Mauro Ferreira no G1

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domingo, 4 de maio de 2014

Ian honra o sobrenome Ramil com álbum impregnado de forte personalidade

Resenha de CD
Título: Ian
Artista: Ian Ramil
Gravadora: Escápula Records
Cotação: * * * 1/2

 Por mais que o primeiro álbum de Ian Ramil beba da Estética do Frio, até pelo fato de ter sido gravado em Buenos Aires entre abril e outubro de 2012, a personalidade própria e forte do cantor, compositor e músico gaúcho brota nos sulcos de Ian, CD formatado pelo argentino Matias Cella, produtor de álbuns de artistas como o uruguaio Jorge Drexler. Sem renegar o d.n.a. da família Ramil, (bem) representada no disco pelas presença da alma musical do pai Vitor e da voz do tio Kleiton em duas faixas, Ian delineia sua identidade artística em álbum pautado por ironias, dissonâncias, melancolias e descompassos. Há algo intencionalmente fora da ordem mercadológica, por exemplo, na gravação de Zero e um (Ian Ramil), faixa em que sobressaem os metais em polifonia que remete ao som do grupo paulista Hurtmold, também evocado no toque maroto de Pelicano (Ian Ramil). Música alocada na abertura do álbum, Segue o bloco (Ian Ramil e João Ramil) já acentua a falta de sincronia que confunde o ouvinte e a mente da personagem da letra ao caminhar em ritmo próprio, insinuando atmosfera folk que se esboça com mais nitidez na canção Seis patinhos (Ian Ramil). A presença de vários elementos na capa de Ian traduz na arte gráfica do disco a profusão de ideias e sons reunidos nesse álbum que dialoga com os sons dos países da América do Sul que se avizinham com o Rio Grande. Tal diálogo é feito em Suvenir (Ian Ramil) no toque do cuatro, instrumento venezuelano de cordas (da família do violão) tocado pelo próprio Ian nessa faixa e também em Nescafé (Ian Ramil, Alexandre Kumpinski, Diego Grando e Marcelo Souto), balada de força diluída pela letra que bate na tecla da falta de sincronia de um casal em versos que expõem contradições comportamentais - tecla já martelada por outros compositores. Mas Nescafé ganha peso e densidade na segunda metade, citando Beatles - I want you (She's so heavy) (John Lennon e Paul McCartney, 1969) - em letra que culmina com verso-indagação (Que linha liga teu coração ao meu?) que reforça os descompassos entranhados em Ian. Encorpada pelas vozes dobradas pelo (eficaz) cantor, Entre o cume e o pé (Ian Ramil) ratifica uma personalidade poética confirmada nos versos bilíngues cantados na pegada noise de Cabeça de painel (Ian Ramil). Gravada com a voz de Kleiton Ramil e com mais vocação para hit, Over and over (Ian Ramil e Maurício Both) é canção de arquitetura mais explicitamente folk enquanto Transe (Ian Ramil) reverbera a habilidade de Ian para compor baladas palatáveis. Já Imã ralo (Ian Ramil) escoa estranhezas em pegada bluesy. De sabor country, Hambuger (Ian Ramil, Leo Aprato, Eduardo Mendonça e Maurício Both) tem tempero forte que contrasta com a suavidade de Rota (Ian Ramil e Alexandre Kumpinski), cuja letra é baseada nos versos de Simples mente, poema de Karina Ramil, sinalizando que Ian segue seu (descom)passo em família,  já honrando a sua nobre dinastia gaúcha.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Por mais que o primeiro álbum de Ian Ramil beba da Estética do Frio, até pelo fato de ter sido gravado em Buenos Aires entre abril e outubro de 2012, a personalidade própria do cantor, compositor e músico gaúcho brota nos sulcos de Ian, CD formatado pelo argentino Matias Cella, produtor de álbuns de artistas como o uruguaio Jorge Drexler. Sem renegar o d.n.a. da família Ramil, (bem) representada no disco pelas presença da alma musical do pai Vitor e da voz do tio Kleiton em duas faixas, Ian delineia sua identidade artística em álbum pautado por ironias, dissonâncias, melancolias e descompassos. Há algo intencionalmente fora da ordem mercadológica, por exemplo, na gravação de Zero e um (Ian Ramil), faixa em que sobressaem os metais em polifonia que remete ao som do grupo paulista Hurtmold, também evocado no toque maroto de Pelicano (Ian Ramil). Música alocada na abertura do álbum, Segue o bloco (Ian Ramil e João Ramil) já acentua a falta de sincronia que confunde o ouvinte e a mente da personagem da letra ao caminhar em ritmo próprio, insinuando atmosfera folk que se esboça com mais nitidez na canção Seis patinhos (Ian Ramil). A presença de vários elementos na capa de Ian traduz na arte gráfica do disco a profusão de ideias e sons reunidos nesse álbum que dialoga com os sons dos países da América do Sul que se avizinham com o Rio Grande. Tal diálogo é feito em Suvenir (Ian Ramil) no toque do cuatro, instrumento venezuelano de cordas (da família do violão) tocado pelo próprio Ian nessa faixa e também em Nescafé (Ian Ramil, Alexandre Kumpinski, Diego Grando e Marcelo Souto), balada de força diluída pela letra que bate na tecla da falta de sincronia de um casal em versos que expõem contradições comportamentais - tecla já martelada por outros compositores. Mas Nescafé ganha peso e densidade na segunda metade, citando Beatles - I want you (She's so heavy) (John Lennon e Paul McCartney, 1969) - em letra que culmina com verso-indagação (Que linha liga teu coração ao meu?) que reforça os descompassos entranhados em Ian. Encorpada pelas vozes dobradas pelo (eficaz) cantor, Entre o cume e o pé (Ian Ramil) ratifica uma personalidade poética confirmada nos versos bilíngues cantados na pegada noise de Cabeça de painel (Ian Ramil). Gravada com a voz de Kleiton Ramil e com mais vocação para hit, Over and over (Ian Ramil e Maurício Both) é canção de arquitetura mais explicitamente folk enquanto Transe (Ian Ramil) reverbera a habilidade de Ian para compor baladas mais palatáveis. Já Imã ralo (Ian) escoa estranhezas em pegada bluesy. De sabor country, Hambuger (Ian Ramil, Leo Aprato, Eduardo Mendonça e Maurício Both) tem tempero forte que contrasta com a suavidade de Rota (Ian Ramil e Alexandre Kumpinski), cuja letra é baseada nos versos de Simples mente, poema de Karina Ramil, sinalizando que Ian segue seu (descom)passo em família, honrando a sua dinastia.