Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


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sábado, 10 de outubro de 2015

Disco com trilha de filme sobre Chico tem fonogramas de Moyseis e Péricles

Cantor paulista projetado como vocalista do grupo de pagode Exaltasamba, posto que ocupou de 1986 a 2012 antes de sair em carreira solo, Péricles canta (muito bem) o samba Estação derradeira (Chico Buarque, 1987) em gravação feita para Chico - Artista brasileiro, filme em que o cineasta Miguel Faria Jr. foca a vida e a obra de Chico Buarque. Os registros inéditos de músicas do cantor e compositor carioca serão lançados em CD que a gravadora Biscoito Fino põe nas lojas em novembro de 2015, mês em que o filme entra em circuito nacional. A trilha sonora inclui fonogramas inéditos de Adriana Calcanhotto (dueto com Mart'nália no samba Biscate, lançado por Chico Buarque em 1993), Carminho (Sabiá, Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968), Laila Garin (Uma canção desnaturada, Chico Buarque 1979), Mônica Salmaso (Mar e lua, Chico Buarque, 1980), Moyseis Marques (Mambembe, Chico Buarque, 1972) e Ney Matogrosso (As Vitrines, Chico Buarque 1981). O próprio Chico Buarque participa da trilha sonora com registros inéditos de Sinhá - a parceria com João Bosco, gravada por Chico no seu último álbum de estúdio, lançado em 2011 - e de Paratodos, a música-título do álbum lançado pelo artista em 1993. Milton Nascimento também figura no disco, fazendo dueto com a citada Carminho em Sobre todas as coisas (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983).

domingo, 28 de junho de 2015

Cenário de Carvalho valoriza show em que Salmaso eleva Guinga e Pinheiro

Resenha de show
Título: Corpo de baile
Artista: Mônica Salmaso (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Tom Jobim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de junho de 2015
Cotação: * * * * *
 Show em cartaz no Teatro Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), até 28 de junho de 2015

A ruptura de Guinga com Paulo César Pinheiro, nos anos 1980, transformou a obra lapidar dos compositores cariocas em fonte abandonada. São músicas feitas nas décadas de 1970 e 1980 que, em parte, jazem em baú de joias a que a cantora paulistana Mônica Salmaso teve acesso há cerca de dez anos. Em 2014, parte do tesouro desse baú veio a público em álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino, Corpo de baile, que logo se impôs como o melhor de Salmaso e como um dos melhores discos do ano passado por conta da perfeição das interpretações e dos arranjos assinados por Dori Caymmi, Luca Raele, Nailor Azevedo Proveta, Nelson Ayres, Paulo Aragão, Teco Cardoso e Tiago Costa. No show Corpo de baile, que chegou na noite de 27 de junho de 2015 à cidade do Rio de Janeiro (RJ) após estrear em São Paulo (SP), Salmaso bisa a perfeição do disco, dividindo o palco com a maior parte dos músicos e arranjadores do CD. Além da cantora, são nove músicos em cena: Teco Cardoso (nos sopros e na direção musical), Nailor Proveta (clarinete e saxofones), Paulo Aragão (violão), Nelson Ayres (piano e acordeom), Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e os músicos que manuseiam com virtuosismo as cordas do Quarteto Carlos Gomes, formado por Adonhiran Reis (violino), Alceu Reis (cello), Cláudio Cruz (violino) e Gabriel Marin (viola). Para abrilhantar ainda mais a cena, um majestoso vídeo-cenário criado pelo cineasta Walter Carvalho - diretor de cinema que já havia trabalhado com a cantora no registro audiovisual do show Alma lírica brasileira que gerou o DVD editado em 2012 - engrandece o show com projeções veiculadas em tela de tule alocada à beira do palco, entre a cantora e a plateia. As imagens projetadas por Carvalho funcionam como telas que traduzem visualmente o universo das músicas do disco e que enquadram a cantora e os músicos dentro dessas telas, criando inebriantes efeitos visuais. É, de certa forma, como se o espectador estivesse assistindo a vários curtas-metragens com música tocada ao vivo. E a música em si é sublime. A obra de Guinga e Paulo César Pinheiro tem formato clássico que alude a um Brasil antigo cuja trilha sonora era formada por modinhas, valsas e canções. Mas, dentro desse formato tradicional, Guinga embute a modernidade de sua obra, plenamente entendida por Salmaso. Desde o primeiro número, o choro-canção Fim dos tempos (inédito até ser gravado em 2014 pela cantora em Corpo de baile), até o bis, dado com a modinha Senhorinha (1986), única das 15 músicas do roteiro ausente do disco por já ter sido gravada por Salmaso no álbum Voadeira (Eldorado, 1999), o que se vê e ouve é uma cantora em estado de graça, totalmente segura na interpretação de cancioneiro denso que exige rigor estilístico e técnica apurada. Salmaso jamais sai do tom, seja mergulhando no além-mar do fado Navegante (uma das seis inéditas que somente chegaram ao disco em Corpo de baile), no pântano de mágoas e solidão em que está imerso Bolero de Satã (1976), na tribo indígena de Curimã (2014), no universo afrancesado da valsa Nonsense (1989) e no salão vintage em que roda a valsa com ar de modinha Sedutora (2014), número em que sobressai o toque límpido do piano de Nelson Ayres. À vontade dentro do universo camerístico do show, Salmaso segue Procissão de padroeira (2010), marcha pelo Rancho das sete cores (2014) - guiada pelo arranjo e clarinete de Nailor Proveta - e se embrenha na floresta caipira em que Quadrão (1980) propaga ecos dos cancioneiros de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959)  no toque da viola caipira de Neymar Dias. O coco de passo embolado Violada (1992) também ressoa sons desse Brasil caboclo. No seu salão virtuoso, Mônica evolui majestosa e dá baile como cantora ao som de valsas como Noturna (1989) e Corpo de baile (2014). E tudo é sedutor, como sentencia verso da música-título do show. Valorizado pelo vídeo-cenário de Walter Carvalho, composto de retratos de um Brasil tão antigo quanto atemporal, todo o corpo de baile envolve o espectador neste show sublime - e memorável - de Mônica Salmaso.

