Mauro Ferreira no G1

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sábado, 19 de setembro de 2015

Brilho dos músicos impede amargor da sortida safra autoral de 'Café no bule'

Resenha de CD
Título: Café no bule
Artistas: Naná Vasconcelos, Zeca Baleiro e Paulo Lepetit
Gravadora: Selo Sesc
Cotação: * * *

Era para ser um disco gravado em trio com o paulistano Itamar Assumpção (1949 - 2003), o pernambucano Naná Vasconcelos e o maranhense Zeca Baleiro. Mas o Nego Dito saiu de cena e Café no bule - disco acalentado há mais de uma década - acabou sendo preparado com Paulo Lepetit, músico paulistano da turma de Itamar, no lugar do insubstituível Beleléu. Com 12 músicas inéditas em 13 faixas (a exceção é Caju, parceria de Naná com Vinicius Cantuária, lançada em 1999 em disco de Naná e ora revivida pelo trio em tom amaxixado), Café no bule exala o aroma da diversidade rítmica brasileira. A safra autoral de Baleiro, Naná e Lepetit vai do coco de roda (Mosca de padaria) a uma canção moldada para luau (A maré tá boa, feita na onda paulista, de acordo com o espirituoso Baleiro), passando por xote (Xote do Tarzan) e ijexá de toque caribenho (A dama do Chama-Maré, música arranjada com metais cujo título se refere a uma casa de reggae situada em São Luís, no Maranhão). Só que esse repertório - costurado por três vinhetas, Tem café no bule, Eu vim foi (único tema composto por Baleiro e Lepetit sem Naná) e Bonne chance - poderia ter sido servido com mais rigor na seleção. Os três artistas sobressaem em Café no bule mais como músicos do que como compositores. Naná reitera sua personalíssima maestria na arte da percussão, tirando efeitos de instrumentos inusitados. Além de dominar a arte do canto no disco, Baleiro toca instrumentos como violão, cavaco e guitarra. Já Lepetit pilota com habilidade sortido arsenal de instrumentos que inclui o u-bass, misto de baixo e ukelele. Capitaneada pelo próprio trio, a produção agrega outros músicos aos arranjos e garante boa formatação para um repertório gravado com mistura de ritmos e sotaques em fusão que extrapola inclusive as fronteiras rítmicas do Brasil, como sinalizam o tom cigano de Yellow taxi e a levada angolana do semba de roda Vou de candonga. A questão é que nem todas as músicas em si fazem jus ao histórico do trio. Os grandes destaques da variada safra autoral e inédita são Ciranda da meia-noite (a ciranda que abre o disco com toques de ijexá e um irresistível convite à dança), Batuque na panela (samba que busca reproduzir a cadência dos temas de terreiros) e Loa (o festivo maracatu de baque virado que fecha o disco em grande estilo). Enfim, Café no bule tem sabor brasileiro. É a diversidade rítmica nacional que adoça o disco, sendo que o brilho dos três artistas como músicos impede qualquer eventual amargor do repertório servido em Café no bule. Pode provar o miscigenado Café no bule!

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Era para ser um disco gravado em trio com o paulistano Itamar Assumpção (1949 - 2003), o pernambucano Naná Vasconcelos e o maranhense Zeca Baleiro. Mas o Nego Dito saiu de cena e Café no bule - disco acalentado há mais de uma década - acabou sendo preparado com Paulo Lepetit, músico paulistano da turma de Itamar, no lugar do insubstituível Beleléu. Com 12 músicas inéditas em 13 faixas (a exceção é Caju, parceria de Naná com Vinicius Cantuária, lançada em 1999 em disco de Naná e ora revivida pelo trio em tom amaxixado), Café no bule exala o aroma da diversidade rítmica brasileira. A safra autoral de Baleiro, Naná e Lepetit vai do coco de roda (Mosca de padaria) a uma canção moldada para luau (A maré tá boa, feita na onda paulista, de acordo com o espirituoso Baleiro), passando por xote (Xote do Tarzan) e ijexá de toque caribenho (A dama do Chama-Maré, música arranjada com metais cujo título se refere a uma casa de reggae situada em São Luís, no Maranhão). Só que esse repertório - costurado por três vinhetas, Tem café no bule, Eu vim foi (único tema composto por Baleiro e Lepetit sem Naná) e Bonne chance - poderia ter sido servido com mais rigor na seleção. Os três artistas sobressaem em Café no bule mais como músicos do que como compositores. Naná reitera sua personalíssima maestria na arte da percussão, tirando efeitos de instrumentos inusitados. Além de dominar a arte do canto no disco, Baleiro toca instrumentos como violão, cavaco e guitarra. Já Lepetit pilota com habilidade sortido arsenal de instrumentos que inclui o u-bass, misto de baixo e ukelele. Capitaneada pelo próprio trio, a produção agrega outros músicos aos arranjos e garante boa formatação para um repertório gravado com mistura de ritmos e sotaques em fusão que extrapola inclusive as fronteiras rítmicas do Brasil, como sinalizam o tom cigano de Yellow taxi e a levada angolana do semba de roda Vou de candonga. A questão é que nem todas as músicas em si fazem jus ao histórico do trio. Os grandes destaques da variada safra autoral e inédita são Ciranda da meia-noite (a ciranda que abre o disco com toques de ijexá e um irresistível convite à dança), Batuque na panela (samba que busca reproduzir a cadência dos temas de terreiros) e Loa (o festivo maracatu de baque virado que fecha o disco em grande estilo). Enfim, Café no bule tem sabor brasileiro. É a diversidade rítmica nacional que adoça o disco, sendo que o brilho dos três artistas como músicos impede qualquer eventual amargor do repertório servido em Café no bule. Pode provar o miscigenado Café no bule!

Luca disse...

aposto que esse disco é muito melhor do que muito disquinho idolatrado aqui

Rafael disse...

Esse álbum parece ser um discaço. Não tem como dar errado onde tem 3 feras como esse reunidos num só...

lurian disse...

A vivacidade ritmica desse disco é impressionante. Sem dúvida um dos melhores do ano.