Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Produzido por Arto Lindsay, 'Aquário' mostra o Tono imerso em águas turvas

Resenha de CD
Título: Aquário
Artista: Tono
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * 1/2

 Grupo que vem ascendendo na cena indie carioca desde que lançou seu primeiro álbum, o Tono refina seu som sob a batuta do produtor Arto Lindsay, piloto de Aquário, terceiro e mais bem-acabado disco da banda, gravado entre o fim de 2012 e o início de 2013 sob a direção artística do próprio Tono. O fato de Ney Matogrosso ter dado visibilidade nacional ao quinteto carioca fora da cena indie - ao incluir Não consigo e Samba do blackberry no roteiro de seu atual show, Atento aos sinais (2013) - talvez atraia atenção adicional para o disco, mas é pouco provável que Aquárifisgue público para o Tono. Ainda que sua costura sonora seja fina, o sucessor de Tono auge (2009) e Tono (2010) mostra o grupo imerso nas águas turvas do experimentalismo, sobretudo nas duas primeiras músicas do disco, Murmúrios (Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti) e Sonho com som (Alberto Continentino e Rafael Rocha). São águas através das quais, citando versos de Murmúrios, o grupo"navega só e nu onde não tem cor e sol não parece haver". Com o toque baiano da percussão de Gustavo Di Dalva, Leve (Rafael Rocha) faz jus ao título e rompe momentaneamente com o hermetismo que pauta faixas posteriores como Ufo (Ana Claudia Lamelino, Bruno Di Lullo e Bem Gil) e Pistas de luz (Rafael Rocha). Nada contra discos viajantes. A questão é que a sonoridade de Aquárié bem superior ao repertório autoral composto por Ana Claudia Lomelino, Bem Gil, Bruno Di Lullo e Rafael Rocha - músicos e compositores que formam o Tono com Eduardo Manso - com adesões eventuais de nomes como Bela Meirelles e José de Castro, parceiros de Rafael Rocha na letra de Tu cá tu lá, tema veloz que, diante das viagens de outras músicas, talvez até mereça o rótulo pop em álbum que parece fazer questão de se distanciar do ouvinte. O confronto do repertório autoral do Tono com Chora coração - música composta por Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) para a trilha sonora do filme A casa assassinada (Brasil, 1971) - evidencia o quão longe Aquáripoderia ir se o cancioneiro do grupo tivesse arquitetura mais sedutora em sua essência. A releitura contemporânea de Chora coração - feita com a adesão afetiva de Maria Luiza Jobim, filha de Tom - surpreende positivamente e se alinha entre os pontos altos do disco com a já citada Leve e com o samba Da Bahia, parceria de Ana Cláudia Lamelino com Gilberto Gil, coautor da letra. Pai de Bem, Gil contribuiu com sua voz e seu violão para a faixa. Enfim, por mais que Aquárirecompense quem mergulhar nas águas do Tono, o álbum esbarra na irregularidade de seu repertório, ainda que tenha boas letras (sobretudo as escritas com lirismo e poesia por Rafael Rocha, com menção honrosa para os versos de A cada segundo). Outro problema é o canto esmaecido de Ana Cláudia Lomelino. Tivessem a energia de uma voz como a de Alice Caymmi, para citar cantora sintonizada com o espírito e o som do Tono, músicas como Do futuro (Dom) (Ana Cláudia Lomelino e Bem Gil) ganhariam cor e vida. De toda forma, Aquáriparece ambicionar somente elogios dentro do volátil mundinho hype. E, nesse sentido, o CD vai ser muito bem-sucedido.  Mas jamais irá além do hype.