'Senhorinha' é belo bônus do show em que Salmaso eleva Guinga e Pinheiro

Modinha dos compositores cariocas Guinga e Paulo César Pinheiro, lançada na voz do cantor fluminense Ronnie Von em gravação feita há 29 anos para a trilha sonora da primeira versão da novela Sinhá moça (TV Globo, 1986), Senhorinha ganhou a voz límpida de Mônica Salmaso em registro feito para o terceiro álbum da cantora paulistana, Voadeira (Eldorado, 1999). Por isso, Senhorinha não entrou no repertório do perfeito álbum em que Salmaso canta somente músicas da já extinta parceria de Guinga e Pinheiro, Corpo de baile (Biscoito Fino, 2014). Mas Senhorinha foi o precioso e sensível bônus do show Corpo de baile, que chegou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 27 de junho de 2015, em apresentação que bisou a perfeição do disco e que embeveceu o público que encheu o Teatro Tom Jobim, onde Corpo de baile fica em cartaz até hoje, 28 de junho. Além de Senhorinha, Salmaso apresentou - com fidelidade aos arranjos sublimes do disco - as 14 músicas do álbum Corpo de baile. Eis o roteiro seguido em 27 de junho de 2015 por Mônica Salmaso - em foto de Mauro Ferreira - na estreia carioca de Corpo de baile, show de música elevada, engrandecido pelo belo vídeo-cenário criado pelo cineasta Walter Carvalho:

1. Fim dos tempos (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
2. Fonte abandonada (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2003)
3. Navegante (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
4. Bolero de Satã (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1976)
5. Curimã (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
6. Nonsense (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989)
7. Sedutora (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
8. Rancho das sete cores (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
9. Quadrão (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1980)
10. Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989)
11. Noturna (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1989)
12. Violada (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1992)
13. Procissão da padroeira (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2010)
14. Corpo de baile (Guinga e Paulo César Pinheiro, 2014)
Bis:
15. Senhorinha (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1986)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Álbuns de Alceu, Gil e Salmaso concorrem em MPB no 26º Prêmio da Música

Líder de indicações na 26ª edição do Prêmio da Música Brasileira, com quatro nomeações, a cantora paulista Mônica Salmaso disputa com o cantor e compositor baiano Gilberto Gil e com o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença o troféu de melhor álbum na categoria MPB - um dos mais importantes da premiação criada pelo empresário José Maurício Machline. Salmaso concorre com Corpo de baile (Biscoito Fino, 2014), o perfeito álbum em que dá sua voz lírica e precisa ao cancioneiro dos compositores cariocas Guinga e Paulo César Pinheiro. Gil está no páreo com Gilbertos samba (Sony Music, 2014), disco primoroso em que aborda com leveza o repertório do cantor baiano João Gilberto. Já Alceu Valença - pela primeira vez indicado fora da categoria regional em que normalmente é alocado - concorre com Valencianas (Deck, 2014), registro ao vivo do show em que o artista enquadra sua obra autoral na majestosa moldura sinfônica da Orquestra Ouro Preto, regida pelo maestro Rodrigo Toffolo. A lista de indicados do 26º Prêmio da Música Brasileira totaliza 106 nomes, selecionados dentre os 536 CDs e 53 DVDs inscritos e distribuídos em 16 categorias. Os vencedores serão conhecidos em 10 de junho de 2015, em cerimônia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro que vai ser norteada por homenagem à cantora baiana Maria Bethânia. Eis alguns CDs e nomes indicados nas 16 categorias da 26ª edição do Prêmio da Música Brasileira:

Categoria Canção Popular:
♪ Abstraia, baby - Luciano Salvador Bahia (Dubas Música, 2014)
♪ Matéria estelar - Rhaissa Bittar (Independente, 2014)
♪ Na medida do impossível - Fernanda Takai (Deck, 2014)

Categoria Instrumental:
♪ Hamilton de Holanda Trio - Hamilton de Holanda (Independente, 2014)
♪ O clássico violão popular brasileiro - Duo Assad (Tratore, 2014)
♪ Roendopinho - Guinga (Acoustic Music Records / Rough Trade, 2014)

Categoria MPB:
♪ Corpo de baile - Mônica Salmaso (Biscoito Fino, 2014)
♪ Gilbertos samba - Gilberto Gil (Sony Music, 2014)
♪ Valencianas - Alceu Valença (Deck, 2014)

Categoria Regional:
♪ As Ganhadeiras de Itapuã - As Ganhadeiras de Itapuã (Coaxo do Sapo, 2014)
♪ Devoção - Carlos Farias e Coral das Lavadeiras (Independente, 2014)
♪ Dona Glorinha do Coco - Dona Glorinha do Coco (Independente, 2014)

Categoria Projeto visual:
♪ Gigante gentil  -  Erasmo Carlos  (Coqueiro Verde Records, 2014) - Crama Design Estratégico
♪ Na medida do impossível - Fernanda Takai (Deck, 2014)- Hardy Design
♪ Velocia  - Skank (Sony Music, 2014) - Marcus Barão

Álbum eletrônico:
♪ Abaporu - Gui Boratto (Independente, 2014)
♪ Mafagafo - Guga Machado (Independente, 2014)
♪ Zambê - Donatinho (Dannemann Discos / Pimba, 2014)

