Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Daft Punk expande seu quarto álbum em caixa agendada para dezembro

Título garantido nas listas de melhores discos deste ano de 2013, o quarto álbum do Daft Punk - Random acesss memories, CD de tom orgânico e retrô que mostra o duo francês no auge da forma - vai ter seu conteúdo expandido em caixa prevista para ser comercializada a partir de dezembro. A caixa - que vai ter o título Random acesss memories folheado a ouro - inclui vinil duplo de 180 gramas com selos folheados a ouro e a prata, dois posters dos robôs que são a imagem da dupla formada por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, livro de 56 páginas com fotos tiradas nas sessões de gravação do álbum, vinil de 10 polegadas com o registro integral da entrevista com o produtor italiano Giorgio Moroder ouvida na faixa Giorgio by Moroder e dois pen-drivers com áudios e vídeos extraídos e/ou derivados do álbum original, entre outros mimos. O preço da bela caixa - já em pré-venda nas lojas virtuais - é 275 dólares.

Musical sobre Elis inspira coletânea dupla com 26 gravações da cantora

Musical sobre Elis Regina (1945 -1982) que tem estreia programada para 8 de novembro de 2013, no Rio de Janeiro (RJ), Elis A musical inspirou a gravadora Universal Music - detentora dos fonogramas gravados pela cantora gaúcha na Philips entre 1965 e 1978 - a lançar coletânea inédita da artista. Nas lojas a partir de 19 de novembro, Elis A musical rebobina 26 gravações escolhidas por João Marcello Bôscoli, filho da cantora, em seleção que abrange fonogramas das gravadoras Warner Music, EMI Music (companhia encampada pela Universal Music neste ano de 2013) e Som Livre. Em parceria com Carlos Freitas, do estúdio Classic Master, João Marcello cuidou das novas masterizações das 26 gravações, reprocessadas para essa compilação dupla a partir de suas masters originais. Eis - na ordem - as 26 músicas da compilação Elis A musical:

CD 1
1. Arrastão (1965)
2. Menino das laranjas (1965)
3. Upa, Neguinho (1967)
4. Wave (1969)
5. Vou deitar e rolar (1970)
6. Não tenha medo (1970)
7. Falei e disse (1971)
8. Madalena (1971)
9. Nada será como antes (1972)
10. Atrás da porta (1972)
11. Casa no campo (1972)
12. Dois pra lá, dois pra cá (1974)
13. Só tinha de ser com você (1974)
14. Águas de março (1974)

CD 2
1. Fascinação (1976)
2. Como nossos pais (1976)
3. Querelas do Brasil (1978)
4. O bêbado e a equilibrista (1979)
5. O trem azul (1980)
6. Alô, alô, Marciano (1980)
7. Maria, Maria (1980)
8. As aparências enganam (1980)
9. Aos nossos filhos (1980)
10. Canção da América (1980)
11. Redescobrir (1980)
12. Me deixas louca (1981)

Mercury Prize elege 'Overgrown', de James Blake, disco britânico do ano

Derrotando concorrentes de peso, como o grupo Arctic Monkeys e o reaparecido David Bowie, o cantor, compositor e pianista inglês James Blake levou o prêmio de Álbum Britânico do Ano na 22ª edição do Mercury Prize. Blake foi premiado por conta de seu belo segundo álbum, Overgrown (clique aqui para ler a resenha do CD em Notas Musicais). A premiação aconteceu na noite de ontem, 30 de outubro de 2013. O Mercury Prize elege desde 1992 os melhores discos produzidos no Reino Unido. Eis os álbuns vencedores nas 22 edições do Mercure Prize:

1992 - Screamadelica - Primal Scream
1993 - Suede - Suede
1994 - Elegant Slumming - M People
1995 - Dummy - Portishead
1996 - Different class - Pulp
1997 - New forms - Roni Size/Reprazent
1998 - Bring it on - Gomez
1999 - Ok - Talvin Singh
2000 - The hour of Bewilderbeast - Badly Drawn Boy
2001 - Stories from the city, stories from the sea - PJ Harvey
2002 - A little deeper - Ms. Dynamite
2003 - Boy in da corner - Dizzee Rascal
2004 - Franz Ferdinand - Franz Ferdinand
2005 - I am a bird now - Antony and the Johnsons
2006 - Whatever people say I am, that's what I'm not - Arctic Monkeys
2007 - Myths of the near future - The Klaxons
2008 - The seldom seen kid - Elbow
2009 - Speech Therapy - Speech Debelle
2010 - The xx – The xx
2011 - Let England shake - PJ Harvey
2012 - An awesome wave - Alt-J
2013 - Overgrown - James Blake

Em harmonia, Legend evoca belo passado do soul em 'Love in the future'

Resenha de CD
Título: Love in the future
Artista: John Legend
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

Ao se juntar ao grupo The Roots para desencavar a raiz social da soul music e do funk no álbum Wake up! (2010), John Legend desfez a má impressão deixada por seu terceiro álbum solo, Evolver (2008), marcado por conexões excessivas com o universo do hip hop dos Estados Unidos que situaram a música do artista no limite do banal. Quarto álbum solo do cantor e compositor norte-americano, lançado em 30 de agosto de 2013 e recém-editado no Brasil pela Sony Music, Love in the future preserva a conexão como hip hop - e nem poderia ser diferente, já que o rap desempenha atualmente na música dos EUA a função social que foi da soul music nos anos 60 e 70 - ao mesmo tempo em que mantém Legend conectado ao passado do soul e do r & b. Passado e presente se harmonizam numa das mais belas e poderosas músicas do disco, Who do we think we are, faixa de tom vintage que embute discurso do rapper Rick Ross. Balada conduzida ao piano, All of me expõe a beleza da voz de Legend e também se destaca em disco recheado de boas canções, como Made to love. Por mais que não reedite a maestria da obra-prima da discografia do artista, Get lifted (2004), Love in the future flagra Legend em momento de inspiração. O time de produtores - Hit-Boy, Bink, 88 Keys, The Runners, Doc McKinney, Q-Tip, Ali Shaheed Muhammad, Kanye West e Dave Tozer - impede que o disco seja mergulho no túnel do tempo, embora uma aura retrô envolva a maior parte do repertório que prioriza temas inéditos, como Save the night, mas abre espaço para covers dos cancioneiros do cantor norte-americano de soul Bobby Caldwell (Open your eyes) e da cantora norte-americana Anita Baker (Angel, interlúdio gravado por Legend em dueto com Stacy Barthe). De todo modo, o disco se desvia do tom politizado de Wake up! para celebrar o amor. De tom positivista, feliz, Love in the future reflete o momento de harmonia familiar vivido por John Legend (ora casado e com filhos). Em Love in the future, o artista vê belo futuro ao mirar o passado da soul music sem deixar de sintonizar o (seu) tempo presente.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Stevie Wonder prepara três álbuns para serem lançados ao longo de 2014

Sem lançar álbum de inéditas desde 2005, ano em que apresentou A time to love, o cantor e compositor norte-americano Stevie Wonder prepara nada menos do que três discos para serem editados ao longo de 2014. Um, When the world began, é CD gravado com orquestra sinfônica sob a produção de David Foster. Wonder - em foto de Marcos Hermes - vai enquadrar em moldura camerística canções como Isn't she lovely? (1976) e I just called to say I love you (1982). O outro, Ten billion hearts, é disco em que o artista prioriza repertório inédito (uma canção composta por Wonder aos 13 anos, This town, vai ganhar registro do autor). Já o terceiro, Gospel inspired by Lula, é - como seu título já explicita - álbum de música gospel idealizado por Wonder em tributo à sua mãe, Lula Hardaway, morta em 2006.

