Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


terça-feira, 31 de maio de 2016

Discos 'Mestres Navegantes Pará 2' documenta sons de Bragança e Cametá

Viabilizado com recursos financeiros obtidos no projeto Natura musical, o álbum duplo Mestres Navegantes - Pará vol. 2 dá prosseguimento à série de discos documentais que registram ritmos e sons de manifestações culturais de regiões situadas longe demais das capitais do Brasil. Lançado neste mês de maio de 2016, o segundo álbum dedicado aos ritmos do Pará é o 19º título da série derivada da ampla pesquisa musical sobre a cultura popular brasileira feita desde 2008 pelo músico e produtor Betão Aguiar. Após documentar em 2014 e 2015 os diversos tipos de carimbó e boi bumbá que resistem nas regiões de Salgado Paraense e da Ilha do Marajó, no Pará, Aguiar se voltou para os grupos e mestres em atividade nas centenárias cidades paraenses de Bragança e Cametá. Ao todo, o álbum duplo apresenta 50 gravações feitas por 10 grupos. São músicas derivadas de manifestações folclóricas e de ritmos obscuros nos centros urbanos como chorado, folia, ladainha, marierrê, mazurca e retumbão. No disco dedicado à Bragança, cidade onde o toque da rabeca sobressai nas manifestações culturais da região, há registros de quatro grupos e mestres (Comitiva de São Benedito, Mestre Antonio, Pássaro Bragantino e Regional da Marujada). Já o disco com sons de Cametá reúne gravações de seis grupos (Bambaê do Rosário, Cinco de Ouro do Maú, Grupo Engole Cobra, Marrierrê do Carapajó, Os Linguarudos de Santana e o Samba de Cacete do Matias).

Bethânia canta 'Maria' no álbum que Chico Lobo lança em agosto via Kuarup

O cantor, compositor e violeiro mineiro Chico Lobo compôs em agosto de 2015 uma música, Maria, em tributo a Maria Bethânia. A composição foi feita por Lobo no embalo da emoção de ver e ouvir na voz da cantora baiana uma música que fizera e que lançara em 1996, Criação, revivida por Bethânia no bloco interiorano do show comemorativo dos 50 anos de carreira da intérprete, Abraçar e agradecer (2015). Maria faz parte do repertório do próximo álbum de Lobo - Viola de mutirão - Do sertão ao mundo, a ser lançado pelo artista no segundo semestre deste ano de 2016, possivelmente em agosto, em edição da gravadora Kuarup - em gravação feita na última sexta-feira, 27 de maio de 2016, com participação da própria Bethânia (como visto na foto de Marcos Hermes). Tributo à população cabocla brasileira, solidária nas ações cotidianas em benefício das próprias comunidades sertanejas, o álbum Viola de mutirão - Do sertão ao mundo é o 25º título da discografia de Chico Lobo. Uma gravação extra-oficial de Maria - feita somente com a voz e com a viola virtuosa do próprio Chico Lobo - já está disponível no YouTube desde a criação dessa canção em tributo a Maria Bethânia.

Titã Sergio Britto grava quinto disco solo com adesões de Menescal e Wanda

A IMAGEM DO SOM - A foto postada no Facebook de Sergio Britto mostra o titã (de óculos) em estúdio com Roberto Menescal, Wanda Sá e Guilherme Gê, produtor do quinto álbum solo de Britto. Três anos após lançar PuraBossaNova (Som Livre, 2013), CD elogiado publicamente por Menescal, o cantor e compositor paulistano grava disco que inclui participações do compositor e violonista carioca e da cantora de origem paulistana e alma musical carioca - nomes vinculados à Bossa Nova.

Grazie Wirtti promove com alma a interação sul-americana no disco 'Tungele'

Resenha de álbum
Título: Tunguele
Artista: Grazie Wirtti
Gravadora: Borandá
Cotação: 
* * * 1/2

 Apesar da proximidade geográfica do Brasil com países como Argentina, Chile, Peru e Uruguai, o intercâmbio musical entre estes países sempre foi rarefeito, ocasional, em que pesem conexões com artistas como a cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009). Milton Nascimento foi um dos poucos a promover a unidade musical sul-latino-americana na discografia que gravou a partir da segunda metade da década de 1970. Por isso, faz sentido a presença de Milton no primeiro álbum da cantora gaúcha Grazie Wirtti, Tunguele, disco que investe na interação musical entre países da América Latina. A voz do cantor ressoa celestial nos vocais que valorizam Memórias de Valparaíso, música feita pelo compositor e baixista Guto Wirtti - irmão de Grazie - em tributo ao poeta chileno Pablo Neruda (1904 - 1973). Nascida e criada na cidade gaúcha de Santa Maria (RS), no extremo sul do Brasil, Grazie - há nove anos radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) - expõe em Tunguele a vivência portenha (já que morou por três anos na Argentina, país representado no repertório por Fuimos, parceria de José Dames com Homero Manzi) e, sobretudo, a influência musical latino-americana que absorveu na infância vivida com o pai, o músico tradicionalista Antonio Gringo. Essa influência caseira justifica o registro em Tunguele de Arriba quemando el sol (1965), libelo antiguerra, um dos títulos mais conhecidos do politizado cancioneiro da compositora chilena Violeta Parra (1917 - 1967). A percussão calorosa de Fabrício Reis ajuda Grazie a conservar a chama do tema. Tunguele é disco impregnado da lírica e melancólica alma musical sul-americana. Com voz grave e encorpada, Grazie parece espalhar o tempo e o vento gaúcho enquanto desbrava a melodia a letra de Campo aberto (Guto Wirtti). A bela voz da cantora também cai bem em Madreselvas, canção peruana de autoria desconhecida. Madreselvas é a composição mais bonita dentre as 11 gravadas por Grazie em Tunguele, cuja música-título - da lavra do compositor uruguaio Eduardo Mateo (1940 - 1990) - ergue a ponte que religa a África à América do Sul. Mateo também é o compositor de outra música do disco, Esa tristeza (2008), título póstumo do cancioneiro do artista uruguaio. Além de canção do uruguaio Jorge Drexler (Don de fluir, de 2004), Grazie revive tema da folclorista peruana María Isabel Granda Larco (1920 - 1983), conhecida como Chabuca Granda e representada em Tunguele por Cardo o ceniza, música composta em 1966 em tributo a Violeta Parra. Gravado em estúdio de Araras (RJ), sob direção musical de Guto Wirtti, Tunguele é disco que mescla cantos em português e espanhol com sotaque que soará difícil para ouvidos brasileiros distantes do universo musical de países como o Peru. Nem todo o repertório cativa. Mas Tunguele é um disco que merece atenção porque há alma nas composições e na voz quente de Grazzie Wirti.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Acidente de carro tira de cena o cantor sertanejo Renan Ribeiro, aos 26 anos

Cantor sertanejo nascido em Araras (SP) há 26 anos, mas radicado em Conchal (SP), o paulista Renan Ribeiro (1990 - 2016) lançaria hoje uma gravação de Gatinha manhosa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965), música lançada pelo grupo Renato & seus Blue Caps que fez mais sucesso há 50 anos, em 1966, na gravação sequencial de Erasmo Carlos, um dos compositores da canção. Mas Renan não teve tempo de ver Gatinha manhosa miar na web no tom sertanejo. Renan saiu de cena por volta das 22h da noite de ontem, 29 de maio de 2016, em acidente de carro na cidade de Mogi Mirim (SP). Semifinalista da quarta edição do programa The voice Brasil, exibida em 2015 pela TV Globo, Renan iniciou a carreira ainda na infância, formando com o pai Edson Ribeiro a dupla Edy & Renan.  Em carreira solo desde 2010, Renan era voz emergente no universo sertanejo.

