Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 31 de maio de 2011

Ora sensual, ora dark, 'Born This Way' não tira Gaga da pista de Madonna

Resenha de CD
Título: Born This Way
Artista: Lady Gaga
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

Foi muito barulho por nada assim tão novo para quem já conhece a dobradinha The Fame / The Fame Monster. O lançamento do segundo álbum de Lady Gaga, Born This Way, agitou a indústria fonográfica em escala mundial neste mês de maio de 2011 - com direito a pane na página da loja virtual Amazon no dia do lançamento. Forjada pela própria artista, hábil no manuseio das redes sociais como instrumentos de autopromoção, a expectativa em torno do disco foi tão alta que Born This Way, de certo modo, resulta decepcionante. Sim, o disco é bom. Gaga evoluiu como letrista e apresenta  pop dance de tom eventualmente épico, urdido com doses bem calculadas de sensualidade, sombras, batidas de eurodance, rock (em especial nos riffs da guitarra que turbina Electric Chapel), disco music (evocada especialmente em Marry the Night), religiosidade marqueteira (Black Jesus + Amen Fashion) e vibe gay (perceptível em Hair, de refrão grudento). E o fato é que, por mais que Gaga esteja no processo de construção de sua própria identidade musical, ainda é dificil ouvir seus discos sem fazer associações com Madonna. A rigor, Born This Way não tira Gaga da pista da Material Girl. E nem é por conta da já debatida semelhança (não tão grande assim, afinal) da faixa-título do álbum com Express Yourself. Tampouco essa associação se dá pela capacidade que Gaga tem de ser e gerar notícia - área no qual Madonna é mestra. Não, a questão é mais profunda. Madonna é ícone dos anos 80 e 90, mas, a rigor, nada criou de novo. Gaga já se impõe como um ícone dos anos 2000 sem também reinventar a roda no mundo pop, mas pelo raro conhecimento das leis desse mundo. Sim, ela sabe criar alguns refrões sedutores - como o de Judas, o fracassado segundo single do álbum, alvo de clipe provocador repleto de signos religiosos (qualquer semelhança mercadológica e ideológica com o vídeo de Like a Prayer também não terá sido mera coincidência) - e também sabe se apropriar de elementos de culturas alheias. Com sua aura flamenca, suas palavras em espanhol e sua latinidade que remete aos sons mexicanos, Americano é faixa que pode bem ser entendida como uma alfinetada no preconceito dos Estados Unidos contra os imigrantes, seus vizinhos que lutam para fazer parte do sonho norte-americano. Em latidude diversa, Scheiße e Government Hooker mergulham no universo techno sem diluir por completo a aura pop que envolve Born This Way. Ora sombrio (como em Bloody Mary), ora sensual (como em Heavy Metal Lover, faixa de textura eletrônica que contraria seu título), Born This Way acaba soando eventualmente repetitivo ao longo das 17 faixas de sua edição especial e mesmo das 14 de sua edição standard. Quem já ouviu The Edge of Glory, por exemplo, tem ideia do som apresentado em boa parte do álbum. Que não é ruim, vale repetir, mas parece já ter vindo ao mundo com uma impressão de déjà vu tamanha foi a expectativa fabricada pela artista. No resumo da ópera dance, Lady Gaga faz sua festa (inegavelmente animada em seus melhores momentos) sem causar a revolução que imagina - ou finge??? - estar fazendo no universo pop.

Relicário afetivo, 'Almamúsica' reitera harmonia do casal Hime em disco

Resenha de CD
Título: Almamúsica
Artista: Olivia Hime & Francis Hime
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Primeiro disco gravado conjuntamente por Francis Hime com Olivia Hime em 46 anos de vida amorosa, Almamúsica deve ser apreciado como um relicário afetivo do casal. As 26 músicas cantadas ou citadas ao longo das seis faixas-suítes do álbum formam mosaico de significado entendido plenamente apenas pelos artistas, dois compositores que sempre se harmonizaram na vida e na música. Disco de natureza intimista, até mesmo por conta da opção pelo formato de voz & piano (o de Francis, claro), Almamúsica reitera a harmonia e a afinação do casal Hime. "A intenção foi fazer uma viagem musical a partir de algumas canções que nos marcaram", conceitua Francis logo no início do texto que escreveu para o encarte, de arte gráfica delicada como o disco em si. Nessa viagem, a condução é do maestro Francis com seu piano sempre preciso, sem firulas ou notas jogadas fora apenas para mostrar um virtuosismo que já é conhecido de todos. "Apesar desse meu jeito cheio de opinião, cheio de argumentos, é tudo mentira: me deixei conduzir por você o tempo todo", ressalta Olivia para Francis num dos trechos mais bonitos da carta em que declara publicamente seu amor ao seu maestro. Dentro desse relicário íntimo e pessoal, urdido com referências afetivas-musicais, salta aos ouvidos tanto Paciência - em belo registro vocal de Olivia - como o dueto do casal em Saudade de Amar, antiga parceria de Francis com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), a música que ele cantava para ela no início do namoro. Na quarta das seis suites, o apropriado entrelaçamento da Canção de Pedroca - composta por Francis para o musical O Rei de Ramos (1979) com múltiplas referências ao universo francês na letra escrita por Chico Buarque - com dois temas do repertório de Yves Montand, Du Soleil Plein la Tête e Chiens Perdus Sans Collier, sinaliza que tudo tem um sentido por mais que esse sentido nem sempre seja perceptível ou explícito. Para o ouvinte pouco interessado na intimidade conjugal dos artistas, Almamúsica se sustenta pelo bom gosto do repertório selecionado. Parceria de Olivia com Francis, a inédita faixa-título já valeria o disco com suas camadas de sons e silêncios que louvam a deusa música. Uma segunda inédita, Balada do Café Triste, composta por Francis com versos do poeta Geraldo Carneiro, também se impõe dentro desse repertório majoritariamente já conhecido. Contudo, músicas pouco ouvidas pelo público em geral - casos de Minas Geraes (Novelli e Ronaldo Bastos) e de História Antiga (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro), tema solado por Francis com ares melancólicos das modinhas do século 19 - dão ao disco valor adicional e mostram que nem tudo é conhecido na medida de sua beleza. Ao fim da viagem, quando Olivia entoa Canta Maria (acalanto  com o qual sua mãe a ninou e com o qual Olivia embalou o sono de suas filhas), o ouvinte está impregnado da sensibilidade e musicalidade refinadas que pautam Almamúsica, disco que pede atmosfera calma e contemplativa para que seja degustado em sua plenitude.

