Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


Mostrando postagens com marcador Lupicínio Rodrigues. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lupicínio Rodrigues. Mostrar todas as postagens

domingo, 10 de abril de 2016

Elza (re)pisa jardim da saudade ao diluir dor de Lupicínio em gravação ao vivo

Resenha de álbum
Título: Elza canta e chora Lupi
Artista: Elza Soares
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2

"Através de Lupicínio, eu cheguei até onde cheguei", diz Elza Soares no palco do gaúcho Theatro São Pedro, após cantar o samba-canção Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952). Ao se referir ao fato de ter despontado para a fama em dezembro de 1959 com regravação de samba de Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974), Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938), a cantora carioca justificou a emoção de estar em Porto Alegre (RS), cidade natal do compositor gaúcho, cantando e chorando Lupi. Naquela ocasião, em dezembro de 2014, Elza apresentou e gravou ao vivo o show que estreara em maio daquele ano em tributo ao centenário de nascimento deste compositor que destilou mágoas e ressentimentos em sambas-canção que entraram para a história da música brasileira. Lançado neste mês de abril de 2016 em CD e DVD, em edição da Coqueiro Verde Records, Elza canta e chora Lupi perpetua a versão cenicamente mais bem-acabada do show, cujo registro audiovisual foi feito pela Estação Filmes sob direção de Rene Goya. Para o registro audiovisual, viabilizado através de parceria da Joner Produções com a Barravento Artes, Carla Joner aditivou o show com elementos cênicos, projeções e um então inédito desenho de luz. Contudo, musicalmente, o espetáculo manteve a direção criada e seguida pelo saxofonista Eduardo Neves deste a estreia nacional da turnê do show idealizado por Glauber Amaral. Com generoso espaço para os sopros de Neves, como sinalizam as abordagens de músicas como Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1944) e Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948), os arranjos geralmente caem em suingue jazzy, evocando a atmosfera noir dos cabarés dos anos 1940 e 1950, décadas áureas da produção autoral de Lupicínio. A direção musical vai na contramão da linha melodramática da obra do compositor. Conduzida pelo suingue, Elza dilui as dores do cancioneiro de Lupicínio Rodrigues em gravação ao vivo que soa correta, mas sem o impacto revigorante do álbum A mulher do fim do mundo (Circus, 2015), gravado depois de Elza canta e chora Lupi, mas lançado antes. Ouvida sem acompanhamento na abertura, na interpretação a capella de Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960), a voz rouca de Elza quase nunca vai fundo na emoção, freada pelo suingue que pauta registros como o de Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1960), feito no mesmo andamento acelerado que conduz Ela disse-me assim (Vá embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959). Mesmo assim, Elza põe o bloco na rua ao reabrir Caixa de ódio (Lupicínio Rodrigues, 1966) na batida de marcha e enche de sentimento Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1949). Sempre  elegante, a direção musical do show poda excessos dramáticos de sambas-canção como Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951), embora tais excessos (de ódios, mágoas e ressentimentos) sejam a matéria-prima do cancioneiro composto por Lupi a sós ou com parceiros como o também gaúcho Alcides Gonçalves (1908 - 1987), coautor da valsa de temática sulista Jardim da saudade (1952), lançada em disco por Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e ouvida em Elza canta e chora Lupi em virtuoso registro instrumental que reitera o approach jazzy do cancioneiro de Lupicínio pela banda orquestrada por Eduardo Neves. Assim como Amigo ciúme (Lupicínio Rodrigues, 1957), samba-canção lançado por Angela Maria e ora revivido por Elza com a voz ainda cheia de viço, Jardim da saudade é título atualmente mais obscuro de roteiro que prioriza as músicas mais conhecidas do compositor sem evitar standards de Lupi como Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957) e Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947). Contudo, é no esquecido samba Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1950) - lançado em disco pela cantora paulista Isaura Garcia (1919 - 1993) - que Elza vive a apoteose vocal da gravação ao vivo, pirando progressivamente neste registro em que simula voz de bêbada e louca, em fina ironia. Só que, no todo, Elza canta e chora Lupi sem a devida dose de loucura que habita a alma desta cantora capaz de ir além do que mostra neste projeto dedicado ao compositor através do qual chegou aonde chegou, avançando,  ora recuando, mas evoluindo sempre que se recusa a repisar o antigo jardim da saudade.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Coqueiro Verde lança gravação ao vivo do show em que Elza 'chora' Lupicínio

Caberá a gravadora carioca Coqueiro Verde Records distribuir no mercado fonográfico brasileiro Elza canta e chora Lupi, registro audiovisual do show em que Elza Soares interpreta a obra do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). Clique aqui para saber os detalhes da gravação.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