Álbum erudito:
♪ Presença de Villa-Lobos - Hugo Pilger e Lúcia Barrenechea (Independente, 2014)
♪ Prokofiev (Sinfonia nº 1, Sinfonia nº 2 e Sonhos) - Osesp (2014)
♪ Villa-Lobos (Sinfonia nº 10, Ameríndia)  - Osesp (2014)

Álbum em língua estrangeira:
♪ Edith - Fábio Jorge (Independente, 2014)
♪ Mode human - Far From Alaska (Deck, 2014)
♪ The Chico Buarque Experience - Vários artistas (Independente, 2014)

Álbum infantil:
♪ Banda Mirim 10 anos - Primeira cartilha e segunda cartilha - Banda Mirim (Independente, 2014)
♪ No ritmo da emboladinha - Caju e Castanha (Independente, 2014)
♪ Zoró vol. 1 - Bichos esquisitos - Zeca Baleiro (Saravá Discos, 2014)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Salmaso canta Alceu com arranjo que evoca riqueza da nação nordestina

Resenha de single
Título: Na primeira manhã
Artista: Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *

A edição do single Na primeira manhã - já disponível em todas as plataformas digitais com a gravação feita por Mônica Salmaso para a trilha sonora da novela Sete vidas (TV Globo, 2015) - prova que uma música sempre pode ser renovada, mesmo que já tenha recebido gravações antológicas. Canção dramática que se desvia do trilho festivo que pauta a maior parte do repertório do cantor e compositor pernambucano Alceu Valença, Na primeira manhã - lançada na voz do autor no álbum Coração bobo (Ariola, 1980) - já tinha merecido registro soberano de Maria Bethânia, lançado no álbum A beira e o mar (Philips, 1984). Pois Salmaso - grande cantora de técnica irretocável - enfrenta Na primeira manhã longe do tom dramático da intérprete baiana e, talvez por isso mesmo, apresenta abordagem primorosa que expõe outra visão da música sem correr o risco inglório da comparação, até porque o clima é outro. O maior trunfo da gravação de Salmaso é o arranjo que evoca toda a riqueza musical da nação nordestina. Em harmonia, os toques virtuosos dos músicos Teco Cardoso (flautas), Lulinha Alencar (acordeom), Neymar Dias (viola caipira), Dimos Goudarolis (cello) e Robertinho Silva (percussão) abarcam e evocam o belo universo dos aboios, do pífanos de Caruaru (PE) e da pulsação mais pungente da música do Nordeste, cujo território ancestral foi mais bem demarcado no mapa da música do Brasil a partir da propulsão da obra seminal de Luiz Gonzaga (1912 - 1989). As evocações são feitas de forma progessiva sem que o som embole referências. Sugerindo movimento, o arranjo segue o trilho existencial da personagem da canção, um ser desnorteado com a solidão potencializada pela perda de um amor e que, diante da ausência, caminha como "um boi no meio da multidão... um carro correndo em contramão". Enfim, Na primeira manhã é grande gravação em que Salmaso se posiciona (mais uma vez) como uma cantora com dotes de músico, integrando sua voz - seu lamento - com os instrumentos ouvidos em arranjo tradutor dos profundos sentimentos da canção. 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Guinga faz álbum com (vozes de) quatro cantoras de nacionalidades distintas

Enquanto se prepara para gravar disco com a cantora portuguesa Maria João na Alemanha, no segundo semestre deste ano de 2015, Guinga tem outro lançamento fonográfico à vista. Trata-se de álbum em que músicas antigas do compositor carioca - em foto de Manfred Pollert - e de outros compositores serão ouvidas nas vozes de quatro cantoras de nacionalidades distintas. A norte-americana Esperanza Spalding, a portuguesa Maria João, a italiana Maria Pia de Vito e a brasileira Mônica Salmaso se revezam nas interpretações das músicas. As três cantoras estrangeiras têm grande intimidade com o jazz.  O álbum vai ser editado no Brasil ainda este ano,  em data ainda incerta.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Salmaso grava canção de Alceu, de 1980, para trilha de novela da Globo

Uma das mais pungentes e dramáticas músicas do cancioneiro habitualmente festivo de Alceu Valença, Na primeira manhã ganha a voz de Mônica Salmaso neste ano de 2015. A cantora paulistana gravou a música - lançada pelo artista pernambucano em seu álbum Coração bobo (Ariola, 1980) e regravada por Maria Bethânia no disco A beira e o mar (Philips, 1984) - para a trilha sonora nacional da próxima novela das 18h da Rede Globo, Sete vidas, que tem estreia programada para a próxima segunda-feira, 9 de março. A gravadora Biscoito Fino vai lançar o single (capa acima) nas plataformas digitais e promovê-lo com lyric video a ser posto no YouTube.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Salmaso alcança a perfeição ao cantar o Brasil clássico de Guinga e Pinheiro

Resenha de CD
Título: Corpo de baile
Artista: Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * *

Décimo álbum da cantora paulista Mônica Salmaso, Corpo de baile é disco perfeito, lindo, encantador. Cantora vocacionada para interpretações pautadas por rigores eruditos, Salmaso encontra na obra de Guinga e Paulo César Pinheiro o veículo ideal para a exposição de seu canto preciso. Mais do que a reiterar a perfeita comunhão entre técnica e emoção na voz da cantora (emoção entranhada na atmosfera formal que envolve o canto da artista, mas viva), Corpo de baile já se revela um disco necessário por revelar grandes músicas inéditas dessa parceria iniciada nos anos 1970 e dissolvida na década de 1980 após ruidosa briga entre os compositores cariocas - separação que propiciou a união de Guinga com o também carioca Aldir Blanc, em outro perfeito casamento musical que gerou parceria de maestria realçada pela cantora paraense Leila Pinheiro em um de seus melhores álbuns, Catavento e girassol (EMI-Odeon, 1996).O que espanta em Corpo de baile é a alta qualidade das seis inéditas. São obras-primas como o choro-canção Fim dos tempos e o fado Navegante, que evoca a alma de Lisboa ao versar com poesia sobre um conquistador que deixa o cais da solidão disposto a desbravar paixões além-mar. Navegante está sagazmente alocada no disco ao lado de Porto de Araújo, música lançada por Miúcha em álbum de 1989 que desembarca na voz de Mônica entre as cordas do Quarteto Carlos Gomes, peça fundamental do arranjo orquestrado por Luca Raele. O time de arranjadores do disco - produzido por Teco Cardoso sob a direção musical de Salmaso - compreende a grandeza da obra e contribui decisivamente para a perfeição do disco. Dori Caymmi, Luca Raele, Nailor Azevedo Proveta, Nelson Ayres, Paulo Aragão, Teco Cardoso e Tiago Costa formam o dream team de arranjadores do álbum, todos hábeis na formatação camerística de obra dissociada do tempo presente. A propósito, o figurino vintage usado por Salmaso na capa e nas fotos promocionais do álbum traduz com precisão o clima do repertório, pontuado por valsas como a inédita Sedutora, a também inédita música-título Corpo de baileNoturna (1989), Nonsense - esta já gravada por Miúcha no mesmo disco de 1989 que apresentou Porto de Araújo - e Fonte abandonada, já abordada por Guinga em disco de 2003. Nonsense tem letra magistralmente construída por Pinheiro com palavras em português de sonoridade francesa, seguindo a receita de Chico Buarque na composição de sua Joana Francesa (1973). Por também habitar um passado já remoto como compositor, Pinheiro se adequou perfeitamente ao espírito da música de Guinga. Que sempre bebeu das ricas fontes dos cancioneiros soberanos de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959), evocados sobretudo em Quadrão (1980) e na inédita Curimã, cujo universo indígena é povoado na faixa pela voz incidental de Marluí Miranda. Única música realmente conhecida dentre as 14 selecionadas por Salmaso para Corpo de baile, todas tratadas como peças de câmara pela cantora, Bolero de Satã (1976) - propagado em 1979 por Elis Regina (1945 - 1982) em dueto com Cauby Peixoto - tem no registro de Salmaso a prova de que a cantora consegue embutir sentimento em seu canto técnico. Mas é um sentimento depurado, sem excessos, sem melodrama, o que faz o disco correr o risco de soar pouco emotivo, ou frio, para ouvidos mais habituados a interpretações mais passionais. E assim - majestoso, antigo (mas não velho...) - caminha Corpo de baile, álbum que evoca um Brasil de tempos idos ao apresentar a inédita marcha Rancho da sete cores e ao se embrenhar pelo universo caipira no passo embolado de Violada. Esse caminho é atravessado no fim pela Procissão da Padroeira, arranjada por Dori Caymmi no mesmo tom solene do canto de Mônica Salmaso, cantora que dá baile na concorrência ao beber dessa rica fonte abandonada: a parceria de Guinga e Paulo César Pinheiro, tradutores musicais de Brasil vintage, bonito, repleto de riquezas a serem exploradas.  É um Brasil clássico na forma, só que atemporal pela modernidade de Guinga.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Cantora de voz e alma lírica, Salmaso realça todos os sabores de Vinicius

Resenha de show
Título: Homenagem a Vinicius de Moraes
Artista: Mônica Salmaso (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de julho de 2014
Cotação: * * * * 1/2