Dominguinhos se encontra e improvisa com Hermeto para documentário

Após João Donato e Lenine, foi a vez de Hermeto Pascoal se reunir com Dominguinhos para tocar e trocar ideias para documentário sobre o sanfoneiro, que completou 70 anos em 12 de fevereiro. Aos 74 anos, Hermeto veio de Curitiba (PR) para o encontro, concretizado na tarde do último domingo, 29 de maio de 2011, em estúdio de São Paulo (SP), onde foram extraídos takes para o filme Dominguinhos, Volta e Meia, dirigido por Felipe Briso, com produção da empresa bigBonsai e patrocínio do projeto Natura Musical. Na companhia de trio formado pelos músicos Dió (zabumba), Fúba (pandeiro) e Zezum (triângulo), Hermeto e Dominguinhos - vistos em foto de Thomas Baccaro - tocaram em clima de improviso em jam que desembocou na perene Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e que terminou no passo do frevo.

Coldplay lança 'single' digital com a inédita 'Every Teardrop Is a Waterfall'

Enquanto arquiteta seu quinto álbum de estúdio, o Coldplay anuncia a edição de single digital com a música inédita Every Teardrop Is a Waterfall. Com capa já exposta no site oficial do grupo inglês, o single vai ser lançado na próxima sexta-feira, 3 de junho de 2011. A banda não informou se Every Teardrop Is a Waterfall vai integrar o repertório de seu próximo álbum.

Chico canta 'Se Eu Soubesse' com Thaís Gulin no seu álbum de inéditas

Chico Buarque canta com Thaís Gulin no disco de inéditas que finaliza no estúdio da gravadora Biscoito Fino, no Rio de Janeiro (RJ). Gulin participa da única música conhecida do repertório, a valsa-canção Se Eu Soubesse, cedida por Chico para o segundo recém-lançado CD da cantora, ôÔÔôôÔôÔ (Slap, 2011). A gravação é nova, mas o dueto não é inédito, já que Gulin gravou Se Eu Soubesse em seu disco com a participação de Chico. Com lançamento programado para o segundo semestre deste ano de 2011, o primeiro álbum de inéditas do cantor desde Carioca (2006) vai apresentar a segunda parceria do compositor com João Bosco - Sinhá, sucessora de Mano a Mano (1984) - e músicas assinadas somente por Chico, casos de Nina Querido Diário.

P.S.: Na foto de Daryan Dornelles, Chico Buarque posa no estúdio da gravadora Biscoito Fino com Karim Ainouz e Alessandra Negrini, diretor e atriz do filme O Abismo Prateado, inspirado na música Olhos nos Olhos, composta por Chico e ouvida na voz de Maria Bethânia em 1976.

Arnaldo grava 'Fado Tropical', de Chico e Ruy Guerra, para trilha de filme

Composto por Chico Buarque com letra de Ruy Guerra para a trilha sonora da peça Calabar - O Elogio da Traição, proibida em 1973 pela censura do regime militar, Fado Tropical ganhou registro de Arnaldo Antunes. Sob o comando de Davi Moraes e Zé Ricardo (com Arnaldo na foto tirada no estúdio da Gegê Produções), a gravação foi feita no Rio de Janeiro (RJ) para a trilha sonora do filme O Brasil de Pero Vaz Caminha, dirigido por Bruno Laet sob produção de Janaína Diniz Guerra e Tânia Carvalho. Além de pilotar a produção do fonograma, Davi Moraes e Zé Ricardo se revezaram nas cordas - bandolim, guitarra, cavaquinho e violão - usadas na gravação, feita com adesões de Cesinha na bateria e de Marcelo Linhares no baixo. Detalhe: a gravação original do Fado Tropical - feita por Chico Buarque em 1973 com Ruy Guerra - vai ser utilizada na abertura do filme, contemplado com o Prêmio Sesc Rio de Fomento à Cultura.

Balada de Rodriguinho e Thiaguinho, 'Sou Eu' anuncia disco solo de Fiuk

Nas rádios a partir desta terça-feira, 31 de maio de 2011, a balada Sou Eu dá o pontapé inicial na promoção do primeiro disco solo de Fiuk, cantor egresso da banda Hori que se tornou ídolo adolescente por conta de seu trabalho como ator no seriado Malhação. O lançamento do CD solo de Fiuk está agendado pela gravadora Warner Music para o segundo semestre deste ano de 2011. Clique aqui para ouvir e/ou baixar Sou Eu, composição assinada por Rodriguinho e Thiaguinho que sinaliza que Fiuk vai transitar em carreira solo por um repertório de nível raso.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Chega ao Brasil caixa com gravações da fase jamaicana de Bob Marley

Bob Marley (1945 - 1981) começou a virar um mito além das fronteiras da Jamaica quando ingressou na gravadora Island Records e passou a apresentar seu reggae com a linguagem do pop rock. Sua escalada internacional começa em 1973 com o lançamento de Catch a Fire, álbum promovido com a gravação emblemática de Concrete Jungle. Contudo, a música de Marley já tinha história. A fase inicial de sua obra na Jamaica é o foco de Bob Marley - The Essencial Box, caixa com seis CDs, lançada no exterior em novembro de 2010 e editada no Brasil, pela empresa MusicBrokers, neste mês de maio de 2011 - quando se completam 30 anos da morte do artista. Os seis discos rebobinam singles editados na Jamaica, remixes, versões dubs e as gravações pilotadas por Lee Scratch Perry - o DJ, músico e produtor que ajudou a formatar o reggae de Marley no início dos anos 70, antes da ida do cantor para a Island. O supra-sumo do box se concentra nos três primeiros CDs. O CD 1, The Jamaican Singles, reúne os registros originais de temas como Kaya e Sun Is Shining. Já os CDs 2 e 3, The Lee Perry Sessions e The Lee Perry Sessions Part II, reapresentam versões seminais de Natural Mystic, Concrete Jungle, Lively up Yourself e Soul Rebel. Por sua vez, os três últimos CDs diluem em remixes e versões dubs este material que - embora não seja o essencial de Marley - tem valor.

Death Cab for Cutie lança seu sétimo álbum de estúdio, 'Codes and Keys'

Já disponível para audição na internet, o sétimo álbum de estúdio do grupo norte-americano Death Cab for Cutie, Codes and Keys, chega às lojas do exterior a partir desta segunda-feira, 30 de maio de 2011, via Atlantic Records. Lançado em março, o primeiro single do álbum, You Are a Tourist, rendeu comparações da banda - formada em 1997 - com os Stones Roses. Outras faixas do disco são Monday Morning, Portable TelevisionHome Is a Fire e Some Boys.