2016 chega com o DVD do show em que Elza Soares canta e chora Lupicínio

Consagrada em 2015 com o disco e o show A mulher do fim do mundo, Elza Soares entra em 2016 com novo produto à vista no mercado fonográfico. O DVD Elza canta e chora Lupi (capa à esquerda) chega às lojas no primeiro trimestre do ano novo com o registro audiovisual do show em que a cantora carioca dá voz às músicas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). Idealizado por Glauber Amaral em homenagem ao centenário de nascimento do autor do samba-canção Vingança (1951), celebrado pelo Brasil há dois anos, o show Elza canta e chora Lupi teve o registro audiovisual feito pela Estação Filmes - sob direção de Rene Goya - em 16 e 17 de dezembro de 2014 no Theatro São Pedro, em Porto Alegre (RS), cidade natal de Lupicínio. Elza - vista em foto da gravação postada na página da artista no Facebook - apresentou o show na terra natal de Lupi através de parceria da Barravento Artes e a Joner Produções. Para o registro, Carla Joner aditivou o show com novos elementos físicos, projeções e um inédito desenho de luz. Atributos inexistentes quando o show veio ao mundo e à cena em maio de 2014, em apresentação no Teatro Rival, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Na gravação audiovisual, Elza cantou e chorou Lupi com figurino de Ronaldo Fraga e com o toque de banda formada pelo diretor musical Eduardo Neves (flauta e sax), Antonio Neves (bateria), Gabriel Menezes (baixo), Gabriel Ballesté (guitarra) e Danilo Andrade (teclados). O roteiro do show incluiu temas como Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1950), Exemplo (1960), Nervos de aço (1947) e Volta (1957), entre outras músicas do compositor gaúcho.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Violão de Menescal harmoniza Canto na abordagem de músicas de Lupicínio

Por definição a antítese da leveza da Bossa Nova, o cancioneiro amargurado, denso e pesado do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) ganha o toque do violão de Roberto Menescal - um dos mestres da bossa carioca - no projeto Lupicínio Rodrigues por Eduardo Canto e Roberto Menescal. Gravado sob a direção de Oswaldo Montenegro no estúdio Joá Produções, no Rio de Janeiro (RJ), em maio de 2014, ano de centenário do compositor de Esses moços (Pobres moços) (1948), o projeto foi lançado neste ano de 2015 em edição dupla que junta CD e DVD postos no mercado na Coleção Canal Brasil. Somente com o toque do violão sutil de Menescal, Eduardo Canto dá boa voz - à moda antiga - a músicas como Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1950), Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1948), Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues,1947), Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952) e Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957). No DVD, a música é aditivada com conversa na qual são contados causos sobre o lendário Lupicínio.

sábado, 11 de julho de 2015

Gravação do show em que Calcanhotto canta Lupicínio sai (também) em DVD

O registro ao vivo do show em que Adriana Calcanhotto aborda a obra do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) vai ser lançado também no formato de DVD (capa à esquerda). Além do show, o DVD exibe o documentário A luz do refletor. Nas lojas neste mês de julho de 2105, em edição da Sony Music, CD e DVD Loucura - Adriana Calcanhotto canta Lupicínio Rodrigues trazem a artista gaúcha - vista em foto extraída de sua página oficial no Facebook - na companhia da banda formada por Alberto Continentino (baixo), Cézar Mendes (violão), Dadi Carvalho (violão) e Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn). Filmado em dezembro de 2014, em Porto Alegre (RS), o show tem intervenções de Arthur de Faria (acordeom), Arthur Nestrovski (violão) e Cid Campos (violão). Entre hits amargurados do compositor dos Pampas, Calcanhotto dá voz às raras Cenário de Mangueira (Lupicínio Rodrigues e Henrique de Almeida) - samba gravado em 1969 pelo cantor paulistano Francisco Petrônio (1923 - 2007) com o título de Rancho de Mangueira - e Cevando o amargo (Lupicínio Rodrigues e Paratini, 1953), toada lançada pelo conjunto gaúcho Farroupilha. Eis, na ordem do DVD, as 17 músicas de Lupicínio Rodrigues gravadas por Calcanhotto:

1. Homenagem (Lupicínio Rodrigues, 1961)
2. Ela disse-me assim (Vá embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959)
3. Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1953)
4. Castigo (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1953)
5. Vingança (Lupicínio Rodrigues,1951)
6. Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1950)
7. Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1948)
8. Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947)
9. Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948)
10. Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957)
11. Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952)
12. Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971)
13. Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947)
14. Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins,1938)
15. Cevando o Amargo (Lupicínio Rodrigues e Paratini, 1953)
16. Hino do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (Lupicínio Rodrigues, 1953)
Extras:
17. Cenário de Mangueira (Lupicínio Rodrigues e Henrique de Almeida, 1969)
18. A luz do refletor (documentário) - com citações das músicas Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui,

         1950), Um favor (Lupicínio Rodrigues, 1972), Hino do Internacional (Lupicínio Rodrigues) e Quindim de mulher (Meu nome é 
         Alcides) (Lupicínio Rodrigues, 1973)

terça-feira, 30 de junho de 2015

Calcanhotto ceva o amargo da obra de Lupicínio em registro ao vivo de show

Adriana Calcanhotto vai lançar em julho de 2015, em edição da Sony Music, o registro ao vivo do show em que celebrou o centenário do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), em apresentação feita em Porto Alegre (RS), em dezembro de 2014. O CD Loucura - Adriana Calcanhotto canta Lupicínio Rodrigues (capa à esquerda) alinha basicamente sucessos do compositor - conterrâneo da artista gaúcha - em repertório que surpreende em Cevando o amargo (Lupicínio Rodrigues e Paratini), toada gaúcha lançada em 1953 pelo conjunto vocal Farroupilha com o título de Amargo. Calcanhotto - vista em cena do show na foto maior, extraída de vídeo postado no YouTube - dá voz a sucessos Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1950), Castigo (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1953), Ela disse-me assim (Vai embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959), Esses moços (pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948), Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947), Homenagem (Lupicínio Rodrigues, 1961), Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971), Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1953), Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947), Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952), Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1948), Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins,1938), Vingança (Lupicínio Rodrigues,1951) e Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957).

