Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ainda presa à estrada, Joanna repisa caminhos em (fluente) show no Rio

Resenha de show
Título: Eletroacústico
Artista: Joanna (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 9 de setembro de 2013
Cotação: * * *

O bom show Eletroacústico apresentado por Joanna no Theatro Net Rio, na noite de 9 de setembro de 2013, é bem diferente do equivocado show com jeito de barzinho - também intitulado Eletroacústico - feito pela cantora carioca no Theatro Municipal de Niterói em 18 de agosto de 2012. Além do título genérico, há alguns traços em comum como o bloco dedicado às músicas amarguradas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 -1974), a cujo cancioneiro Joanna dedicou disco em 1994, e como um ou outro número, casos da valsa Fascinação (F. Marchetti e Maurice Feraudy em versão de Armando Louzada, 1904) - fecho anticlimático do show - e da modinha Lua branca (Chiquinha Gonzaga, 1912). Contudo, o roteiro é essencialmente diverso. Em vez de cair no samba, gênero para o qual não tem molejo, Joanna se concentrou nos sucessos românticos acumulados na fase inicial de carreira que já caminha para os 35 anos. Em vez de dois músicos, havia quatro em cena - com o detalhe de que a adição de um saxofonista na banda contribuiu para que os arranjos ficassem menos calcados nos teclados pasteurizados de Márcio Maia. Em essência, Eletroacústico é o show com que Joanna vem retomando sua carreira após período de reclusão motivada por problemas de ordem pessoal. E o que se viu e ouviu no Theatro Net Rio foi uma cantora repisando os caminhos populares que trilhou ao longo dos anos 80 - década em que o Brasil ouvia Joanna com atenção - e dos anos 90 para lembrar que sua ternura não ficou na poeira da estrada e que sua alegria ainda está com ela, como, aliás, enfatizou ao abrir o show com Eu apenas queria que você soubesse (Gonzaguinha, 1981). Com inflexões e gestos que evocaram além da conta o estilo teatral de Maria Bethânia, Joanna fez show nostálgico, centrado nos hits radiofônicos de carreira iniciada em 1979 com o sucesso de Descaminhos (Joanna e Sarah Benchimol, 1979). Para quem é fã da voz doce de Joanna, músicas como Momentos (Joanna e Sarah Benchimol, 1980) e Chama (Geraldo Amaral e Aristides Guimarães, 1981) soaram como mel para os ouvidos, mesmo com arranjos pálidos que jamais emularam os originais. Até porque a cantora continua em boa forma vocal aos 56 anos. Toda a primeira metade do roteiro teve caráter retrospectivo. Com orgulho de suas conquistas, Joanna cantou a primeira música que Gonzaguinha (1945 - 1991) fez para seus discos - Agora, destaque do repertório do álbum Nascente (1979) - e teceu loas ao compositor carioca, de quem cantou também Guerreiro menino (Um homem também chora) (Gonzaguinha, 1983), sucesso na voz do cantor cearense Fagner. Apresentada como a música preferida de Joanna dentro de sua produção autoral, Espelho (Joanna, Gracco e Geraldo Amaral, 1984) resiste bem ao tempo como momento de fato inspirado de compositora que trilhou caminho coerente até se deixar seduzir, a partir de 1986, pelo mel industrializado das canções de hitmakers como Michael Sullivan e Paulo Massadas. Um dos incontáveis sucessos populares da dupla, Amanhã talvez (1986) foi cantada no bis para deleite da plateia de meia-idade que encheu o Theatro Net Rio. Trata-se do maior hit do álbum Joanna (1986), do qual a cantora também reviveu Teu caso sou eu (Maurício Duboc e Carlos Colla, 1986), balada de arquitetura trivial. Do projeto Joanna em samba-canção (1997), a intérprete escolheu fazer o medley que unia Negue (Adelino Moreira e Enzo Almeida Passos, 1960) e A volta do boêmio (Adelino Moreira, 1956). Disco produzido com Armando Manzanero, Intimidad (1998) também foi lembrado com sequência de boleros clássicos que somente evidenciou a inadequação da cantora para transitar pelo gênero com a devida emoção. Mesmo assim, o show deixou boa impressão e fluiu bem. Joanna errou algumas letras - mas jamais se escorou na leitura delas, cantando tudo de memória - e reviveu hits com arranjos por vezes pobres, mas havia uma alegria genuína por estar pisando novamente em um palco do Rio de Janeiro (RJ), sua cidade natal, após anos longe dos holofotes. E havia a voz, praticamente inalterada. No todo, Joanna está bem. O que a cantora precisa é se desprender da poeira da estrada e partir para um disco de inéditas para fechar a cortina do passado, renovar seu público e andar para a frente, alongando, enfim, seu caminho.

