Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Globo de 'Discotheque' espelha apego afetivo de Gottsha à musica 'disco'

Resenha de show
Título: Discotheque
Artista: Gottsha (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Teatro das Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de outubro de 2013
Cotação: * * *
Em cartaz no Teatro das Artes, no Rio de Janeiro, às terças-feiras de outubro de 2013

Diferentemente do universo da dance music, no qual batidas de DJs e produtores protegem cantoras de vozes estéreis, havia intérpretes de vozes potentes no mundo da disco music. Eram cantoras negras - em sua maioria - que nunca negaram a força da raça ao dar voz a sucessos deste gênero que, em essência, foi (deliciosa) abordagem pop da black music norte-americana, feita com alta dose de eletrônica e vibe gay. A carioca Gottsha poderia ter feito frente às divas da disco music com sua voz potente se tivesse nascido nos Estados Unidos e já seguisse carreira por lá na segunda metade dos anos 70. Contudo, na época áurea da disco music, Sandra Maria Braga Gottlieb era pré-adolescente que, como toda sua geração, curtiu a trilha dos embalos de sábado à noite no Brasil dos dancin' days. Tanto que, ao iniciar carreira em 1993, Gottsha começou cantando sucessos dos anos 70 e, três anos após lançar um primeiro CD voltado para a dance music (No one to answer, Spotlight Records, 1995), Gottsha gravou em 1998 - pelo selo Paradise Records - EP com I love the nightlife (Disco 'round) (Alicia Bridges e Susan Hutcheson), sucesso da cantora norte-americana Alicia Bridges em 1978 que tinha voltado às pistas, a partir de 1994, no embalo de sua propagação na trilha sonora do filme Priscilla, a rainha do desertoI love the nightlife (Disco 'round), por isso mesmo, está presente no roteiro de Discotheque, o show que Gottsha vem apresentando às terças-feiras deste mês de outubro de 2013 no Rio de Janeiro (RJ). Os globos pendurados no teto do palco do Teatro das Artes espelham o apego afetivo da cantora a um repertório que, a despeito de a disco music ter sido considerada modismo em sua era, atravessa gerações porque são músicas boas que fazem dançar - o que, aliás, torna inadequado o local do show, mais apropriado para casa com pista, sem mesas, cadeiras ou poltronas. Sem inventar moda, Gottsha dá voz a um punhado de músicas irresistíveis do tempo das discotecas, tocadas com fidelidade aos arranjos originais pelo quarteto que divide a cena com a cantora sob a direção musical do tecladista e arranjador Heberth Souza. São músicas, em sua maioria, difundidas em vozes de cantoras. A exemplo de If I can't have you (Barry Gibb, Maurice Gibb e Robin Gibb, 1977), que deve sua perenidade mais à gravação de Yvonne Elliman do que ao registro do trio Bee Gees, nome fundamental para a consolidação da era disco. Da mesma forma, Don't leave me this way (Kenneth Gamble, Leon Huff e Cary Gilbert, 1975) passou para a história associada à voz de Thelma Houston - por conta de emblemática gravação de 1976 - e não ao registro feito um ano antes por Harold Melvin & The Blue Notes. Em Discotheque, Gottsha reverencia o gênero e suas divas sem truques, se valendo somente de sua voz calorosa e do apelo desse repertório eterno - ainda que para sempre associado à sua época e ao seu próprio universo - para cativar o público. Por isso mesmo, a cantora poderia ter tido mais rigor na seleção do repertório do set de baladas para que o roteiro ficasse inteiramente fiel ao conceito do show. Os recorrentes Bee Gees gravaram algumas baladas no auge dos embalos, como How deep is your love (Barry Gibb, Maurice Gibb e Robin Gibb, 1977), mas Gottsha preferiu forçar a barra ao cantar My cherie amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969), Ben (Don Black e Walter Scharf, 1972) e Goodbye yelow brick road (Elton John e Bernie Taupin, 1976), música dissociadas do universo e da época da disco music. Feita a ressalva, Discotheque flui bem, com direito a hits de Donna Summer (1948 - 2012) e Gloria Gaynor, entre outras rainhas norte-americanas das pistas da segunda metade dos anos 70. E também com boas surpresas como Zodiacs (Giorgio Moroder e Pete Bellotte, 1977), sucesso do álbum em que Roberta Kelly se deixou guiar pelos geniais produtores de Donna Summer, Giorgio Moroder e Pete Bellote, compositores do tema que tocou muito no Brasil nos dancin' days. Enfim, se você gosta de disco music, abra suas asas, solte suas feras e entre na festa afetiva deste show de Gottsha!!!

