Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Danilo canta Dorival com frescor, nas levadas de Domenico e Bruno Di Lullo

Resenha de álbum
Título: Don Don - Danilo Caymmi canta Dorival com Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti
Artista: Danilo Caymmi
Gravadora: Maravilha 8
Cotação: * * * * *

As músicas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) são maravilhas contemporâneas, criadas com zelo de ourives pelo compositor baiano. A modernidade do cancioneiro de Caymmi é atemporal. Talvez pela leveza com que foram compostos, seus sambas e sambas-canção atravessam gerações e vozes sem data de validade - como as melhores canções da Bossa Nova. O mérito de Don Don - disco gravado pelo filho caçula de Dorival, Danilo Caymmi, com Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, músicos cultuados na cena contemporânea carioca por suas respectivas habilidades no baixo e na bateria - não é modernizar um cancioneiro já em si moderno, mas reapresentá-lo com frescor, com levadas mais atuais, sem jamais descaracterizar a arquitetura dos sambas e sambas-canção abordados pelo trio com adesões de músicos como Moreno Veloso e Pedro Sá, gente da turma de Domenico e Di Lullo. Como já sinalizara em junho de 2015 a gravação do samba inédito que dá nome ao disco, as leves levadas de Don Don são mais contemporâneas, abrindo mão do refinado classicismo das orquestrações majestosas de Dori Caymmi, principal arranjador da obra de Dorival. Aliás, Don Don - o samba que jazia no baú de inéditas de Dorival com o título de Segura Don Don - é bissexta parceria do compositor baiano com o empresário paraibano do ramo das comunicações Assis Chateaubriand (1892 - 1968). Trata-se de  samba maroto que reitera a habilidade de Caymmi de quase nunca ter pesado a mão na arte da composição (e, quando pesou, como em Sargaço mar, obra-prima de 1985, o fez com brilho). Disponível nas plataformas digitais desde 28 de agosto de 2015, em edição do selo carioca Maravilha 8, o álbum Don Don - Danilo Caymmi canta Dorival com Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti prima pela leveza, perceptível na suavidade do canto de Danilo em Dora (1945), samba-canção ambientado na terra do frevo e do maracatu. Danilo saúda Dora com canto íntimo. Mas, à beira dos três minutos, a pulsação da faixa muda, com ênfase nas quebras do ritmo que, no entanto, preservam inteiramente a melodia. Valsa com toque de samba, adornada com cordas orquestradas com maestria pelo maestro Arthur Verocai, Das rosas (1964) enfatiza a moldura instrumental do disco. O canto de Danilo é ouvido somente quando a faixa já contabiliza um minuto e meio. Como baterista, Domenico Lancellotti reina na marcação de sambas como Lá vem a baiana (1947), Requebre que eu dou um doce (1941) e A vizinha do lado (1946). Composto por Dorival à moda carioca, este samba assanhado adentra o salão de uma gafieira no registro de Don Don. Danilo também acerta o tom ameno de sambas-canção como Nem eu (1952) e Só louco (1955), aclimatados em atmosfera mais clássica com as lindas cordas de Verocai, mas com leveza. Afinal, Dorival nunca fez drama em suas incursões pelo gênero. O que torna o canto suave de Ana Claudia Lomelino automaticamente ajustado ao registro de Nunca mais (1949). A vocalista do grupo carioca Tono divide com Danilo a interpretação deste samba-canção menos ouvido do cancioneiro de Caymmi, belamente abordado em Don Don com violão que evoca o universo da Bossa Nova. Com voz de outra dimensão, mais grave e encorpada, a cantora carioca Alice Caymmi, filha de Danilo e neta de Dorival, adensa o clima do álbum ao entoar a agoniada Canção da noiva (1947). Se Vatapá (1942) tem seu sabor alterado ao fim da gravação, O que é que a baiana tem? (1939) - samba que abriu alas para Caymmi em sua chegada à cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1938 - incorpora um balangandã nortista sem perder os enfeites baianos. Enfim, como já dito, Don Don - disco gravado no primeiro semestre de 2014, ano do centenário de nascimento de Caymmi - jamais moderniza obra que já nasceu moderna na sua essência. Mas reapresenta a obra de Caymmi com outros tons, e outras levadas, fechando apoteoticamente os festejos do centenário de Dorival.

