Mauro Ferreira no G1

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domingo, 13 de outubro de 2013

Santos segue em 'Rimanceiro' trilhas do grande sertão feito com Pinheiro

Resenha de CD
Título: Rimanceiro
Artista: Sergio Santos
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Tal como Alto Grande, recém-lançado CD do violeiro paulista Paulo Freire, o sétimo álbum do cantor e compositor mineiro Sergio Santos está entranhado no grande sertão brasileiro, com influências nítidas do universo e da prosa da obra-prima do escritor mineiro Guimarães Rosa (1908 - 1967) em canções diamantinas como Onça pintadaJagunço, Aço e seda e Voz da noite, voz do dia. O título Rimanceiro - explica Santos no texto que apresenta o disco - vem de rimance, forma arcaica de trova. É apenas com sua voz maturada e com dois violões (o seu próprio e o de Silvio D'Amico) que Santos se embrenha pelo mato e percorre as trilhas do grande sertão que vem construindo com seu parceiro Paulo César Pinheiro desde 1991. Sem se desviar dessa trilha sertaneja, Santos evoca a Mãe África em Kekerekê, celebra tradições indígenas em Putirum e rumina líricas mágoas românticas em Coração do mato. Rimanceiro é disco de canções e violões que expõe a afinidade da parceria de Santos com Pinheiro, letrista-poeta de todas as 14 músicas do CD. Doze ganham seu primeiro registro na obra fonográfica do compositor, iniciada há 18 anos com a edição de Aboio (Saci, 1995), álbum no qual já se detectava a maioridade reiterada em Rimanceiro. As  exceções são Ganga-Zumbi e Kekerekê, já gravadas por Santos em Áfrico (Biscoito Fino, 2002). Fora do sertão, o baião Cabeça chata esboça animação forrozeira com requinte que remete à obra de Guinga, parceiro de Pinheiro na década de 70. Contudo, é no mato que Rimanceiro reside em sua essência, fluindo com naturalidade pela vivência interiorana do artista mineiro. "Eu gosto de ser como a água / Que vem lá do fundo da terra / Que brota na beira do mato / Que desce do auto da serra", poetiza Santos através dos versos escritos por Pinheiro para Canto da água. Oito faixas depois, Quatro estrelas risca essa trilha com poesia e melodia iluminadas. E o grande sertão se fecha em grande estilo, com Vidência, entrelaçando na mesma trilha Deus, a morte e o tempo, esse menino forte - tal como definido pelo poeta - que tem se colocado a favor da obra perene de Sergio Santos com Paulo César Pinheiro. Grande em qualidade e na quantidade que já totaliza mais de 250 músicas. Grande como o tal sertão de Guimarães Rosa que a inspira e a alimenta.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Tal como Alto Grande, recém-lançado CD do violeiro paulista Paulo Freire, o sétimo álbum do cantor e compositor mineiro Sergio Santos está entranhado no grande sertão brasileiro, com influências nítidas do universo e da prosa da obra-prima do escritor mineiro Guimarães Rosa (1908 - 1967) em canções diamantinas como Onça pintada, Jagunço, Aço e seda e Voz da noite, voz do dia. O título Rimanceiro - explica Santos no texto que apresenta o disco - vem de rimance, forma arcaica de trova. É apenas com sua voz maturada e com dois violões (o seu próprio e o de Silvio D'Amico) que Santos se embrenha pelo mato e percorre as trilhas do grande sertão que vem construindo com seu parceiro Paulo César Pinheiro desde 1991. Sem se desviar dessa trilha sertaneja, Santos evoca a Mãe África em Kêkêrêkê, celebra tradições indígenas em Putirum e rumina líricas mágoas românticas em Coração do mato. Rimanceiro é disco de canções e violões que expõe a afinidade da parceria de Santos com Pinheiro, letrista-poeta de todas as 14 músicas do álbum. Treze ganham seu primeiro registro na obra fonográfica do compositor, iniciada há 18 anos com a edição do CD Aboio (Saci, 1995), no qual já se evidenciava a maioridade reiterada em Rimanceiro. A exceção é Ganga-Zumbi, já gravada por Santos no álbum Áfrico (Biscoito Fino, 2002). Fora do sertão, o baião Cabeça chata esboça animação forrozeira com requinte que remete à obra de Guinga, parceiro de Pinheiro nos anos 70. Contudo, é no mato que Rimanceiro reside em sua essência, fluindo com naturalidade pela vivência interiorana do artista mineiro. "Eu gosto de ser como a água / Que vem lá do fundo da terra / Que brota na beira do mato / Que desce do auto da serra", poetiza Santos através dos versos escritos por Pinheiro para Canto da água. Oito faixas depois, Quatro estrelas risca essa trilha com poesia e melodia iluminadas. E o grande sertão se fecha em grande estilo, com Vidência, entrelaçando na mesma trilha Deus, a morte e o tempo, esse menino forte - tal como definido pelo poeta - que tem se colocado a favor da obra perene de Sergio Santos com Paulo César Pinheiro. Grande em qualidade e na quantidade que já totaliza mais de 250 músicas. Grande como o tal sertão de Guimarães Rosa que a inspira e a alimenta.