U2 lança duas gravações inéditas em vinil editado para Record Store Day

Enquanto grava seu 13º álbum de estúdio, previsto para ser lançado no primeiro semestre de 2014, o grupo irlandês U2 lança uma música inédita, Ordinary love, em vinil de 10 polegadas editado para celebrar o Record Store Day, data em que o universo pop e os Estados Unidos em especial celebram as lojas de discos. Ordinary love é música composta pela banda a convite do produtor cinematográfico Harvey Weinstein para integrar a trilha sonora do filme Mandela - Long walk to freedom, cinebiografia de Nelson Mandela, o político sul-africano que tem sua imagem estampada na capa do vinil, em ilustração do artista plástico irlandês Oliver Jeffers. Com lançamento agendado para 29 de outubro de 2013, o vinil apresenta no lado B a Mandela Version de Breathe, gravação inédita da música já lançada pelo U2 em seu último álbum de estúdio, No line on the horizon (2009). Não se sabe se Ordinary love estará no 13º CD do U2.

Rennó se impõe em I A R A entre ruídos e ecos do modernista mundo Cê

Resenha de CD
Título: I A R A
Artista: Iara Rennó
Gravadora: Joia Moderna
Cotação: * * * *

Iara Rennó continua inserida em mundo modernista cinco anos após lançar ambicioso primeiro álbum solo, Macunaíma Ópera Tupi (2008), enraizado nos conceitos da obra-prima do escritor paulista Mário de Andrade (1893 - 1945). Em I A R A, arejado disco que a gravadora Joia Moderna vai disponibilizar no iTunes a partir de 1º de novembro de 2013, a cantora e compositora paulista se permite absorver influências do modernista universo Cê sem diluir a personalidade de sua obra autoral. A produção de Moreno Veloso - provável arregimentador de músicos como o habitual baixista Ricardo Dias Gomes, recrutado para pilotar mini-sintetizador eletrônico em I A R A - faz ressoar ecos da estética Cê em alguns momentos do disco, como fica evidente na batida de Outros tantos (Iara Rennó), música também apresentada no álbum em versão mais crua e mais melódica, gravada somente com a guitarra tocada por Rennó. Só que a direção artística da própria Rennó - bem como o fato de a artista pilotar as guitarras e de assinar os arranjos ao lado de Leo Monteiro e de Ricardo Dias Gomes - conduz I A R A a um caminho próprio, impedindo que sua música seja meramente deglutida pelo universo musical de Moreno Veloso, o que anularia a individualidade da cantora. Se Seu José (Iara Rennó, Thor Madsen e Anders Hentze) soa como transamba ao narrar poeticamente o voo existencial da personagem-título que "sentiu coçar o calcanhar / Descolou do chão / Do asfalto se jogou no ar", Miligramas (Iara Rennó) - composição introduzida por batida tribal - mostra que a artista descende da nobre e transgressora linhagem de Itamar Assumpção (1949 - 2003), artista inquieto que certamente entenderia os códigos das experimentações, ruídos e dissonâncias que pautam Amor imenso (Iara Rennó e Thalma de Freitas) e Estribilho (Iara Rennó), faixas mais herméticas deste disco que dialoga bem com o indie rock, com a poesia concreta - conversa evidente já nos versos de Já era (Iara Rennó), a primeira das 12 faixas do disco - e com as emoções intensas da canção sentimental brasileira tachada de cafona pela elite intelectual à qual I A R A se direciona. Como bem conceitua o compositor paulista Romulo Fróes em texto escrito para apresentar o disco, tais emoções estão embutidas no samba-canção Arroz sem feijão (Iara Rennó), só que liquidificadas pela razão que rege o arranjo que evoca o som robótico do grupo alemão Kraftwerk, um dos pioneiros da música eletrônica. O silêncio que ecoa nos cantos do saboroso Arroz sem feijão desemboca, duas faixas depois, na melancolia ansiosa de Roendo as unhas (Paulinho da Viola, 1973), um outro ponto alto de I A R A por desconstruir sem pudor a elegância do samba torto de Paulinho da Viola para realçar as tensões do tema em clima de pós-punk. Na sequência, Ma voix (Iara Rennó) - música cantada em francês, como sugere seu título - evidencia os personalíssimos caminhos melódicos da obra de Rennó, cuja carreira fonográfica foi iniciada há dez anos com a edição de Composição (2003), primeiro dos dois álbuns do grupo paulistano DonaZica. Já The love (Iara Rennó, Tony Gordyn e Thalma de Freitas) - faixa bilíngue, cantada em inglês e em português, que representa quase um instante de luminosidade pop no disco - remete tanto às transas moderníssimas de Caetano Veloso nos anos 70 quanto às obras de Anelis Assumpção, Céu, Cibelle e outras companheiras de Rennó nessa geração pop contemporânea que tem atravessado fronteiras a partir da cidade de São Paulo. Fechando o álbum, Elegbara (Iara Rennó) desencava a raiz afro embutida nessa macunaímica ópera tupiniquim que ora rege I A R A sob a batuta modernista de Moreno Veloso.

Uirapuru aciona a sua Orquestra de Barro no Rio para a gravação de DVD

Criado em 2009 em Moita Redonda, povoado sem água encanada e com apenas 870 habitantes situado na região de Cascavel, no Ceará, o Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro vai apresentar seu show 5 elementos no Rio de Janeiro (RJ) em duas apresentações no Espaço Tom Jobim. Agendadas para o próximo fim de semana, 2 e 3 de novembro de 2013, as apresentações serão documentadas - assim como a viagem do grupo do Ceará para o Rio - para a edição de DVD viabilizado com o apoio do projeto Natura Musical. Sob a regência do baterista e maestro Luizinho Duarte, 15 jovens de 14 a 22 anos tocam temas instrumentais de ritmos brasileiros - compostos por Duarte - em artesanais instrumentos de barro confeccionados pela comunidade de Moita Redonda, importante polo de produção de cerâmica no Ceará. O DVD sairá em 2014.

Roupa Nova embute EP com seis gravações inéditas em caixa de DVDs

Um EP com seis gravações inéditas do grupo Roupa Nova - A festa, O meu pensamento voa muito mais, Perdi tanto tempo, Segredos do coração (versão em português - escrita por Ricardo Feghali - de Happy man, de Peter Cetera), Ser melhor e Sonho impossível - é a isca para fisgar fãs do sexteto carioca para a caixa Roupa Nova Music. Nas lojas em novembro de 2013, a caixa Roupa Nova Music embala os cinco DVDs da já redundante videografia do grupo. Foram encaixotados os DVDs ROUPAacústico (2004), ROUPAacústico 2 (2006), Roupa Nova em Londres (2008), Roupa Nova - 30 anos ao vivo (2010) e Cruzeiro Roupa Nova (de 2012).