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Angela finaliza álbum em que canta Benito e Lupicínio com o violão de Rayol

Prestes a festejar 86 anos na próxima quarta-feira, 13 de maio de 2015, a cantora fluminense Angela Maria se prepara para lançar em junho um disco de voz e violão gravado com Ronaldo Rayol. Produzido por Thiago Marques Luiz para sua gravadora Nova Estação, o CD se chama Angela à vontade em voz e violão. O repertório é formado por sucessos da MPB até então inéditos na voz da intérprete. A seleção inclui os sambas-canção Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952) e Só louco (Dorival Caymmi, 1955), além de Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá e Antonio Maria, 1959). Com o violão de Ronaldo Rayol (com Angela na foto de Jair de Assis), a cantora também dá voz ao magoado samba Retalhos de cetim (1973), primeiro grande sucesso do cantor e compositor fluminense Benito Di Paula. O CD Angela à vontade em voz e violão chegará às lojas pela Tratore.

domingo, 29 de março de 2015

Gal oxigena o coração magoado de Lupicínio sem obstruir as artérias da obra

Resenha de show
Título: Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio Rodrigues
Artista: Gal Costa (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 28 de março de 2015
Cotação: * * * * *

Gal Costa bombeia sangue novo para o coração magoado de Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 27 de agosto de 1974) no show em que interpreta 20 das 214 músicas do cancioneiro dramático  do compositor gaúcho. Em vez de desconfigurar esse cancioneiro em nome da modernidade, a oxigenação da obra de Lupicínio por Gal jamais obstrui as artérias de um repertório em que correm amarguras, ódios e ressentimentos nas veias dos dramas conjugais cotidianos. Em bom português, Gal canta Lupicínio de forma moderna, mas jamais modernosa. Melodias e letras estão lá, em sua arquitetura original, mas com frescor e com o sangue novo injetado no cancioneiro pelos arranjos criados pela banda formada por Fábio Sá (baixo acústico e elétrico), Guilherme Monteiro (guitarra e violão), Pupillo (bateria) e Silva (teclados e violino). Na ficha técnica, a direção artística do show Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio Rodrigues é atribuída a J. Velloso (idealizador do projeto patrocinado via Natura Musical) e a Marcus Preto. Pelo histórico musical de ambos, é possível supor sem erro que a arregimentação da banda - e, consequentemente, o caráter contemporâneo do show - é obra de Preto, cuja conexão com Gal já se revelara produtiva no belo show anterior da artista, Espelho d'água (2014). De todo modo, o diferencial é a voz de Gal, ainda única e viçosa - uma proeza, se levado em conta que a cantora vai completar 70 anos em setembro deste ano de 2015. Ao cantar Lupicínio, Gal reproduz o vigor detectado no disco Recanto (Universal Music, 2011) e no show homônimo de 2012. É uma Gal de pegada rocker, antenada, a todo vapor. Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951) - samba-canção lançado em disco pelo Trio de Ouro mas consagrado na voz da cantora paulistana Linda Batista (1919 - 1988) - é o ápice do show, o momento que vai ficar na memória, imortalizando a imagem de uma Gal passional que traduz no canto (de agudos lancinantes) e no gestual do corpo o tempestuoso estado emocional da personagem da canção, evocado também pelo arranjo noise que evolui para hard rock no toque da guitarra de Guilherme Monteiro. Gal está fa-tal. Já na abertura do show - em que se ouve trecho de Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948) em ambiente climático criado com os sons tirados por Silva de seu sintetizador - fica claro que a cantora espanou qualquer eventual mofo posto em cima do cancioneiro de Lupicínio. Ao longo do roteiro, Gal vai ao inferno à procura de luz no fim do túnel afetivo em que se encontram as canções de Lupicínio, dramático cronista das dores de amores. Originalmente uma guarânia lançada em 1971 pela cantora paraibana Creusa Cunha (1934 - 1993), Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971) ressurge roqueira na voz enérgica de Gal, em arranjo que reverencia a releitura punk da composição gravada por Arnaldo Antunes em seu segundo disco solo, Ninguém (BMG-Ariola, 1991). Embora tenha espírito rocker, o show abarca diversidade de ritmos no amplo leque estético aberto por roteiro que reapresenta joias raras recolhidas no baú de Lupicínio sem evitar os hits que o público quer ouvir. Homenagem (Lupicínio