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Diferentemente do universo da dance music, no qual batidas de DJs e produtores protegem cantoras de vozes estéreis, havia intérpretes de vozes potentes no mundo da disco music. Eram cantoras negras - em sua maioria - que nunca negaram a força da raça ao dar voz a sucessos deste gênero que, em essência, foi (deliciosa) abordagem pop da black music norte-americana, feita com alta dose de eletrônica e vibe gay. A carioca Gottsha poderia ter feito frente às divas da disco music com sua voz potente se tivesse nascido nos Estados Unidos e já seguisse carreira por lá na segunda metade dos anos 70. Contudo, na época áurea da disco music, Sandra Maria Braga Gottlieb era pré-adolescente que, como toda sua geração, curtiu a trilha dos embalos de sábado à noite no Brasil dos dancin' days. Tanto que, ao iniciar carreira em 1993, Gottsha começou cantando sucessos dos anos 70 e, três anos após lançar um primeiro CD voltado para a dance music (No one to answer, Spotlight Records, 1995), Gottsha gravou em 1998 - pelo selo Paradise Records - EP com I love the nightlife (Disco 'round) (Alicia Bridges e Susan Hutcheson), sucesso da cantora norte-americana Alicia Bridges em 1978 que tinha voltado às pistas, a partir de 1994, no embalo de sua propagação na trilha sonora do filme Priscilla, a rainha do deserto. I love the nightlife (Disco 'round), por isso mesmo, está presente no roteiro de Discotheque, o show que Gottsha vem apresentando às terças-feiras deste mês de outubro de 2013 no Rio de Janeiro (RJ). Os globos pendurados no teto do palco do Teatro das Artes espelham o apego afetivo da cantora a um repertório que, a despeito de a disco music ter sido considerada modismo em sua era, atravessa gerações porque são músicas boas que fazem dançar - o que, aliás, torna inadequado o local do show, mais apropriado para casa com pista, sem mesas, cadeiras ou poltronas. Sem inventar moda, Gottsha dá voz a um punhado de músicas irresistíveis do tempo das discotecas, tocadas com fidelidade aos arranjos originais pelo quarteto que divide a cena com a cantora sob a direção musical do tecladista e arranjador Heberth Souza. São músicas, em sua maioria, difundidas em vozes de cantoras. A exemplo de If I can't have you (Barry Gibb, Maurice Gibb e Robin Gibb, 1977), que deve sua perenidade mais à gravação de Yvonne Elliman do que ao registro do trio Bee Gees, nome fundamental para a consolidação da era disco. Da mesma forma, Don't leave me this way (Kenneth Gamble, Leon Huff e Cary Gilbert, 1975) passou para a história associada à voz de Thelma Houston - por conta de emblemática gravação de 1976 - e não ao registro feito um ano antes por Harold Melvin & The Blue Notes. Em Discotheque, Gottsha reverencia o gênero e suas divas sem truques, se valendo somente de sua voz calorosa e do apelo desse repertório eterno - ainda que para sempre associado à sua época e ao seu próprio universo - para cativar o público.

Mauro Ferreira disse...

Por isso mesmo, a cantora poderia ter tido mais rigor na seleção do repertório do set de baladas para que o roteiro ficasse inteiramente fiel ao conceito do show. Os recorrentes Bee Gees gravaram algumas baladas no auge dos embalos, como How deep is your love (Barry Gibb, Maurice Gibb e Robin Gibb, 1977), mas Gottsha preferiu forçar a barra ao cantar My cherie amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969), Ben (Don Black e Walter Scharf, 1972) e Goodbye yelow brick road (Elton John e Bernie Taupin, 1976), música dissociadas do universo e da época da disco music. Feita a ressalva, Discotheque flui bem, com direito a hits de Donna Summer (1948 - 2012) e Gloria Gaynor, entre outras rainhas norte-americanas das pistas da segunda metade dos anos 70. E também com boas surpresas como Zodiacs (Giorgio Moroder e Pete Bellotte, 1977), sucesso do álbum em que Roberta Kelly se deixou guiar pelos produtores de Donna Summer, Giorgio Moroder e Pete Bellote, compositores do tema que tocou muito no Brasil nos dancin' days. Enfim, se você gosta de dance music, abra suas asas, solte suas feras e entre na festa afetiva deste show de Gottsha.

Alexandre Siqueira disse...

Boa tarde, Mauro,

Ótima resenha! Concordo que as baladas soam deslocadas do conceito do show e que um teatro tradicional não é o local mais apropriado para um espetáculo dessa natureza. Irei hoje à noite, pois adoro "disco music". Aliás, acho que você quis dizer isso (e não "dance music") na frase final, não é?

Abraço,
Alexandre Siqueira

Mauro Ferreira disse...

Isso mesmo, Alexandre. Grato pelo toque! Já consertei o texto. Abs, MauroF

Bruno Cavalcanti disse...

Voz poderosa, presença de palco marcante, além de ser um doce de pessoa. Gottsha é uma das vertentes mais fortes do teatro musical carioca. Espero que este show venha a SP para matarmos a saudade da disco music na voz de quem entende da coisa! Ótima crítica, Mauro.

CN disse...

Que bom que na curta estada que tive no Rio, pûde aplaudir esta grande estrela. Gottsha tem uma vibe única, voz afinada, potente, linda e uma presença de palco telúrica. Reverencia este repertório com cara própria, total carisma e músicos de primeira. Conseguiu fazer um revival que não soa datado. Sou seu fã! Um beijo do Carlos Navas

Luca disse...

Nunca ouvi falar, deve ser cantora aí do Rio, aqui em Sampa é ninguém