Calvi ainda arde na fogueira das paixões do confessional CD 'One breath'

Resenha de CD
Título: One breath
Artista: Anna Calvi
Gravadora: Domino Records / Vigilante (Deck)
Cotação: * * * *

Cantora, compositora e guitarrista, a inglesa Anna Calvi fez ferver o sangue italiano de seus antepassados em arrebatador primeiro álbum, Anna Calvi (2011), que seduziu o universo pop há dois anos. Em One breath, CD lançado neste mês de outubro de 2013 pela gravadora Domino Records e já disponibilizado no Brasil através do selo Vigilante (da Deck), Calvi roça a inspiração do disco anterior e confirma seu talento. Com 11 músicas inéditas da lavra solitária da artista, One breath é álbum quente e confessional. Sim, Calvi ainda arde na fogueira das paixões em meio às sujeiras e distorções da guitarra da roqueira Love of my life ou no toque incandescente da guitarra de Cry. Em contrapartida, One breath tem seus momentos de fogo brando, como Piece by piece, que abaixam a temperatura do disco sem necessariamente torná-lo menos interessante. Se Tristan ferve com toque de sensualidade, a música-título One breath - cuja letra é cantada por Calvi quase como um sussurro - é o exemplo mais radical de que a artista procurou por vezes abrir mão da grandiloquência que caracteriza seu som e que, diga-se, contribui para aumentar o poder de sedução da música dramática de Calvi. Com doses menores de melancolia, Suddenly e Eliza são os destaques da safra autoral de One breath. O coro celestial que adorna The bridge - última das 11 músicas do álbum - sinaliza que Anna Calvi já busca luz entre as sombras de seu som, embora seja na sombra que seu fogo fica mais alto.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Beck assina com a Capitol e anuncia a edição do 12º álbum para fevereiro

Após jogar na rede uma série de singles (Defriended, Gimme, I won't be long), Beck Hansen assinou com a Capitol Records e anunciou o lançamento de seu 12º álbum de estúdio - o primeiro em seis anos. Intitulado Morning phase, o sucessor de Modern guilty (2008) tem lançamento previsto para fevereiro de 2014. Espera-se disco de sonoridade similar ao do sereno Sea change pelo fato de os músicos (Justin Meldal-Johnsen, Joey Waronker, Smokey Hormel, Roger Joseph Manning Jr. e Jason Falkner) desse álbum lançado pelo artista norte-americano em 2002 serem os mesmos que estarão na ficha técnica do futuro Morning phase.

Caixa agrega 47 raras gravações feitas por Moreira da Silva entre 1950 e 1957

 Dando continuidade ao processo de revitalização da obra fonográfica de Moreira da Silva (1902 - 2000), cantor carioca celebrado por ter sido um dos principais propagadores do gênero rotulado como samba de breque, o selo carioca Discobertas põe no mercado nacional uma terceira caixa com gravações de Kid Morengueira. Sucedendo as caixas O último malandro (2011) e O tal malandro (2012), que embalaram reedições de oito álbuns lançados pelo artista entre 1958 e 1966, a caixa Moreira da Silva - Anos 50 (2013) volta no tempo fonográfico do cantor, reunindo - em três CDs - 47 gravações feitas por Morengueira entre 1950 e 1957. Os primeiros CDs, Anos 50 vol. 01 (1950 - 1963) e Anos 50 vol. 02 (1953 - 1955), trazem - cada um - 14 fonogramas de discos de 78 rotações por minuto editados pelo selo Discos Star e pela extinta gravadora Continental. A recuperação desses fonogramas até então raros torna a caixa - produzida pelo pesquisador musical carioca Marcelo Fróes - item indispensável para colecionadores de discos. Completa a caixa o CD Moreira da Silva - "O tal" e seus grandes sucessos, (também raro) disco de 10 polegadas editado em 1955 e turbinado por Froés com onze faixas-bônus recolhidas de 78 rotações por minutos lançados em 1956 e 1957. A audição dos 47 fonogramas reunidos nos três CDs mostra que a obra fonográfica de Moreira da Silva extrapolou o samba de breque - ritmo sempre associado ao artista - ao abarcar tradicionais sambas carnavalescos e (também) eventuais músicas de pegada nordestina. 

Procopio ergue cansativa ponte Brasil-Oriente no álbum 'Gueixa tropical'

Resenha de CD
Título: Gueixa tropical
Artista: Daniela Procopio
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * 1/2

Cantora paulista radicada no Rio de Janeiro (RJ), Daniela Procopio ergue uma ponte que liga o Brasil ao Japão no seu conceitual segundo álbum, Gueixa tropical, lançado neste mês de outubro de 2013. Na teoria, parece boa a ideia de narrar no sucessor de Daniela Procopio (2008) a história de brasileira de origem indígena que encontra sua harmonia no Oriente. Na prática, a travessia dessa ponte se revela longa, linear e cansativa, sobretudo por conta da irregularidade do repertório. Música que abre o disco produzido e arranjado (com a artista) pelo carioca Eugenio Dale, Gueixa do Xingu se impõe mais pela orquestração de tom indígena em que as flautas de Carlos Malta sopram sons do Kuarup. Love in Xangai, insossa música do publicitário Nizan Guanes, se desvia para a China, evidenciando o pouco rigor da artista na seleção do repertório. Já Outro mar, outro amor - música finalizada por Procopio com Dale a partir de esboço feito pelo compositor baiano Carlinhos Brown - se revela mais interessante na arquitetura final e na mistura de sons orientais tocados por músicos japoneses e chineses. Procopio e Dale também criaram a letra do bolero Adeus, a partir da melodia feita há mais de 30 anos pelo compositor acriano João Donato. Adeus expõe a falta de bossa da cantora, que também dilui toda a beleza intimista de Syracuse (1982), música de Henri Salvador (1917 - 2008) - compositor da Guiana Francesa cheio de bossa - letrada por Bernard Disney. Música do primeiro CD do compositor gaúcho Antonio Villeroy, Keiko (1991) - parceria de Villeroy com Fernando Corona - é exemplo de como a viagem oriental da Gueixa tropical tem escalas enfadonhas. Ao menos, Moraes Moreira contribui para aliviar o cansaço da travessia com as inéditas Foi tanto carinho - samba de aura bossa-novista - e Tadinho. Há algo da bossa sempre nova em Iara do Leblon (Marco André), mas a ausência de matizes no canto de Procopio tira todo o colorido de todas as músicas, até do bolero Alma mía - composto pela mexicana Maria Grever (1894 - 1954) e propagado na voz do cantor cubano Bola de Nieve (1911 - 1971) - e da pouco ouvida Canção das águas claras (Heitor Villa-Lobos e Gilberto Amado, 1954). Parceria de Procopio com Vitor Santana, a marítima Moreré reitera a sensação de que Procopio pegou a onda errada com disco chato que desperdiça um bom conceito. Pena!

Jonas Brothers anunciam fim do trio sem revelar destino do quinto álbum

Formado em 2005 em New Jersey (EUA), o trio norte-americano The Jonas Brothers - muito popular entre o público infanto-juvenil - anunciou seu fim nesta terça-feira, 29 de outubro de 2013, sem revelar o destino de seu quinto álbum, V, previsto para ser lançado neste último trimestre do ano. O álbum inclusive já tinha gerado dois singlesPom poms e First time, lançados em abril e junho, respectivamente. Já previsível, a dissolução dos Jonas Brothers - decidida em reunião realizada em 3 de outubro - sucede o cancelamento, há 20 dias, da turnê que reuniria o grupo, que esteve em recesso entre 2010 e 2012. Comentava-se nos bastidores da indústria da música que os irmãos Kevin Jonas, Joe Jonas e Nick Jonas viviam períodos de desavenças musicais e comportamentais, motivadas por suposto vício de Joe em droga pesada.