Mônica Salmaso fez graça no palco do Teatro Rival em 26 de julho de 2014, dizendo que o show que apresentava naquela noite era o Alma lírica - Sabor Vinicius. A cantora paulista se referia ao recital Alma lírica brasileira (2010), feito nos últimos três anos por Salmaso com o pianista Nelson Ayres e com o flautista e saxofonista Teco Cardoso. Os dois virtuosos músicos continuam em cena com a cantora nesta abordagem camerística do cancioneiro multifacetado do compositor carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Espetáculo originado do convite feito a Salmaso em 2012 para fazer em Belo Horizonte (MG) um show em tributo ao centenário de nascimento do poeta da moderna canção brasileira, Homenagem a Vinicius transitou por algumas capitais do Brasil antes de chegar ao Rio de Janeiro (RJ) em 25 e 26 de julho de 2014, confirmando o momento iluminado de Salmaso - cantora que, a propósito, debutou no mercado fonográfico em 1995 com disco em que deu sua voz precisa aos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius no toque do violão de Paulo Bellinati. Eles, os afro-sambas, estão ausentes do roteiro deste show, mais focado no cancioneiro criado por Vinicius com o carioca Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e com parceiros como os também cariocas Carlos Lyra e Chico Buarque. Cantora de alma lírica, Salmaso valoriza (toda) a beleza melódica e poética desse repertório, em fina sintonia com os dois músicos. Há certa solenidade no canto de Salmaso, perceptível já no primeiro dos 18 números do show, Chora coração (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1973), mas esse rigor estilístico se afina com a maior parte das melodias da obra em questão. De todo modo, Salmaso contrabalança essa bem-vinda formalidade vocal com comentários e temas espirituosos. "Esse show é assim: tem uma gracinha e uma cacetada", conceituou a artista, com humor. E o fato é que, cantando Vinicius, Salmaso reitera a perfeição de seu canto. O padrão da cantora é alto. Tanto que interrompeu e recomeçou Sem mais adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1973) para ajustar sua interpretação ao seu próprio rigor. Perfeito até o bis, o roteiro equilibra bem músicas mais densas com temas mais leves como A casa (Vinicius de Moraes, 1980) - habitada por Salmaso com apropriada atmosfera lúdica - e Rancho das namoradas (1962), marcha-racho gravada pela cantora fluminense Angela Maria que representa no show a pouco lembrada parceria de Vinicius com Ary Barroso (1903 - 1964). O problema do bis é o arremesso de Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1964) no arremate do bis. O samba se presta ao encerramento de um show, mas, no caso, faz o recital se desviar do trilho central do roteiro, passando por cima do conceito. Mas o trio em si nunca sai dos trilhos Parafraseando versos do Frevo de Orfeu (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), escolhido para fechar o show (antes do bis), poucas vezes se viu e ouviu tanta beleza. Coisa mais linda (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961), aliás, é um desses momentos. Da mesma parceria de Carlos Lyra com Vinicius, Maria moita (1964) tem humor extraído por Salmaso. Em Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), o piano de Ayres parece flutuar sobre a melodia. Já em Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) é Teco Cardoso quem sopra notas que se afinam com a voz de Salmaso de forma simbiótica. Fora da seara dos clássicos, a cantora ilumina também São Francisco (1956), joia nada franciscana da parceria de Vinicius com o compositor paranaense Paulo Soledade (1919 - 1999). A moldura sempre acústica do recital - construída com mix de piano, sopros e eventual percussão (a cargo da própria Salmaso) - realça toda a arquitetura refinada (mas aparentemente simples, pois Vinicius era poeta capaz de expor sentimentos profundos em tom quase sempre coloquial) de canções amorosas como Sabe você (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964). Mas isso nem surpreende. A surpresa do show - menor para quem sabe que Salmaso começou sua carreira atuando em espetáculo teatral do encenador mineiro Gabriel Villela - é ouvir a cantora dizendo a parte falada da letra da nordestina Pau de arara (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964), música também conhecida como Comedor de gilete e mais associada ao cantor e humorista paulista Ary Toledo, principal intérprete do tema. Cantora de amplos recursos vocais, Salmaso consegue mergulhar na densidade de Derradeira primavera (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) minutos após evidenciar, em tom quase etéreo, a delicadeza do seminal choro Odeon (Ernesto Nazareth, 1909), letrado por Vinicius em 1968. Pode não parecer à primeira ouvida, mas Salmaso também sabe ser uma intérprete plural na exata medida exigida pelo cancioneiro multifacetado do centenário poeta. O Vinicius de Moraes de Mônica Salmaso é muito saboroso.

Salmaso canta as 'gracinhas' e 'cacetadas' de Vinicius com Ary, Tom e Lyra

"Esse show é assim: tem uma gracinha e uma cacetada". Com esse comentário maroto, Mônica Salmaso conceituou com precisão as modulações do roteiro do show em que celebra o compositor e poeta carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980) na companhia dos músicos Nelson Ayres (piano) e Teco Cardoso (saxofone e flauta). Idealizado há dois anos para ser apresentado em Belo Horizonte (MG) em dezembro de 2012, a convite do projeto Compositores.BR, o show 100 Vinicius voltou à capital mineira em outubro de 2013 - mês em que o Brasil festejou o centenário de nascimento de Vinicius de Moraes - e depois percorreu cidades como Brasília (DF) e Curitiba (PR) antes de estrear no Rio de Janeiro (RJ), em apresentações que lotaram o Teatro Rival em 25 e 26 de julho de 2014. Na estreia nacional de 2012, o roteiro do show tirava o foco das parcerias do poeta compositor com Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e Baden Powell (1937 - 2000), pois ambas já eram abordadas em outros eventos do projeto Compositores.BR. Mas o roteiro atual - apresentado pela primeira vez pela cantora em outubro de 2013 - já põe Jobim no seu devido lugar de destaque na obra de Vinicius. Já os afro-sambas - abordados por Salmaso em seu primeiro álbum, de 1995 - foram excluídos pelo fato de dependerem do violão, instrumento ausente na formação camerística do show. A mesma formação, aliás, utilizada por Salmaso no recital Alma lírica brasileira (2010), perpetuado em CD e DVD. Em contrapartida, a cantora dá sua voz precisa a gracinhas e a cacetadas feitas por Vinicius com parceiros como Ary Barroso (1903 - 1964), Carlos Lyra, Chico Buarque, Francis Hime e Paulo Soledade (1919 - 1999). Eis o belo roteiro seguido por Mônica Salmaso - em foto de Rodrigo Goffredo - na apresentação de seu show (rebatizado Homenagem a Vinicius de Moraes),  realizada em 26 de julho de 2014,  no Teatro Rival,  no Rio de Janeiro  (RJ):

1. Chora coração (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1973)
2. A casa (Vinicius de Moraes, 1980)
3. Estrada branca (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958)  
4. Rancho das namoradas (Ary Barroso e Vinicius de Moraes, 1962)
5. Coisa mais linda (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961)
6. Maria Moita (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964)
7. Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) 
8. Olha, Maria (Antonio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, 1970) 
9. Modinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) 
10. São Francisco (Paulo Soledade e Vinicius de Moraes, 1956)
11. Sabe você (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964)
12. Pau de arara (Comedor de gilete) (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964) 
13. Sem mais adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1963)
14. Odeon (Ernesto Nazareth, 1909, com letra póstuma de Vinicius de Moraes, 1968)
15. Derradeira primavera (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962)
16. Frevo de Orfeu (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959)  
Bis:
17. Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes, 1971)
18. Trem das onze (Adoniran Barbosa, 1964)

sábado, 19 de julho de 2014

Eis a capa do CD em que Salmaso canta a parceria de Guinga e Pinheiro

Esta é a capa de Corpo de baile, álbum em que a cantora paulista Mônica Salmaso dá voz a 14 músicas dos compositores cariocas Guinga e Paulo César Pinheiro, coroando parceria aberta nos anos 1970. Com lançamento programado no iTunes para 29 de julho de 2014, o CD chega às lojas no início de agosto, numa edição da gravadora Biscoito Fino. A música-título é inédita.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Salmaso dá voz às parcerias de Guinga com Pinheiro no CD 'Corpo de baile'

