Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 23 de junho de 2015

Com evocações de Zeca, Mosquito toma partido do melhor samba do quintal

Resenha de álbum
Título: Mosquito
Artista: Mosquito
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * *

Ok, o bordão ô sorte - usado por Mosquito no título e no refrão de seu samba de maior sucesso, Ô sorte (Mosquito, Tinho Brito e Márcio Claro), propagado na trilha sonora da novela Babilônia (TV Globo, 2015) - soa como uma apropriação do patrimônio musical de Wilson das Neves, propagador desse bordão no mundo do samba. Mas Mosquito - nome artístico do cantor e compositor carioca Pedro Assad Medeiros Torres - chega no terreirão do samba com jeito de bamba precoce, a julgar por seu primeiro álbum, Mosquito, lançado neste mês de junho de 2015 pela gravadora Sony Music dois meses após a edição de EP digital. Até a semelhança física com Zeca Pagodinho em início de carreira - realçada pelo jeito franzino de ambos - ajuda a posicionar Mosquito no quintal carioca. O banjo tatuado nas costas - alardeado logo na primeira linha do texto que apresenta o disco - é figura que também evoca a boa procedência do samba de Mosquito. Fosse 35 mais velho, Mosquito provavelmente teria estado na turma que renovou o samba - na virada dos anos 1970 para a década de 1980 - na quadra do Cacique de Ramos. Basta ouvir um partido alto como Vou ver Juliana (Mosquito e Tinho Brito) para atestar que Mosquito faria bonito numa roda do Cacique. Sintomaticamente, Zeca Pagodinho (descoberto por Beth Carvalho no Cacique) participa do disco - produzido por seu compadre artístico Max Pierre - em samba, Atalho (Cléber Augusto, Djalma Falcão e Jorge Aragão),  lançado há 14 anos pelo grupo Fundo de Quintal no álbum Papo de samba (BMG, 2001). De todo modo, embora tome partido do melhor samba do quintal carioca, se desviando da trilha do pagode pop, Mosquito também faz conexões com nomes surgidos após a era do Cacique do Ramos. Cantor e compositor que sempre se equilibrou entre o samba de boa cepa e o pagode de extrato mais populista, Xande de Pilares dá boas contribuições ao álbum de Mosquito com os sambas O amor mandou dizer (Xande de Pilares e Gilson Bernini) - de cuja gravação figura como convidado - e Cadê a viola, Maria? (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Mosquito). Entre sambas dolentes como O destino escolheu (Mosquito) e Só por hoje (Mosquito), o partideiro narra em O dono da favela (Mosquito) a história trágica de menino da comunidade aliciado pelo crime e dá a decisão em Não enche (Caetano Veloso, 1997). Lançado por seu compositor Caetano Veloso com a batida do samba-reggae no álbum Livro (Polygram, 1997), o samba se ajusta bem ao tom pagodeiro do registro de Mosquito. Enfim, Mosquito chega com moral no mundo do samba, reproduzindo até os códigos machistas desse universo nos versos de Papel de bobão (Mosquito). Resta saber se há ainda espaço no mercado fonográfico para um disco que - a despeito de ostentar as percussões de Pretinho da Serrinha, expoente do samba pop - gira em torno de roda tradicional.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Ok, o bordão ô sorte - usado por Mosquito no título e no refrão de seu samba de maior sucesso, Ô sorte (Mosquito, Tinho Brito e Márcio Claro), propagado na trilha sonora da novela Babilônia (TV Globo, 2015) - soa como uma apropriação do patrimônio musical de Wilson das Neves, propagador desse bordão no mundo do samba. Mas Mosquito - nome artístico do cantor e compositor carioca Pedro Assad Medeiros Torres - chega no terreirão do samba com jeito de bamba precoce, a julgar por seu primeiro álbum, Mosquito, lançado neste mês de junho de 2015 pela gravadora Sony Music dois meses após a edição de EP digital. Até a semelhança física com Zeca Pagodinho em início de carreira - realçada pelo jeito franzino de ambos - ajuda a posicionar Mosquito no quintal carioca. O banjo tatuado nas costas - alardeado logo na primeira linha do texto que apresenta o disco - é figura que também evoca a boa procedência do samba de Mosquito. Fosse 35 mais velho, Mosquito provavelmente teria estado na turma que renovou o samba - na virada dos anos 1970 para a década de 1980 - na quadra do Cacique de Ramos. Basta ouvir um partido alto como Vou ver Juliana (Mosquito e Tinho Brito) para atestar que Mosquito faria bonito numa roda do Cacique. Sintomaticamente, Zeca Pagodinho (descoberto por Beth Carvalho no Cacique) participa do disco - produzido por seu compadre artístico Max Pierre - em samba, Atalho (Cléber Augusto, Djalma Falcão e Jorge Aragão), lançado há 14 anos pelo grupo Fundo de Quintal no álbum Papo de samba (BMG, 2001). De todo modo, embora tome partido do melhor samba do quintal carioca, se desviando da trilha do pagode pop, Mosquito também faz conexões com nomes surgidos após a era do Cacique do Ramos. Cantor e compositor que sempre se equilibrou entre o samba de boa cepa e o pagode de extrato mais populista, Xande de Pilares dá boas contribuições ao álbum de Mosquito com os sambas O amor mandou dizer (Xande de Pilares e Gilson Bernini) - de cuja gravação figura como convidado - e Cadê a viola, Maria? (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Mosquito). Entre sambas dolentes como O destino escolheu (Mosquito) e Só por hoje (Mosquito), o partideiro narra em O dono da favela (Mosquito) a história trágica de menino da comunidade aliciado pelo crime e dá a decisão em Não enche (Caetano Veloso, 1997). Lançado por seu compositor Caetano Veloso com a batida do samba-reggae no álbum Livro (Polygram, 1997), o samba se ajusta bem ao tom pagodeiro do registro de Mosquito. Enfim, Mosquito chega com moral no mundo do samba, reproduzindo até os códigos machistas desse universo nos versos de Papel de bobão (Mosquito). Resta saber se há ainda espaço no mercado fonográfico para um disco que - a despeito de ostentar as percussões de Pretinho da Serrinha, expoente do samba pop - gira em torno de roda tradicional.