Cícero aprofunda introspecção na safra esmaecida e acústica de 'Sábado'

Resenha de CD
Título: Sábado
Artista: Cícero
Gravadora: Deck
Cotação: * * 

Dispostos em esmaecidas letras brancas no encarte azul do segundo álbum de Cícero, os versos das dez músicas inéditas e autorais de Sábado são de difícil leitura para o ouvinte que manusear o encarte do CD recém-posto nas lojas pela gravadora Deck. Talvez tenha sido até intencional. Afinal, a arte gráfica de Sábado é a perfeita tradução visual do igualmente esmaecido segundo disco do cantor e compositor carioca. Avalizado pelo volátil mundinho hype da internet e da mídia, Cícero ganhou projeção há dois anos na cena indie do Rio de Janeiro (RJ) com o lançamento de seu primeiro álbum, Canções de apartamento (2011). Produzido pelo próprio Cícero com Bruno Schulz e Bruno Giorgi, Sábado resiste à tentação de clonar seu antecessor e relaciona na ficha técnica alguns nomes - como o de Marcelo Camelo, piloto das baterias de Fuga nº 3 da Rua Nestor e Ela e a lata - capazes de atrair atenções e elogios no mundinho. Mas não justifica o hype em torno de Cícero. Não há - entre as dez composições autorais de Sábado - uma música que se revele realmente interessante, capaz de seduzir ouvintes além do universo caseiro do artista. Sábado é disco interiorizado, melancólico e de arquitetura acústica construída de forma quase sempre minimalista. É um dos aqueles discos em que a sonoridade de uma faixa como Frevo por acaso resulta mais sedutora do que a música em si. Como o canto do compositor também soa pálido, Sábado transcorre linear e cansativo, em que pese sua curta duração (29 minutos e 30 segundos, para ser exato). Há temas com leveza que evoca a vibe da bossa nova, como Por Botafogo, e alguns sambas tortos de linha cool, casos de Duas quadras e de Porta, retrato. Mas todas essas referências são reprocessadas dentro de um universo tão particular que fica difícil se envolver pelo som e pela tristeza embutida na safra autoral do álbum. Sábado abusa do direito de ser íntimo e pessoal.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Salles junta sambas do balaio do Sampaio em disco que traz Zeca Baleiro

O cantor paraibano Chico Salles vai lançar em novembro de 2013 seu sexto CD, Sergio samba Sampaio, dedicado aos sambas do repertório autoral do cantor e compositor capixaba Sergio Sampaio (1947-1994). Um dos responsáveis pela revitalização da obra de Sampaio, o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro - que lançou em 2006 por seu selo Saravá Discos o quarto póstumo álbum de Sampaio, Cruel, e em 2011 editou em CD o terceiro, Sinceramente (1982) - avaliza o disco de Salles, cantando História de boêmio (Um abraço em Nelson Gonçalves), tema que Sampaio lançou em 1977 em compacto da extinta gravadora Continental. Produzido por José Milton com arranjos do cavaquinista Henrique Cazes, o CD Sergio samba Sampaio vai ser lançado pelo selo Zeca Pagodiscos, de Zeca Pagodinho, que aliás também participa do disco.

Muse vai lançar em dezembro gravação ao vivo de show captado na Itália

O grupo inglês Muse se prepara para lançar seu terceiro registro audiovisual de show. Nas lojas a partir de 2 de dezembro de 2013, nos formatos de CD, DVD e blu-ray, Live at Rome Olympic Stadium perpetua show captado ao vivo na capital da Itália, em 6 de julho de 2013, sob a direção de Matt Askem. Com exibição agendada para 5 de novembro nos cinemas de 20 cidades do mundo, o show - visto por mais de 60 mil pessoas - faz parte da turnê inspirada no sexto álbum de estúdio da banda britânica, The 2nd law (2012). Live at Rome Olympic Stadium sucede HAARP (2008) na discografia ao vivo do Muse. O show totaliza vinte números.

Anitta vai fazer em fevereiro, no Rio, o primeiro registro ao vivo de show

Fenômeno popular da música brasileira neste ano de 2013, Anitta planeja continuar sob os holofotes no próximo ano. Egressa do universo funk, a cantora e compositora carioca agendou para fevereiro de 2014, no Rio de Janeiro (RJ), sua primeira gravação ao vivo de show. O registro vai gerar DVD e CD ao vivo a serem lançados pela gravadora Warner Music em meados de 2014. O show captado apresentará (algumas) músicas inéditas no roteiro e terá convidados.

Reflektor espelha representações de tempos modernos com sons dos 80

Resenha de CD
Título: Reflektor
Artista: Arcade Fire
Gravadora: Merge Records
Cotação: * * * 1/2

Grupo canadense que se agigantou no universo pop há três anos com o lançamento de seu terceiro álbum, The suburbs (2010), disco instantaneamente antológico que versou em tom épico sobre a desilusão da juventude confinada nas periferias urbanas, Arcade Fire alimentou naturais expectativas sobre seu quarto álbum, Reflektor, lançado nesta segunda-feira, 28 de outubro de 2013, após dias em rotação na rede. Arrojado, inclusive por durar exatos 85 minutos e 16 segundos, o duplo Reflektor é disco que leva o som da banda à outra direção, se desviando do cortejo trágico de Funeral (2004) - álbum que versou sobre perdas e morte em tom orquestral - e da densa linha emocional de Neon bible (2007), CD que questionou dogmas religiosos (impostos em nome de Deus) sem abrir mão do aparato sinfônico que caracterizou o som inicial do septeto. Este novo desvio de rota rumo a um som mais dançante, que faz a festa sem camuflar os efeitos da ressaca, deve ser creditado à junção de James Murphy  - mentor do desativado LCD Soundsystem - ao time de produtores formado pelo recorrente Markus Dravs e pelos próprios integrantes do Arcade Fire. Reflektor propõe, em essência, jogo de espelhos entre o CD 1, mais luminoso, e o CD 2, de tom mais sombrio - ainda que os discos sejam os dois lados de uma mesma moeda. Ao todo, os dois discos apresentam 13 músicas - ou 14, se contabilizado o tema instrumental escondido ao fim do primeiro CD, com uma sinfonia de ruídos, e intitulado Faixa 0. Gravada com a participação do cantor inglês Davib Bowie, fã assumido do Arcade Fire, a música-título Reflektor se impõe de imediato como grande obra de arte musical. Ao longo de seus sete minutos e 33 segundos, a faixa salpica referências do som dos anos 80 - predominantes no álbum, mas reprocessadas em tom contemporâneo que impede o disco de se perder em trilha meramente retrô - enquanto espelha o jogo de representações dos cibernéticos tempos modernos, nos quais todos parecem (des)conectados. "Agora os sinais que enviamos / São novamente desviados / Nós ainda estamos conectados / Mas somos mesmo amigos?", questiona o grupo através dos versos de Reflektor. Na sequência, We exist - costurada por insinuante linha de baixo que remete tanto ao universo da disco music como à introdução de Billie Jean (1982), sucesso de Michael Jackson (1958 - 2009) - retoma o fio da meada religiosa de Neon bible ao refletir sobre a própria existência humana. "De joelhos / Rezando para que nós não existamos / Mas nós existimos", conclui a letra. A questão transcendental retorna, com mais nitidez, em Afterlife, grande faixa do disco 2 sustentada pelos mesmo sintetizadores que embasam Here comes the night time 2 (a primeira Here comes the night time está no CD 1). "Quando o amor acaba / Para onde ele vai? / E para onde vamos nós?", interroga Win Butler em Afterlife. Esses questionamentos existenciais vem sempre encorpados com referências sonoras até certo ponto alienígenas na discografia do Arcade Fire. Se camadas de dub soterram Flashbulb eyes, Porno soa imersa no synth-pop enquanto Joan of Arc - com letra que evoca a histórica mártir e que lembra que o amor pode refletir o ódio que leva à morte - rebobina influências do pós-punk. Já Awful sound (oh Eurydice) e It's never over (oh Orpheus) aludem ao mito grego de Orfeu & Eurídice - o que justificou a atitude da banda de recorrer à imagens do filme Orfeu Negro (1959) no vídeo jogado na internet com a íntegra do bom álbum. Enfim, Reflektor espelha a ambição do Arcade Fire, aparentemente decidido a fazer um disco hermético, conceitual, excessivamente longo, que dificilmente vai lhe render louros unânimes como o anterior The suburbs - imbatível na comparação por soar mais coeso - mas que empurra o grupo para frente. E, mesmo correndo risco de tropeço, uma banda sempre precisa caminhar para frente.

