Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Em casa, Glaucia cruza 'porteira' das Geraes em disco com canções mineiras

Resenha de CD
Título: Em casa
Artista: Glaucia Nasser
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * 1/2


Lá se vão quinze anos desde que Glaucia Nasser teve as primeiras aulas de canto lírico, em Belo Horizonte (MG), em 2000. Antes, a cantora mineira já tinha posto os pés na profissão nos bailes da vida notura da cidade natal de Patos de Minas (MG). Foi uma longa caminhada, com passagens por Estados Unidos e Inglaterra, que trouxe a artista de volta para o ponto de partida. Tanto que o sexto álbum da discografia da cantora - iniciada há 12 anos com a edição do CD Glaucia Nasser (Independente, 2003) - se chama Em casa. O título alude ao fato de Glaucia dar sua voz quente e afinada a 17 músicas criadas por compositores mineiros em seleção que vai de Ary Barroso (1903 - 1964) a Tunai, passando naturalmente por João Bosco e Milton Nascimento. Em sua maioria, as canções são certas para este disco concebido e produzido por Alexandre Lemos. Gravado de março a setembro de 2013, Em casa é disco pautado por violas caipiras e violões, tocados por Sandro Prêmmero, piloto também dos baixos e guitarras ouvidos nos arranjos criados por Lemos com Prêmmero. O álbum ficou com sotaque interiorano que caiu bem em Cruzada (Tavinho Moura e Márcio Borges, 1978), se adequou a Fazenda (Nelson Angelo, 1976), se ajustou com fidelidade ao tom já naturalmente caipira de No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931) - ainda que a composição mais antiga do repertório seja originalmente um samba - e deu frescor à abolerada canção Quando o amor acontece (João Bosco e Abel Silva, 1987). Em casa soa mais aconchegante quando Glaucia Nasser canta músicas que ainda não alcançaram a merecida projeção nacional, casos de Nós dois (Celso Adolfo, 1984) - uma das mais belas melodias do disco - e de Jardim da infância (Paulinho Pedra Azul, 1982), de lirismo romântico. Em contrapartida, há músicas às quais a cantora nada acrescenta. É fato que as músicas do Clube da esquina são referenciais para artistas mineiros. Mas é fato também que, decorridos 43 anos da apresentação do movimento pop em álbum duplo lançado em 1972 por Milton Nascimento e Lô Borges, é cada vez mais difícil descobrir nuances em temas já exaustivamente (bem) gravados e regravados por grandes cantores do Brasil como Clube da esquina (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1970) e Clube da esquina nº 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1972). Sem falar que o sócio majoritário do clube, Milton, já deixou sua voz divina em canções como Beijo partido (Toninho Horta, 1975), outra música pela qual Glaucia nada faz, ainda mais se levado em conta que os versos doídos são mais talhados para cantoras como Nana Caymmi, intérprete até mais associada à canção do que o próprio Milton. Em casa surpreende mais quando Glaucia dá tom de country-rock ao samba Laranja madura (Ataulfo Alves, 1966). A cantora em si sempre mostra segurança, seja no falsete que conduz Nascente (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1977), seja no fluxo lento de Dois rios (Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis, 2003), canção que cruza a porteira das Geraes no tom interiorano deste álbum em que Glaucia Nasser parece de fato à vontade em sua casa mineira.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Lá se vão quinze anos desde que Glaucia Nasser teve as primeiras aulas de canto lírico, em Belo Horizonte (MG), em 2000. Antes, a cantora mineira já tinha posto os pés na profissão nos bailes da vida notura da cidade natal de Patos de Minas (MG). Foi uma longa caminhada, com passagens por Estados Unidos e Inglaterra, que trouxe a artista de volta para o ponto de partida. Tanto que o sexto álbum da discografia da cantora - iniciada há 12 anos com a edição do CD Glaucia Nasser (Independente, 2003) - se chama Em casa. O título alude ao fato de Glaucia dar sua voz quente e afinada a 17 músicas criadas por compositores mineiros em seleção que vai de Ary Barroso (1903 - 1984) a Tunai, passando naturalmente por João Bosco e Milton Nascimento. Em sua maioria, as canções são certas para este disco concebido e produzido por Alexandre Lemos. Gravado de março a setembro de 2013, Em casa é disco pautado por violas caipiras e violões, tocados por Sandro Prêmmero, piloto também dos baixos e guitarras ouvidos nos arranjos criados por Lemos com Prêmmero. O álbum ficou com sotaque interiorano que caiu bem em Cruzada (Tavinho Moura e Márcio Borges, 1978), se adequou a Fazenda (Nelson Angelo, 1976), se ajustou com fidelidade ao tom já naturalmente caipira de No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931) - ainda que a composição mais antiga do repertório seja originalmente um samba - e deu frescor à abolerada canção Quando o amor acontece (João Bosco e Abel Silva, 1987). Em casa soa mais aconchegante quando Glaucia Nasser canta músicas que ainda não alcançaram a merecida projeção nacional, casos de Nós dois (Celso Adolfo, 1984) - uma das mais belas melodias do disco - e de Jardim da infância (Paulinho Pedra Azul, 1982), de lirismo romântico. Em contrapartida, há músicas às quais a cantora nada acrescenta. É fato que as músicas do Clube da esquina são referenciais para artistas mineiros. Mas é fato também que, decorridos 43 anos da apresentação do movimento pop em álbum duplo lançado em 1972 por Milton Nascimento e Lô Borges, é cada vez mais difícil descobrir nuances em temas já exaustivamente (bem) gravados e regravados por grandes cantores do Brasil como Clube da esquina (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1970) e Clube da esquina nº 2 (Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, 1972). Sem falar que o sócio majoritário do clube, Milton, já deixou sua voz divina em canções como Beijo partido (Toninho Horta, 1975), outra música pela qual Glaucia nada faz, ainda mais se levado em conta que os versos doídos são mais talhados para cantoras como Nana Caymmi, intérprete até mais associada à canção do que o próprio Milton. Em casa surpreende mais quando Glaucia dá tom de country-rock ao samba Laranja madura (Ataulfo Alves, 1966). A cantora em si sempre mostra segurança, seja no falsete que conduz Nascente (Flávio Venturini e Murilo Antunes, 1977), seja no fluxo lento de Dois rios (Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis, 2003), canção que cruza a porteira das Geraes no tom interiorano deste álbum em que Glaucia Nasser parece de fato à vontade em sua casa mineira.

Luca disse...

impressionante como as cantoras não largam as músicas do clube da esquina