BiD mixa com Caldato 'Bambas Dois', disco que religa a Jamaica ao Brasil

O produtor BiD está em Los Angeles (EUA) mixando com Mario Caldato o CD Bambas Dois, sucessor de seu primeiro projeto solo, Bambas & Biritas - Volume 1, editado em 2005. Em Bambas Dois, BiD costura sons do Brasil e da Jamaica, para onde o produtor viajou na fase de gravação do disco, levando na bagagem bases pré-gravadas por nomes da música brasileira. Guiado pelo DJ Gustah, conhecedor do reggae, Bid se encontrou com 13 artistas jamaicanos que criaram letras para as músicas que gravaram. Com lançamento previsto para o segundo semestre de 2011, Bambas Dois já tem dois singles disponibilizados para download legal e gratuito no portal Natura Musical. Trata-se das músicas All Faya (BiD, Gustah, Jesse Royal e Karina Buhr) - faixa gravada com participações especiais do jamaicano Jesse Royal, da cantora pernambucana Karina Buhr, do guitarrista Lúcio Maia (Nação Zumbi) e dos percussionistas (também da Nação Zumbi) Gilmar Bola 8 e Marco Matias - e Only Jah Love (Sizzla + BiD), tema gravado com adesões do jamaicano Sizzla Kalonji, do baixista Bi Ribeiro (do trio carioca Paralamas do Sucesso, hábil no mundo do reggae) e dos mesmos Gilmar Bola 8 e Marco Matias.

Em tese concluído, terceiro álbum de Amy espera recuperação da artista

Tudo indica que o terceiro álbum de Amy Winehouse vai sair mesmo até o fim deste ano de 2011. Em tese, o disco teria sido concluído, mas a gravadora Island Records prefere aguardar a recuperação da cantora e compositora britânica - atualmente internada em clínica de Londres para novo tratamento contra seu vício em drogas e álcool - para marcar a data de lançamento do CD. Nenhuma informação sobre o repertório foi confirmada de forma oficial, mas, em 22 de janeiro, houve rumores sobre faixa gravada por Amy com Cee Lo Green em ilha do Caribe.

Eddie Vedder lança segundo disco solo, 'Ukulele Songs', longe do grunge

Em seu segundo álbum solo, Ukulele Songs, nas lojas do exterior a partir desta segunda-feira, 30 de maio de 2011, Eddie Vedder troca as guitarras do grunge por esse violão luso-havaiano de quatro cordas que se parece com um cavaquinho e que figura no título do disco. Editado via Monkeywrench Records, selo aberto pelo grupo Pearl Jam, Ukulele Songs enfileira covers - como Sleepless Night, tema do repertório dos Everly Brothers, gravado por Vedder com a adesão de Glen Hansard, vocalista da banda irlandesa The Frames -  que o intérprete já vinha fazendo ao longo dos últimos anos. Tema de 1926, Tonight You Belong to me ganhou a voz de Cat Power. Canção de 1931, mais conhecida na voz de Mama Cass Elliot (1941 - 1974), Dream a little dream of me também integra o repertório do sucessor de Into the Wild (2007). De tom íntimo e pessoal, a ponto de trazer faixa-vinheta (Hey Fahkah) que expõe risos e acordes desconexos em poucos segundos, Ukulele Songs traz também no repertório música gravada pelo Pearl Jam em 2002, Can't Keep. O primeiro single, Longing to Belong, foi lançado em março. "Meu lema é menos cordas e mais melodias", resumiu Vedder em recente entrevista. Eis as 16 faixas do álbum que vem ao mundo 20 anos após a estreia fonográfica do Pearl Jam:

1. Can't Keep
2. Sleeping by Myself
3. Without You
4. More Than You Know
5. Goodbye
6. Broken Heart
7. Satellite
8. Longing to Belong
9. Hey Fahkah
10. You're True
11. Light Today
12. Sleepless Nights - com Glen Hansard
13. Once in Awhile
14. Waving Palms
15. Tonight You Belong to me - com Cat Power
16. Dream a Little Dream

domingo, 29 de maio de 2011

Marketing e hit populista fazem de Paula o fenômeno de vendas de 2011

Paula Fernandes é o fenômeno de vendas do mercado fonográfico neste ano de 2011. Lançados em janeiro, o CD e DVD Paula Fernandes ao Vivo já totalizam juntos - até este mês de maio - 700 mil cópias vendidas, de acordo com a Universal Music. Se os números alardeados com orgulho pela gravadora já seriam bastante expressivos até na era pré-pirataria, tais cifras atualmente indicam se tratar realmente de um fenômeno raro. É fato que a cantora - vista em foto de Guto Costa - já vinha em ascensão no mercado fonográfico. Seu quinto álbum de estúdio, Pássaro de Fogo, lançado em 2008, saiu de 2010 com mais de 90 mil cópias vendidas. Mas nada faria supor a explosão comercial de Paula Fernandes em 2011. É fato também que a aparição da artista no especial natalino de Roberto Carlos exibido pela TV Globo em 25 de dezembro de 2010 - aparição alimentada pelos rumores de um nunca confirmado envolvimento romântico com o Rei - aumentou o interessse da mídia por Paula Fernandes. Com agilidade e tino comercial, a equipe de marketing da Universal Music soube aproveitar tal interesse para aumentar a exposição do nome e da (bela) imagem da cantora nessa parcela mais popular da mídia. Aliado à promoção radiofônica de uma das faixas mais populistas do repertório de Paula Fernandes ao Vivo (Pra Você, parceria da cantora com Zezé Di Camargo), tal marketing se revelou eficaz e turbinou as vendas do primeiro registro de show da artista. Ainda assim, mesmo com toda a máquina promocional da Universal Music posta a serviço de Paula Fernandes (cantora que tende a investir cada vez mais na música romântica mais trivial), a grandeza dos números não tem explicação racional. Trata-se, afinal, de um daqueles fenômenos que acontecem volta e meia no mercado fonográfico e que ninguém consegue explicar a contento - até porque, se existisse uma fórmula que fosse garantia de sucessos fenomenais, ela seria usada à exaustão sempre com êxito. O fato é que tudo indica que Paula Fernandes sairá de 2011 com mais de um milhão de CDs e DVDs vendidos. Fenômeno!