Boy George lança hoje seu nono álbum solo de estúdio, 'This is what I do'

Nono álbum de estúdio da carreira solo de Boy George, This is what I do está sendo lançado no Reino Unido nesta segunda-feira, 28 de outubro de 2013. Já disponível para audição na internet, o disco - o primeiro do cantor e compositor inglês desde Ordinary alien (2010) - traz entre os seus convidados nomes como MC Spee - um dos vocalistas do Dreadzone, grupo britânico de reggae / dub - e DJ Yoda. Eis as 12 músicas reunidas no álbum This is what I do:

1. King of everything
2. Bigger than war
3. Live your life
4. My God
5. It’s easy
6. Death of Samantha
7. Any road
8. My star
9. Love and danger
10. Nice and slow
11. Play me
12. Feel the vibration

Em cena, 'Disco' de Arnaldo ganha movimento, pressão e o peso do rock

Resenha de show
Título: Disco
Artista: Arnaldo Antunes (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de outubro de 2013
Cotação: * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show Disco:
*  De 31 de outubro a 1 de novembro de 2013 - Sesc Belenzinho - São Paulo (SP)
*  De 6 a 9 de novembro de 2013 - Sesc Belenzinho - São Paulo (SP)
* 11 de dezembro de 2013 - Teatro Bradesco - São Paulo (SP)

Disco - o recém-lançado 16º título da obra fonográfica de Arnaldo Antunes pós-Titãs - se revelou álbum apático, desconexo, aquém do belo histórico do cantor, compositor e poeta. Contudo, em cena, Disco cresce, ganhando movimento, pressão e - no bloco final - o peso do rock mais heavy. Por priorizar músicas pouco cantadas em show pelo artista paulista, casos de Atenção (Arnaldo Antunes, Alice Ruiz e João Bandeira, 2001) e da monocórdia balada Hotel Fraternité (Arnaldo Antunes sobre poema de Hans Magnus Enzensberger traduzido por Aldo Fortes, 2006), o roteiro dá a impressão de ter sido construído já tendo em vista um provável registro audiovisual do show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em apresentação iniciada no Circo Voador já na madrugada de domingo, 27 de outubro de 2013. Se vier o DVD, o ouvinte residente longe demais das capitais - rota da turnê que já passou por Salvador (BA) e Porto Alegre (RS) e que aterrissa esta semana em São Paulo (SP) - vai poder perceber que o movimento que agrega valor a Disco no palco é resultante do caráter performático com que Arnaldo evolui em cena. Traço perceptível desde a primeira música, Muito muito pouco (Arnaldo Antunes, 2013), cantada após a abertura feita com a leitura de poema, Agora (Já passou), da lavra do artista multimídia. Com gestual que realça o sentido do que está sendo cantado, Arnaldo bate no peito no ritmo funkeado de Trato (2013) - parceria com Hyldon e Céu - e usa o pedestal do microfone como habitual acessório cênico. Performances à parte, o show reitera a irregularidade do cancioneiro reunido por Arnaldo em Disco. Fica nítido em cena, como já ficara evidente no álbum, que a safra 2013 de Arnaldo com Dadi Carvalho e Marisa Monte alterna canções maiores (Sou volúvel) e menores (Querem mandar). De todo modo, as canções antigas do trio tribalista ainda pairam acima das músicas atuais. Tanto que Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004) - canção do álbum Saiba (2004) - representa ponto de fervura no show, turbinada com o coro popular, bisado em A casa é sua (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009), pérola pop do luminoso álbum Iê iê iê (2009). Em contrapartida, Contato imediato (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2006) evidencia os limites do cantor como intérprete e não se revela em cena com toda sua beleza, em número que se ressente da comparação com o registro límpido feito pela cantora Jussara Silveira no álbum Ame ou se mande (2011). Já Nome não (Arnaldo Antunes, 1993) é lembrança do concretista primeiro disco solo do artista, Nome (1993), título já atípico em discografia que foi ganhando contorno pop e melódico ao longo dos 20 anos que separam Nome de DiscoGrávida - parceria de Arnaldo com Marina Lima, lançada pela cantora em 1991 e até então nunca abordada por seu coautor em discos e shows - se ajusta bem à arquitetura do roteiro em número incrementado visualmente com imagens de chuva projetadas no telão. A poética Azul vazio (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier, 2013) dá início a bloco acústico que causa certa dispersão no ambiente sempre efervescente do Circo Voador, palco inadequado para a interiorizada abordagem cool e minimalista de Até quem sabe (João Donato, Lysias Ênio e Mercedes Chies), feita por Arnaldo somente com o toque do acordeom de André Lima. Balada que exemplifica o feliz flerte de Arnaldo com a canção sentimental brasileira, mote do álbum Iê iê iê, Meu coração (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009) faz bem a transição do clima acústico para o som mais encorpado, começando em número solo de voz & violão e terminando com toda a banda - formada por feras como o guitarrista Edgard Scandurra, o baterista Curumim e o baixista Betão Aguiar - de volta ao palco. Com mais pressão roqueira do que levadas do Norte, Ela é tarja preta (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar, Luê, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro, 2013) começa a preparar o clima para o heavy bloco final o show. Contudo, antes de pesar a mão na execução de rocks como Vá trabalhar (Arnaldo Antunes, 1981 / 2013) e Sentido (Arnaldo Antunes e Nando Reis, 2001 / 2013), Arnaldo faz seu público se render mais uma vez à irresistível Invejoso (Arnaldo Antunes e Liminha, 2009), outra pérola pop(ular) de Iê iê iê. Tema lançado pelos Titãs no grande álbum Õ blésq blom (1989), Medo (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989) adensa Disco em cena com o mesmo peso de Fora de si (Arnaldo Antunes, 1995), enlouquecido rock que encerra o show, retomado no bis com Envelhecer (Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci e Ortinho, 2009) e Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994), número catártico a ponto de gerar um segundo bis com a tribalista Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002) e com O pulso (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989), outra sagaz lembrança titânica de Õ blésq blom. Sim, mesmo que Arnaldo Antunes esteja promovendo álbum de menor peso em sua discografia, o pulso do (grande) artista ainda pulsa firme e forte em cena.