Rodrigues, 1961), por exemplo, se aproxima da praia do reggae, mas com vestido de bolero. Gal e banda acertam ao entender que a obra de Lupicínio - calcada no samba-canção, gênero melodramático que teve seu apogeu nos anos 1940 e 1950  - é, em essência, popular. Por isso, temas como Coisas minhas (Lupicínio Rodrigues, 1958) deixam a ótima impressão, no show de Gal, de que espectador-ouvinte está diante de contemporâneo vitrolão da periferia no qual, com um toque, pode-se expiar dor-de-cotovelo ao som de músicas geralmente tristes. São canções que ultrapassam rótulos - como disse Gal no palco da casa Vivo Rio para o público que testemunhou, embevecido, a estreia do show no Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 28 de março de 2015 - e que a cantora traz para o seu universo ao lado de quarteto fantástico. Superestimado como cantor e compositor, o capixaba Lúcio Silva brilha como piloto dos teclados, único instrumento ouvido em Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957), samba-canção que Gal já gravara em 1973, numa década em que os tropicalistas revalorizaram o então esquecido cancioneiro de Lupicínio. A propósito, Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1948) representa no show oportuna lembrança de programa feito por João Gilberto na TV Tupi, em 1971, com Gal e seu parceiro tropicalista Caetano Veloso. Não por acaso, trata-se de número de voz e violão - o do guitarrista Guilherme Monteiro - em que Gal evoca a Gracinha dos tempos iniciais, tímida devota de São João. Há também algo da bossa sempre nova no violão tocado por Monteiro em Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952), música interpretada por Gal com a habitual perfeição vocal. Bem menos conhecido do que o hit Nunca, o samba-canção Fuga (Lupicínio Rodrigues, 1959) é uma bela joia que Gal lapida na pulsação do baixo intencionalmente distorcido de Fábio Sá e com a adição do toque do violino bissexto de Silva. Na sequência, outra pérola rara - o samba Que baixo! (1945), parceria de Lupicínio com o cantor, compositor e ritmista gaúcho Matheus Nunes (1920 - 1971), o Caco Velho - vira carimbó em ousadia estilística que reitera a habilidade de Gal e da banda para repaginar o cancioneiro de Lupi sem diluir melodias e letras. Já Paciência (Vou brigar com ela) (Lupicínio Rodrigues, 1961) é ambientada em clima de bossa tropical no toque do bongô percutido pelo baterista Pupillo, egresso da Nação Zumbi. Sem dar sinais de apatia vocal, Gal incorpora os dramas de "personagens à flor da pele que pagam preços altíssimos por suas paixões sem limites". Feita em cena por Gal, essa boa definição do universo dramático da obra de Lupicínio tem belo exemplo em Aves daninhas (Lupicínio Rodrigues, 1954), samba-canção lançado na voz noturna da cantora carioca Nora Ney (1922 - 2003). Com efeitos dos sintetizadores de Silva, Há um Deus (Lupicínio Rodrigues, 1957) ressurge épica entre versos atormentados por traições e falsidades enquanto Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1960) cai em suingueira moderna que evoca o tecnobrega paraense. Tormentos como o de Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1957) - música conhecida pela gravação feita por Maria Bethânia para o álbum Mel (Philips, 1979) - se harmonizam no repertório do compositor com melancolia nostálgica, mote de canções em que o amor parece ser maldição, como pregam os versos desencorajadores de Esses moços (Pobres moços), música retomada por Gal ao fim do show em interpretação arrebatadora que sinaliza que, acima de oportunas modernidades, pairam sobre todas as coisas o brilho cristalino da voz da cantora e a força da obra do compositor. No bis, a guitarra climática de Guilherme Monteiro prepara a apoteose de Um favor (Lupicínio Rodrigues, 1972), número em que Gal interage com o público, cujo coro a cantora rege no arremate do bis com a toada Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947). Entre uma música e outra, Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960) - sucesso na voz do cantor Jamelão (1913 - 2008), também intérprete original da música-título Ela disse-me assim (Vai embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959) - deixa no ar bela mensagem de que, apesar das mágoas, o triunfo está na permanência das uniões afetivas. Em estado de graça como cantora, Gal dá com precisão todos os recados diretos do compositor. Devidamente oxigenado e ora revitalizado, o coração magoado de Lupicínio Rodrigues bate outra vez...