Registro do show de Gadú com Caetano resiste à exposição da cantora

Resenha de CD e DVD
Título: Multishow ao Vivo - Caetano e Maria Gadú
Artista: Caetano Veloso e Maria Gadú
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2 (CD) e * * * * (DVD)

Seis meses após o lançamento da primeira gravação ao vivo de Maria Gadú, as lojas recebem outro registro de show da cantora - desta vez, feito com ninguém menos do que Caetano Veloso. Originária do convite feito por operadora de TV paga aos cantores, para que se apresentassem juntos em festa, a turnê Duo acabou sendo perpetuada em DVD e CD duplo ao vivo intitulados Caetano e Maria Gadú e editados neste mês de maio de 2011 dentro da série Multishow ao Vivo. Por mais que a superexposição de Gadú esteja desgastando a obra e a imagem da artista, a gravação ao vivo do show se justifica, afinal, por se tratar do registro de uma turnê que junta uma cantora ainda novata - projetada em 2009, há apenas dois anos - com veterano compositor que é um dos pilares da chamada MPB. Para Gadú, Duo representa inegável elevação de status. Para Caetano, a turnê é uma oportunidade de se reconectar a essa MPB mais comportada - sem a sonoridade indie da BandaCê, mote de seus álbuns desde 2006 - e de se fazer ouvir pelo público amplo de Gadú, formado por gente que certamente ignorou os discos gravados pelo artista com a BandaCê. Em outras palavras, ela se beneficia da entidade artística encarnada por ele - e a figura de Caetano Veloso ainda se reveste dessa aura mítica - enquanto ele se beneficia da atual força comercial dela (cantora e compositora que se revelou especialmente inspirada em sua estreia fonográfica, mas que ainda está à espera de uma confirmação que somente vai vir - ou não - com seu segundo disco de estúdio). Gravado ao vivo em 19 de dezembro de 2010, em apresentação de Duo na sede carioca da casa Citibank Hall, Caetano e Maria Gadú se equilibra bem nessa balança que pesa tanto o lado comercial quanto o artístico. Musicalmente, é justo dizer que o show de vozes e violões - captado sob a direção de Rodrigo Vidal e Paul Ralphes - é belo. Duo resulta harmonioso (clique aqui para ler a resenha da apresentação carioca de 5 de dezembro) e conserva sua beleza plástica e musical no registro em DVD, que preserva a ordem original do roteiro ao enfileirar as 26 músicas do show e, nos extras, exibe encorpado making of com entrevistas e trechos de todas as apresentações da turnê Duo. Sim, é fato que o bloco solo de Gadú soa extremamente redundante, já que nem mesmo as fãs mais dedicadas da artista hão de encontrar algum rasgo de originalidade em novos registros ao vivo de músicas como EscudosBela Flor, Dona Cila e Tudo Diferente. Ainda que essas músicas sejam embaladas em formato voz & violão, e não com banda como no recente Multishow ao Vivo da cantora, o único real diferencial na atual abordagem da safra autoral de Gadú acaba sendo a voz de Caetano em Shimbalaiê, entoada pelo cantor sob o olhar emocionado e embevecido da compositora. A parte solo de Caetano pelo menos concilia boas surpresas (De Noite na Cama, Genipapo Absoluto) com obviedades (Sozinho, Desde que o Samba É Samba) enquanto prova que uma música de seu trabalho com a BandaCê, Odeio, ostenta melodia que se garante fora da embalagem indie. Mas é claro que o supra-sumo de Caetano e Maria Gadú são os 11 duetos, todos alocados no disco 1 do CD duplo. Beleza Pura, O Quereres, Sampa, Vaca Profana, Rapte-me, Camaleoa, Trem das Onze (Adoniran Barbosa) O Leãozinho, Odara, Nosso Estranho Amor, Vai LevandoMenino do Rio são os hits revividos em duos tão reverentes quanto sedutores. Irmanados no palco, Caetano e Gadú se harmonizam sob a perenidade de um dos cancioneiros mais belos da música brasileira. Em que pese o desgaste da música e da imagem da cantora, tudo parece dentro da ordem deste Multishow ao Vivo que eterniza a união inusitada de Caetano Veloso com Maria Gadú.

David Foster retorna com outros amigos no segundo volume de 'Hit Man'

Em 2008,  David Foster - produtor e compositor canadense que contribuiu para o sucesso de cantores como Celine Dion e Josh Groban - celebrou sua trajetória na indústria fonográfica norte-americana com show estelar que, gravado ao vivo em 23 de maio daquele ano, foi perpetuado no kit de CD e DVD intitulado Hit Man - David Foster & Friends e editado nos Estados Unidos em novembro de 2008. Dois anos depois, em 15 de outubro de 2010, Foster reuniu outros amigos em show no cassino Mandala Bay, em Las Vegas (EUA). Tal como em 2008, o show foi gravado ao vivo e resultou em outro kit de CD e DVD, Hit Man Returns - David Foster & Friends, lançado em março de 2011 nos Estados Unidos e ora distribuído no mercado brasileiro via Warner Music neste mês de maio. Desta vez, o time de cantores convidados inclui Chaka Kan (Through the Fire e I'm Every Woman), Donna Summer (Last Night), Earth, Wind & Fire (medley com In the Stone, September e After the Love Has Gone), Lara Fabian (Caruso), Natalie Cole (This Will Be), Ne-Yo (Miss Independent) e Seal (Secret), entre outros nomes menos cotados no mercado da música. Além dos números individuais de cada artista, Foster promoveu duetos entre os convidados. É o caso do encontro de Donna Summer com Seal em medley que junta os sucessos Unbreak my Heart, Crazy e On the Radio.

Exceto por 'Passarela', Martins desfila o óbvio (com elegância) em 'SPB'

Resenha de CD
Título: Samba Popular Brasileiro - SPB
Artista: Augusto Martins
Gravadora: Mills Record
Cotação: * * 1/2

Posto em escaninho à parte do som que se convencionou chamar de MPB, o samba é o ritmo popular que identifica o Brasil no imaginário (inter)nacional - até porque, em essência, a globalizada bossa nova nada é mais do que uma estilização da batida do samba. Bom cantor carioca, nascido num dos berços do samba, Augusto Martins cria a sigla SPB, parte do título de seu álbum Samba Popular Brasileiro. O disco começa de forma esplêndida com belo e obscuro samba de Carlos Dafé, Passarela, lançado por Nana Caymmi em 1975 - no primeiro dos dois LPs que fez para a gravadora Cid - e registrado pelo compositor em 1979 no álbum Malandro Dengoso. Contudo, à medida que avança, o CD vai se tornando um desfile de obviedades. Em vez de pescar mais pérolas raras no baú do samba, em garimpo que poderia resultar em disco de fato importante, Martins solta sua voz afinada em temas já exaustivamente cantados. Por mais que a produção musical e os arranjos do violonista Josimar Monteiro procurem dar um toque de originalidade aos registros, como a batida do ijexá inserida com propriedade em Dois de Fevereiro (Dorival Caymmi, 1957), Samba Popular Brasileiro acaba soando como mais um dos tantos discos dedicados ao gênero. Mas, justiça seja feita, as abordagens são elegantes. Até porque Martins nunca cantou tão bem como neste CD em que põe sua voz em clássicos como o Samba do Avião (Tom Jobim, 1962) - que voa no sopro do trompete de Roberto Marques - e Feitio de Oração (Noel Rosa e Vadico, 1933). O registro dessa obra-prima de Noel e Vadico expõe a afinação exemplar do cantor neste disco que peca somente pelo repertório déjà vu. Até porque o time de músicos colaboradores é formado por craques como o violonista Zé Paulo Becker, convidado de Samba e Amor (Chico Buarque, 1969) e Você Não Entende Nada (Caetano Veloso, 1972). Outro destaque, dentro do repertório óbvio, é Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), que, na gravação de Martins, soa menos solene, menos afro e mais samba. Enfim, o cantor é bom, os sambas são de linhagem nobre e os arranjos são elegantes. Só que a opção por repertório tão batido impede que Samba Popular Brasileiro seja o grande disco que Augusto Martins ainda não fez. 