domingo, 27 de outubro de 2013

No palco, o 'Disco' de Arnaldo gira com hit de Marina e canção de Donato

Em 1991, Marina Lima abriu parceria com Arnaldo Antunes, assinando com o titã a canção Grávida, um dos sucessos do melhor álbum da cantora e compositora carioca, Marina Lima (EMI-Odeon, 1991). Em que pese a excelente repercussão obtida pela música, Grávida nunca tinha ganhado a voz de seu coautor - até a estreia da turnê do show inspirado no álbum Disco, lançado pelo cantor e compositor paulista neste mês de outubro de 2013. Grávida é ótima surpresa do roteiro do show que, após passar por Salvador (BA) e Porto Alegre (RS), chegou ao Rio de Janeiro (RJ) no Circo Voador, em apresentação iniciada já na madrugada deste domingo, 27 de outubro. Além de Grávida, Arnaldo deu voz à canção de seu parceiro João Donato - Até quem sabe, parceria do compositor acriano com Lysias Ênio e Mercedes Chies, gravada por Donato o álbum Quem é quem (Odeon, 1973) - em bloco acústico. Eis o roteiro seguido por Arnaldo Antunes - em foto de Rodrigo Amaral - na estreia carioca do show Disco:

1. Agora (Já passou) (Arnaldo Antunes) - poema
2. Muito muito pouco (Arnaldo Antunes, 2013)
3. Sou volúvel (Arnaldo Antunes, Dadi Carvalho e Marisa Monte, 2013)
4. Trato (Arnaldo Antunes, Céu e Hyldon, 2013)
5. Atenção (Arnaldo Antunes, Alice Ruiz e João Bandeira, 2001)
6. Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004)
7. Dizem (Quem me dera) (Arnaldo Antunes, Dadi Carvalho e Marisa Monte, 2013)
8. Hotel Fraternité (Arnaldo Antunes sobre poema de Hans Magnus Enzensberger traduzido por Aldo Fortes, 2006)
9. Grávida (Arnaldo Antunes e Marina Lima, 1991)
10. A casa é sua (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009)
11. Querem mandar (Arnaldo Antunes, Dadi Carvalho e Marisa Monte, 2013)
12. Nome não (Arnaldo Antunes, 1993)
13. Contato imediato (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2006)
14. Azul vazio (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier, 2013)
15. Até quem sabe (João Donato, Lysias Ênio e Mercedes Chies, 1973)
16. Saiba (Arnaldo Antunes, 2004)
17. Meu coração (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009)
18. Ela é tarja preta (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar, Luê, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro, 2013)
19. Invejoso (Arnaldo Antunes e Liminha, 2009)
20. Vá trabalhar (Arnaldo Antunes, 2013) - composto em 1981 para o grupo Titãs
21. Medo (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989)
22. Sentido (Arnaldo Antunes e Nando Reis, 2013) - composto em 2001
23. Fora de si (Arnaldo Antunes, 1995)
Bis:
24. Envelhecer (Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci e Ortinho, 2009)
25. Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994)
Bis 2:
26. Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002)
27. O pulso  (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989)

Loroza canta parcerias com Arlindo, Meriti e Pedro no álbum 'Carpe diem'

Já disponível no iTunes e com lançamento físico em CD programado para o início de novembro de 2103, em edição do selo carioca Lab 344, o álbum Carpe diem, de Serjão Loroza, traz no repertório parcerias do artista com nomes como Arlindo Cruz, Gabriel Moura, Mu Chebabi e Serginho Meriti. O repertório traz as músicas Se um dia fui pobre - tema propagado no filme Minha mãe é uma peça - e Mais simples. Caia, É nóis e Preta dileta são outras faixas do CD.

Leve, Simone altera fim do show 'É melhor ser' na segunda apresentação

A alegria com que Simone sambou no palco do Teatro Oi Casa Grande - enquanto percutia um tamborim na introdução de Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) - explicitou o tom mais leve e feliz do show É melhor ser na segunda apresentação da turnê nacional  iniciada pelo Rio de Janeiro (RJ). Sem as tensões naturais da estreia, acontecida na noite de 25 de outubro de 2013, a cantora baiana - em foto de Rodrigo Amaral - se mostrou bem mais descontraída e alterou o roteiro de É melhor ser, mudando o fim do show. Com a antecipação de Os medos (Joyce e Rodolfo Stroeter), deslocada do 19º para  16º número do show, a última música cantada por Simone antes do bis passou a ser Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977). A intérprete saudou as presenças, na plateia, das compositoras Fátima Guedes e Teresa Cristina.

