Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 22 de maio de 2011

Cortante, Cida irmana Tom Waits, Chico e RoRo em show 'cult' de cabaré

Resenha de show
Título: Canções para Cortar os Pulsos
Artista: Cida Moreira (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Casa de Francisca (São Paulo, SP)
Data: 22 de maio de 2010
Cotação: * * * *

Com jeito e charme de cabaré underground, a Casa de Francisca é point cult da cidade de São Paulo. É o espaço ideal para Cida Moreira entoar Canções para Cortar os Pulsos, show que gira em torno do repertório do compositor norte-americano Tom Waits. Na apresentação iniciada já na madrugada deste domingo, 22 de maio de 2011, a cantora anunciou logo ao entrar que faria um "repertório mais à vontade". Na prática, a elasticidade do roteiro permitiu que Cida incluísse no show músicas gravadas em seu recente CD A Dama Indigna, lançado em fevereiro pela gravadora Joia Moderna. Seja como for, Cida fica em casa ao abordar as obras de compositores como Waits (de quem canta temas como Broken Bicycles e Time), Chico Buarque (Uma Canção Desnaturada), David Bowie (Soul Love) e Ângela RoRo (Me Acalmo Danando). À sós na penumbra, com seu piano e sua voz (cujo timbre operístico é devidamente explorado em Lullaby, heterodoxo acalanto de Waits), Cida irmana tais músicas e autores aparentemente tão distintos sob seu magnético poder de interpretação. Ela é uma cantora em extinção, como brinca em cena. À vontade na Casa de Francisca, a artista lapida joias modernas da canção que expiam dores de alto quilate. Desbocada, Cida expõe a natural teatralidade de seu canto ao reviver Sou Assim, (ótima) parceria de Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri (1934 - 2006) projetada na peça Botequim na voz teatral de Marlene. Dilacerada, suplica amor e beijo em One More Kiss, Dear, música do repertório de Vangelis. Nesse teatro da canção, Cida teve como partner o ator gaúcho Antônio Carlos Brunet, nem sempre afinado como a cantora. Convidado da apresentação de 22 de maio, Brunet encarna a prostituta do Tango do Cafetão - versão de Tango Ballad, parceria de Bertolt Brecht (1896 - 1956) com Kurt Weill (1900 - 1950) - enquanto Cida diz o texto do cafetão. Sete números depois, Cida e Brunet repetiram a dobradinha e cantaram em francês Youkali-Tango (Roger Fernay e Kurt Weill). São números típicos de cabaré que se ajustam ao espírito da Casa de Francisca. Vocalista do grupo Vanguart, Hélio Flanders também soube entrar no clima ao cantar com Cida dois temas de Tom Waits, Johnsburg, Illinois (em essência, uma grande canção de amor) e All the World Is Green, dois destaques do show. No bis, após Cida encerrar o show com sua cortante abordagem de Back to Black (Amy Winehouse), os dois convidados se uniram com a anfitriã no refrão de Time, joia atemporal do cancioneiro de Tom Waits. Já estavam em casa.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Com jeito e charme de cabaré underground, a Casa de Francisca é point já cult da cidade de São Paulo. É o espaço ideal para Cida Moreira entoar Canções para Cortar os Pulsos, show que gira em torno do repertório do compositor norte-americano Tom Waits. Na apresentação iniciada já na madrugada deste domingo, 22 de maio de 2011, a cantora anunciou logo ao entrar que faria um "repertório mais à vontade". Na prática, a elasticidade do roteiro permitiu que Cida incluísse no show músicas gravadas em seu recente CD A Dama Indigna, lançado em fevereiro pela gravadora Joia Moderna. Seja como for, Cida fica em casa ao abordar as obras de compositores como Waits (de quem canta temas como Broken Bicycles e Time), Chico Buarque (Uma Canção Desnaturada), David Bowie (Soul Love) e Ângela RoRo (Me Acalmo Danando). À sós na penumbra, com seu piano e sua voz (cujo timbre operístico é devidamente explorado em Lullaby, heterodoxo acalanto de Waits), Cida irmana tais músicas e autores aparentemente tão distintos sob seu magnético poder de interpretação. Ela é uma cantora em extinção, como brinca em cena. À vontade na Casa de Francisca, a artista lapida joias modernas da canção que expiam dores de alto quilate. Desbocada, Cida expõe a natural teatralidade de seu canto ao reviver Sou Assim, (ótima) parceria de Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri (1934 - 2006) projetada na peça Botequim na voz teatral de Marlene. Dilacerada, suplica amor e beijo em One More Kiss, Dear, música do repertório de Vangelis. Nesse teatro da canção, Cida teve como partner o ator gaúcho Antônio Carlos Brunet, nem sempre afinado como a cantora. Convidado da apresentação de 22 de maio, Brunet encarna a prostituta do Tango do Cafetão - versão de Tango Ballad, parceria de Bertolt Brecht (1896 - 1956) com Kurt Weill (1900 - 1950) - enquanto Cida diz o texto do cafetão. Sete números depois, Cida e Brunet repetiram a dobradinha e cantaram em francês Youkali-Tango (Roger Fernay e Kurt Weill). São números típicos de cabaré que se ajustam ao espírito da Casa de Francisca. Vocalista do grupo Vanguart, Hélio Flanders também soube entrar no clima ao cantar com Cida dois temas de Tom Waits, Johnsburg, Illinois (em essência, uma grande canção de amor) e All the World Is Green, dois destaques do show. No bis, após Cida encerrar o show com sua cortante abordagem de Back to Black (Amy Winehouse), os dois convidados se uniram com a anfitriã no refrão de Time, joia atemporal do cancioneiro de Tom Waits. Já estavam em casa.