Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Circense, Machete digere a comilança antropofágica de show multimídia

Resenha de show
Projeto: Palavras Cruzadas
Título: Brasil, é cozinhando que a gente se entende
Artistas: Silvia Machete, Carolina Bianchi e Opavivará! 
Local: Teatro do Oi Futuro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 8 de setembro de 2013
Foto: Rodrigo Amaral
Cotação: * * *

Silvia Machete já mostrou que sabe armar o circo em cena. As atuações performáticas da cantora e compositora carioca por vezes até já embaçaram o brilho de sua voz, evidenciado de forma mais plena no álbum Extravaganza, um dos melhores discos de 2010. Por isso mesmo, Machete foi a intérprete ideal para comandar a farra gastronômica e antropofágica de Brasil, é cozinhando que a gente se entende, espetáculo que encerrou a temporada de 2013 de Palavras Cruzadas, projeto idealizado por Marcio Debellian para promover a interação entre as diversas formas de arte. Ao lado do coletivo carioca de arte Opavivará! e da atriz/diretora/ dramaturga Carolina Bianchi, Machete apresentou espetáculo que deglutiu influências do circo, do apresentador de TV Chacrinha (1917 - 1988) e do gênero do teatro carioca rotulado como besteirol em coquetel original. Com farta comida em cena, distribuída ao público ao longo do espetáculo, a trupe desenvolveu farsesco enredo calcado num plano do Governo do Brasil para empanturrar a população com o intuito de saturar o povo para diluir a força das manifestações de rua. Sete números musicais - ou oito, se contabilizada a citação incidental do Fado tropical (Chico Buarque e Ruy Guerra, 1973) numa das várias cenas teatrais - costuraram intervenções, monólogos (como o feito por Carolina Bianchi no papel da galinha-gorila) e inserções em vídeo no estilo TV Pirata. Ainda que o humor do texto tenha resultado por vezes pouco ou nada engraçado, o espetáculo cumpriu bem a função de entrelaçar música, teatro, vídeo e artes plásticas sem que a mistura desandasse ou perdesse o fio da meada (problema do espetáculo anterior feito por Thaís Gulin com textos desconexos do dramaturgo carioca Jô Bilac). Brasil, é cozinhando que a gente se entende foi, em essência, uma performance, uma grande farra tropicalista, uma extravaganza visual - a começar pela disposição de plantas e frutas por todo o teatro. Por mais que uma cantora estivesse no comando da ação, organizando o movimento, a música se integrou à cena sem sobrepujar as outras formas de arte. Mesmo assim, Brasil, é cozinhando que a gente se entende ofereceu a oportunidade de ver e ouvir Machete dar voz a músicas inéditas em sua bela voz como Kilário (Di Melo, 1975), Me chama que eu vou (Claudio Rabello e Torcuato Mariano, 1990) - a lambada gravada por Sidney Magal em 1990 para a abertura da novela Rainha da Sucata (TV Globo) que Machete ralentou em cena - e Portugal de navio (Arnaldo Baptista, Sergio Dias e Rita Lee, 1971), música (bem menos inspirada) do repertório anárquico do grupo paulista Os Mutantes que serviu bem ao desfecho do enredo. Caracterizados como  cozinheiros, os quatro músicos da banda - Arthur Dutra (vibrafone), Fabiano Krieger (guitarra), João de Sábato (bateria) e Thiago de Sábato (baixo) - acertaram o tempero musical da farra gastronômica por conhecer bem o som de Machete, a ponto de citarem Sábado e domingo (Domenico Lancellotti e Alberto Continentino, 2010), ótima música do último disco de estúdio da cantora, no meio da zorra tropicalista. "Viva a banda, da, da!!"

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...
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