Roqueiro que viu na sombra a luz da poesia, Lou Reed sai de cena aos 71

Outsider pela própria natureza rebelde, Lewis Allan Reed (2 de março de 1942 - 27 de outubro de 2013) certamente seria cínico o suficiente para caracterizar este domingo como a perfect day, em alusão ao título da canção de sua obra-prima Transformer, álbum de 1972. Mas o universo pop - consternado com a notícia da saída de cena, aos 71 anos, do cantor, compositor e guitarrista norte-americano - ira contrariar o artista, pois o dia da morte de Lou Reed, um dos artistas mais geniais e influentes da música do século XX, jamais roçaria a perfeição. Ao seguir pela trilha aberta nos anos 60 por seu colega norte-americano Bob Dylan, Reed logo se impôs nesse universo pop por enxergar a luz da poesia entre as sombras do (sub)mundo. Sim, estudante de literatura naqueles conturbados anos 60, Lou Reed foi um roqueiro alçado ao status de poeta - como Dylan ou como o brasileiro Renato Russo (1960 - 1996) - por retratar a vida como ela é, o Homem como ele é moldado pela sociedade. Diplomado no caldeirão cultural e no caos sempre efervescente de Nova York (EUA), a cidade onde formou com John Cale o seminal grupo The Velvet Underground, Reed atravessou gerações como um artista tão referencial que o grupo Metallica não hesitou em gravar álbum com esse pioneiro artista underground, Lulu (2011). Ao emergir no universo pop, Reed mexeu com fogo e com os brios conservadores da sociedade de sua época ao aplicar doses cavalares de sexo e drogas pesadas nos versos de suas letras incendiárias - temática que explorou de forma mais ampla a partir de 1970, quando deixou o Velvet Underground. Seu primeiro álbum, Lou Reed (1970), deu a pista errada de que Reed já poderia ser carta fora do jogo. Só que a este disco de fato frustrante, formatado com sobras do repertório do Velvet Underground, seguiu-se um dos clássicos atemporais do (glam) rock, Transformer, o já citado álbum de 1972, consagrado sobretudo por Walk on the wild side, espécie de hino underground que ajudou a formar a personalidade solo de Reed. Sob a produção antenada do colega inglês David Bowie, o roqueiro norte-americano deu a cara a tapa já na imagem ambígua da capa do disco. E, dessa vez, a pista era verdadeira: em Make up, uma das 11 faixas do álbum, Reed saiu do armário, revelando homossexualidade já sinalizada no repertório do Velvet Underground em músicas como I’ll be your mirror. Só que o cultuado Transformer ampliou os efeitos da ação poética de Reed, embora sob a ótica já era conhecida dos (poucos) fãs que seguiram o Velvet na trilha underground. Já na música que abria o álbum, Vicious, Reed tocou com prazer no tema então tabu do sadomasoquismo. Apesar dos temas abusados, ou talvez justamente por causa deles, Transformer deu a Reed projeção mundial que nenhum outro álbum seu alcançaria. Talvez porque o poeta, rebelde, não tenha seguido à risca a receita nos discos seguintes. O posterior Berlin (1973), por exemplo, é grande disco conceitual em que Reed dissecou o relacionamento fracassado de fictício casal norte-americano, Caroline e Jim, residente na cidade alemã que dava nome ao álbum. Trabalho de contornos sinfônicos, moldados pelo produtor Bob Ezrin, Berlin tem atmosfera sombria, tocando fundo na ferida nunca cicatrizada de assuntos como violência doméstica. Daí em diante, a discografia de Lou Reed mostraria um artista sempre inquieto, avesso a fórmulas e repetições. Após lançar em 1974 dois álbuns de boa repercussão comercial, Sally can’t dance e o Rock’n’roll animal, este gravado ao vivo, Reed investiu pesado – e de forma pioneira – na música eletrônica, no duplo Metal machine music, fracasso de vendas em 1975 (o mesmo ano de Coney island baby, disco de aura gay). Reed nunca deixou de transitar pelo wild side do mercado do disco, mas sempre na companhia de sua sombria poesia. Basta ouvir The raven (2003), álbum inspirado na obra do poeta Edgar Alan Poe (1809-1849) - outro que transitava pelas sombras - e originário de espetáculo (Poe-Try, 2000) em que Reed entrelaçou música, teatro e poesia. Celebrado com as glórias concedidas aos popstars, o poeta do rocks ai de cena entronizado no posto vitalício de um dos reis da contracultura. Contudo, a rigor, sua obra oscilou entre graus díspares de densidade musical e poética. O experimental Lulu, por exemplo, decepcionou tanto fãs de Reed quanto do Metallica, embora tenha se revelado álbum mais do cantor do que do grupo. Quando Reed acertou, como em New York (1989), álbum em que radiografou o pulmão congestionado da cidade natal que destratava imigrantes com a mesma frieza com que mandava jovens para a guerra, Reed fez jus ao status de gênio, ecoando influências de escritores como o irlandês James Joyce (1882-1941). Sua discografia inclui discos que merecem reavaliação, caso do já obscuro The blue mask (1982), feito dez anos antes de um álbum conceitual ainda menos ouvido, Magic and loss (1992), retrato fiel de tempo marcado por perdas e imerso na ressaca das drogas e da Aids, então ceifando vidas e contaminando com medo o prazer sexual, em especial o da comunidade gay à qual Reed sempre se aliou com orgulho, ainda que sua ambiguidade sexual o tenha levado a se relacionar com homens, mulheres e travestis. Suas letras de música embaralharam os conceitos de rock e poesia, mostrando que o primeiro poderia conviver com a segunda sem perda de decibéis. Poeta roqueiro que atravessou o fogo, Lou Reed sai de cena - por complicações decorrentes de transplante de fígado feito em abril deste ano de 2013 - imaculado na sua persona artística construída nas margens do undergound.

sábado, 26 de outubro de 2013

Pitbull estende álbum 'Global warning' com cinco faixas do EP 'Meltdown'

Sétimo álbum de estúdio do rapper norte-americano Pitbull, lançado em novembro de 2013, Global warning ganha edição expandida um ano após seu lançamento. Global warning - Meltdown vai estar nas lojas físicas e virtuais a partir de 25 de novembro de 2013 em edição distribuída em escala mundial pela Sony Music. Às 12 faixas da edição standard do álbum original, Pitbull acrescenta mais cinco - All the things (música gravada com a cantora romena Inna), Do it, Sun in California, (faixa com o cantor Mohombi), That high (com Kelly Rowland) e Timber (gravada com a adesão de Ke$ha e já lançada como single neste mês de outubro) - que, no exterior, serão lançadas simultaneamente de forma avulsa no EP intitulado Meltdown

Gaga divulga as três capas de 'Venus', o novo 'single' do álbum 'ARTPOP'

Com lançamento agendado no iTunes para a próxima segunda-feira, 28 de outubro de 2013, Venus - novo single promocional do quarto disco de estúdio de Lady Gaga, ARTPOP - teve suas três capas reveladas pela artista norte-americana. As três capas são assinadas por Steve Klein, diretor dos clipes de Alejandro e Fame, sucessos de Gaga. Venus é música assinada por Sun Ra e Paul Blair (o DJ White Shadow) em parceria com Gaga. ARTPOP vai sair em 11 de novembro.

Fiel a si própria, Simone segue seu caminho no terno show 'É melhor ser'

Resenha de show
Título: É melhor ser 
Artista: Simone (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro Oi Casa Grande (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 25 de outubro de 2013
Cotação: * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show É melhor ser:
* 25 e 26 de outubro de 2013 - Teatro Oi Casa Grande - Rio de Janeiro (RJ)
* 31 de outubro de 2013 - Teatro da Unip - Brasília (DF)
* 1º de novembro de 2013 - Teatro Rio Vermelho - Goiânia (GO)
* 8 e 9 de novembro de 2013 - Teatro do Complexo Cultural Ohtake - São Paulo (SP)
* 13 de novembro de 2013 - Bourbon Country - Porto Alegre (RS)
* 6 de dezembro de 2013 - Teatro Castro Alves - Salvador (BA)
* 8 de dezembro de 2013 - Palácio das Artes - Belo Horizonte (MG)


