Mauro Ferreira no G1

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domingo, 18 de maio de 2014

Black Keys adensa som em 'Turn blue', álbum de camadas e tons épicos

Resenha de CD
Título: Turn blue
Artista: The Black Keys
Gravadora: Nonesuch / Warner Music
Cotação: * * * *

Não, não há um single irresistível como Lonely boy no oitavo álbum do duo norte-americano The Black Keys, Turn blue. Parceiro recorrente da dupla desde o pouco ouvido álbum Attack & release (2008), o produtor, Danger Mouse, é o mesmo do incensado El camino (2011), o irresistível álbum anterior de clima garageiro que catapultou Dan Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria) ao topo do universo pop. Eventualmente envolto em aura psicodélica, Turn blue é disco de camadas e tons épicos - como já sinaliza Weight of love, tema que roça os seis minutos entre solos de guitarra e uma imponência que contradiz o tom interiorizado da faixa e, no geral, do disco. Nesse sentido, o cativante e animado single Fever - dançante e psicodélico ao mesmo tempo, com seus sons de garage - dá a pista falsa de Turn blue. O álbum aponta caminhos para o Black Keys, evita clichês e exige concentração do ouvinte para absorver as camadas sonoras que se sobrepõem em (grandes) músicas como In time, que embute soul, funk e o falsete do vocalista Dan Auerbach em batida envolvente. Mesmo quando envereda pelo rock mais facilmente reconhecível (como em Gotta get away, tema que ecoa influências do grupo norte-americano Credence Clearwater Revival), Turn blue recusa o óbvio. Com a cumplicidade do duo, que deve ter entrado em estúdio com a disposição de não se repetir, Mouse adensa e encorpa o som do Black Keys. Se Year in review tem tom soturno, It's up to you alterna climas e andamentos sem perder a linha, evocando em certas passagens o blues que, mixado com o rock, norteia parte da obra da dupla. Sem acenar para as arenas, Turn blue provoca questionamentos existenciais com repertório que faz ode ao inconformismo com o estado natural das coisas (em Bullet in the brain, faixa de intensidade crescente) e que expõe dores cotidianas sem que fazer do álbum um muro de lamentações. Com o falsete de Auerbach, Waiting on words, aliás, sopra resignação face ao fim de um amor. E o fato é que - mesmo sem vocação para singles - músicas como 10 lovers, In your prime e Turn blue dão grandeza ao som do Black Keys. O caminho certo é aquele que evita a repetição e desvia da fórmula fácil do sucesso comercial, nociva a médio e longo prazos.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Não, não há um single irresistível como Lonely boy no oitavo álbum do duo norte-americano The Black Keys, Turn blue. Parceiro recorrente da dupla desde o pouco ouvido álbum Attack & release (2008), o produtor, Danger Mouse, é o mesmo do incensado El camino (2011), o irresistível álbum anterior de clima garageiro que catapultou Dan Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria) ao topo do universo pop. Eventualmente envolto em aura psicodélica, Turn blue é disco de camadas e tons épicos - como já sinaliza Weight of love, tema que roça os seis minutos entre solos de guitarra e uma imponência que contradiz o tom interiorizado da faixa e, no geral, do disco. Nesse sentido, o cativante e animado single Fever - dançante e psicodélico ao mesmo tempo, com seus sons de garage - dá a pista falsa de Turn blue. O álbum aponta caminhos para o Black Keys, evita clichês e exige concentração do ouvinte para absorver as camadas sonoras que se sobrepõem em (grandes) músicas como In time, que embute soul, funk e o falsete do vocalista Dan Auerbach em batida envolvente. Mesmo quando envereda pelo rock mais facilmente reconhecível (como em Gotta get away, tema que ecoa influências do grupo norte-americano Credence Clearwater Revival), Turn blue recusa o óbvio. Com a cumplicidade do duo, que deve ter entrado em estúdio com a disposição de não se repetir, Mouse adensa e encorpa o som do Black Keys. Se Year in review tem tom soturno, It's up to you alterna climas e andamentos sem perder a linha, evocando em certas passagens o blues que, mixado com o rock, norteia parte da obra da dupla. Sem acenar para as arenas, Turn blue provoca questionamentos existenciais com repertório que faz ode ao inconformismo com o estado natural das coisas (em Bullet in the brain, faixa de intensidade crescente) e que expõe dores cotidianas sem que fazer do álbum um muro de lamentações. Com o falsete de Auerbach, Waiting on words, aliás, sopra resignação face ao fim de um amor. E o fato é que - mesmo sem vocação para singles - músicas como 10 lovers, In your prime e Turn blue dão grandeza ao som do Black Keys. O caminho certo é aquele que evita a repetição e desvia da fórmula fácil do sucesso comercial, nociva a médio e longo prazos.