Rodrigo Bittencourt grava quarto disco em Curitiba com produção de Maycon

Quatro anos após apresentar Casa vazia (Independente, 2012), o cantor, compositor, escritor e cineasta carioca Rodrigo Bittencourt grava o quarto álbum solo em Curitiba (PR), no estúdio de Xandão, guitarrista do grupo carioca O Rappa. Produzido por Maycon Ananias (à esquerda na foto tirada com Bittencourt), o álbum se chama Pós-baby, nome da música que abre o disco e que cria uma história para Baby, personagem-título da canção de Caetano Veloso lançada em 1968. Quatro das oito músicas previstas no álbum já estão gravadas com músicos curitibanos. Além de Pós-baby, Bittencourt já registrou Lionel (música em inglês em cuja letra o compositor descreve uma paixão entre dois homens, um escritor e um modelo francês) e as regravações da balada The river (outra música em inglês, lançada por Bittencourt no álbum anterior Casa vazia) e da famosa chanson Le temps (1964), música em francês, do repertório do cantor e compositor francês Charles Aznavour.

Feito com Barenbein, 'Indivíduo lugar' cava espaço para canto de Joana Flor

Resenha de álbum
Título: Indivíduo lugar
Artista: Joana Flor
Gravadora: Genesis / Tratore
Cotação: * * * 1/2

Cantora e compositora carioca que se radicou em 2004 na cidade de São Paulo (SP), onde formou o já dissolvido trio Joana Flor e seus Dois Maridos, Joana Flor promove o primeiro álbum solo neste primeiro semestre de 2016. Indivíduo lugar chegou a rigor ao mercado fonográfico em 2015 - nas plataformas digitais e em edição física em CD distribuída via Tratore - após os EPs independentes Viva (2012) e Em progresso (2014). Ainda com frescor, o CD - que tem status de álbum, embora tangencie o formato de EP por ter somente oito faixas - chama atenção de cara por destacar na ficha técnica, como coprodutor, o nome de Manoel Barenbein. Sim, Joana Flor formatou Indivíduo lugar com  o produtor do mítico álbum Tropicália ou Panis et Circensis (Philips, 1968), o disco-manifesto do movimento arquitetado por Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1967. Curiosamente, é com samba de compositor contemporâneo de Caetano e Gil, mas nada associado à Tropicália, que Flor desabrocha na abertura de Indivíduo lugar, disco que alinha quatro releituras na primeira metade e quatro músicas autorais no que pode ser entendido como espécie de lado B do álbum. Só que o samba lírico de Chico Buarque, A rita (1966), ganha a atitude incisiva do rock. As guitarras tocadas pela própria Joana Flor se afinam com o canto mais raivoso do que lamentoso da intérprete na letra que se queixa da partida da Rita. É com as armas desse rock e com o toque áspero da guitarra que Flor também dispara abordagem de Feito gente, música de Walter Franco que abriu o segundo álbum do inquieto artista, Revolver (Continental, 1975). Ainda como intérprete, Joana Flor aborda Samba erudito (Paulo Vanzolini, 1967) na cadência bonita do gênero, atravessada intencionalmente pelo toque amaxixado do piano de Matheus Alvisi. Com maior ousadia estilística e menor poder de sedução, Flor envolve o samba-rock Zamba ben (Marku Ribas, 1973) - grafado equivocadamente como Zamba Bem na contracapa e no encarte do disco - em clima de bossa nova. Do lote de canções autorais, menos cativantes do que as músicas alheias, a já gravada Sine qua non (Joana Flor, 2012) ganha levada de samba-rock. Mas é Cores (Joana Flor, 2015) - um xote ambientado em atmosfera de fado pelo toque da guitarra portuguesa de Vinicius Almeida - o título mais reluzente do lote autoral completado com Nuvens (Joana Flor, 2015) e com Película (Joana Flor, 2015), música cantada em espanhol. No todo, Indivíduo lugar cava bom espaço para a voz de Joana Flor - mais como intérprete estilosa e criativa de músicas alheias do que como compositora.

Primeiro álbum de Corina Magalhães mapeia contribuição mineira ao samba

Em verso do Samba da benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966), o poeta decretou há 50 anos que o samba nasceu lá na Bahia. O mesmo poeta - o carioca Vinicius de Moraes (1913-1980) - caracterizaria equivocadamente a cidade de São Paulo (SP) como o túmulo do samba. Mas o fato é que, mesmo que tenha nascido na Bahia, o samba cresceu e apareceu entre os morros e os asfaltos da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Só que, nessa cidade, muitos compositores mineiros - bambas na arte de fazer música - contribuíram decisivamente para a popularização do samba. A cantora Corina Magalhães mapeia a contribuição mineira ao samba no primeiro álbum, Tem mineira no samba (Independente, 2015), ao longo de regravações de 13 sambas de compositores das Geraes. Um dos 14 sambas, Guerreira (1978), é da lavra dos cariocas João Nogueira e Paulo César Pinheiro, mas tem presença justifica no repertório por ter sido lançado e propagado na voz da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983). O título do disco alude à origem da cantora nascida em Cambuí (MG), mas a mineirice é tanto da cantora quanto dos compositores. Montando painel que vai de Ary Barroso (1903 e 1964) a Vander Lee, passando por Ataulfo Alves (1909 - 1969) e Affonsinho, Corina cai com leveza no suingue dos arranjos de Edu Malta - baixista e produtor do disco - para dar voz a sambas de bambas como Geraldo Pereira (1918 - 1955) e João Bosco, triplamente representado no disco por A nível de... (1982), Casa de marimbondo (1975) e Prêt-à-porter de tafetá (1984), três tabelinhas com Aldir Blanc. O seminal Ary também aparece em dose tripla com Camisa amarela (1939), Faceira (1931) e Morena boca de ouro (1941). Apesar da casual origem carioca, Milton Nascimento é compositor de alma mineira que também caiu no samba com o conterrâneo Fernando Brant (1946 - 2015), parceiro em Aqui é o país do futebol (1970). E por falar em futebol, Corina faz descer redonda a bola de Galo e Cruzeiro (1999), de Vander Lee, e repõe em campo bom samba de Affonsinho,  Enfeitiçado (2009), lançado na voz suave de Aline Calixto, cantora associada a Minas Gerais, onde se criou e acumulou vivência musical, mas de origem acidentalmente carioca.

domingo, 29 de maio de 2016

Adolfo saúda em 'Tropical infinito' jazzistas que influenciaram bossa-novistas

Lançado neste mês de maio de 2016, em edição independente do selo AAM distribuída nos Estados Unidos e no Brasil (no mercado nacional via Rob Digital), o 25º álbum de Antonio Adolfo, Tropical infinito, é homenagem do compositor e pianista carioca a jazzistas norte-americanos que influenciaram - como músicos e como compositores - as gerações de bossa-novistas que emergiram no início da década de 1960 no rastro da revolução estética feita por João Gilberto em 1958. Entre quatro temas de lavra própria (Cascavel, Luar da Bahia, Partido leve e Yolanda, Yolanda), Adolfo aborda temas do saxofonista de hard bop Benny Golson (Killer Joe e Whisper not), do pianista Horace Silver (1928 - 2014) - de quem o músico carioca revive Song for my father (1965) - e do saxofonista Oliver Nelson (1932 - 1975), representado no repertório por Stolen moments (1961). Adolfo toca o piano e assina a produção e os arranjos de Tropical infinito, disco gravado pelo músico em dezembro de 2015, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), com trio de metais formado por Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Martins (saxofone alto e sax soprano) e Serginho Trombone. O fino repertório de nove músicas do álbum Tropical infinito é completado por All the things you are (Jerome Kern e Oscar Hammerstein, 1939), o standard da canção norte-americana.