16 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Grupo que vem ascendendo na cena indie carioca desde que lançou seu primeiro álbum, o Tono refina seu som sob a batuta do produtor Arto Lindsay, piloto de Aquário, terceiro e mais bem-acabado disco da banda, gravado entre o fim de 2012 e o início de 2013 sob a direção artística do próprio Tono. O fato de Ney Matogrosso ter dado visibilidade nacional ao quinteto carioca fora da cena indie - ao incluir Não consigo e Samba do blackberry no roteiro de seu atual show, Atento aos sinais (20130 - talvez atraia atenção adicional para o disco, mas é pouco provável que Aquário fisgue público para o Tono. Ainda que sua costura sonora seja fina, o sucessor de Tono auge (2009) e Tono (2010) mostra o grupo imerso nas águas turvas do experimentalismo, sobretudo nas duas primeiras músicas do disco, Murmúrios (Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti) e Sonho com som (Alberto Continentino e Rafael Rocha). São águas através das quais, citando versos de Murmúrios, o grupo"navega só e nu onde não tem cor e sol não parece haver". Com o toque baiano da percussão de Gustavo Di Dalva, Leve (Rafael Rocha) faz jus ao título e rompe momentaneamente com o hermetismo que pauta faixas posteriores como Ufo (Ana Claudia Lamelino, Bruno Di Lullo e Bem Gil) e Pistas de luz (Rafael Rocha). Nada contra discos viajantes. A questão é que a sonoridade de Aquário é bem superior ao repertório autoral composto por Ana Claudia Lomelino, Bem Gil, Bruno Di Lullo e Rafael Rocha - músicos e compositores que formam o Tono com Eduardo Manso - com adesões eventuais de nomes como Bela Meirelles e José de Castro, parceiros de Rafael Rocha na letra de Tu cá tu lá, tema veloz que, diante das viagens de outras músicas, talvez até mereça o rótulo pop em álbum que parece fazer questão de se distanciar do ouvinte. O confronto do repertório autoral do Tono com Chora coração - música composta por Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) para a trilha sonora do filme A casa assassinada (Brasil, 1971) - evidencia o quão longe Aquário poderia ir se o cancioneiro do grupo tivesse arquitetura mais sedutora em sua essência. A releitura contemporânea de Chora coração - feita com a adesão afetiva de Maria Luiza Jobim, filha de Tom - surpreende positivamente e se alinha entre os pontos altos do disco com a já citada Leve e com o samba Da Bahia, parceria de Ana Cláudia Lamelino com Gilberto Gil, coautor da letra. Pai de Bem, Gil contribuiu com sua voz e seu violão para a faixa. Enfim, por mais que Aquário recompense quem mergulhar nas águas do Tono, o álbum esbarra na irregularidade de seu repertório, ainda que tenha boas letras (sobretudo as escritas com lirismo e poesia por Rafael Rocha, com menção honrosa para os versos de A cada segundo). Outro problema é o canto esmaecido de Ana Cláudia Lomelino. Tivessem a energia de uma voz como a de Alice Caymmi, para citar cantora sintonizada com o espírito e o som do Tono, músicas como Do futuro (Dom) (Ana Cláudia Lomelino e Bem Gil) ganhariam cor e vida. De toda forma, Aquário parece ambicionar somente elogios dentro do mundinho hype. E, nesse sentido, o CD vai ser muito bem-sucedido.

Pedro Progresso disse...

2 estrelas e meia?
Ah, Mauro, vou discordar. Estou submerso no Aquário. Tono se tornou em 3 discos minha banda favorita. Os covers escolhidos, as músicas e os arranjos - parece tudo feito pra mim!
Amo o canto cool de Ana e Rafael e as levadas de guitarra de Bem e o baixão de Bruno. No fundo acho que sou suspeito pra falar. Palavra de fã conta?

Mauro Ferreira disse...

Claro que conta, Pedro. E viva a diversidade! Abs, MauroF

Raffa disse...

É Mauro, acho 2 estrelas e meia bem pouco pra qualidade deste disco. Gostei bastante!

Ah, tem um erro no ano do show do Ney, tá 20130.

Abs

Mauro Ferreira disse...

Raffa, grato pelo toque do erro de digitação, já consertado. A cotação não é tão baixa assim. Afinal, o melhor disco de 2012 para a Roling Stone, Abraçaço, foi cotado com três estrelas e meia pela revista. abs, MauroF

Anônimo disse...