12 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ As músicas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) são maravilhas contemporâneas, criadas com zelo de ourives pelo compositor baiano. A modernidade do cancioneiro de Caymmi é atemporal. Talvez pela leveza com que foram compostos, seus sambas e sambas-canção atravessam gerações e vozes sem data de validade - como as melhores canções da Bossa Nova. O mérito de Don Don - disco gravado pelo filho caçula de Dorival, Danilo Caymmi, com Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti, músicos cultuados na cena contemporânea carioca por suas respectivas habilidades no baixo e na bateria - não é modernizar um cancioneiro já em si moderno, mas reapresentá-lo com frescor, com levadas mais atuais, sem jamais descaracterizar a arquitetura dos sambas e sambas-canção abordados pelo trio com adesões de músicos como Moreno Veloso e Pedro Sá, gente da turma de Domenico e Di Lullo. Como já sinalizara em junho de 2015 a gravação do samba inédito que dá nome ao disco, as levadas de Don Don são mais contemporâneas, abrindo mão do refinado classicismo das orquestrações majestosas de Dori Caymmi, principal arranjador da obra de Dorival. Aliás, Don Don - o samba que jazia no baú de inéditas de Dorival com o título de Segura Don Don - é bissexta parceria do compositor baiano com o empresário paraibano do ramos das comunicações Assis Chateaubriand (1892 - 1968). Trata-se de samba maroto que reitera a habilidade de Caymmi de quase nunca ter pesado a mão na arte da composição (e, quando pesou, como em Sargaço mar, obra-prima de 1985, o fez com maestria). Disponível nas plataformas digitais desde 28 de agosto de 2015, em edição do selo carioca Maravilha 8, o álbum Don Don - Danilo Caymmi canta Dorival com Bruno Di Lullo e Domenico Lancellotti prima pela leveza, perceptível na suavidade do canto de Danilo em Dora (1945), samba-canção ambientado na terra do frevo e do maracatu. Danilo saúda Dora com canto íntimo. Mas, à beira dos três minutos, a pulsação da faixa muda, com ênfase nas quebras do ritmo que, no entanto, preservam inteiramente a melodia. Valsa com toque de samba, adornada com cordas, Das rosas (1964) enfatiza a moldura instrumental do disco. O canto de Danilo é ouvido somente quando a faixa já contabiliza um minuto e meio. Como baterista, Domenico Lancellotti reina na marcação de sambas como Lá vem a baiana (1947), Requebre que eu dou um doce (1941) e A vizinha do lado (1946). Composto por Dorival à moda carioca, este samba assanhado adentra o salão de uma gafieira no registro de Don Don. Danilo também acerta o tom ameno de sambas-canção como Nem eu (1952) e Só louco (1955), aclimatados em atmosfera mais clássica, mas com leveza. Afinal, Dorival nunca fez drama em suas incursões pelo gênero. O que torna o canto suave de Ana Claudia Lomelino automaticamente ajustado ao registro de Nunca mais (1949). A vocalista do grupo carioca Tono divide com Danilo a interpretação deste samba-canção menos ouvido do cancioneiro de Caymmi, belamente abordado em Don Don com violão que evoca o universo da Bossa Nova. Com voz de outra dimensão, mais grave e encorpada, a cantora carioca Alice Caymmi, filha de Danilo e neta de Dorival, adensa o clima do álbum ao entoar a agoniada Canção da noiva (1947). Se Vatapá (1942) tem seu sabor alterado ao fim da gravação, O que é que a baiana tem? (1939) - samba que abriu alas para Caymmi em sua chegada à cidade do Rio de Janeiro (RJ) em 1938 - incorpora um balangandã nortista sem perder os enfeites baianos. Enfim, como já dito, Don Don jamais moderniza uma obra que já nasceu moderna em sua essência. Mas reapresenta a obra de Caymmi com outros tons e outras levadas, fechando com maestria os festejos do centenário de nascimento de mestre Dorival.

Rafael disse...

Acredito que realmente esse disco esteja uma delícia de se ouvir... Gostaria muito de escutá-lo...

Anônimo disse...

Ansioso! Danilo é meu cantor predileto. Vai sair em formato físico, Mauro?

Mauro Ferreira disse...

Não, não vai. A edição é somente digital. Abs, MauroF

Damião Costa disse...

Belíssimo trabalho do Danilo,mas ninguém reclama que é hiper repetitivo,quando é um cantor que não seja considerado elitista as críticas chovem

Mauro Ferreira disse...

Damião, a junção inédita de Danilo com os músicos do disco evita a repetição. Abs, MauroF

Damião Costa disse...

Valeu Mauro,então por si só o Rei Roberto Carlos gravar em Abbey Road justifica a repetição e além do mais acompanhado de músicos que tocam ou tocaram com Simply Red,George Benson,Andrea Bocceli,Jamiroquai entre outros fica duplamente justificado,abraço.

Marisa disse...

Que comparacao exdrúxula!

Damião Costa disse...

Não tem nada de eSdrúxula nessa comparação apenas má vontade dos elitismos musicais com os cantores de massa.

Marisa disse...

Você deveria escrever isso então num post sobre um "cantor de massa" que estivesse sendo criticado. Ao escrever isso aqui, foi tão preconceituoso em relação ao Danilo quanto os outros em relação aos "cantores de massa"!

Damião Costa disse...

Eu tenho quase todos os CDs do Danilo só me falta o último, sou fã do cara,fiz um comentário mostrando os dois lados da moeda,apenas isso.

Marisa disse...

Ah tá, então foi apenas contraditório!
Ao escrever "A junção inédita de Danilo com os músicos so disco evita a repeticão", o Mauro não ditou uma regra, analisou um resultado!