A foto acima - clicada por Dani Gurgel no estúdio da gravadora Biscoito Fino - flagra Mônica Salmaso durante as sessões de gravação de seu décimo álbum, Corpo de baile. Nas lojas entre o fim deste mês de julho de 2014 e o início de agosto, em edição da gravadora Biscoito Fino, o CD Corpo de baile é disco inteiramente dedicado à parceria do compositor carioca Guinga com o poeta e compositor carioca Paulo César Pinheiro. Antes de ganhar visibilidade na mídia por conta da obra assinada com Aldir Blanc, no início dos anos 1990, Guinga tinha sólida parceria com Pinheiro. Muitos títulos dessa parceria permanecem inéditos em disco. Em Corpo de baile, a cantora paulista dá sua voz precisa a músicas já gravadas - como Bolero de Satã (1976), Quadrão (1980), Nonsense (1989), Porto de Araújo (1989), Noturna (1989) e Fonte abandonada (2003) - entre inéditas como Navegante, Sedutora, Curimã, Rancho das sete cores, Fim dos tempos e a música-título Corpo de baile. Os arranjos são de feras como Dori Caymmi, Nailor Proveta e Teco Cardoso.

sábado, 31 de agosto de 2013

Ná abre parceria com Tulipa e canta com Salmaso no seu álbum 'Embalar'

Ná Ozzetti abre parceria com Tulipa Ruiz. A primeira música das compositoras paulistas, Pra começo de conversa, fecha paradoxalmente o décimo disco solo de Ná, Embalar, posto à venda neste mês de agosto de 2013 em edição da Circus Produções Culturais e Fonográficas. O CD conta com a participação da cantora paulista Mônica Salmaso - que divide com Ná a interpretação de Minha voz, composição da mineira Déa Trancoso - e do músico Ivan Vilela, que toca viola caipira nas faixas As estações (Dante Ozzetti e  Luiz Tatit) e Olhos de Camões, parceria de Ná Ozzetti com Alice Ruiz que incorpora texto do poeta português Luis de Camões (1524 - 1580). Em Embalar, disco produzido por Ná Ozzetti com Dante Ozzetti, Mário Manga, Sérgio Reze e Zé Alexandre Carvalho, a cantora dá voz a músicas como A lente do homem (Manu Lafer), Lizete (Kiko Dinucci e Jonathan Silva), Miolo (Ná Ozzetti e Luiz Tatit), Musa da música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), Nem oi (Dante Ozzetti e Makely Ka) e Enfeites de cunhã (Ná Ozzetti e Joãozinho Gomes). A música-título de Embalar é de Dante Ozzetti e Luiz Tatit.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Edu recebe Salmaso, 'uma das vozes de sua vida', ao gravar show dos 70

Edu Lobo nunca escondeu seu encantamento com o canto de Mônica Salmaso. Na gravação ao vivo do show Edu Lobo 70 anos, realizada no Rio de Janeiro (RJ) em 29 de agosto de 2013 para gerar CD e DVD a serem editados pela gravadora Biscoito Fino, o compositor carioca reafirmou tal encanto, dizendo ao público do Theatro Municipal do Rio de Janeiro que a voz da cantora paulista é uma das mais belas que ouviu em seus 70 anos de vida. Ninguém duvidou de Edu quando Salmaso soltou a voz em A mulher de cada porto (Edu Lobo e Chico Buarque, 1985) - em dueto com o anfitrião que rivalizou em beleza com a gravação feita por Gal Costa com Chico Buarque para o LP com a trilha sonora do musical O corsário do rei (Som Livre, 1985) - e quando solou lindamente Coração cigano (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 2010), número em que Edu somente contribuiu com os vocais do fim em uníssono. Para arrematar, Salmaso - com Edu na foto de Rodrigo Amaral - ainda interpretou de forma arrebatadora a Valsa brasileira (Edu Lobo e Chico Buarque, 1988) antes de voltar à cena, no fim do show, para se juntar aos demais convidados - Bena Lobo, Chico Buarque e Maria Bethânia - nos números coletivos Na carreira (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) e Corrida de jangada (Edu Lobo e José Carlos Capinam, 1967). A participação luminosa de Salmaso na gravação do show Edu Lobo 70 anos justificou todos os elogios públicos do homenageado da noite à sua cantora.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ney, Nana, Rosa e Salmaso dão o tom maior no prêmio que louvou Jobim

