Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Em 'iTunes session', Caetano remexe com fluência no caldeirão tropical

Resenha de álbum 
Título: iTunes session Caetano Veloso
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2
Disco disponível somente em edição digital, já à venda no iTunes

Há 14 anos, ao gravar o álbum Noites do Norte (Universal Music, 2000) com músicos então somente conhecidos na cena underground carioca, como o baterista Domenico Lancellotti e o guitarrista Pedro Sá (ambos do efêmero, mas influente, grupo carioca Mulheres Q Dizem Sim), Caetano Veloso esboçou renovação de sonoridade que somente teria o eco pretendido pelo artista baiano a partir da guinada mais radical dada com o álbum (Universal Music, 2006). Mas já havia ali, em Noites do Norte, a semente do som adotado atualmente por Caetano. Semente que germinou e deu frutos. Tanto que a abordagem do afro-samba 13 de maio (Caetano Veloso, 2000) se destaca entre as oito gravações inéditas feitas pelo cantor e compositor para o primeiro álbum brasileiro da série iTunes session, até então somente produzida nos Estados Unidos e na Europa. Sustentado pela percussão de Marcio Victor (artista do grupo baiano Psirico, de visibilidade crescente por conta do sucesso da gravação de Lepo lepo) e apimentado pela ginga da guitarra de Pedro Sá, o atual registro do afro-samba 13 de maio valoriza o disco lançado hoje, 27 de maio de 2014, em mais de 100 países. Gravado em outubro de 2013, no Rio de Janeiro (RJ), o álbum iTunes session Caetano Veloso junta o artista a uma banda de formação inédita que, além de Marcio Victor e Pedro Sá, inclui o baixista Danilo Tenenbaum e o baterista Nilton César. Esse quarteto renova a maioria das oito músicas revitalizadas no disco. Procedentes de épocas e fases distintas, essas oito músicas oferecem - juntas - belo recorte da obra de Caetano. Título seminal do cancioneiro do artista, o samba De manhã (Caetano Veloso, 1965) vira transamba, à moda do som dos recentes CDs gravados por Caetano com a BandaCê. Detalhe: Caetano já havia dado voz ao samba em duetos com Maria Bethânia (intérprete original de De manhã) e Beth Carvalho, captados para registros de shows das cantoras, mas De manhã nunca integrara até então a discografia oficial do artista. Também dos anos 1960, a canção Coração vagabundo (Caetano Veloso, 1967) figura em iTunes session com a habitual serenidade para lembrar que, sem João Gilberto, provavelmente não haveria Caetano Veloso. Não surpreende, assim como Por quem? (Caetano Veloso, 2009), canção levada nos mesmos falsetes da gravação do álbum Zii e zie (Universal Music, 2009) e já originalmente inserida em universo musical similar ao adotado no álbum da iTunes session, série que registra shows gravados em estúdio com repertório e formato diferenciados. A banda de Caetano é outra nessa gravação. Contudo, o guitarrista Pedro Sá continua sobressaindo, tal como nos discos da trilogia Cê. Em Lost in the paradise (Caetano Veloso, 1969), ótima faixa dedicada por Caetano a Devendra Banhart (artista norte-americano devotado ao ídolo baiano), o cortante solo hendrixiano da guitarra de Pedro Sá consegue reproduzir o efeito polifônico do arranjo orquestrado pelo tropicalista maestro carioca Rogério Duprat (1932 - 2006) na gravação original do álbum branco Caetano Veloso (Philips, 1969). Em Livros (Caetano Veloso, 1997), cuja imponente regravação merece o status de abrir o álbum, a guitarra de Sá arranha e interfere no suingue sustentado pela percussão de Marcio Victor, músico também fundamental na abordagem dessa música que dialoga liricamente com Chão de estrelas (Silvio Caldas e Orestes Barbosa, 1937). Título mais raro do cancioneiro autoral de Caetano Veloso, tendo sido lançado como lado B de compacto de 1978, o Samba da cabeça também ressurge revigorado no caldeirão tropical do álbum iTunes session Caetano Veloso. Que fecha com abordagem do tema mexicano Cu-cu-ru-cu-cu Paloma (Tomás Méndez, 1954), que na sessão exclusiva do iTunes soa menos pungente do que em registro anteriores feitos pelo próprio Caetano. De todo modo, o álbum seduz com recorte fluente da grande obra.