Um dos vocalistas do Fundo de Quintal, Mário Sérgio sai de cena aos 57 anos

 Apesar da origem paulistana, Mário Sérgio Ferreira Brochado (10 de dezembro de 1958, São Paulo - SP / 29 de maio de 2016, Nilópolis - RJ) foi cantor, compositor e cavaquinista mais ligado ao samba e aos bambas do Rio de Janeiro (RJ) do que ao samba de São Paulo. É que Mário Sérgio foi por mais de 20 anos um dos  vocalistas do Fundo de Quintal - grupo carioca no qual ingressou em 1990, do qual saiu em 2008 e para o qual retornou em 2013, a tempo de gravar o último álbum de estúdio do Fundo de Quintal, Só felicidade (LGK Music / Radar Records, 2014). O disco acabou sendo o derradeiro título da discografia de Mário Sérgio, que saiu de cena na madrugada deste domingo, 29 de maio de 2016, em Nilópolis (RJ), município da Baixada Fluminense (RJ), vítima de complicações decorrentes de linfoma no pâncreas. Antes de integrar o Fundo de Quintal, Sérgio - estudante de violão clássico na infância - ganhou a vida como fuzileiro naval (quando já morava na cidade do Rio de Janeiro) e se formou em economia e administração de empresas até que decidiu dedicar a vida ao samba, ritmo que divulgou por um tempo nos quatro cantos do mundo como integrante de grupo italiano que viajava com espetáculo calcado no samba. Na volta, Mário Sérgio entrou no Fundo de Quintal. Compositor que teve músicas gravadas desde a segunda metade de 1987 por nomes como o cantor paulistano Reinaldo, Mário Sérgio ascendeu nas quadras e terreiros ao longo dos anos 1990, década em que atuou como um dos vocalistas do Fundo de Quintal. Já em 1990 o samba Mania da gente - de Mário Sérgio com Carica e Luizinho SP - batizou o quinto álbum solo de Zeca Pagodinho. Em 1991, Mário Sérgio bisou o feito: samba composto por ele em parceria com Sereno, Pixote, deu nome ao sexto álbum solo de Pagodinho. No ano seguinte, Pagodinho reiterou o aval ao artista ao batizar o terceiro álbum consecutivo, Um dos poetas do samba (BMG, 1992), com o nome de samba composto por Mário Sérgio - no caso, com Capri e Wilson Moreira. Como um dos vocalistas, compositores e músicos do Fundo de Quintal, o artista teve naturalmente várias músicas gravadas pelo grupo. Uma das que obteve maior sucesso foi Amor dos deuses (Mário Sérgio e Ronaldinho, 1995). O samba Amor dos deuses seria registrado por Sérgio no álbum solo gravado e lançado por ele no período em que esteva fora do Fundo de Quintal, Nasci para cantar e sambar (LGK Music / Som Livre, 2009), disco no qual deu novas asas a Fada (Mário Sérgio e Luiz Carlos da Vida, 1995). O álbum não obteve o sucesso esperado e Sérgio acabou voltando para o Fundo de Quintal. Mesmo não tendo feito parte do Fundo de Quintal na década do auge artístico do grupo, os anos 1980, Mário Sérgio sai hoje de cena com o nome inscrito na vasta galeria do samba.

Eis a capa da compilação que festeja os 75 anos - de vida - de Erasmo Carlos

Erasmo Carlos vai completar 75 anos de vida no próximo domingo, 5 de junho de 2016. Para festejar a data, o cantor e compositor carioca vai lançar, somente em edição digital, uma inédita coletânea intitulada Erasmo 75. Criação de Wendel Verza, a capa da compilação - vista na foto acima - foi escolhida mediante concurso promovido na web pelo Tremendão. Erasmo 75 vai chegar às plataformas digitais em junho, numa edição da gravadora do artista, a Coqueiro Verde Records.

Elba, Fafá, Lucy e Fagner tiram ao vivo versos de padre Fábio do esconderijo

♪ Em março de 2015, Fábio de Melo lançou um dos melhores álbuns da discografia cristã do padre mineiro. Produzido por José Milton com estilo próximo da MPB e com a participação de sete cantores, o disco Deus no esconderijo do verso (Sony Music, 2015) gerou desdobramento lançado um ano depois em CD, DVD e em edição tripla que junta CD duplo e DVD. Trata-se do registro ao vivo do show feito pelo padre cantor e compositor em 24 de novembro de 2015 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Três dos sete cantores convidados do belo disco de estúdio repetiram ao vivo no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro as participações. Elba Ramalho, Fafá de Belém e Fagner cantaram com Fábio de Melo na gravação ao vivo as canções Oculto e revelado, O tempo não espera ninguém e Perfeita contradição, respectivamente. Ao trio, o padre agregou a cantora paraibana Lucy Alves, convidada a entrar em cena em Lamentos imperfeitos (Padre Fábio de Melo, 2007). O espetáculo perpetuado no CD e DVD Deus no esconderijo do verso - Ao vivo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Sony Music, 2016) rebobina no roteiro a maioria das músicas do álbum de 2015 ao mesmo tempo em que adiciona à pregação sonora composições como Palavra e som (Altay Veloso e Paulo César Feital, 1996) - música lançada há 20 anos - e Ser menino e ser amado, tema de autoria do gaúcho Zé Caradípia, compositor de Asa morena (1982), sucesso na voz da cantora Zizi Possi. Em sintonia com o tom de MPB do projeto, Fábio de Melo também dá voz a canções como Onde Deus possa me ouvir (Vander Lee, 2002), Um violeiro toca (Almir Sater e Renato Teixeira, 1989) e Bola de meia, bola de gude (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1980).

sábado, 28 de maio de 2016

Mauro Senise toca (bem...) 13 composições de Gil no álbum 'Amor até o fim'