Marco inaugural da parceria de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Se todos fossem iguais a você (1956) foi - na voz singular de Ney Matogrosso - o fecho majestoso dos onze números musicais da 24º edição do Prêmio da Música Brasileira, realizada no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 12 de junho de 2013, sob a orquestração do empresário José Maurício Machline, idealizador do prêmio. Contudo, Ney - convocado na última hora para substituir Gal Costa, impossibilitada de se apresentar no evento por conta de forte resfriado - não foi o único intérprete que arrebatou o público de convidados que lotou o Theatro Municipal do Rio de Janeiro para ver a homenagem a Tom Jobim que norteou a fluente entrega dos prêmios. Logo no começo da cerimônia, aberta com Eu sei que vou te amar (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) no toque virtuoso de seis pianistas (Cristóvão Bastos, Gilson Peranzzetta, Leandro Braga, João Carlos Coutinho, João Carlos Martins e Wagner Tiso), Nana Caymmi reiterou que é senhora cantora ao dar voz a Por causa de você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran, 1957), incluída no roteiro informativo de Francisco Bosco para representar a parceria de Tom com Dolores Duran (1930 - 1959). Por sua vez, Rosa Passos mostrou que sabe tudo da arte de cantar ao remodelar Inútil paisagem (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1963) com sua divisão e sua bossa toda própria. Já Mônica Salmaso - intérprete escalada para cantar Derradeira primavera (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes) em tom camerístico - provou para quem tem ouvidos atentos que é uma das maiores cantoras do Brasil de todos os tempos. Outra dona do dom, Leny Andrade estava em casa ao reviver o samba Brigas nunca mais (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) em charmoso trio formado com Leila Pinheiro - seguríssima, como de hábito, em Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959) - e com Tulipa Ruiz, estranha no ninho que logo se ambientou ao defender Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) em interpretação depois dividida com Leila e Leny. Colega de geração de Tulipa, Céu foi a nota dissonante da noite ao interpretar Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) sem brilho e sem emoção. Céu parecia fora do tom da direção musical do maestro Jaques Morelenbaum, autor dos arranjos. Maria Gadú não chegou a ficar fora do tom, mas pecou ao inventar moda em Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), pedra fundamental na revolução estética causada pela Bossa Nova, e diluiu a bossa do tema. À frente da Nova Banda, Danilo Caymmi tropeçou na letra de Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967) em número que destacou a a presença de Paula Morenlenbaum. João Bosco tratou Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) com elegância sem de fato arrebatar a plateia. Proeza conseguida pelos cantores portugueses António Zambujo e Carminho, que voaram alto em pungente dueto em Sabiá (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968), merecendo aplausos de pé. Em tom maior, Carminho e António Zambujo se destacaram na cerimônia conduzida pelas cantoras Adriana Calcanhotto (mais dura ao dizer aos textos, embora tenha arrancado risos da plateia com alguns comentários espirituosos) e Zélia Duncan (desenvolta no papel de apresentadora da festa-show). No tom eterno de Jobim, a 24º edição do Prêmio da Música Brasileira transcorreu ágil, reverente à soberania do maestro celebrado na noite e, em alguns momentos, arrebatadora por conta dos cantos em tom maior de António Zambujo, Carminho, Mônica Salmaso, Nana Caymmi, Ney Matogrosso e Rosa Passos - vistos na premiação em fotos de Rodrigo Amaral. Se todos fossem iguais a eles...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Filmagem sem plateia torna redundante segundo registro de 'Alma Lírica'

Resenha de CD / DVD
Título: Alma Lírica Brasileira
Artista: Mônica Salmaso
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Nem a filmagem sofisticada - feita em preto e branco no Teatro Alfa, em São Paulo (SP), sob a direção do cineasta Walter Carvalho, um dos melhores diretores de fotografia do cinema brasileiro - atenua a impressão de que este segundo registro do show Alma Lírica Brasileira soa extremamente redundante no confronto com o disco de estúdio lançado em 2011 pela mesma gravadora, a Biscoito Fino, que ora põe nas lojas o DVD (o CD com o áudio do DVD já estava à venda desde o início deste segundo semestre de 2012). Explica-se: o disco de estúdio já apresentou um registro fiel do show surgido espontaneamente em 2010 a partir do convite para a cantora fazer uma apresentação de formação reduzida. O DVD pouco acrescenta ao registro anterior pelo fato de ter sido filmado sem plateia. O trio de Alma Lírica Brasileira - Mônica Salmaso (voz), Nelson Ayres (piano) e Teco Cardoso (sopros) - está sozinho em cena, sem a interferência do público. Contudo, como o show é preciso em sua essência, nem a adição de quatro músicas ausentes no CD de 2011 - Ciranda da Bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque), Minha Palhoça (J. Cascata), Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e Véspera de Natal (Adoniran Barbosa) - dilui a nítida sensação de que ouve-se mais do mesmo. A filmagem propriamente dita acentua a classe do show pela opção pelo p & b com sutis adição de cor (tal como visto na capa do DVD). Enfim, o show em si é irretocável. Mas seu segundo registro - em que pese o requinte da captação das imagens - peca pela extrema redundância.

domingo, 22 de julho de 2012

Salmaso lança em agosto registro ao vivo do show 'Alma Lírica Brasileira'

Álbum lançado por Mônica Salmaso em abril de 2011, Alma Lírica Brasileira é o registro de estúdio do show estreado pela cantora em 2010 na companhia do pianista Nelson Ayres e do flautista e saxofonista Teco Cardoso. A gravação ao vivo do show - realizada no Teatro Alfa, em São Paulo (SP) - vai  ser editada em CD e DVD postos nas lojas pela gravadora Biscoito Fino a partir de agosto de 2012. Eis o repertório do segundo CD ao vivo da discografia de Salmaso:

1. Melodia Sentimental (Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos)
2. Samba Erudito (Paulo Vanzolini)
3. Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo)
4. Ciranda da Bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque)
5. Mortal Loucura (José Miguel Wisnik e Gregório de Matos)
6. Cuitelinho (D.P. - tema recolhido por Antônio Xandó e adaptado por Paulo Vanzolini)
7. Meu Rádio e Meu Mulato (Herivelto Martins)
8. Noite (Nelson Ayres)
9. Minha Palhoça (J. Cascata)
10. Véspera de Natal (Adorinan Barbosa)
11. Promessa de Violeiro (Raul Torres e Celino)
12. Derradeira Primavera (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes)
13. Carnavalzinho (Meu Carnaval) (Lisa Ono e Mario Adnet)
14. Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Braz e Salmaso cantam em premiação 'Sinhá', a melhor música de 2011

