Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 20 de outubro de 2015

'Amanhecer' segue a toada de Paula Fernandes sem despertar algo na artista

Resenha de CD
Título: Amanhecer
Artista: Paula Fernandes
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

Ao contratar a cantora e compositora paraibana Roberta Miranda em meados da década de 1990, a gravadora então denominada PolyGram repaginou o som e o visual da artista - uma das poucas mulheres a abrir caminho no masculino universo sertanejo dos anos 1980 - para transformar Roberta numa espécie de versão brasileira da cantora norte-americana de pop country Shania Twain, então em rápida ascensão nas paradas dos Estados Unidos. Experimentada no álbum Vida (PolyGram, 1997), a estratégia deu errado e diluiu a força de Roberta no mercado sertanejo nativo. Foi preciso esperar dez anos para que a gravadora - atualmente denominada Universal Music - moldasse a sua versão nacional da então já decadente Shania ou de Taylor Swift, cantora norte-americana que soube fazer a transição do mundo country para o universo pop. Cantora e compositora mineira que grava discos desde os anos 1990, Paula Fernandes é essa versão. Aliás, a artista somente conseguiu se firmar na carreira fonográfica a partir do álbum Pássaro de fogo (Universal Music, 2008), disco em que apresentou suas canções confessionais de tom pop no meio de eventuais temas de sotaque ruralista e de algumas músicas mais animadas. Amanhecer - o nono álbum de Paula, disponível no mercado fonográfico desde 16 de outubro de 2015 pela mesma Universal Music - repete a fórmula de Pássaro de fogo, já bisada no anterior álbum de estúdio da artista, Meus encantos (Universal Music, 2012), como o single A paz desse amor (Paula Fernandes) já havia sinalizado. A batida pop country que conduz Pronta pra você (Paula Fernandes e Gustavo Fagundes) - primeira das 12 músicas do disco produzido por Márcio Monteiro - indica já na abertura do álbum que Amanhecer segue novamente a toada pop da cantora mineira (dona de voz bela e grave) sem despertar na artista um desejo de renovação. É fato que canções como Falar de mim (Paula Fernandes e Gustavo Fernandes) acordam a sensação de já terem sido ouvidas antes por quem acompanha a discografia de Paula a partir de Pássaro de fogo. O que pode ter soado como novidade no disco de 2008 já parece mera repetição neste álbum de 2015. O que jamais anula os encantos de Paula como cantora e como compositora. Voltaria ao começo (Paula Fernandes) e, sobretudo, a música-título Amanhecer (Paula Fernandes) são bonitas composições que sobressaem no repertório autoral do CD. Ao trilhar em Pedaço de chão (Paula Fernandes e Victor Chaves) a estrada de terra que a conduz ao sertanejo mais tradicional, Paula prova que seu caminho é pautado por lampejos de inspiração. Gravada com a voz e a viola (de dez cordas) de Almir Sater, artista sul mato-grossense identificado com o universo da música rural brasileira, Pedaço de chão é nostálgica canção melancólica - e sedutora - que se afina com o tom de Jeito de mato (Maurício Santini e Paula Fernandes, 2008), música de Pássaro de fogo gravada por Paula com o mesmo Almir Sater, referência de qualidade no gênero. Ainda dentro do terreno mais fértil da música sertaneja, a artista apresenta em Amanhecer uma moda de viola, Água de bico (Paula Fernandes), cuja letra relaciona clichês sobre a questão ambiental. Cumprindo sua função de fornecer repertório para os shows feitos em rodeios e festas afins, Amanhecer ostenta algumas músicas mais animadas, como Piração (Paula Fernandes) - faixa de clima forrozeiro - e E eu? (Paula Fernandes). De todo modo, são as canções de tonalidade pop em que a cantora discute a relação - caso de Depende da gente (Paula Fernandes) - que dão o tom de Amanhecer, disco em que Paula Fernandes dá voo rasante sobre o céu pop sertanejo, numa altitude mínima que a faz pairar acima do populismo da música de outros artistas do gênero, mas também sem arriscar manobras radicais.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Ao contratar a cantora e compositora paraibana Roberta Miranda em meados da década de 1990, a gravadora então denominada PolyGram repaginou o som e o visual da artista - uma das poucas mulheres a abrir caminho no masculino universo sertanejo dos anos 1980 - para transformar Roberta numa espécie de versão brasileira da cantora norte-americana de pop country Shania Twain, então em rápida ascensão nas paradas dos Estados Unidos. Experimentada no álbum Vida (PolyGram, 1997), a estratégia deu errado e diluiu a força de Roberta no mercado sertanejo nativo. Foi preciso esperar dez anos para que a gravadora - atualmente denominada Universal Music - moldasse a sua versão nacional da então já decadente Shania ou de Taylor Swift, cantora norte-americana que soube fazer a transição do mundo country para o universo pop. Cantora e compositora mineira que grava discos desde os anos 1990, Paula Fernandes é essa versão. Aliás, a artista somente conseguiu se firmar na carreira a partir do álbum Pássaro de fogo (Universal Music, 2008), disco em que apresentou suas canções confessionais de tom pop no meio de eventuais temas de sotaque ruralista e de algumas músicas mais animadas. Amanhecer - o nono álbum de Paula, disponível no mercado fonográfico desde 16 de outubro de 2015 pela mesma Universal Music - repete a fórmula de Pássaro de fogo, já bisada no anterior álbum de estúdio da artista, Meus encantos (Universal Music, 2012), como o single A paz desse amor (Paula Fernandes) já havia sinalizado. A batida pop country que conduz Pronta pra você (Paula Fernandes e Gustavo Fagundes) - primeira das 12 músicas do disco produzido por Márcio Monteiro - indica já na abertura do álbum que Amanhecer segue novamente a receita pop da cantora mineira (dona de voz bela e grave) sem despertar na artista um desejo de renovação. É fato que canções como Falar de mim (Paula Fernandes e Gustavo Fernandes) acordam a sensação de já terem sido ouvidas antes por quem acompanha a discografia de Paula a partir de Pássaro de fogo. O que pode ter soado como novidade no disco de 2008 já parece mera repetição neste álbum de 2015. O que jamais anula os encantos de Paula como cantora e como compositora. Voltaria ao começo (Paula Fernandes) e, sobretudo, a música-título Amanhecer (Paula Fernandes) são bonitas composições que sobressaem no repertório autoral do CD. Ao trilhar em Pedaço de chão (Paula Fernandes e Victor Chaves) a estrada de terra que a conduz ao sertanejo mais tradicional, Paula prova que seu caminho é pautado por lampejos de inspiração. Gravada com a voz e a viola (de dez cordas) de Almir Sater, artista sul mato-grossense identificado com o universo da música rural brasileira, Pedaço de chão é nostálgica canção melancólica - e sedutora - que se afina com o tom de Jeito de mato (Maurício Santini e Paula Fernandes, 2008), música de Pássaro de fogo gravada por Paula com o mesmo Almir Sater, referência de qualidade no gênero. Ainda dentro do terreno mais fértil da música sertaneja, a artista apresenta em Amanhecer uma moda de viola, Água de bico (Paula Fernandes), cuja letra relaciona clichês sobre a questão ambiental. Cumprindo sua função de fornecer repertório para os shows feitos em rodeios e festas afins, Amanhecer ostenta algumas músicas mais animadas, como Piração (Paula Fernandes) - faixa de clima forrozeiro - e E eu? (Paula Fernandes). De todo modo, são as canções de tonalidade pop em que a cantora discute a relação - caso de Depende da gente (Paula Fernandes) - que dão o tom de Amanhecer, disco em que Paula Fernandes dá voo rasante sobre o céu pop sertanejo, numa altitude mínima que a faz pairar acima do populismo da música de outros artistas do gênero, mas também sem arriscar manobras radicais.

