Mauro Ferreira no G1

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sábado, 28 de maio de 2016

Com desenvoltura, Clécia Queiroz samba nos quintais do Recôncavo Baiano

Resenha de álbum
Título: Quintais
Artista: Clécia Queiroz
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *

Nascida em Ilhéus (BA), mas radicada em Salvador (BA) desde os 13 anos de idade, a cantora baiana Clécia Queiroz permanece com desenvoltura na roda dos sambas do Recôncavo. Sete anos após lançar disco com o cancioneiro autoral do compositor baiano Roque Ferreira, Samba de Roque (Independente, 2009), Clécia amplia mais a roda no terceiro álbum, Quintais, lançado de forma independente neste mês maio de 2016. Com sambas brejeiros como Anjo fugido (Roberto Mendes e J. Velloso) e Flor d'água (Samir Trindade), o ótimo repertório gira em torno do samba de roda do Recôncavo Baiano - oferecendo iguarias como Caruru (Samir Trindade) - mas abarca outros ritmos afro-brasileiros, como o ijexá que conduz a levada do medley Homenagem a Oxum, acoplado no disco a Salve Xangô, faixa-vinheta gravada com a voz do compositor do tema, Sú de Oiá. A roda rítmica do álbum é larga a ponto de abranger a delicadeza de Me salve de mim (Alexandre Leão, Manuca Almeida e J. Velloso) e a ternura lúdica de Pedra, papel e tesoura (Samir Trindade), faixa encorpada com coro infantil e com trecho da Cantiga do caminho, tema de domínio público. Em Águas de Oxum (J. Velloso e Roque Ferreira), Quintais também mergulha no balanço da chula em gravação feita com o toque do acordeom de Targino Gondim. Compositor de postura ferrenha na preservação dos ritmos do Recôncavo, Roque Ferreira é nome recorrente neste tradicional terceiro disco de Clécia Queiroz, cantora de voz suave que debutou no mercado fonográfico brasileiro há 19 anos com a edição do álbum Chegar à Bahia (Independente, 1997). Em Quintais, Roque é parceiro de J. Velloso no samba Areia branca, parceiro de Walmir Lima no manemolente Samba direitinho, parceiro da própria Clécia Queiroz na música-título Quintais - tema lírico que evoca a placidez rítmica do samba-canção criado no Rio de Janeiro dos anos 1920  - e, sozinho, assina Nobreza (incursão mais nítida da cantora pelo samba-canção) e o serelepe afro-samba Amurê, aditivado na gravação de Clécia com trecho do poema Essa nega fulô, de Jorge de Lima (1893 - 1953). Apesar do giro por outros ritmos, como o africano ilú, Quintais está fincado na roda do samba do Recôncavo, mas sem rigidez fronteiriças, como explicita a participação de Dona Nadir, voz do samba de Sergipe que canta Sodade, tema de domínio público, na introdução de Samba bom (Alexandre Leão e J. Velloso). A permanência na roda justifica inclusive o título do disco, pois é nos quintais das casas que os baianos da região se reúnem para cantar samba. Fechado com medley de sambas de roda de domínio público, o repertório de Quintais foi selecionado por Clécia com a colaboração do historiador e músico Vítor Queiroz, sobrinho da artista. Já os arranjos foram feitos por instrumentistas baianos como Bira Monteiro, Dudu Reis, Marcos Bezerra e Sebastian Notini com fidelidade aos cânones do samba à moda baiana. O resultado é um disco vivaz, sedutor e devoto do melhor samba da Bahia. Entre na roda de Clécia Queiroz. O samba é bom.  Aliás, o samba é ótimo.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Nascida em Ilhéus (BA), mas radicada em Salvador (BA) desde os 13 anos de idade, a cantora baiana Clécia Queiroz permanece com desenvoltura na roda dos sambas do Recôncavo. Sete anos após lançar disco com o cancioneiro autoral do compositor baiano Roque Ferreira, Samba de Roque (Independente, 2009), Clécia amplia a roda no terceiro álbum, Quintais, lançado de forma independente neste mês maio de 2016. Com sambas brejeiros como Anjo fugido (Roberto Mendes e J. Velloso) e Flor d'água (Samir Trindade), o ótimo repertório gira em torno do samba de roda do Recôncavo Baiano - oferecendo iguarias como Caruru (Samir Trindade) - mas abarca outros ritmos afro-brasileiros, como o ijexá que conduz a levada do medley Homenagem a Oxum, acoplado no disco a Salve Xangô, faixa-vinheta gravada com a voz do compositor do tema, Sú de Oiá. A roda rítmica do álbum é larga a ponto de abranger a delicadeza de Me salve de mim (Alexandre Leão, Manuca Almeida e J. Velloso) e a ternura lúdica de Pedra, papel e tesoura (Samir Trindade), faixa encorpada com coro infantil e com trecho da Cantiga do caminho, tema de domínio público. Em Águas de Oxum (J. Velloso e Roque Ferreira), Quintais também mergulha no balanço da chula em gravação feita com o toque do acordeom de Targino Gondim. Compositor de postura ferrenha na preservação dos ritmos do Recôncavo, Roque Ferreira é nome recorrente neste tradicional terceiro disco de Clécia Queiroz, cantora de voz suave que debutou no mercado fonográfico brasileiro há 19 anos com a edição do álbum Chegar à Bahia (Independente, 1997). Em Quintais, Roque é parceiro de J. Velloso no samba Areia branca, parceiro de Walmir Lima no manemolente Samba direitinho, parceiro da própria Clécia Queiroz na música-título Quintais - tema lírico que evoca a placidez rítmica do samba-canção criado no Rio de Janeiro dos anos 1920 - e, sozinho, assina Nobreza (incursão mais nítida da cantora pelo samba-canção) e o serelepe afro-samba Amurê, aditivado na gravação de Clécia com trecho do poema Essa nega fulô, de Jorge de Lima (1893 - 1953). Apesar do giro por outros ritmos, como o africano ilú, Quintais está fincado na roda do samba do Recôncavo, mas sem rigidez fronteiriças, como explicita a participação de Dona Nadir, voz do samba de Sergipe que canta Sodade, tema de domínio público, na introdução de Samba bom (Alexandre Leão e J. Velloso). A permanência na roda justifica inclusive o título do disco, pois é nos quintais das casas que os baianos da região se reúnem para cantar samba. Fechado com medley de sambas de roda de domínio público, o repertório de Quintais foi selecionado por Clécia com a colaboração do historiador e músico Vítor Queiroz, sobrinho da artista. Já os arranjos foram feitos por instrumentistas baianos como Bira Monteiro, Dudu Reis, Marcos Bezerra e Sebastian Notini com fidelidade aos cânones do samba à moda baiana. O resultado é um disco vivaz, sedutor e devoto do melhor samba da Bahia. Entre na roda de Clécia Queiroz. O samba é bom. Aliás, o samba é ótimo.