Homenageado da 23ª edição do Prêmio da Música Brasileira, entregue em cerimônia que lotou o Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 13 de junho de 2012, João Bosco voltou para casa com justo troféu. Uma das grandes barbadas da premiação idealizada pelo empresário José Maurício Machline, Sinhá foi anunciada como a música vencedora da categoria Melhor Canção logo após ter sido apresentada por Renato Braz com Mônica Salmaso em dueto que - a despeito da alta categoria vocal dos cantores - sequer roçou a beleza da gravação original feita por Chico Buarque com o violão e os vocais de Bosco em seu álbum Chico (2011). Samba de tom afro que remete aos tempos do Brasil imperial e escravocrata, Sinhá é obra-prima que reativou a parceria de Bosco com Buarque 27 anos após a composição de Mano a Mano (1984). A foto de Rodrigo Amaral flagra Braz e Salmaso na defesa de Sinhá, a melhor música de 2011.

terça-feira, 27 de março de 2012

Adnet retrata Amazônia em CD que tem as vozes de Salmaso e Roberta

O músico e arranjador Mario Adnet está em estúdio, no Rio de Janeiro (RJ), gravando disco, Amazônia, em que retrata o universo musical do Norte do Brasil a partir de músicas de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Guinga e João Donato. Com lançamento previsto para junho de 2012, em edição da gravadora Biscoito Fino, Amazônia tem solistas convidados para participações especiais. Mônica Salmaso - vista no estúdio com Adnet na foto de Dani Gurgel - pôs voz em Borzeguim (Antonio Carlos Jobim, 1981). Já Roberta Sá - que tem arranjos de sopros assinados por Adnet em seu quinto CD, Segunda Pele (2012) - foi convidada a gravar A Rã (João Donato e Caetano Veloso, 1974) no disco de Adnet.

domingo, 11 de março de 2012

Salmaso borda pontos de delicadeza em cena com alma, lirismo e técnica

Resenha de show
Título: Alma Lírica Brasileira
Artista: Mônica Salmaso (em foto de Rodrigo Amaral)
Músicos: Nelson Ayres (piano) e Teco Cardoso (sopros)
Local: Espaço Cultural Eletrobras Furnas (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de março de 2012
Cotação: * * * * *
Show em cartaz no Espaço Cultural Eletrobras Furnas (RJ) até 11 de março de 2012

Antes de cantar Lábios que Beijei (J. Cascata e Leonel Azevedo), valsa popularizada em 1937 na voz emblemática de Orlando Silva (1915 - 1978), Mônica Salmaso contou ao público que assistia ao show Alma Lírica Brasileira no Espaço Cultural Eletrobras Furnas que imaginava um bordado ao cantar a música. A bela arquitetura da valsa pareceu mesmo um bordado na interpretação dessa cantora que concilia alma e lirismo com técnica exuberante. O canto de Salmaso transita nas esferas da perfeição e - por sua própria natureza - se ajusta ao tom camerístico do recital que a intérprete vem apresentando pelo Brasil na companhia do pianista Nelson Ayres e do flautista e saxofonista Teco Cardoso. O registro de estúdio do show já rendeu CD que beira o sublime. Contudo, o show consegue superar o disco - como vai poder ser visto quando a gravadora Biscoito Fino lançar o DVD filmado em apresentação de Alma Lírica Brasileira em São Paulo (SP). Inclusive pelo fato de Salmaso se revelar habilidosa contadora de ótimos causos. O humor contido naturalmente nas falas da cantora é preciso contraponto para a atmosfera clássica do recital, diluindo a solenidade que permeia o disco e descontraindo um ambiente que poderia parecer excessivamente formal. Como bordadeira de músicas de gerações e estilos diversos, Salmaso tece pontos luminosos em temas que pedem cantora de amplos recursos vocais. Como já perceptível no disco, Mortal Loucura - música posta por José Miguel Wisnik sobre poema de Gregório de Matos (1636 - 1695) - é ambientado pelo trio em clima sacro. Com o mesmo rigor estilístico, o trio transforma Derradeira Primavera (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes) quase numa peça de câmara no momento mais denso - e talvez mais bonito - da apresentação feita em 10 de março de 2012 na volta do show à cidade do Rio de Janeiro (RJ). Alocada no bis, Valsinha (Chico Buarque e Vinicius de Moraes) faz o recital alcançar outro pico de beleza. A imagem do bordado é ideal para sugerir o requinte das interpretações. Até porque o trio jamais sai do tempo da delicadeza. O entrosamento de Ayres com Cardoso - reiterado sobretudo no tema instrumental Veranico de Maio (Nelson Ayres) - contribui para reforçar a impressão de que tudo está no seu devido lugar no show Alma Lírica Brasileira. Seja o suave tamborim tocado por Salmaso no Samba Erudito (Paulo Vanzolini), seja o preciso tom caipira que evoca a gênese sertaneja de Promessa de Violeiro (Raul Torres e Celino). Ou ainda os acordes delicados que sugerem sons de caixinha de música em fina sintonia com o clima lúdico da Ciranda da Bailarina (Edu Lobo e Chico Buarque), tema ausente do CD. Quando fica sozinha no palco, batucando em caixa de fósforo para se acompanhar no tristonho samba Véspera de Natal (Adoniran Barbosa), Salmaso mostra que pode se bastar em cena. Cantora de refinada musicalidade, a artista se porta em cena como um músico que completa o trio com sua percussão e com sua voz privilegiada. Enfim, Alma Lírica Brasileira é recital de beleza atemporal - ainda que o canto de Mônica Salmaso evoque outras eras. Irretocável, o bordado é feito com pontos de luz.