Chega ao Brasil coletânea de 2006 em que Putumayo (re)apresenta Paris

Lançada em 2006, a coletânea Putumayo Presents Paris ganha edição brasileira dentro do pacote de títulos da Putumayo World Music que a gravadora paulista MCD está pondo no mercado nacional sob licença do globalizado selo estrangeiro. O charme da compilação resiste aos cinco anos de atraso. A ideia é mostrar que a tradicional chanson francesa tem sido revitalizada por intérpretes contemporâneos como Thomas Fersen, expoente da nouvelle scène, representado na seleção da Putumayo por Au Café de la Paix, faixa de seu álbum Les Ronds de Carotte (1995). O time inclui também Coralie Clément - presente com Samba de Mon Coeur qui Bat, fonograma de 2002, extraído do primeiro álbum dessa cantora seguidora das tradições de intérpretes como Françoise Hardy - e  Pascal Parisot, cantor e compositor do leste francês. De Parisot, Putumayo Presents Paris rebobina Je Reste au Lit, música de 2000 na qual o artista expressa tédio da vida sob uma batida suave que evoca a bossa brasileira. Como curiosidade, a seleção inclui fonograma da hoje mundialmente famosa Carla Bruni, ouvida na seleção com Quelqu'un M'a Dit, faixa-título de seu primeiro álbum, editado em 2002.

sábado, 28 de maio de 2011

Livro 'Mapas do Acaso' é mergulho rápido na ilha particular de Gessinger

Resenha de livro
Título: Mapas do Acaso - 45 Variações sobre um Mesmo Tema
Artista: Humberto Gessinger
Editora: Belas Letras
Cotação: * * 1/2

Todo mundo é uma ilha, já sentenciou o compositor gaúcho Humberto Gessinger no título de uma das 12 músicas do primeiro sincero álbum do Engenheiros do Hawaii (Longe Demais das Capitais, 1986), grupo surgido na onda do pop rock dos anos 80 e subestimado pela crítica por mobilizar tribos de fãs adolescentes. Terceiro livro do autor da música Toda Forma de Poder, Mapas do Acaso é mergulho raso na ilha particular do escritor. Estruturada em textos breves e independentes, alocados na seção Notas Mentais para uma Próxima Vida, a narrativa flui porque Gessinger escreve bem. Mas exatamente pelo fato de os textos serem tão curtos o mergulho acaba sendo rápido. O sucessor de Meu Pequeno Gremista (2008) - livro publicado dentro de coleção infanto-juvenil sobre futebol - e Pra Ser Sincero (2009) esboça fragmentos de ideias e pensamentos extraídos da mente de um artista que nunca se preocupou em afinar o coro dos contentes e dos críticos musicais (sua observação no livro sobre clichês usados pelos críticos - caso de "imagens de letras cinematográficas" - é bem pertinente, aliás). Gessinger diz o que pensa e, normalmente, tem o que dizer. Por serem curtos e formatados como crônicas, os textos reunidos em Mapas do Acaso - as tais Notas Mentais que variam sobre um mesmo tema: observações filosóficas e/ou pragmáticas sobre coisas da vida - às vezes dão a impressão de que interrompem o fluxo de um pensamento que ainda poderia ser desenvolvido. Por outro lado, o livro soa bastante sincero do jeito que está editado. Tais fragmentos de ideias parecem ter sido transcritos como vieram à mente do autor, sem a preocupação de lustrá-los com um verniz intelectual. Talvez seja assim que devem ser lidas as crônicas que versam sobre música, futebol (algumas sobre música e futebol), literatura, Engenheiros do Hawaii (assunto predominante no anterior Pra Ser Sincero), enfim, sobre o cotidiano da vida. Por serem fluxos de pensamento, os textos nem sempre são pautados pela objetividade. Uma ideia leva à outra de forma sempre espontânea. Mas, ao fim do livro, no qual há 45 letras de músicas (algumas em rascunho, outras ainda inéditas em disco), paira a sensação de que o mergulho na ilha de Humberto Gessinger resultaria mais interessante se fosse mais profundo.

Scarlett Johansson regrava 'Summertime' com Massive Attack para filme

Em 2006, a atriz norte-americana Scarlett Johansson se aventurou como cantora e registrou sua versão de Summertime com a Orquestra Filarmônica de Los Angeles para uma coletânea beneficente, Unexpected Dreams. Cinco anos e dois álbuns depois, a artista volta a abordar o tema de George Gershwin (1898 - 1937) e Edwin DuBose Heyward (1885 - 1940) em gravação feita com o grupo inglês Massive Attack para a trilha sonora do filme Días de Gracias, dirigido pelo cineasta mexicano Everardo Gout. Nick Cave também figura na trilha sonora da produção.

Grupo Sururu na Roda grava tributo a Nelson Cavaquinho com recurso de fãs

O grupo carioca Sururu na Roda vai gravar no Rio de Janeiro (RJ) um disco em tributo ao centenário de nascimento do compositor Nelson Cavaquinho (1911 - 1986). A notícia fica ainda mais interessante quando se sabe que Nilze Carvalho (cavaquinho, bandolim e voz), Juliana Zanardi (voz e violão), Silvio Carvalho (voz, cavaquinho e percussão) e Fabiano Salek (voz e percussão) - vistos na foto de Ana Quintella com a nova formação do grupo, na qual Juliana substitui Camila Costa -  vão entrar em estúdio com recursos financeiros doados por fãs e admiradores do grupo. Primeiro disco no Brasil a ser gravado com o incentivo monetário do público, como já vem acontecendo com shows de artistas internacionais, Nelson Cavaquinho por Sururu na Roda - Com os Olhos Rasos d'Água teve toda sua gravação viabilizada ao ser inscrito no movere.me, portal baseado no modelo internacional de crowfunding que entrou no ar em março de 2011. A meta do grupo era conseguir R$ 34 mil, mas as contribuições de 237 fãs totalizaram R$ 35.165. As recompensas a serem obtidas pelos fãs vão desde um mero agradecimento nominal (para quem doou R$ 5) até um show exclusivo do Sururu para 50 pessoas (para quem colaborou com R$ 5 mil). A maioria dos fãs optou por contribuir com R$ 35 para receber em sua casa o CD autografado. O grupo tem 120 dias para concluir o projeto.