Gal alinha os dramas conjugais de Lupicínio em roteiro com hits e joias raras

Em 1945, o compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) firmou parceria com um artista conterrâneo conhecido como Caco Velho, nome artístico do cantor, compositor e ritmista gaúcho Matheus Nunes (1920 - 1971). O resultado dessa parceria foi o samba Que baixo!, lançado em disco naquele ano de 1945, em gravação feita pelo próprio Caco Velho. Título obscuro do cancioneiro dramático de Lupicínio Rodrigues, Que baixo! é uma das pérolas recolhidas por Gal Costa, J. Velloso e Marcus Preto para o roteiro do show Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio. Sob a direção artística de J. e Preto, e na companhia de banda moderna formada por Fábio Sá (baixo acústico e elétrico), Guilherme Monteiro (guitarra e violão), Pupillo (bateria) e Silva (teclados e violino), a cantora baiana dá voz aos dramas conjugais da obra de Lupicínio Rodrigues em show patrocinado pelo projeto Natura musical que vai ser gravado ao vivo, para edição de CD, ao longo da turnê que estreou em 25 de março de 2015 na terra natal do compositor, Porto Alegre (RS), e que chegou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 28 de março, em apresentação que embeveceu o público que lotou a casa Vivo Rio. Sem evitar os clássicos do cancioneiro de Lupicínio, apesar da ausência sentida de Nervos de aço (1947), Gal dá voz a músicas conhecidas apenas pelos estudiosos da obra do compositor. Entre as pérolas raras, o roteiro do show reaviva os sambas-canção Homenagem - lançado em 1961 na voz do cantor carioca Silvio Caldas (1908 - 1998) - e Coisas minhas, apresentado em 1958 em gravação da cantora paulista Dircinha Batista (1922 - 1999). Gal também dá voz a Fuga (1959) - até então esquecido samba-canção lançado na voz do cantor carioca Orlando Silva (1915 - 1978) - e a Eu não sou louco, samba assinado por Lupicínio em parceria bissexta com o compositor carioca Evaldo Rui (1913 - 1954), lançado em disco em janeiro de 1950 pela cantora paulista Isaura Garcia (1919 - 1993) e revivido em 2014 por Elza Soares em interpretação performática que sobressaiu no show em que a cantora carioca celebrou o centenário de nascimento de Lupicínio. Eis o roteiro seguido em 28 de março de 2015 por Gal Costa - em foto de Rodrigo Goffredo - na estreia carioca de seu (revigorante) show  Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio Rodrigues na casa Vivo Rio:

1. Esses moços (Pobre moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948) - trecho
2. Judiaria (Lupicínio Rodrigues, 1971)
3. Homenagem (Lupicínio Rodrigues, 1961)
4. Coisas minhas (Lupicínio Rodrigues, 1958)
5. Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957)
6. Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952)
7. Fuga (Lupicínio Rodrigues, 1959)
8. Que baixo! (Lupicínio Rodrigues e Caco Velho, 1945)
9. Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951)
10. Paciência (Vou brigar com ela) (Lupicínio Rodrigues, 1961)
11. Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1948)
12. Aves daninhas (Lupicínio Rodrigues, 1954)
13. Ela disse-me assim (Vai embora) (Lupicínio Rodrigues, 1959)
14. Há um Deus (Lupicínio Rodrigues, 1957)
15. Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1973)
16. Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1950)
17. Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938)
18. Esses moços (Pobre moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948)
Bis:
19. Um favor (Lupicínio Rodrigues, 1972)
20. Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960)
21. Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947)

sábado, 14 de março de 2015

Futuro CD de Gal, show com canções de Lupicínio tem datas divulgadas

Previsto para ser gravado ao longo da turnê nacional que vai ser feita por Gal Costa por sete cidades do Brasil, em registro que viabilizará a edição do CD ao vivo previsto no contrato assinado com o projeto Natural Musical, o show Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio Rodrigues teve divulgada esta semana parte da rota de sua turnê. Como visto no flyer acima, o show estreia em 25 de março de 2015 em Porto Alegre (RS) - cidade natal do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) - e segue para Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Sob a direção artística de J. Velloso (idealizador do show) e Marcus Preto, Gal vai cantar os sucessos de Lupicínio na companhia de elogiados músicos da cena contemporânea brasileira  como o baixista Fabio Sameshima, o tecladista Lúcio Silva e o baterista  Pupillo Oliveira.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Sobrinho de Caetano, J. Velloso vai dirigir Gal no projeto sobre Lupicínio

Como seu disco de inéditas já está pronto para ser lançado pela gravadora Sony Music em abril deste ano de 2015, Gal Costa - em foto de André Schiliró - já trabalha no projeto sobre a obra do compositor Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). Sobrinho de Caetano Veloso e de Maria Bethânia, J. Velloso assina com Marcus Preto a direção artística do show que será gravado ao vivo para edição de CD. Patrocinado via Natura Musical, o show tem estreia agendada para 25 de março no Teatro Araújo Vianna Porto, em Porto Alegre (RS), cidade natal do compositor de Vingança (1951) e Volta (1957). Por ora, a turnê desse show prevê somente sete apresentações em sete capitais do Brasil.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Obra de Lupicínio vai reverberar nas vozes de três cantoras ao longo de 2015

Embora o centenário de nascimento de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) tenha sido festejado em 2014, a obra do compositor gaúcho vai ecoar ao longo deste ano de 2015 nas vozes de - pelo menos - três cantoras do Brasil. Conterrânea de Lupicínio, a gaúcha Adriana Calcanhotto (foto) planeja lançar CD e DVD com gravação ao vivo do show em que abordou o cancioneiro do compositor e que foi apresentado somente em Porto Alegre (RS) em dezembro de 2014. Mês em que Elza Soares também fez, na mesma cidade de Porto Alegre (RS), o registro audiovisual do show em que canta Lupicínio para edição de DVD. Já Gal Costa vai estrear em março deste ano de 2015 Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio Rodrigues, show que também será gravado ao vivo para gerar (somente) CD.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Elza Soares faz registro audiovisual do show em que canta e chora Lupicínio

A IMAGEM DO SOM - Postada na página oficial de Elza Soares no Facebook, a foto mostra a cantora carioca no palco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre (RS), na gravação ao vivo do show em que Elza interpreta músicas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). O registro audiovisual do show - uma produção das empresas Barravento Artes e Joner Produções - foi feito pela Estação Filmes em duas apresentações, realizadas em 16 e 17 de dezembro de 2014. O figurino de Elza foi assinado pelo estilista Ronaldo Fraga. A edição do DVD já está programada para o fim de 2015.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Gal grava Lupicínio ao vivo em 2015, mas álbum de inéditas está mantido