No fundo sempre sozinha, Simone vai seguindo seu caminho em É melhor ser, show que teve sua estreia nacional no Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 25 de outubro de 2013, na sequência imediata da edição do homônimo 41º disco da Cigarra. Já são 40 anos de carreira e - tal como o disco recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino - o show segue rota coerente com a trajetória da cantora baiana. Sem desvios, Simone faz o show que seu público espera dela. A força de sua personalidade é perceptível não somente no canto de firmeza e elegância que desafiam os 64 anos a serem completados daqui a dois meses, mas também nos figurinos brancos de Guilherme Guimarães, nos tons predominantemente azuis da luz clara de Rogério Wiltigen, no coração rosa alocado ao centro do móbile criado pelo cenógrafo Hélio Eichbauer e no roteiro fiel ao conceito feminino do disco É melhor ser, centrado em composições assinadas por mulheres (ainda que com eventuais parceiros do sexo masculino). Diante da manifestação cênica dessa personalidade forte, a contribuição da direção da atriz Christiane Torloni resulta imperceptível aos olhos do espectador - e provavelmente resida aí o maior mérito da diretora debutante: entender e aceitar que é melhor deixar Simone ser Simone no palco. Sob a direção musical do pianista Leandro Braga, autor dos arranjos, a cantora dá voz a 21 músicas que, em essência, expressam amor e doçura. Nesse sentido, a lembrança no bis de A noite do meu bem (1959), a bela e poética canção da imortal compositora carioca Dolores Duran, faz todo o sentido. É melhor ser é show terno. Quando canta Descaminhos (Joanna e Sarah Benchimol, 1979) ou O tom do amor (Moska e Zélia Duncan, 2010), por exemplo, Simone tem no olhar e na voz toda a ternura que quer dar ao seu público ávido de seu canto, dessa sua voz que - justiça seja feita - repete em cena sem nenhum esforço todos os tons alcançados no estúdio na gravação do CD É melhor ser. Proeza já perceptível quando - após a abertura das cortinas ao som em off de A propósito (Simone e Fernanda Montenegro, 2013), com Simone de braços abertos no centro do palco - a cantora solta a voz em Mulher o suficiente (Alzira Espíndola e Vera Lúcia Motta, 1995), instante pop do disco e do show. "Rock'n'roll, bebê!", brada Simone ao som do solo da guitarra de João Gaspar, em alusão à famosa frase ("Hoje é dia de rock, bebê") dita há dois anos por sua diretora Christiane Torloni ao ser entrevistada na área vip do Rock in Rio 2011. Nos sete primeiros números do roteiro, o show É melhor ser reproduz com fidelidade o disco homônimo, sem surpresas, ainda que dê para detectar um dengo adicional na interpretação do samba Trégua suspensa (Teresa Cristina e Lula Queiroga, 2010). É nesse porto seguro que Simone cai no samba para moças de fino trato como Adriana Calcanhotto, de quem desvenda Aquele plano para me esquecer (2011), e que explicita o amor romântico contido no belo bolero que compôs com Zélia Duncan, Só se for, uma das três músicas inéditas do CD É melhor ser. Na sequência, luzes verdes e amarelas realçam a brasilidade do vivaz baião Haicai (Fátima Guedes, 2013), outra inédita do disco, turbinada em cena com citações batidas na palma da mão do samba de roda Vai lavar siri (tema de domínio público adaptado pela Cigarra para cantar no show registrado no disco Simone et Roberto Ribeiro à Bruxelles, de 1973) e dos partidos altos Não chora, neném (Ivone Lara, 1979) e Tiê (Ivone Lara, Mestre Fuleiro e Tio Hélio, 1973). A mesma iluminação verde e amarela preenche o palco - nove números mais tarde - quando Simone surpreende a plateia ao iluminar Primeira estrela (Luli, Lucina e Sonia Prazeres, 1981), um dos sucessos indies do repertório da dupla Luli & Lucina, música gravada por Nana Caymmi no álbum ...E a gente nem deu nome (1981). Com seu ritmo marcado na palma da mão por músicos e plateia, o número percussivo deu vivacidade a show que já surpreendera quando, se desviando pela primeira vez do repertório do disco, Simone acendeu a beleza de Candeeiro, samba de tom afro que iluminou o talento de Teresa Cristina como compositora ao ser gravado pela artista carioca em A vida me fez assim (2004), álbum em que Teresa começou a revelar sua produção autoral. Na sequência de Candeeiro, Simone também surpreende ao cantar Canteiros (1973) com ternura que dilui a tristeza contida nos versos da poeta carioca Cecília Meireles (1901 - 1964), parceira póstuma do compositor cearense Raimundo Fagner nessa canção entoada por Simone de forma suave, sob a condução do piano de Leandro Braga. A suavidade também pauta a orquestração de Só nos resta viver (Angela Ro Ro, 1980), outra canção que embute dor filtrada pelo canto macio de Simone. Entre surpresas e números sempre esperados em shows de Simone, caso da sempre arrepiante Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977), É melhor ser reitera vícios e virtudes da Cigarra em cena. Os primeiros fazem com que o samba Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976) soe como número de barzinho - sensação reforçada pelo coro do público - e com que a balada Outra vez (Isolda, 1977) ganhe pausas e charminhos à moda de Roberto Carlos (influência bisada na distribuição de rosas brancas ao fim do bis). As segundas fazem com que a cantora consiga renovar uma música batida como Charme do mundo (Marina Lima e Antonio Cícero, 1981) com suingue de clima norte-americano. Fecho caloroso do show, Os medos (Joyce Moreno e Rodolfo Stroeter, 2004) mostra que, quando arrisca para valer, Simone geralmente se dá bem. No mercado comum da vida humana, para citar verso de Vida de artista (Sueli Costa e Abel Silva, 1978), cantada com mais delicadeza no disco do que no show, a Cigarra tem se imposto em cena com a personalidade forte que molda seu caminho há 40 anos. E assim - no fundo sempre sozinha, ainda que cercada de boas companhias como Zélia Duncan (a amiga que se fez presente com sugestões para o repertório do bom CD) - caminha Simone, sempre fiel a si própria, rumo à imortalidade garantida às vozes que marcaram época.

'Candeeiro' de Teresa acende roteiro em que Simone canta Luli & Lucina

Fiel à ideologia de seu recém-lançado álbum É melhor ser (Biscoito Fino, 2013), centrado em composições de mulheres, Simone construiu o roteiro do show É melhor ser sem abrir mão da presença feminina na autoria (ou coautoria) de todas as 21 músicas do espetáculo dirigido pela atriz Christiane Torloni. Afro-samba lançado por Teresa Cristina em seu segundo álbum, A vida me fez assim (Deck, 2004), Candeeiro é uma das músicas do show que extrapolam o repertório do disco gravado pela cantora sob a produção musical de Bia Paes Leme e com arranjos do pianista Leandro Braga. Candeeiro iluminou roteiro em que Simone também dá voz a músicas de Luli & Lucina - Primeira estrela, parceria das compositoras como Sônia Prazeres lançada por Nana Caymmi no álbum ...E a gente nem deu nome (EMI Odeon, 1981) - e Dolores Duran (1930 - 1959), lembrada no bis com sua bela canção A noite do meu bem, lançada em 1959 na voz da própria Dolores. Outra boa surpresa foi Canteiros (1973), música composta por Raimundo Fagner com base em versos da poeta Cecília Meireles (1901 - 1964). Embora celebre os 40 anos de carreira da Cigarra, assim como o disco que lhe deu origem, o show É melhor ser foge da linha retrospectiva, gravitando em torno do CD. Eis o roteiro seguido por Simone - em foto de Rodrigo Amaral - na estreia nacional da turnê do show É melhor ser no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 25 de outubro de 2013:

1. A propósito (Simone sobre bilhete de Fernanda Montenegro, 2013) - em off
2. Mulher o suficiente (Alzira Espíndola e Vera Lúcia Motta, 1995)
3. Aquele plano para me esquecer (Adriana Calcanhotto, 2011)
4. Descaminhos (Joanna e Sarah Benchimol, 1979)
5. Trégua suspensa (Teresa Cristina e Lula Queiroga, 2010)
6. Só se for (Simone e Zélia Duncan, 2013)
7. Haicai (Fátima Guedes, 2013)
    - com citações de Vai lavar siri (tema de domínio público adaptado por Simone), Não chora, neném (Ivone Lara, 1979) e
      Tiê (Ivone Lara, Mestre Fuleiro e Tio Hélio, 1933)
8. Candeeiro (Teresa Cristina, 2004)
9. Canteiros (Fagner sobre poema de Cecília Meireles, 1973)
10. O tom do amor (Moska e Zélia Duncan, 2010)
11. Outra vez (Isolda, 1977)
12. Só nos resta viver (Angela Ro Ro, 1980)
13. Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1976)
14. Mutante (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1981)
15. Charme do mundo (Marina Lima e Antonio Cícero, 1981)
16. Primeira estrela (Luli, Lucina e Sônia Prazeres, 1981)
17. Vida de artista (Sueli Costa e Abel Silva, 1978) /
18. Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977)
19. Os medos (Joyce Moreno e Rodolfo Stroeter, 2004)
*    Jura secreta (Sueli Costa e Abel Silva, 1977) - prefixo      
Bis:
20. A noite do meu bem (Dolores Duran, 1959)
21. Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982)