Henrique disse...

Mauro, acho injusto colocar Shania Twain como decadente. A retirada dela da cena musical foi por escolha própria, por motivos pessoais. A turnê atual dela é um sucesso. E mesmo gostando de Shania, nessa fórmula de country pop sempre vi (e ouvi) uma cantora mais talentosa, ainda que menos conhecida por aqui: Martina McBride.

Rafael disse...

Canta bem, é bonitinha e a capa está até legal... Mas o repertório dela é de amargar...

Rafael disse...

1. Pronta pra você (Paula Fernandes/Gustavo Fagundes)
2. A paz desse amor (Paula Fernandes)
3. Falar de mim (Paula Fernandes/Gustavo Fagundes)
4. Depende da gente (Paula Fernandes)
5. Amanhecer (Paula Fernandes)
6. Piração (Paula Fernandes)
7. Água no bico (Paula Fernandes)
8. E eu? (Paula Fernandes)
9. Voltaria ao começo (Paula Fernandes)
10. Menino bonito
11. Pra quem sabe sonhar
12. Pedaço de chão (Paula Fernandes e Victor Chaves) Participação: Almir Sater

Aqui está a relação de faixas do disco, mas está faltando os compositores de "Menino Bonito" e "Pra Quem Sabe Sonhar"? Estou curioso para saber...

ADEMAR AMANCIO disse...

Uma grande representante da jequice nacional.