Embora esteja terminando de gravar disco de inéditas produzido por Kassin com Moreno Veloso, Gal Costa tem outro projeto fonográfico engatilhado para 2015. Trata-se da gravação ao vivo do show em que canta músicas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). A gravação ao vivo vai ser feita no show que vai passar por sete ou oito capitais do Brasil em turnê nacional programada para 2015. Este projeto sobre Lupicínio - de quem Gal já gravou as músicas Volta (no álbum Índia, de 1973), Um favor (no disco Caras e bocas, de 1977) e Nervos de aço (no disco Todas as coisas e eu, de 2003) - já está aprovado pelo projeto Natura Musical, mas não compromete o cronograma do disco de inéditas, finalizado em estúdio. A cantora - em foto de André Schiliró - vai lançar o álbum de inéditas no primeiro semestre de 2015, pela gravadora Sony Music (a previsão atual é de que o CD saia em abril). Somente depois que encerrar a turnê do show baseado no disco de inéditas é que Gal vai lançar o CD ao vivo com músicas de Lupicínio.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Show em que Elza canta (e 'chora') Lupicínio ganha edição em DVD em 2015

Com seu título alterado para Elza Soares canta e chora Lupicínio Rodrigues, no lugar do nome inicial (e mais convencional) Elza Soares canta Lupicínio Rodrigues, o show em que a cantora carioca interpreta o cancioneiro do compositor gaúcho vai ganhar edição em DVD programado para chegar ao mercado fonográfico em 2015. O registro audiovisual do show vai ser feito pela Estação Filmes, sob a direção de Rene Goya, em apresentações agendadas para 16 e 17 de dezembro de 2014, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre (RS), cidade natal de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). O show de Elza - em foto de Rodrigo Braga - foi idealizado em tributo ao centenário de nascimento do compositor gaúcho, infelizmente (pouco) comemorado no Brasil ao longo deste ano de 2014. Clique aqui para ler a resenha do show. E aqui para conhecer o roteiro do show em que Elza canta Lupicínio.

domingo, 26 de outubro de 2014

Com LiberTango, Soraya dá voz a temas passionais de Chico e Lupicínio

Duas músicas de autoria dos compositores brasileiros Chico Buarque e Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) - Rosas dos ventos (1971) e o samba-canção Nunca (1952), respectivamente - foram escritas no tom passional que caracteriza o tango. Por isso mesmo, ambas foram inseridas no roteiro e no universo do show que a atriz e cantora fluminense Soraya Ravenle tem feito com o grupo carioca LiberTango, formado pela pianista Estela Caldi com os músicos Alexandre Caldi e Marcelo Caldi. Especializado no ritmo argentino, o trio de virtuoses se conectou a Ravenle quando a convidou para participação no Festival internacional de tango, produzido em 2013 para a programação do Centro Cultural do Banco do Brasil. A parceria gerou show que, de acordo com planos dos artistas, vai ganhar registro em CD. Neste show, apresentado no Theatro Net Rio em 20 de outubro de 2014, os músicos e a cantora revivem tangos do bandoneonista e compositor argentino Astor Piazzolla (1921 - 1992) - referência universal no universo desse ritmo portenho - entre tangos da compositora e pianista Eladia Blázquez (1931 - 2005), temas judaicos, canções brasileiras e textos de escritores como o espanhol Miguel de Unamuno (1864 - 1936) e o brasileiro Machado de Assis (1839 - 1908). Eis o roteiro seguido por Soraya Ravenle - em foto de Rodrigo Goffredo - com o grupo LiberTango no show apresentado no Theatro Net Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em 20 de outubro de 2014:

*  Trecho do livro Romance do desterro (1926), de Miguel de Unamuno
1. Si Buenos Aires no fuera así (Eladia Blazquez, 1973)
2. Vuelvo al Sur (Astor Piazzolla e Fernando Solanas, 1988)
3. Los pájaros perdidos (Astor Piazzolla e Mario Trejo,1947)
*  Texto Parideiras (Soraya Ravenle e Estela Caldi, 2013)
4. Pobre mi negra (motivo popular argentino) /
5. Chiquilín de Bachín (Astor Piazzolla e Horacio Ferrer, 1969)
6. El coranzón al sur (Eladia Blázquez, 1976)
*  Texto Pneumotórax (Manuel Bandeira, 1930)
7. Bandoneon (Astor Piazzolla, 1975)
8. Otoño porteño (Astor Piazzolla, 1969)
*  Texto baseado no conto O homem célebre (1883), de Machado Assis
9. Nove de julho (Ernesto Nazareth, 1917)
10. Años de soledad (Astor Piazzolla, 1974)
11. Libertango (Astor Piazzolla, 1974)
12. Cristal Lilás (Paulo César Pinheiro e Maurício Carrilho, 2011)
*    Texto livre sobre a origem judaica e o tango (Soraya Ravenle)
13. Gey ich mir shpatzirn (tema judaico)
14. Balalaika (motivo popular judaico)
15. Rosa dos ventos (Chico Buarque, 1971)
16. Por una cabeza (Carlos Gardel e Alfredo le Pera, 1935)
Bis:
17. Boedo (Dante Linyera e Julio de Caro, 1928) 
18. Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952)