Após álbuns dedicados aos cancioneiros de compositores como Dolores Duran (1930 - 1959), Edu Lobo, Noel Rosa (1910 - 1937) e Sueli Costa, o saxofonista e flautista carioca Mauro Senise dá outro sopro de vitalidade ao tocar a obra plural do compositor baiano Gilberto Gil no álbum Amor até o fim. Lançado pela gravadora Fina Flor neste mês de maio de 2016, em edição dupla que agrega DVD com o making of da gravação do disco, o CD transita por 13 temas do cancioneiro do compositor baiano em seleção que vai de 1965 a 1983. Revezando-se entre a flauta, o sax alto, o sax soprano e o piccolo, instrumento com que Senise faz circular o popular Expresso 2222 (1972) no fecho do álbum, o músico - de 66 anos completados no último dia 18 de maio de 2016 - apresenta abordagem instrumental da obra de Gil. A única música de Gil rebobinada com letra - no caso, declamada pelo próprio cantor e compositor em participação avalizadora do tributo - é a canção existencialista Preciso aprender a só ser (1973). Na flauta, Senise leva o samba-título Amor até o fim (1966), a sinuosa Ladeira da preguiça (1973), a apaixonada canção Flora (1981) e o samba cartão-de-visitas Eu vim da Bahia (1965). Com o sax soprano, o músico sopra a beleza melódica de Drão (1982), segue a veloz Procissão (Gilberto Gil e Edy Star, 1967) em andamento de forró, refaz Refazenda (1975) e viaja pelo toque de Oriente (1973). Com o sopro sonoro do sax alto, Senise cai no samba Mancada (1967), alinhava o lirismo de A linha e o linho (1983), reza pela cartilha zen de Se eu quiser falar com Deus (1980) e dá o toque existencialista da já mencionada Preciso aprender a só ser. No todo, Senise toca Gil em Amor até o fim com respeito à arquitetura melódica das 13 composições. O músico gravou o disco de forma gregária, ao lado de feras da música instrumental brasileira. O virtuoso time de arranjadores do álbum inclui o acordeonista Kiko Horta e os pianistas Cristóvão Bastos, Gabriel Geszti, Gilson Peranzzetta e Jota Moraes (no vibrafone e nos arranjos de Expresso 2222 e Oriente). Mauro Senise toca Gilberto Gil com alma e com amor, do início ao fim...

Trilha sonora de filme destaca canção inédita gravada por Milton Nascimento

A IMAGEM DO SOM - Extraída de vídeo postado na página do filme O outro lado do paraíso no Facebook, a foto flagra Milton Nascimento tocando violão no estúdio onde fez a gravação de música inédita, Ventos irmãos. Composta por Patrick de Jongh, autor da trilha sonora do longa-metragem filmado sob direção de André Ristum, a canção Ventos irmãos foi gravada pelo cantor e compositor carioca (de vivência mineira) para a trilha sonora do filme inspirado em obra do escritor mineiro Luiz Fernando Emediato, amigo de Milton. Na gravação, Milton também tocou acordeom. O filme O outro lado do paraíso entrará em circuito na próxima quinta-feira, 2 de junho de 2016.

Com desenvoltura, Clécia Queiroz samba nos quintais do Recôncavo Baiano

Resenha de álbum
Título: Quintais
Artista: Clécia Queiroz
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *

Nascida em Ilhéus (BA), mas radicada em Salvador (BA) desde os 13 anos de idade, a cantora baiana Clécia Queiroz permanece com desenvoltura na roda dos sambas do Recôncavo. Sete anos após lançar disco com o cancioneiro autoral do compositor baiano Roque Ferreira, Samba de Roque (Independente, 2009), Clécia amplia mais a roda no terceiro álbum, Quintais, lançado de forma independente neste mês maio de 2016. Com sambas brejeiros como Anjo fugido (Roberto Mendes e J. Velloso) e Flor d'água (Samir Trindade), o ótimo repertório gira em torno do samba de roda do Recôncavo Baiano - oferecendo iguarias como Caruru (Samir Trindade) - mas abarca outros ritmos afro-brasileiros, como o ijexá que conduz a levada do medley Homenagem a Oxum, acoplado no disco a Salve Xangô, faixa-vinheta gravada com a voz do compositor do tema, Sú de Oiá. A roda rítmica do álbum é larga a ponto de abranger a delicadeza de Me salve de mim (Alexandre Leão, Manuca Almeida e J. Velloso) e a ternura lúdica de Pedra, papel e tesoura (Samir Trindade), faixa encorpada com coro infantil e com trecho da Cantiga do caminho, tema de domínio público. Em Águas de Oxum (J. Velloso e Roque Ferreira), Quintais também mergulha no balanço da chula em gravação feita com o toque do acordeom de Targino Gondim. Compositor de postura ferrenha na preservação dos ritmos do Recôncavo, Roque Ferreira é nome recorrente neste tradicional terceiro disco de Clécia Queiroz, cantora de voz suave que debutou no mercado fonográfico brasileiro há 19 anos com a edição do álbum Chegar à Bahia (Independente, 1997). Em Quintais, Roque é parceiro de J. Velloso no samba Areia branca, parceiro de Walmir Lima no manemolente Samba direitinho, parceiro da própria Clécia Queiroz na música-título Quintais - tema lírico que evoca a placidez rítmica do samba-canção criado no Rio de Janeiro dos anos 1920  - e, sozinho, assina Nobreza (incursão mais nítida da cantora pelo samba-canção) e o serelepe afro-samba Amurê, aditivado na gravação de Clécia com trecho do poema Essa nega fulô, de Jorge de Lima (1893 - 1953). Apesar do giro por outros ritmos, como o africano ilú, Quintais está fincado na roda do samba do Recôncavo, mas sem rigidez fronteiriças, como explicita a participação de Dona Nadir, voz do samba de Sergipe que canta Sodade, tema de domínio público, na introdução de Samba bom (Alexandre Leão e J. Velloso). A permanência na roda justifica inclusive o título do disco, pois é nos quintais das casas que os baianos da região se reúnem para cantar samba. Fechado com medley de sambas de roda de domínio público, o repertório de Quintais foi selecionado por Clécia com a colaboração do historiador e músico Vítor Queiroz, sobrinho da artista. Já os arranjos foram feitos por instrumentistas baianos como Bira Monteiro, Dudu Reis, Marcos Bezerra e Sebastian Notini com fidelidade aos cânones do samba à moda baiana. O resultado é um disco vivaz, sedutor e devoto do melhor samba da Bahia. Entre na roda de Clécia Queiroz. O samba é bom.  Aliás, o samba é ótimo.

Disco com a trilha da novela 'Haja coração' inclui gravação inédita de Joanna

Novela programada pela TV Globo para estrear na próxima terça-feira, 31 de maio de 2016, Haja coração vai entrar no ar com o primeiro volume da trilha sonora já disponível nas plataformas digitais e em edição física em CD distribuído pela gravadora Som Livre. Uma das (poucas) novidades da trilha é gravação inédita de Joanna, cantora carioca cujo último álbum, dedicado à obra autoral de Padre Zezinho, saiu em 2011. Passados cinco anos, Joanna volta ao mercado fonográfico com registro de Tudo menos esse adeus, balada de Altay Veloso, Tutuca Borba e Cacá Morais lançada há 23 anos na voz de Elymar Santos no álbum Vida de cigano (EMI-Odeon, 1993). Com cordas e teclados, a gravação de Joanna tem arranjo à moda das canções românticas de Roberto Carlos. Além do fonograma inédito da cantora, o CD Haja coração destaca gravação do samba Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa e Oswaldo Molles, 1960), na voz do cantor paulista Péricles, entre fonogramas bem recentes de Anitta (Bang), Biel (Química), Carlinhos Brown (Dois grudados, com participação de Arnaldo Antunes), Ivete Sangalo (O farol), Henrique & Juliano (Na hora da raiva) e da dupla Victor & Leo (10 minutos longe de você).

sexta-feira, 27 de maio de 2016

'Açoite' levanta a voz de Juliana Amaral em um desalentado tempo de guerra

Resenha de álbum
Título: Açoite
Artista: Juliana Amaral
Gravadora: Circus
Cotação: * * * *