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Há 14 anos, ao gravar o álbum Noites do Norte (Universal Music, 2000) com músicos então somente conhecidos na cena underground carioca, como o baterista Domenico Lancellotti e o guitarrista Pedro Sá (ambos do efêmero, mas influente, grupo carioca Mulheres Q Dizem Sim), Caetano Veloso esboçou renovação de sonoridade que somente teria o eco pretendido pelo artista baiano a partir da guinada mais radical dada com o álbum Cê (Universal Music, 2006). Mas já havia ali, em Noites do Norte, a semente do som adotado atualmente por Caetano. Semente que germinou e deu frutos. Tanto que a abordagem do afro-samba 13 de maio (Caetano Veloso, 2000) se destaca entre as oito gravações inéditas feitas pelo cantor e compositor para o primeiro álbum brasileiro da série iTunes session, até então somente produzida nos Estados Unidos e na Europa. Sustentado pela percussão de Marcio Victor (artista do grupo baiano Psirico, de visibilidade crescente por conta do sucesso da gravação de Lepo lepo) e apimentado pela ginga da guitarra de Pedro Sá, o atual registro do afro-samba 13 de maio valoriza o disco lançado hoje, 27 de maio de 2014, em mais de 100 países. Gravado em outubro de 2013, no Rio de Janeiro (RJ), o álbum iTunes session Caetano Veloso junta o artista a uma banda de formação inédita que, além de Marcio Victor e Pedro Sá, inclui o baixista Danilo Tenenbaum e o baterista Nilton César. Esse quarteto renova a maioria das oito músicas revitalizadas no disco. Procedentes de épocas e fases distintas, essas oito músicas oferecem - juntas - belo recorte da obra de Caetano. Título seminal do cancioneiro do artista, o samba De manhã (Caetano Veloso, 1965) vira transamba, à moda do som dos recentes CDs gravados por Caetano com a BandaCê. Detalhe: Caetano já havia dado voz ao samba em duetos com Maria Bethânia (intérprete original do tema) e Beth Carvalho, captados para registros de shows das cantoras, mas De manhã nunca integrara até então a discografia oficial do artista. Também dos anos 1960, a canção Coração vagabundo (Caetano Veloso, 1967) figura em iTunes session com a habitual serenidade para lembrar que, sem João Gilberto, provavelmente não haveria Caetano Veloso. Não surpreende, assim como Por quem? (Caetano Veloso, 2009), canção levada nos mesmos falsetes da gravação do álbum Zii e zie (Universal Music, 2009) e já originalmente inserida em universo musical similar ao adotado no álbum da iTunes session, série que registra shows gravados em estúdio com repertório e formato diferenciados. A banda de Caetano é outra nessa gravação. Contudo, o guitarrista Pedro Sá continua sobressaindo, tal como nos discos da trilogia Cê. Em Lost in the paradise (Caetano Veloso, 1969), ótima faixa dedicada por Caetano a Devendra Banhart (artista norte-americano devotado ao ídolo baiano), o cortante solo hendrixiano da guitarra de Pedro Sá consegue reproduzir o efeito polifônico do arranjo orquestrado pelo tropicalista maestro carioca Rogério Duprat (1932 - 2006) na gravação original do álbum branco Caetano Veloso (Philips, 1969). Em Livros (Caetano Veloso, 1997), cuja imponente regravação merece o status de abrir o álbum, a guitarra de Sá arranha e interfere no suingue sustentado pela percussão de Marcio Victor, músico também fundamental na abordagem dessa música que dialoga liricamente com Chão de estrelas (Silvio Caldas e Orestes Barbosa, 1937). Título mais raro do cancioneiro autoral de Caetano Veloso, tendo sido lançado como lado B de compacto de 1978, o Samba da cabeça também ressurge revigorado no caldeirão tropical do álbum iTunes session Caetano Veloso. Que fecha com abordagem do tema mexicano Cu-cu-ru-cu-cu Paloma (Tomás Méndez, 1954), que na sessão exclusiva do iTunes soa menos pungente do que em registro anteriores feitos pelo próprio Caetano. De todo modo, o álbum seduz com recorte fluente da grande obra.

Gabriel Medeiros denoiteosolilumina@gmail.com disse...

Mauro, esse projeto será editado em cd físico também?

Mauro Ferreira disse...

Não, Gabriel. Em tese, o álbum ganha somente edição digital. Abs, MauroF