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Elza decide fazer em Porto Alegre o registro do show em que canta Lupicínio

 Principal homenagem prestada ao compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) no ano em que o Brasil festeja timidamente o centenário de nascimento do autor de músicas como Nervos de aço (1947) e Vingança (1951), o show Elza Soares canta Lupicínio Rodrigues pode ganhar registro audiovisual ainda em 2014. A cantora carioca - em foto de Rodrigo Braga - planeja gravar o show em apresentação feita na cidade gaúcha de Porto Alegre, terra natal de Lupicínio. Clique aqui para (re)ler a resenha do show que estreou em maio, no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ).

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

DVD e compilação vão festejar o centenário de nascimento de Lupicínio

Faz 40 anos neste mês de agosto de 2014 que o compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (19 de setembro de 1914 - 27 de agosto de 1974) saiu de cena. Mas a data redonda de sua morte vai ser ofuscada por efeméride mais relevante: o centenário de nascimento do artista, a ser festejado em setembro. DVD produzido pelo Canal Brasil e coletânea editada pela Universal Music celebram os 100 anos do criador de músicas imortais como Nervos de aço (1947), Vingança (1951) e Volta (1957). Volta, por exemplo, vai ser reouvida na voz cristalina de Gal Costa, na gravação feita para o álbum Índia (1973), na compilação Lupicínio Rodrigues - 100 anos (foto). Gal também canta Um favor (1972) em gravação de 1977. Já Vingança figura em registro de Doris Monteiro, editado originalmente em 1974, enquanto Nervos de aço reaparece na gravação emblemática feita por Paulinho da Viola em 1973. Por sua vez, o samba Se acaso você chegasse (1938) é ouvido no registro igualmente antológico feito por Elza Soares em 1959, ano da gravação de Meu pecado (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins) pelo cantor Moreira da Silva (1902 - 2000). Já Dalva de Oliveira (1917 - 1972) canta Há um Deus em take de 1957. Com textos de Sergio Crusco e seleção de repertório de Maysa Chebabi, a coletânea Lupicínio Rodrigues - 100 anos rebobina 16 fonogramas do cancioneiro do compositor gaúcho.

sábado, 3 de maio de 2014

Elza toma para si as dores de Lupicínio em show com a tal 'influência do jazz'

Resenha de show
Título: Elza Soares canta Lupicínio Rodrigues
Artista: Elza Soares (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 2 de maio de 2014
Cotação: * * *

 O compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974) sempre rimou amor com dor em seu cancioneiro embebido em amargura e ressentimento. Cronista dos amores dissolvidos por abandono ou traição, o compositor viveu seu apogeu nos anos 1940 e 1950, na era do samba-canção. Relegado ao esquecimento na década seguinte, Lupicínio foi revalorizado por ícones da Bossa Nova e da MPB - João Gilberto, Caetano Veloso e Gal Costa, mais precisamente - na primeira metade dos anos 1970. Contudo, na bolsa de valores de Elza Soares, Lupicínio sempre esteve em alta cotação. Foi com a (re)gravação de um samba do compositor - Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938), lançado na voz sincopada do cantor carioca Cyro Monteiro (1913-1973) - que a cantora carioca teve alavancada sua carreira fonográfica em fins de 1959. Decorridos 55 anos, a mulata mostrou que ainda é a tal ao dar voz a Se acaso você chegasse com scats e o suingue costumeiro no show Elza Soares canta Lupicínio Rodrigues, cuja cenografia inclui rosas vermelhas espalhadas pelo palco, em alusão às flores que Lupicínio ofertou à então arisca cantora quando Se acaso você chegasse estourou na voz de Elza. Artista de trajetória sofrida, Elza toma para si as dores de Lupicínio no show feito sob a direção musical do saxofonista Eduardo Neves. Fecho do (bom) show idealizado para festejar o centenário de nascimento do compositor, a releitura de Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947) - com andamentos alternados que diluem as mágoas desse samba em coquetel rítmico que mistura temperos de gafieira, jazz e salsa - é bom exemplo da opção de Elza de interpretar Lupicínio à sua moda, com suas liberdades estilísticas. Tenha nascido em 1930 (como afirma o pesquisador musical Rodrigo Faour em biografia da cantora editada em 2012 na coleção Folha Grandes Vozes) ou em 1937 (como alega a artista), Elza Soares é uma força da natureza. A voz rouca, de suingue ímpar, resiste esplendidamente ao tempo, como atesta a interpretação a capella de Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960) alocada no início do show que estreou no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), em 2 de maio de 2014. Aberto com fala em off do próprio Lupicínio Rodrigues, o roteiro enfatiza a assinatura única do compositor ao enfileirar temas como o samba-canção como Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952) e Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1973), música que tem toda sua letra lida pela cantora em cena. Pena que, na segunda metade, a desnecessária participação do percussionista Marcos Suzano na estreia tenha levado a cantora a tirar o foco de Lupicínio em set de sambas alheios - como Cadê o pandeiro? (Roberto Martins e Walfrido Silva, 1937) e Fechei a porta (Sebastião Motta e Ferreira Santos, 1960) - que culminou com o Rap da felicidade (Juninho Rasta e Kátia, 1995), hit da dupla de funk Cidinho & Doca. Dentro do conceito do show, guiada pela direção musical de Eduardo Neves, Elza cai num suingue que repagina músicas como Ela disse-me assim (Lupicínio Rodrigues, 1959) - emoldurada em arranjo que evoca a era do swing - e Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1944), número em que o jazz vem do toque dos teclados de Danilo Andrade. Mas a cantora, polivalente, também sabe fazer a dor de Lupicínio calar fundo quando enche Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1949) de sentimento e quando rumina o rancor embutido em Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951) sem pecar pelo excesso e com direito a um caco pessoal nos versos "... / E a vergonha / É a herança maior que o Avelino (nome do pai da cantora) me deixou". Se Caixa de ódio (Lupicínio Rodrigues, 1969) é reaberta em clima de choro, o samba Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui) - lançado em disco de 1950 pela cantora paulista Isaura Garcia (1919 - 1993), mas esquecido há décadas - é veículo para interpretação performática que rende aplausos de pé. "Eu não sou louca!!!...", repetiu Elza, retorcida na cadeira, quase aos gritos, como se estivesse cuspindo e atirando na cara de seus detratores o verso-síntese do samba que se impôs como o ponto alto do show, inclusive por tirar uma joia rara do baú de Lupicínio. No bis, Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947) adquire densidade no canto maturado de Elza e citações do tema folclórico gaúcho Prenda minha pela flauta de Eduardo Neves. As dores de Lupicínio Rodrigues são - também! - as dores de Elza Soares.

