álbum com 11 músicas

Banda de rock surgida em 2012 na cena indie no Rio de Janeiro (RJ), Ventre lança seu primeiro álbum - batizado com o nome do power trio formado por Gabriel Ventura (voz e guitarra), Larissa Conforto (bateria e vocais) e Hugo Noguchi (baixo e vocais) - por via independente neste mês de outubro de 2015. Com 11 músicas autorais, o álbum Ventre rebobina composições já previamente lançadas na web pela banda - casos de Pernas e Carnaval, ambas divulgadas em 2013, e de Peso do corpo - e apresenta músicas até então inéditas como Ali, Aperto e um beijo e De perto. O álbum Ventre foi formatado pelo próprio trio, com adesões de produtores como Bruno Giorgi e JR Tostoi.