Um dos melhores discos do ano

Ana disse...

Queremos sim nos afastar de ouvintes como vc. O que vc chama de mundinho pode ser um universo novo muito grande. Antes de ter um blog sobre música você deveria se assegurar da sua inteligência e sensibilidade, me comparar com Alice sem nem ter tido o cuidado de perceber que se trata de uma música que fiz pro meu filho é desprezível.

Ana disse...

Se nos afastamos de ouvintes como você, não é à toa. O que você chama de mundinho pode ser um universo novo enorme para o qual você não está pronto. Antes de criar um blog para criticar músicas certifique-se de que é uma pessoa sensível, comparar meu canto ao canto de Alice sem sequer o cuidado de saber que se trata de uma música que fiz para meu filho é desprezível.

Mauro Ferreira disse...

Ana, você tem todo o direito de expressar seu descontentamento com a resenha. A única coisa que esclareço é a seguinte: a informação de que você fez a música para seu filho não consta no texto sobre o disco que foi endereçado aos jornalistas. Se você considera que essa informação é fundamental para o entendimento do disco e da faixa, deveria ter insistido para que ela fosse incluída no texto. Não sou adivinho. Enfim, viva a liberdade de expressão! Abs, MauroF

Maria disse...

Saudades do Arto Lindsay na obra de Marisa Monte!

Ana disse...

Mauro, é verdade que sua crítica me tocou causando algo ruim sim, mas movimentou uma série de coisas, por causa dela ouvi tanta coisa contrária e boa de tanta gente boa que acabou se transformando num presente lindo. De verdade. E pra você: muito deselegante, viu?

Mauro Ferreira disse...

Que ótimo, Ana! Guarde então para você os comentários dessa gente boa e amiga. Nada tenho contra você, o Tono ou contra nenhum outro artista. Apenas expus a minha visão de 'Aquário' com minha habitual sinceridade - artigo raro no exercício da crítica musical do Brasil, hoje mais centrada numa ação entre amigos. Sinceridade que, no seu entender, pareceu deselegância. De todo modo, como reitero sempre, uma resenha é somente uma resenha, uma exposição de uma opinião (honesta, presume-se) sobre um trabalho - no caso, sobre um disco. Seja feliz! Abs, MauroF

Raffa disse...

Maria, pensei a mesma coisa esses dias ao ouvir esse disco. O único disco bom que ela fez depois do Barulhinho Bom, foi o Universo ao Meu Redor, que foi produzido junto com o Mario Caldato.

Unknown disse...

Adoro o Mauro, mas comparar Ana com Alice não tem nada a ver. Com tantos nomes para citar, já que insiste em fazer tal comparação, por que trazer à tona justo o de Alice, que se não fosse neta e filha de quem é não cantaria nem no coral da escola? Comparou dois cantos diferentes, um talento com um mero QI (quem indica, lógico, pois Alice erra até a ordem das músicas no encarte do CD). Ana tem méritos próprios. Mauro só gosta da Alice por gostar da tia. Freud explica. É o nosso Brasil.

Mauro Ferreira disse...

Ligia, sorry, mas todos os elogios feitos por mim a Alice Caymmi são frutos da admiração que tenho pelo trabalho dela. Creditar tais elogios ao sobrenome nobre de Alice é desmerecer o som e o canto dela. Se você não gosta de Alice, tudo bem, é um direito seu. Mas não venha querer determinar a razão de eu gostar tanto dela. Amo Zizi Possi - cantora com quem tenho relação excelente, aliás - e nem por isso deixei de expressar opinião negativa sobre o último DVD de Luiza Possi, para citar somente um exemplo. Comparei Alice com Ana porque ambas gravitam na mesma cena musical carioca. Abs, MauroF

Mauro Ferreira disse...

P.S.: Gosto não somente do canto de Alice, cheio de cor e vida, como de suas composições. Paz em seu coração!