Fred Falcão voa em CD com canções gravadas com Leny, Cariocas e Guinga

 Em 1966, o pernambucano Fred Falcão ainda era compositor em busca de chance no mercado fonográfico quando penetrou em ensaio do grupo Os Cariocas para mostrar as músicas que criara. O conjunto - que preparava o álbum Passaporte - acabou registrando Vem cá, menina, primeira música gravada de Falcão. Decorridos 45 anos, Falcão - em foto de Elias Nogueira - lança disco que traz as vozes d'Os Cariocas em Regressiva, inédita bossa nova feita pelo compositor especialmente para o grupo. Intitulado Voando na canção, gravado desde 2000 e editado pela Sala de Som, o disco reúne a produção autoral antiga e atual de Falcão, compositor que alcançou alguma projeção em 1970 quando a música Namorada (parceria com Arnoldo Medeiros) - ora revivida por Pery Ribeiro em dueto com Kay Lyra - foi classificada no V Festival Internacional da Canção (FIC) e defendida pelo casal de cantores Antônio Marcos (1945 - 1992) e Vanusa. Um ano depois, em 1971, a novela O cafona propagou pela TV Globo o tema que viria a ser o maior sucesso de Falcão, Shirley sexy, outra parceria com Arnoldo, gravada por Marília Pêra - atriz que interpretava a personagem homônima da música - e repaginada em Voando na canção pelo grupo Chicas em mix de percussão, guitarras e vozes. Mas o fato é que o nome de Fred Falcão sumiu na poeira da estrada até voltar à cena com este disco que apresenta gravação inédita de João Nogueira (1941 - 2000), Tia Ciata, samba sincopado de tom nostálgico no qual Nogueira pôs voz três meses antes de sair de cena. Sem saudosismo, mas conectado às melhores tradições da música brasileira, Falcão apresenta vigorosa safra inédita que destaca o Samba iluminado - parceria com Marcello Silva valorizada pelo canto de Leny Andrade, à vontade nas síncopes que evocam o estilo de Johnny Alf (1929 - 2010) - e Radamestre (Fred Falcão e Carlos Henrique Costa), tributo ao maestro Radamés Gnattali (1906 - 1988) no qual o luminoso compositor se aventura sem brilho como cantor. Se Céu de brilhante (Fred Falcão e Andrea Ramos) expõe a já conhecida maestria de Guinga ao violão, Jam session reitera a técnica vocal de Claudya nesta homenagem aos músicos que dominam o idioma do jazz. Enfim, por mais que esteja situado em algum (nobre) lugar do passado da boa música brasileira, o obscuro cancioneiro de Fred Falcão merece atenção, mesmo que tardia.

Gayotto experimenta sonoridades no repertório autoral de 'Proponhomix'

Resenha de CD
Título: Proponhomix
Artista: Luiz Gayotto
Gravadora: Selo Cooperativa / Tratore
Cotação: * * * 1/2

Cantor e compositor catarinense, radicado em São Paulo (SP), Luiz Gayotto pisa no terreno da experimentação em seu quarto CD solo, Proponhomix. O artista cria sonoridades diversas para as nove músicas que compõem o repertório autoral do álbum produzido por Estevan Sinkovitz com unidade estética até surpreendente em se tratando de um disco que propõe o uso de elementos diversos - com ênfase na percussão corporal (Gayotto já integrou o grupo Barbatuques). A mistura de sons acústicos e eletrônicos resulta sempre azeitada. Já as experimentações oscilam. No lamento Chorocanto (Luiz Gayotto), o artista soa original ao evocar no canto o som de um choro. Num Avião (Luiz Gayotto) alça voo inventivo ao reproduzir o som das turbinas de uma aeronave. O canto do intérprete parece de fato suspenso no ar.  Já Broto Bruto (Luiz Gayotto e Luiz Pinheiro) remete demais à colagem de vozes e instrumentos feita por Arnaldo Antunes na fase mais experimental de sua carreira solo. No entanto, Proponhomix mostra que, como compositor, Gayotto por vezes se revela tão inspirado que dispensa experimentações. Inventar (Luiz Gayotto e Flávio Boaventura) e Pra Quê? (Luiz Gayotto e Luiz Pinheiro) - esta incrementada com o piano de Marcelo Jeneci - são belas canções devidamente acomodadas em cama de sons minimalistas. Hit imediato caso virasse tema de um casal de vilões em qualquer novela global, Aventureiros (Luiz Gayotto e Flávio Boaventura) é delícia pop urdida com teclados bregas à moda dos anos 80. Enfim, Proponhomix - sucessor de O Catarina (1997), Viver e o Amor na Cidade Grande (2000) e Fragmentos de Música Livre e Espontânea (2004) - expõe um compositor eventualmente inspirado e um artista sempre inquieto que merece mais atenção no insano mercado da música.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sai em CD a trilha da série 'As Cariocas', com inéditas de Alcione e Nina

Produzida por Rodrigo Campello e Pedro Luís, sob a direção musical de Pedro Luís, a trilha sonora da série As Cariocas - dirigida por Daniel Filho para a TV Globo com inspiração na obra do escritor Sérgio Porto (1923 - 1968) - está sendo lançada em CD pela gravadora Som Livre neste mês de maio de 2011. A série já saiu do ar, mas o disco merece atenção pela farta quantidade de gravações inéditas de Mart'nália (Menina, um sucesso de Paulinho Nogueira nos anos 70 que ganha tom homossexual na voz assumida de Mart'nália), Nina Becker (Só Love, um dos maiores sucessos da dupla de funk Claudinho & Buchecha), Olivia Byington (Tempo de Estio, de Caetano Veloso), Elza Soares (Samba do Carioca, de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes), João Cavalcanti (Que Pena - Ela Não Gosta de mim, música de Jorge Ben Jor), Alcione (Malandro, sucesso de Jorge Aragão) e Marcos Sacramento (Sem Compromisso, samba de Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro, conhecido na voz de Chico Buarque). O uso recorrente de programações eletrônicas nos arranjos de Rodrigo Campello empana o brilho das gravações inéditas, várias de tom nitidamente modernoso. Detalhe: o repertório do CD As Cariocas inclui (boa) música inédita de Pedro Luís, Bela Fera, composta para a abertura da série da TV Globo.