Quarto álbum de Juliana Amaral, Açoite é um disco longo. As 13 músicas do disco - lançado neste mês de maio de 2016 em edição da Circus - totalizam 68 minutos. Percorrer a trilha incisiva seguida pela cantora e compositora paulistana no sucessor de SM, XLS (Circus, 2012) exige atenção para reparar nas flores e espinhos que compõem denso repertório que transita contundente entre os territórios urbano e rural, revitalizando Matita Perê (Antonio Carlos Jobim e Paulo César Pinheiro, 1973) em regravação que dá novo sentido aos versos do poeta. Como sugere outra regravação, a de Carta (Tom Zé, 1978), Açoite manda notícias do mundo doído e sofrido de cá, de um Brasil em decomposição de valores morais e éticos. Através de repertório que desnuda a face rude de um país povoado por gente que espera nas filas dos pontos de ônibus procurando aonde ir, como Juliana alerta ao pegar Um trem para as estrelas (Gilberto Gil e Cazuza, 1987) como Cristo deste Brasil sem luz, Açoite expõe a personalidade forte da intérprete ao mesmo tempo em que expele o pus da sociedade urbana que deixa homens como Cosme - personagem-título do inédito samba do compositor paulistano Douglas Germano - agonizar ao relento na cinza de garoa. Ao cantar a agonia de Cosme, Juliana enxerta fragmento de O cortejo (1922), poema de Mário de Andrade (1893 - 1945) na gravação para realçar o desvario da Pauliceia e da Brasileia. Em sintonia com o sombrio painel montado por Açoite, Desvão (Juliana Amaral e Humberto Pio) reitera o desencanto do canto de Juliana Amaral, cantora de repertório mais incomum do que a voz eficaz, afinada e atenta ao significado de cada verso. O bloco da artista vai para rua sabendo a quem seguir e açoitar na folia desvairada. "Por trás da máscara é tudo tão igual", sentencia a cantora-colombina na inédita Marcha do homem-bala, tema carnavalesco em que o recorrente compositor Douglas Germano dialoga musical e poeticamente com a Noite dos mascarados (Chico Buarque, 1967). Açoite segue o bloco do desalento. Parceria de Juliana Amaral com Douglas Germano, o samba-canção Pra rua vai direto ao ponto. "Ando mais pra ir / Que pra ver chegar / Mais para ser o grito / Ser a carne viva / Que ser voz altiva / Do que vive morto", contabiliza a intérprete, voz da desesperança. Contudo, como sugere Léo (Milton Nascimento e Chico Buarque de Hollanda, 1978) na gravação que cita Clube da esquina 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1972), Açoite é disco que dá um pulo no mato entre passos firmes na estrada urbana. Dentro da trilha rural, na qual Rio de lágrimas (Tião Carreiro, Piraci e Lourival dos Santos, 1971) corre com fluência, a viola chora em Padecimento (Carreirinho, 1965), moda cantada com sotaque caipira por Juliana em dupla com o irmão João Paulo Amaral, violeiro, violonista e guitarrista da banda do disco, formada por Alberto Luccas (baixo acústico), Gustavo Bugni (teclados) e Rodrigo Digão Braz (bateria). É essa banda que, com os vocalises de Juliana, amplifica Brado aberto (João Paulo Amaral), tema sem letra que alimenta a sensação de que Açoite é disco que peca pelo excesso. Tivesse menos duas ou três músicas, o álbum roçaria a perfeição. Vassalo do samba (Ataulfo Alves, 1966), por exemplo, é boa lembrança que destoa do conceito geral de Açoite e se ajustaria mais ao segundo álbum da cantora, Juliana samba (Lua Music, 2007). Mas, como dito, a trilha é longa e por vezes asfixiante como Gases puros (Lincoln Antonio e Stella do Patrocínio) e como o grito parado no ar ao fim de Léo. Já com 23 anos de carreira e quatro álbuns lançados em discografia iniciada com a edição de Águas Daqui (Lua Music, 2002), Juliana Amaral levanta a voz em Açoite para retratar um tempo de guerra. Por vezes, Açoite soa até como um disco de tempos idos, remetendo às sombras das décadas de 1960 e 1970. Mas o tempo de guerra gira num instante e eis que chega a roda viva da vida, carregando Açoite e a viola para cá - para os sofridos dias de hoje.

Primeiro disco com trilha de 'Velho Chico' inclui Caetano, Gal, Jeneci e Pethit

Cultuada pelos telespectadores de novelas como uma das melhores trilhas sonoras do gênero nos últimos anos, a seleção musical de Velho Chico - trama rural exibida pela TV Globo às 21h desde 14 de março deste ano de 2016 - começa, enfim, a ser editada em disco. O primeiro volume da trilha sonora de Velho Chico está sendo lançado hoje, 27 de maio, em edição da gravadora Som Livre. O disco reúne 14 dos mais de 40 fonogramas relacionados na trilha sonora oficial da novela. Cinco gravações são inéditas em disco. Eis - na ordem do álbum - as 14 gravações de Velho Chico vol. 1:

1. Tropicália (Caetano Veloso, 1967) - Caetano Veloso (gravação inédita)
2. Gemedeira (Robertinho de Recife e José Carlos Capinam, 1980) - Amelinha
3. Me leva (Renata Rosa, 2003) - Renata Rosa
4. Flor de tangerina (Alceu Valença, 2002) - Alceu Valença
5. Enquanto engoma a calça (Ednardo e Climério, 1979) - Ednardo
6. Veja (Margarida) (Vital Farias, 1975) - Marcelo Jeneci (gravação inédita)
7. Como 2 e 2 (Caetano Veloso, 1971) - Gal Costa
8. L'Étranger (Forasteiro) (Thiago Pethit e Hélio Flanders, 2010, em versão em francês de
    Dominique Pinto e Rafael Barion, 2016) - Thiago Pethit (com Tiê) (gravação inédita)

9. I-Margem (Paulo Araújo e João Filho, 2016) - Paulo Araújo (gravação inédita)
10. Incelença pro amor retirante (Elomar, 1973) - Xangai (com Elomar)
11. Serenata (Standchen) (Franz Schubert e Ludwig Rellstab, 1826, em versão em português
      de Arthur Nestrovski, 2005) - Chico César (gravação inédita)

12. Suíte Correnteza - Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai
      - Barcarola do São Francisco (Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, 1977) /
      - Talismã (Alceu Valença e Geraldo Azevedo, 1972) /
      - Caravana (Alceu Valença e Geraldo Azevedo, 1975)

13. Triste Bahia (Caetano Veloso sobre versos de Gregório de Matos, 1972) - Caetano Veloso
14. Senhor cidadão (Tom Zé, 1971) - Tom Zé

O Rappa lança gravação acústica de show em que apresenta quatro inéditas

Com lançamento programado pela gravadora Warner Music para a próxima sexta-feira, 3 de junho de 2016, o CD e o DVD O Rappa Acústico Oficina Francisco Brennand apresenta quatro inéditas - Intervalo entre carros, Na horda, Sentimento e Uma vida só - no roteiro do show captado no Recife (PE). O cantor e compositor cearense RAPadura Xique Chico participa do registro ao vivo, entrando em cena no medley que junta Reza vela (Marcos Lobato, Rodrigo Vale, Marcelo Falcão, Marcelo Lobato, Lauro Farias e Xandão, 2003) com Norte-Nordeste me veste (2010), sucesso do repertório autoral do rapper cearense. O medley é o segundo single do projeto acústico d'O Rappa, sucedendo o single inicial editado com a inédita Uma vida só. A gravação ao vivo também vai ser lançada em edição dupla que agrega CD e DVD. Em O Rappa Acústico Oficina Francisco Brennand, o grupo carioca rebobina prioritariamente músicas dos dois últimos álbuns de estúdio, 7 vezes (Warner Music, 2008) e Nunca tem fim (Warner Music, 2013),  entre hits iniciais.