Unknown disse...

Aleluia, que notícia maravilhosa. !!!!

Marcelo Barbosa disse...

Se for o mesmo, Samir Trindade é um excelente compositor da Beija-Flor e da Portela (venceu este ano!).
Quanto a cantora, desconheço, mas vou procurar ouvir.

M.S.B. disse...

Bom, com essa análise, nada nos resta que aguardar o lançamento oficial do cd e que o Brasil inteiro possa habitar os quintas cantados por Clécia com muito samba e samba do bom! Uma artista que leva a sério o seu ofício precisa ser reverenciada. E eu reverencio Clécia e sua voz e seu canto e seu talento! Nossa Oxum mais bonita!

Unknown disse...

Maravilha. O Brasil precisa de canto como o de Célia, - limpo, lindo, afinado e que nos dá prazer ouvir. Muitas palmas. Desejo todo sucesso querida

Unknown disse...

Maravilha. O Brasil precisa de canto como o de Célia, - limpo, lindo, afinado e que nos dá prazer em ouvir. Muitas palmas. Desejo todo sucesso querida.

Unknown disse...

Não, meu nobre. Temos nomes iguais mas não somos a mesma pessoa. Conheço alguns trabalhos do meu xará e acredito que ele conheça alguns meus, tbm. O Samir Trindade da composição "Flor D'Água" sou eu, baianidade total.