Samba 'Eu não sou louco' é trunfo do bom show em que Elza canta Lupicínio

 "Eu não sou louca!!!...", repetia Elza Soares, retorcida na cadeira, como que cuspindo e atirando na cara de seus detratores o verso-síntese do samba Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui), lançado em disco, em janeiro de 1950, pela cantora paulista Isaura Garcia (1919 - 1993). Pérola rara do roteiro do show Elza Soares canta Lupicínio Rodrigues, idealizado para celebrar o centenário de nascimento do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (16 de de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974), Eu não sou louco ganhou interpretação performática da cantora carioca, aplaudida de pé ao fim do número pela plateia que lotou o Teatro Rival no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 2 de maio de 2014, para assistir à estreia do show em que Elza dá voz a músicas como Caixa de ódio (1969) e Esses moços (Pobres moços) (1948) sob a direção musical do saxofonista Eduardo Neves. Em cartaz no Teatro Rival até 3 de maio, o show marca o reencontro de Elza com o cancioneiro do compositor de Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938), samba que, embora lançado em disco com sucesso pelo cantor carioca Cyro Monteiro (1913 - 1973), ganhou fôlego e suingue novos na gravação de 1959 que alavancou a carreira fonográfica da resistente cantora. Infelizmente, a entrada em cena do percussionista Marcos Suzano - para set de samba que culminou com o Rap da felicidade (Juninho Rasta e Kátia, 1995), hit da dupla de funk Cidinho & Doca - tirou o foco do cancioneiro de Lupicínio, diluindo o conceito do show. Eis o roteiro seguido por Elza Soares - em foto de Mauro Ferreira - em 2 de maio de 2014 na estreia do show em que a cantora interpreta Lupicínio Rodrigues à própria moda e com liberdades estilísticas: 

1. Exemplo (Lupicínio Rodrigues, 1960)
2. Esses moços (Pobres moços) (Lupicínio Rodrigues, 1948)
3. Nunca (Lupicínio Rodrigues, 1952)
4. Loucura (Lupicínio Rodrigues, 1973)
5. Ela disse-me assim (Lupicínio Rodrigues, 1959)
6. Quem há de dizer (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1944)
7. Cadeira vazia (Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves, 1949)
8. Vingança (Lupicínio Rodrigues, 1951)
9. Nas nuvens (Eduardo Neves) - Número instrumental com a banda
10. Anita (Eduardo Neves e Guto Wirtti) - Número instrumental com a banda
11. Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957)
12. Caixa de ódio (Lupicínio Rodrigues, 1969)
13. Eu não sou louco (Lupicínio Rodrigues e Evaldo Rui, 1950) 
14. Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, 1938)
15. Cadê o pandeiro? (Roberto Martins e Walfrido Silva, 1937)
      - com Marcos Suzano (pandeiro)
16. Fechei a porta (Sebastião Motta e Ferreira Santos, 1960)
      - com Marcos Suzano (pandeiro)
17. Madalena do Jucu (Associação dos Congadeiros do Espírito Santo em adaptação de Martinho da Vila, 1989) 
      - com Marcos Suzano (pandeiro)
18. Rap da felicidade (Juninho Rasta e Kátia, 1995)
19. Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947)
Bis:
20. Felicidade (Lupicínio Rodrigues, 1947)
      - com citação de Prenda minha (tema do folclore gaúcho)