Álbuns gravados por Elza na Tapecar nos anos 1970 são relançados em caixa

Em 2010, o selo carioca Discobertas lançou edições em CD de seis álbuns gravados por Elza Soares entre 1974 e 1988 pelas gravadoras Tapecar, Som Livre e RGE. Decorridos seis anos, o mesmo selo lança caixa - programada para chegar ao mercado em junho de 2016 - com edições em CD de quatro daqueles seis álbuns. A opção do produtor Marcelo Fróes foi encaixotar os álbuns lançados pela cantora carioca na extinta gravadora Tapecar entre 1974 e 1977. A caixa Elza Soares Anos 70 repõe em catálogo as edições em CD dos álbuns Elza Soares (1974), Nos braços do samba (1975), Lição de vida (1976), Pilão + raça = Elza (1977). Clique aqui para ler ou reler a resenha das seis reedições avulsas lançadas em 2010 no mercado via selo Discobertas.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sem alma, Diogo parece mero cantor de barzinho na quarta gravação ao vivo

Resenha de show - Gravação ao vivo de CD e DVD
Título: Alma brasileira
Artista: Diogo Nogueira (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 25 de maio de 2016
Cotação: * * 

Já a caminho dos primeiros dez anos de carreira fonográfica, a serem festejados em 2017, Diogo Nogueira já está mais para o pagode genérico do grupo Sorriso Maroto do que para o samba nobre do pai do cantor e compositor carioca, João Nogueira (1941 - 2000). Isso quando não soa como mero cantor de barzinho que empilha sucessos alheios no roteiro para entreter plateias pouco ou nada exigentes. Essa má impressão foi recorrente ao longo do show gravado ao vivo na noite de ontem, 25 de maio de 2016, para gerar o DVD e CD ao vivo Alma brasileira, programados para o segundo semestre do ano. Transformado em galã do samba jovem por conta da fina estampa, Diogo vem se debatendo entre os sambas dos mais frutíferos quintais cariocas e os triviais pagodes românticos. Chegou até a gravar magistral álbum com o bandolinista Hamilton de Holanda, Bossa negra (Universal Music, 2014), mas, na sequência, recuou e voltou a dar voz ao samba mais banal no álbum solo Porta-voz da alegria (EMI / Universal Music, 2015). O projeto Alma brasileira deriva do show da turnê deste disco de 2015. Mas delimita o início de novo trabalho fonográfico na carreira de Diogo. Sob a direção musical de Boris Farias, o cantor permaneceu em zona de conforto que acabou minimizando o valor dos nítidos progressos vocais do artista. Diogo está cada vez mais desenvolto em cena, dominando o palco e a plateia. A voz já soa expandida, em nada lembrando o intérprete inseguro dos primeiros shows. Por isso mesmo, é pena que tudo isso - e por tudo inclua-se na conta, além da voz, uma banda de 13 músicas e um sexteto de cordas - tenha sido posto em Alma brasileira a serviço de um repertório que diminui a relevância de Diogo Nogueira no universo pop nacional. A exemplo de Pé na areia (Rodrigo Leite, Diogo Leite e Caíque), as três músicas inéditas do roteiro estão mais para pagode populista - que lança mão de romantismo trivial para prender a atenção do público feminino do artista - do que para samba da estirpe de João Nogueira e Zeca Pagodinho, a cujo repertório Diogo recorreu várias vezes ao longo do show (clique aqui para ler o roteiro completo da gravação ao vivo). Com o pretexto de fazer no show uma "homenagem à música brasileira", em conceito tão vago quando fluido, Diogo derrapa sobretudo quando se afasta do universo do samba e passar a dar voz a sucessos da MPB como se o palco da casa Vivo Rio fosse um barzinho. Apesar dos evidentes progressos vocais, Diogo não tem maturidade emocional como cantor para encarar Beijo partido (Toninho Horta, 1975). Ele canta a música em tons demasiadamente altos, inadequados ao ritmo de samba-canção evidenciado pelo arranjo. E o que dizer da lamentável abordagem pagodeira de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)? Nem o grupo Sambô faria pior. Sim, Diogo já solta bem a voz nas estradas, mas essa voz parece ignorar o sentimento que há nos versos que canta. Foi difícil identificar a delicadeza poética de Codinome beija-flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, 1985) entre os teclados de Dodô Moraes e as cordas. A interpretação exibicionista de Sangrando (Gonzaguinha, 1980) também exemplificou o clima de barzinho, acentuado quando, após um dueto protocolar com Maria Rita em Beiral (Djavan, 1986), Diogo encadeou outros três sambas do compositor alagoano Djavan - Flor de lis (1976), Avião (1989) e Fato consumado (1975) - em medley que, por mais que tenha surtido efeito com o público, reiterou o tom populista do show dirigido por Raoni Carneiro com Afonso Carvalho e com o próprio Diogo Nogueira. Sem falar que Avião pousou mal no canto de Diogo. Mas isso pouco importou para o público cativo que, em determinado momento, ficou acalorado e gritou para o cantor-galã tirar a camisa. "Deliciosas", retribuiu Diogo em outro momento, fazendo charme e o jogo de sedução da plateia. O clima foi mesmo de barzinho. Não foi à toa que, já perto do fim do show, Diogo lançou mão até de infalível sucesso de Tim Maia (1942 - 1998), O descobridor dos sete mares (Michel e Gilson Mendonça, 1983), para fazer o público dançar. Em sintonia com o conceito genérico, os breves textos ditos em cena pelo cantor soaram rasos. Em contrapartida, Diogo - justiça seja feita - encontrou o tom certo de dois sambas de Toninho Geraes com Paulinho Lima, Alma boêmia (2010) e Se a fila andar (2014), sucessos dos pagodes cariocas. Entre oito músicas do trivial álbum Porta-voz da alegria, Inquilino do universo (Serafim Adriano e Liette de Souza, 1982) - tema do repertório do cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) revivido por Diogo em tom forrozeiro - e Cabô, meu pai (Moacyr Luz, Aldir Blanc e Luiz Carlos da Vila, 2003) - sobressaíram no roteiro por fugir do trilho óbvio do show. No bis, a participação vivaz de Beth Carvalho - em dois sambas carnavalizantes lançados pela cantora em álbum de 1983, Caciqueando (Noca da Portela) e Firme e forte (Efson e Nei Lopes) - valorizaram a gravação pela simples presença da cantora, referência de samba da melhor qualidade. O samba com o qual, aliás, Diogo recorreu na sequência do bis ao cantar medley que alocou vários sucessos da geração de sambistas projetados entre as décadas de 1970 e 1980 na quadra do bloco Cacique de Ramos. Almir Guineto, Jorge Aragão, Sombrinha e Zeca Pagodinho sempre cultivaram samba mais nobre do que o pagode a que Diogo Nogueira tem dado preferência nos álbuns da discografia solo. Alma brasileira - show gravado ao vivo com agilidade (em que pesem as pausas para secar o rosto do cantor) e apenas duas repetições (Codinome beija-flor e Sangrando) - é um produto feito de acordo com as leis do mercado fonográfico e da indústria da música. Como mostrou no disco e show Bossa negra (2014), Diogo Nogueira pode mais. Contudo, ao contrário do pai João Nogueira, ele parece ter submetido o poder da criação às leis do mercado.