11 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O bom show Eletroacústico apresentado por Joanna no Theatro Net Rio, na noite de 9 de setembro de 2013, é bem diferente do equivocado show com jeito de barzinho - também intitulado Eletroacústico - feito pela cantora carioca no Theatro Municipal de Niterói em 18 de agosto de 2012. Além do título genérico, há alguns traços em comum como o bloco dedicado às músicas amarguradas do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 -1974), a cujo cancioneiro Joanna dedicou disco em 1994, e como um ou outro número, casos da valsa Fascinação (F. Marchetti e Maurice Feraudy em versão de Armando Louzada, 1904) - fecho anticlimático do show - e da modinha Lua branca (Chiquinha Gonzaga, 1912). Contudo, o roteiro é essencialmente diverso. Em vez de cair no samba, gênero para o qual não tem molejo, Joanna se concentrou nos sucessos românticos acumulados na fase inicial de carreira que já caminha para os 35 anos. Em vez de dois músicos, havia quatro em cena - com o detalhe de que a adição de um saxofonista na banda contribuiu para que os arranjos ficassem menos calcados nos teclados pasteurizados de Márcio Maia. Em essência, Eletroacústico é o show com que Joanna vem retomando sua carreira após período de reclusão motivada por problemas de ordem pessoal. E o que se viu e ouviu no Theatro Net Rio foi uma cantora repisando os caminhos populares que trilhou ao longo dos anos 80 - década em que o Brasil ouvia Joanna com atenção - e dos anos 90 para lembrar que sua ternura não ficou na poeira da estrada e que sua alegria ainda está com ela, como, aliás, enfatizou ao abrir o show com Eu apenas queria que você soubesse (Gonzaguinha, 1981). Com inflexões e gestos que evocaram além da conta o estilo teatral de Maria Bethânia, Joanna fez show nostálgico, centrado nos hits radiofônicos de carreira iniciada em 1979 com o sucesso de Descaminhos (Joanna e Sarah Benchimol, 1979). Para quem é fã da voz doce de Joanna, músicas como Momentos (Joanna e Sarah Benchimol, 1980) e Chama (Geraldo Amaral e Aristides Guimarães, 1981) soaram como mel para os ouvidos, mesmo com arranjos pálidos que jamais emularam os originais. Até porque a cantora continua em boa forma vocal aos 56 anos. Toda a primeira metade do roteiro teve caráter retrospectivo. Com orgulho de suas conquistas, Joanna cantou a primeira música que Gonzaguinha (1945 - 1991) fez para seus discos - Agora, destaque do repertório do álbum Nascente (1979) - e teceu loas ao compositor carioca, de quem cantou também Guerreiro menino (Um homem também chora) (Gonzaguinha, 1983), sucesso na voz do cantor cearense Fagner. Apresentada como a música preferida de Joanna dentro de sua produção autoral, Espelho (Joanna, Gracco e Geraldo Amaral, 1984) resiste bem ao tempo como momento de fato inspirado de compositora que trilhou caminho coerente até se deixar seduzir, a partir de 1986, pelo mel industrializado das canções de hitmakers como Michael Sullivan e Paulo Massadas.

Mauro Ferreira disse...

Um dos incontáveis sucessos populares da dupla, Amanhã talvez (1986) foi cantada no bis para deleite da plateia de meia-idade que encheu o Theatro Net Rio. Trata-se do maior hit do álbum Joanna (1986), do qual a cantora também reviveu Teu caso sou eu (Maurício Duboc e Carlos Colla, 1986), balada de arquitetura trivial. Do projeto Joanna em samba-canção (1997), a intérprete escolheu fazer o medley que unia Negue (Adelino Moreira e Enzo Almeida Passos, 1960) e A volta do boêmio (Adelino Moreira, 1956). Disco produzido com Armando Manzanero, Intimidad (1998) também foi lembrado com sequência de boleros clássicos que somente evidenciou a inadequação da cantora para transitar pelo gênero com a devida emoção. Mesmo assim, o show deixou boa impressão e fluiu bem. Joanna errou algumas letras - mas jamais se escorou na leitura delas, cantando tudo de memória - e reviveu hits com arranjos por vezes pobres, mas havia uma alegria genuína por estar pisando novamente em um palco do Rio de Janeiro (RJ), sua cidade natal, após anos longe dos holofotes. E havia a voz, praticamente inalterada. No todo, Joanna está bem. O que a cantora precisa é se desprender da poeira da estrada e partir para um disco de inéditas para fechar a cortina do passado, renovar seu público e andar para a frente, alongando, enfim, seu caminho.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
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Unknown disse...

Joanna me surpreendeu positivamente, está em plena forma vocal. Espero que possa reviver seus melhores momentos. Detalhe, ela pode por não ter talento próprio sem precisar, em alguns momentos, se inspirar em Maria Betânia.

Unknown disse...

Concordo com Mauro. Joanna está ainda em plena forma vocal e seu show me surpreendeu positivamente. Espero que ela reencontre os bons momentos de sua carreira. E mais, também comptilhando novamente a visão do Mauro, Joanna pode voltar a brilhar sem evocar e sem tentar lembrar tantas vezes a Maria Betânia.

paulo sergio disse...

Uma cantora de voz linda e firme. Pronúncia perfeita.
Não canta o que eu gostaria de ouvir.
Pior pra mim!

Marcelo Barbosa disse...

Adoro a Joana! Eu torço e faço coro com o Mauro para que a mesma lance um disco de inéditas.
Deixe de lado um pouco os projetos religiosos (ou faça os dois) e volte a nos encantar com a sua trajetória coerente.
Mauro, senti falta dessa maravilhosa cantora no seu livro.
Abs

Unknown disse...

O show foi realmente incrível! Interpretou canções de Gonzaguinha, Roberto Carlos; Lupicínio Rodrigues e canções de sua própria criação. Repertório maravilhoso! Com sua voz aveludada e ao mesmo tempo forte deu um brilho a mais nas canções. Como sempre carismática, esbanjou simpatia na comunicação com o seu público. Joanna é uma guerreira!Meus aplausos pelos 35 anos!!!(comentário apenas de uma fã)

Unknown disse...

Mercedes. O show foi realmente incrível! Interpretou canções de Gonzaguinha, Roberto Carlos; Lupicínio Rodrigues e canções de sua própria criação. Repertório maravilhoso! Com sua voz aveludada e ao mesmo tempo forte deu um brilho a mais nas canções. Como sempre carismática, esbanjou simpatia na comunicação com o seu público. Joanna é uma guerreira!Meus aplausos pelos 35 anos!!!(comentário apenas de uma fã)

Unknown disse...

Joanna tem uma linda voz,mas não me apetece muito o repertório adocicado,beirando o brega