Sandra Belê revive os pastoris de sua terra natal no CD 'Encarnado Azul'

Cantora paraibana que despontou no mercado fonográfico nordestino com o lançamento de seu primeiro álbum, Nordeste Valente (2005), Sandra Belê volta à cena com seu terceiro disco, Encarnado Azul.  Ao tomar contato com o livro Cancioneiro da Paraíba (1993), a artista teve a ideia de gravar álbum com músicas que evocassem os pastoris, festejos religiosos que, menina, a intérprete via acontecer em sua terra natal, Zabelê, cidade do interior da Paraíba. Sucessor de Se Incomode Não (2009), disco voltado para o romantismo popular do cancioneiro nordestino, Encarnado Azul alinha em dez faixas músicas como A Entrada, Saudação, Mestra, Contra-Mestra e a Diana (destaque do repertório), Senhor José, A Borboleta e Despedida. Ao revirar a memória afetiva e musical de sua infância interiorana, Sandra Belê procurou dar tom contemporâneo aos temas sem desrespeitar a sonoridade tradicional dos pastoris de sua terra.

DVD e CD perpetuam show de Gil + Ana + Ivone + Gadú + Milton + Zeca

Em 13 de outubro de 2010, Gilberto Gil foi o anfitrião de show realizado no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), em comemoração aos 10 anos da rádio carioca MPB FM. Gravado ao vivo, o show está sendo perpetuado no CD e DVD Gil + 10 - Gilberto Gil Convida, lançados neste mês de maio de 2011 pela Go 2 Music. No show, Gil recebeu um time de dez convidados formado por Ana Carolina (com quem cantou o samba Torpedo, primeira parceria de Gil e Ana), Erasmo Carlos (Mesmo que Seja Eu), Ivone Lara (Alguém me Avisou), Lenine (Jacksoul Brasileiro), Maria Gadú (Bela Flor), Mart'nália (Cabide), Milton Nascimento (Cálice), Paralamas do Sucesso (A Novidade, parceria de Gil com o compositor), Preta Gil (Andar com Fé) e Zeca Pagodinho (Aquele Abraço). O CD e DVD Gil + 10 são vendidos de maneira avulsa. 

Terceiro CD do Cansei de Ser Sexy, 'La Liberación', sai em 21 de agosto

O grupo paulista Cansei de Ser Sexy vai lançar seu terceiro álbum, La Liberación, em 21 de agosto de 2011. Produzido por Adriano Cintra (integrante da banda conhecida no exterior pela sigla CSS), o disco tem a participação de Bobby Gillespie, vocalista do grupo Primal Scream. Gillespie canta com Lovefoxxx na faixa Hits me Like a Rock, eleita o primeiro single de La Liberación. O dueto não é inédito, pois Lovefoxx participou do último álbum do Primal Scream, Beautiful Future (2008). Anunciado em abril pelo CSS, La Liberación foi gravado em São Paulo (SP). Inédito e autoral, o repertório do sucessor de Donkey (2008) inclui temas como Echo of Love, Fuck Everything, Red Alert e City Grrrl. É o terceiro álbum internacional do CSS.

Kravitz agenda para agosto a edição do álbum 'Black and White America'

Anunciado em 21 de janeiro de 2011, o nono álbum de estúdio do cantor e compositor norte-americano Lenny Kravitz, Black and White America, tem lançamento agendado para 22 de agosto. Já o primeiro single, Stand, vai ser editado em 6 de junho. O sucessor de It Is Time for a Love Revolution (2008) apresenta músicas inéditas como The Faith of a Child, Do It, Dream, Liquid Jesus, EverythingCome on Get It e Superlove. Entre ritmos como rock, funk e soul, o álbum de Kravitz aborda a miscigenação de raças e sons que moldou os Estados Unidos.

Bono e The Edge lançam no iTunes gravação de tema do Homem Aranha

Bono e The Edge estão lançando no iTunes a gravação de Rise Above, um dos temas que compuseram para Spider-Man - Turn off the Dark, o musical que tem sua estreia oficial programada na Broadway  para 14 de junho de 2011. Extraída da apresentação dos artistas no programa de TV American Idol, a gravação junta Bono e The Edge ao ator Reeve Carney, protagonista da montagem teatral inspirada nas histórias em quadrinhos do Homem Aranha. Produzido por Steve Lillywhite, o disco com a trilha sonora do musical tem lançamento previsto para 14 de junho (a mesma data da estreia oficial de Spider-Man - Turn off the Dark), mas, no álbum, quem canta músicas como Think AgainThe Myth of Arachne e The Boy Falls From the Sky é o elenco da superprodução que, a julgar pelas resenhas das previews, não faz jus ao alto investimento. Seja como for, todas as músicas são assinadas por integrantes do grupo U2.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

'Move Like This' exibe The Cars estacionado na transversal de seu tempo

Resenha de CD
Título: Move Like This
Artista: The Cars
Gravadora: Hear Music
Cotação: * * * 1/2

Uma das referências da New Wave que agitou o universo pop nos anos 80, o grupo norte-americano The Cars volta à cena com seu primeiro álbum em 24 anos, Move Like This, lançado no exterior neste mês de maio de 2011. Já em si surpreendente, tal retorno soa quase inacreditável quando se ouve o disco, pois é como se esses 24 anos não tivessem passado. Sétimo álbum do quarteto, o sucessor de Door to Door (1987) flagra o The Cars estacionado em alguma transversal do (seu) tempo. Só que o tempo já passou e, inclusive, o vocalista secundário e baixista original da banda, Benjamin Orr (1947 - 2000), saiu de cena, vítima de câncer no pâncreas. Era de Orr a voz da balada Drive (1984), o maior sucesso dos Cars no Brasil. Em Move Like This, todas as vozes são do guitarrista Ric Ocasek. De qualquer forma, o álbum soa extremamente fiel ao histórico fonográfico do grupo, formado em 1976, desfeito em 1988 e reativado em 2010. Para quem admirava a mistura power pop de sintetizadores com guitarras, faixas como Blue Tip, Hits me e It's Only transportam o ouvinte para algum lugar do passado dos Cars. Sem sucumbir à tentação de fazer disco modernoso, para tentar ficar em sintonia com os sons contemporâneos, a banda reaparece com álbum essencialmente retrô. Mas que, por isso mesmo, soa honesto. Entre baladas como Soon e Take Another Look, Move Like This apresenta Too Late, petardo pop de refrão certeiro e destaque da safra de inéditas. Reverente, o produtor Jacknife Lee parece ter respeitado a decisão do Cars de voltar imobilizado em álbum que vai contentar fãs antigos na mesma medida em que vai confinar o quarteto a um tempo que já não volta mais. Mas que marcou a época e o som do grupo. Bom!

EMI relança a discografia solo de Robbie Williams em edições com DVD

Até então inédito no mercado fonográfico brasileiro, o primeiro álbum solo de Robbie Williams - Life Thru a Lens (foto), lançado em setembro de 1997 - ganha sua primeira edição nacional na coleção que a gravadora EMI Music põe nas lojas do Brasil neste mês de maio de 2011. Lançado no exterior em março, as Collector's Editions dos sete primeiros álbuns da carreira solo do astro britânico são duplas e incluem um DVD com material inédito. Cada álbum vem com DVD inédito que exibe clipes, números de shows e apresentações do cantor em programa de TV. Além de Life Thru a Lens, os álbuns relançados são I've Been Expecting You (1998), Sing When You're Winning (2000), Swing When You're Winning (2001), Escapology (2002), Intensive Care (2005) e Rudebox (2006). Os sete álbuns estão sendo vendidos de forma avulsa.