Diogo canta Cazuza, Djavan, Gonzaguinha e Milton ao gravar 'Alma brasileira'

Compositor cuja obra é cantada e cultuada nos bares da vida, Djavan teve nada menos do que quatro sambas incluídos por Diogo Nogueira na gravação ao vivo do CD e DVD Alma brasileira, feita pelo artista carioca na cidade natal do Rio de Janeiro, na noite de ontem, 25 de maio de 2016. Na sequência do dueto esboçado com Maria Rita em Beiral (1986), o cantor e compositor apresentou medley em que encadeou três sambas de Djavan, Flor de lis (1976), Avião (1989) e Fato consumado (1975) como se o palco da casa Vivo Rio fosse um barzinho. Até Travessia (Milton Nacimento e Fernando Brant, 1967) - marco inaugural da carreira de Milton Nascimento - foi feita em clima de pagode após insossa interpretação de Beijo partido (Toninho Horta, 1975). Sob a direção musical de Boris Farias, o filho de João Nogueira (1941 - 2000) também transformou uma das mais belas canções de Cazuza (1958 - 1990) - Codinome beija-flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, 1985) - em pagode adornado com sexteto de cordas. Com o pretexto de fazer "homenagem à música brasileira" na quarta gravação ao vivo da discografia iniciada em 2007, Diogo deu voz a um repertório bem genérico que, entre dois sambas inéditos, também abarcou O descobridor dos sete mares (Michel e Gilson Mendonça), hit de Tim Maia (1942-1998), e Sangrando (Gonzaguinha, 1980) - canção entoada em tons altos, mas sem o sentimento de que fala a letra escrita em tributo a intérpretes com alma. Derivado da turnê promocional do álbum anterior do artista, Porta-voz da alegria (EMI / Universal Music, 2015), o show Alma brasileira foi gravado com 39 músicas no roteiro. Entre sucessos alheios e músicas do disco de 2015, uma surpresa foi Inquilino do universo (Serafim Adriano e Liette de Souza, 1982), tema do repertório do cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940-1996) revivido por Diogo em tom forrozeiro. Eis o roteiro seguido em 25 de maio de 2016 por Diogo Nogueira - em foto de Mauro Ferreira - no palco do Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), na gravação do show que originará o CD ao vivo e o DVD Alma  brasileira:

1. Porta-voz da alegria (André Renato e Luiz Cláudio Picolé, 2015)
2. Alma boêmia (Toninho Geraes e Paulinho Rezende, 2010)
3. Clareou (Serginho Meriti e Rodrigo Leite, 2014)
4. Pé na areia (Rodrigo Leite, Diogo Leite e Caíque, 2016) - música inédita
5. Cabô, meu pai (Moacyr Luz, Aldir Blanc e Luiz Carlos da Vila, 2003) /
6. Uma prova de amor (Nelson Rufino e Toninho Geraes, 2008) /
7. Quando a gira girou (Serginho Meriti e Claudinho Guimarães, 2006)
8. Inquilino do universo (Serafim Adriano e Liette de Souza, 1982)
9. A mil por hora (André Renato, Rhuan André, Gabriel Soares e Lucas Oliveira, 2015)
10. Beijo partido (Toninho Horta, 1975)
11. Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)
12. Codinome beija-flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, 1985)
13. Sangrando (Gonzaguinha, 1980)
14. Tim tim por tim tim (Rodrigo Leite e Serginho Meriti, 2016) - música inédita
15. Se a fila andar (Toninho Geraes e Paulinho Rezende, 2014)
16. Beiral (Djavan, 1986) - com Maria Rita
17. Flor de lis (Djavan, 1976) /
18. Avião (Djavan, 1989) /
19. Fato consumado (Djavan, 1975)
20. Paixão além do querer (Diogo Nogueira, Raphael Richaid e Inácio Rios, 2015)
21. Quem vai chorar sou eu (Serginho Meriti e Rodrigo Leite, 2013) 
      - com Zeca Pagodinho no telão
22. Nó na madeira (João Nogueira e Eugênio Monteiro, 1975)
23. Segue o baile (Luiz Cláudio Picolé e Flávio Cardoso, 2016) - música inédita
24. Pra amenizar teu coração (Dudu Nobre e Sombrinha, 2005) / 
25. Na boutique (Diogo Nogueira, Leandro Fab e Fred Camacho, 2015) /
26. Pra ninguém mais chorar (Dudu Nobre, Almir Guineto e Fred Camacho, 2008)
27. O descobridor dos sete mares (Michel e Gilson Mendonça, 1983)
28. Samba de Arerê (Xande de Pilares, Arlindo Cruz e Mauro Júnior, 1999)
29. Zé do Caroço (Leci Brandão, 1985)
Bis:
30. Firme e forte (Efson e Nei Lopes, 1983) /
31. Caciqueando (Noca da Portela, 1983) - com Beth Carvalho
32. Faixa amarela (Zeca Pagodinho, Jessé Pai, Luis Carlos e Beto Gago, 1997) /
33. Brincadeira tem hora (Beto Sem Braço e Zeca Pagodinho, 1986) 
34. Cabelo pixaim (Jorge Aragão e Jotabê, 1978)
35. Coração em desalinho (Monarco e Ratinho, 1986) /
36. Não quero saber mais dela (Almir Guineto e Sombrinha, 1984) /
37. Caxambu (Bidubi, Élcio do Pagode, Zé Lobo e Jorge Neguinho, 1986) /
38. Não sou mais disso (Zeca Pagodinho e Jorge Aragão, 1996)
39. Tristeza (Haroldo Lobo e Niltinho Tristeza, 1965)

Saudada por Diogo, Beth valoriza no Rio quarta gravação ao vivo do 'afilhado'

A IMAGEM DO SOM - A foto de Mauro Ferreira flagra Diogo Nogueira com Beth Carvalho no momento em que o cantor e compositor carioca recebeu a madrinha artística no palco da casa Vivo Rio, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde Diogo gravou o DVD e CD ao vivo Alma brasileira na noite de ontem, 25 de maio de 2016. A participação de Beth foi feita na abertura do bis. Vestida com as cores da Mangueira, a cantora carioca reviveu com Diogo Firme e forte (Efson e Nei Lopes, 1983) e Caciqueando (Noca da Portela, 1983), dois sambas carnavalescos lançados pela artista no álbum Suor no rosto (RCA-Victor, 1983). Após o vivaz número, feito com Beth e Diogo sentados, ambos ficaram de pé. Foi quando o cantor saudou a sambista de recém-completados 70 anos, lembrando que teve a primeira oportunidade profissional da carreira graças a Beth, que convidou o então desconhecido filho de João Nogueira (1941 - 2000) para cantar com ela o samba Poder da criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro, 1980) em registro de show feito por Beth em 1º de dezembro de 2005 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro para celebrar 40 anos de carreira. Dez anos e cinco meses depois, Diogo Nogueira - hoje já um nome popular no universo do samba - retribuiu o convite e chamou Beth para cantar na quarta gravação ao vivo da discografia do artista.

Diogo cai com Maria Rita no 'Beiral' - de Djavan - em gravação ao vivo no Rio

A IMAGEM DO SOM - Foi de braços abertos, como visto numa das fotos de Mauro Ferreira, que Diogo Nogueira recebeu Maria Rita no palco da casa Vivo Rio na noite de ontem, 25 de maio de 2016. O cantor e compositor carioca fez dueto com a cantora paulista na gravação do show que vai dar origem ao quarto DVD e CD ao vivo de Diogo, Alma brasileira. O filho de João Nogueira (1941 - 2000) e a filha de Elis Regina (1945-1982) trocaram elogios depois de cantarem Beiral, samba de Djavan, lançado pelo cantor e compositor alagoano no álbum Meu lado (CBS, 1986). O número em si soou burocrático. Mas, diante da plateia que encheu pista e camarotes da casa, o duo foi feito e captado somente uma vez na gravação ao vivo do show estreado na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Percussionista que ecoou sons do Maranhão, Papete sai de cena aos 68 anos

José de Ribamar Viana (8 de novembro de 1947, Bacabal - MA / 26 de maio de 2016, São Paulo - SP), o Papete, foi cantor, compositor e percussionista que ecoou os sons do Maranhão ao longo da carreira iniciada na década de 1960, quando ainda era adolescente, numa rádio de São Luís (MA). Embora tenha se radicado na cidade de São Paulo (SP) no fim dos anos 1960, Papete permaneceu em cena como um ativista propagador da música e da cultura do Maranhão em discos, shows, livros e oficinas. Até sair de cena na madrugada de hoje, aos 68 anos, vítima de câncer de próstata. O início da trajetória profissional do artista foi como cantor, ainda em São Luís (MA), mas, na sequência, Papete logo virou compositor. Em 1967, aos 20 anos de vida, compôs a primeira música, O bonde, que somente seria gravada 13 anos depois, pelo próprio artista, no álbum Água de coco (Discos Marcus Pereira, 1980). Mas foi como percussionista que o som de Papete extrapolou as fronteiras do Brasil, tendo sido ouvido em escala planetária. Na década de 1980, o artista chegou a ser apontado como um dos melhores percussionistas do mundo, tendo participado como músico de aclamado álbum da cantora italiana Ornella Vanoni (Uomini, CGD, 1983). Dentro do universo percussivo, Papete se especializou no toque do berimbau. Mas tocava outros instrumentos de percussão e era também baterista. Mago do berimbau e dos tambores, Papete tocou em discos de grandes nomes da música brasileira como Chico Buarque, Francis Hime e Ney Matogrosso, entre outros. Com Toquinho, a quem Papete conheceu em 1970 quando tocava na casa paulistana Jogral, o percussionista viajou o mundo em turnês. Contudo, embora tenha sido sempre requisitado desde os anos 1970 para tocar em discos e shows alheios, Papete construiu a própria obra autoral e uma discografia solo que nunca perdeu de vista a origem maranhense do artista. Iniciada há 41 anos com a gravação e edição do álbum Berimbau e percussão (Discos Marcus Pereira, 1975), essa discografia inclui títulos importantes como Bandeira de aço (Discos Marcus Pereira, 1978) e o já mencionado Água de coco. Editada por gravadoras nacionais e selos independentes, a obra fonográfica de Papete abrange títulos pela extinta gravadora Continental - Planador e Rompendo Fogo, de 1981 e 1990, respectivamente - e chega aos anos 2000, década em que o artista lançou o álbum Jambo (CPC-UMES, 2003), e à presente década de 2010. O último álbum, Sr. José, de Ribamar e outras praias..., saiu em 2013. Papete saiu ainda menino da cidade natal de Bacabal, no interior do Maranhão, mas os sons de Bacabal nunca saíram da alma do artista. É por isso que todo o Maranhão chora hoje a saída de cena de um artista que lutou muito para destacar o som e os ritmos do estado natal no vasto mapa da rica música produzida no Brasil.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

'MM3' expele as seivas de anti-canções no sangue tom carmim do Metá Metá

Resenha de álbum
Título: MM3
Artista: Metá Metá
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2
 Disco disponível para download gratuito e legalizado no site oficial do Metá Metá

"A imagem do amor / Não é para qualquer um", sentencia, reiteradas vezes, Juçara Marçal no refrão de A imagem do amor (Kiko Dinucci e Rodrigo Campos), terceira das nove músicas que compõem o repertório essencialmente inédito e autoral do terceiro álbum do Metá Metá, MM3, lançado hoje, 25 de maio de 2016. Entre dissonâncias, ruídos e ritmos alternados que culminam na polifonia que ocupa o último dos seis minutos da faixa, A imagem do amor discorre com crueza sobre o parto de criatura de beleza disforme. Em analogia, essa tal criatura bem poderia ser o sucessor dos EPs Metá Metá (Independente, 2015), Alakorô (Independente, 2013) e dos álbuns MetaL MetaL (Independente, 2013) e Metá Metá (Independente, 2012). O álbum parido hoje, de surpresa, pelo Metá Metá tem beleza disforme, pois segue o passo torto do trio formado por Juçara Marçal (voz), Kiko Dinucci (guitarra e voz) e Thiago França (saxofone). Mesmo sem ostentar a coesão conceitual e a força do repertório do antológico álbum solo de Juçara Marçal, Encarnado (Independente, 2014), MM3 é disco que se encontra ao se perder por caminho caótico que oscila entre o hardcore de Angoulême (Juçara Marçal, Thiago França e Kiko Dinucci) e o afrobeat serelepe de Toque certeiro. Parceria de Kiko Dinucci com Siba, Toque certeiro cai lépido no suingue com leveza que contrasta com a atmosfera tensa e angustiada que pauta a maior parte de MM3. Essa tensão já é perceptível na passagem instrumental de quase um minuto e meio que introduz Três amigos (Rodrigo Campos, Thiago França e Sérgio Machado), primeira das nove músicas do álbum. Gravado de 21 a 23 de março deste ano de 2016 no Red Bull Studio, na cidade de São Paulo (SP), MM3 ostenta um som intenso, pesado, que se anuncia logo em Três amigos. Os toques da bateria de Sérgio Machado e do baixo de Marcelo Cabral se integram ao toque do trio, gerando som encorpado. Corpo vão (Juçara Marçal, Thiago França e Kiko Dinucci) é faixa que sintetiza bem a organicidade sonora construída no aparente caos. Nada parece ser em vão. Com voz inicialmente límpida, Juçara canta para o orixá subir em Mano Légua, tema afro-brasileiro composto pela artista com Kiko Dinucci. MM3 também canta para subir em Ossanyn (Kiko Dinucci) - saudação às folhas e ao senhor das folhas feita por Juçara em língua africana - e Obá Kosso, tema de domínio público também cantado (no caso, por Kiko Dinucci) em dialeto africano sobre jam que se estende por mais de nove minutos. É ode a um rei nagô, ao qual o Metá suplica que não mande o fogo sobre nós. O pedido faz sentido. Até porque o mundo retratado nas letras de MM3 já arde em chamas. Os versos das músicas do terceiro álbum do Metá abrem feridas, sangram. Parafraseando versos de Angolana (Juçara Marçal, Thiago França e Kiko Dinucci), uma das poucas músicas que roçam em MM3 o formato da canção (assim como Toque certeiro), é como se o som do disco fosse o pus expelido junto com as seivas dessas anti-canções esculpidas no sangue tom carmim do trio. "Pele tatuada, carne mutilada, o seu dente sangra / Chora enquanto ri sozinha, faz careta, grita um verso a quem passar", canta Juçara em Angoulême. "Escuridão / Oco voraz / Vai engolir o mundo / E regurgitar", avisam versos de Corpo vão. É sobre esse oco que MM3 avança vorazmente, vomitando sobre mundo em decomposição em que o vão faz o torto voltar a ser regra. O passo é torto. Tal como a imagem do amor, MM3 não é para qualquer um. Mas tem alma, carne e sangue.