Disco de Eminem com Royce da 5'9'' traz Bruno Mars na faixa 'Lighters'

Formada em 1998, desfeita em 2000 por conta de briga e retomada em 2010, a dupla Bad Meet Evil - integrada pelos rappers Eminem e Royce da 5'9" - forma trio com Bruno Mars em Lighters, faixa do EP gravado pelo duo. Nas lojas dos Estados Unidos em 14 de junho de 2011, pela gravadora Interscope, o EP Hell: The Sequel totaliza nove músicas. Eis as faixas do disco:

1. Welcome 2 Hell
2. Fastlane
3. The Reunion
4. Above the Law
5. I’m on Everything - com Mike Epps
6. A Kiss
7. Lighters - com Bruno Mars
8. Take From me
9. Loud Noises - com Slaughterhouse

'1+1' abre '4' e é novo 'single' de álbum de Beyoncé que traz Andre 3000

Faixa que abre 4, quarto disco solo de Beyoncé Knowles, 1 + 1 é o segundo single do álbum que vai estar nas lojas a partir de 28 de junho de 2011. 4 contabiliza 12 músicas e tem a participação do rapper André 3000 - metade do duo Outkast - na faixa Party. Primeira música divulgada por Beyoncé, Run the World (Girls) fecha o CD. Eis as músicas do esperado álbum 4:

1. 1+1
2. I Care
3. I Miss You
4. Best Thing I Never Had
5. Party - com Andre 3000
6. Rather Die Young
7. Start Over
8. Love on Top
9. Countdown
10. End of Time
11. I Was Here
12. Run the World (Girls)

DVD 'Irish Tour 74' volta remasterizado com show explosivo de Gallagher

Resenha de DVD
Título: Irish Tour '74
Artista: Rory Gallagher
Gravadora: ST2
Cotação: * * * *

Em 1974, a Irlanda passava por período de forte turbulência por causa de agitações políticas quando um de seus filhos mais ilustres, Rory Gallagher (1948 - 1995), fez show explosivo na sua terra natal - pisada na ocasião por poucos artistas. Gravada ao vivo para exibição na TV, sob direção do cineasta Tony Palmer, a apresentação do cantor e guitarrista de blues-rock já vem sendo editada em DVD desde 1998. Mas retornou ao mercado em 2010 em edição remasterizada e turbinada com bons extras. É esta edição do DVD Irish Tour '74 que a gravadora ST2 está lançando no Brasil neste mês de maio de 2011. Com o habitual vigor, o guitarrista tocou blues na sua Stratocaster com alma e pegada roqueira. Temas com A Million Miles Away e Tattoo 'd Lady reiteram a força da guitarra de Gallagher naquele show de significado musical e político em que o guitarrista subiu ao palco com o baixista Gerry McAvoy, o baterista Rod de'Ath e o tecladista Lou Martin - músicos com quem tocou regularmente nos anos 70. Nos extras, Irish Tour '74 exibe imagens da turnê feita por Gallagher na Irlanda em 1972 - com direito a números musicais - e o minidocumentário In your Town, focado na turnê de Gallagher pelo Japão em 1974. Com áudio DTS, o DVD flagra um guitarrista virtuoso em ação. Em cena, Rory Gallagher não fazia pose ou firulas. Apenas tocava com uma energia e uma alma que o credeciam a figurar na lista dos melhores guitarristas de todos os tempos. A edição remasterizada de Irish Tour '74  faz justiça a músico que sempre tratou bem a música.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Zambujo sustenta o peso e a leveza do fado com a voz que Deus lhe deu

Resenha de show
Título: Guia
Artista: António Zambujo (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Solar de Botafogo (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 24 de maio de 2011
Cotação: * * * *
Show em cartaz no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), até 25 de maio de 2011

É difícil não se arrepiar quando o cantor português António Zambujo fecha o bis de seu show Guia com interpretação quase a capella do fado Foi Deus, pontuada somente por acordes minimalistas do baixo do diretor musical Ricardo Cruz. Propagado pelas vozes dos maiores fadistas, o tema de Alberto Fialho Janes e S. Manuel prova que Zambujo tem mesmo o dom divino da voz. Contudo, o cantor lusitano não usa essa voz para seguir com purismo as tradições do fado. Ao contrário. Sem renegá-las, Zambujo vem dando um outro sentido ao gênero mais conhecido da música portuguesa. Inclusive em associações com ritmos brasileiros como a Bossa Nova. No show que estreou em 24 de maio de 2011 no Solar de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), o artista mostrou que sustenta todo o peso e a dor do fado com sua voz, seu sentimento e seu violão que toca somente o essencial (assim como o baixo de Ricardo Cruz, único músico a acompanhar Zambujo em cena). Alocados na primeira das três partes do show, temas como Fadista Louco (outra composição de Alberto Janes) e Janela Virada p'ro Mar (música gravada pelo cantor em seu segundo disco, Por meu Cante, lançado em Portugal em 2004 e ainda inédito no mercado fonográfico brasileiro) carregam toda uma melancolia e uma angústia típicas do fado e valorizadas pela voz do intérprete. Só que há outros mares a serem navegados e, como Zambujo contou ao público que foi vê-lo no Solar de Botafogo em 24 de maio, sua vida musical começou a mudar quando ele tomou contato com a música brasileira através das letras de Vinicius de Moraes (1913 - 1980), dos discos de João Gilberto e das composições de Caetano Veloso e Chico Buarque. Aliás, tal como fez em seu quarto álbum, Guia (2010), Zambujo canta  no show uma letra de Vinicius, Apelo (feita para música de Baden Powell), sobre melodia do Fado Perseguição (Carlos da Maia e Avelino de Souza) . Mote da segunda parte do roteiro, o apego de Zambujo à música brasileira faz com que o cantor também saiba encarar o fado com leveza. Nem tanto quando põe seu sentimento de fadista numa valsa doída de clima seresteiro como Lábios que Beijei  (J. Cascata e Leonel Azevedo, 1937), mas sobretudo quando, na terceira parte do show,  esboça humor ao cantar Zorro (João Monge e João Gil) em tom bossa-novista. Nesse terceiro e último bloco do roteiro, dedicado às músicas do álbum Guia, essa leveza se impõe em cena. O amor descompassa o coração, mas a vida é bela, como sentencia o Fado da Vida Bela (Pedro Luís e Ricardo Cruz). E belo é também o show em que António Zambujo sustenta com a voz o peso e a leveza do fado.