Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Dentro de si, Flanders brilha em doído disco solo feito no passo das paixões

Resenha de CD
Título: Uma temporada fora de mim
Artista: Hélio Flanders
Gravadora: Deck
Cotação: * * * * *

♪ Tudo faz sentido no primoroso primeiro disco solo de Hélio Flanders, cantor e principal compositor do Vanguart, grupo de Cuiabá (MT) em atividade desde o início dos anos 2000. Exposta na capa, a foto intencionalmente desfocada de Daryan Dornelles está em fina sintonia com o título do disco produzido pelo próprio Flanders com o maestro Arthur de Faria. Uma temporada fora de mim significa, em última instância, que Flanders saiu da persona artística construída no grupo que lhe deu projeção na cena indie para construir outra inédita identidade musical. O que Flanders faz no (com)passo passional do tango. Há um tango propriamente dito no fecho do álbum - Cuyaba tango (Hélio Flanders e Arthur de Faria), reminiscências de amores deixados na terra natal - e há toques de tango embutidos pelo sonoro bandoneon de Martin Sued em músicas como Major Luciana (Hélio Flanders e Julio Nnanga) e a bela composição que intitula o CD editado pela gravadora carioca Deck neste mês de setembro de 2015, Uma temporada fora de mim (Hélio Flanders). Mas seria incorreto caracterizar Uma temporada fora de mim como um disco de tango. O que perpassa e pauta o álbum - como Flanders já anunciara previamente - é a alma do tango, os sentimentos passionais recorrentes no universo da canção de tom melodramático. Uma temporada fora de mim versa sobre solidões, angústias, mágoas - motes de Um grito (Hélio Flanders), uma das nove composições autorais do disco. Há até um certo desespero nas entrelinhas dos versos de Onde a Terra acaba (Hélio Flanders), exemplo da beleza doída que pontua o álbum. "Eu vim de uma dor / Que arrasou o céu", situa Flanders em De onde você vem? (Hélio Flanders), faixa eleita o primeiro single do álbum e alvo de clipe em rotação na web. Flanders explora a região aguda de sua voz quente em De onde você vem?, evidenciando evolução como intérprete. Seus tons operísticos na faixa-vinheta Pronto per il mondo (Hélio Flanders) impressionam e remetem ao canto de Cida Moreira, convidada da faixa que representa um dos momentos de maior sensibilidade de álbum pungente em sua dor. Cida divide com Flanders a interpretação de Dentro do tempo que eu sou (Hélio Flanders), tema que embaralha nostalgias, solidões e urgências de viver. Bela balada lançada no álbum Rock'n'roll sugar darling (Independente, 2014) por Thiago Pethit, parceiro de Flanders na canção, Romeo se ajusta ao tempo denso e inquieto de Uma temporada fora de mim, reiterando a afinidade dos parceiros na arte da composição. Enfim, totalmente dentro de si, Hélio Flanders se engrandece como cantor e compositor com este inspirado solo da paixão. Seu disco solo tem conceito, princípio, meio e fim.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Tudo faz sentido no primoroso primeiro disco solo de Hélio Flanders, cantor e principal compositor do Vanguart, grupo de Cuiabá (MT) em atividade desde o início dos anos 2000. Exposta na capa, a foto intencionalmente desfocada de Daryan Dornelles está em fina sintonia com o título do disco produzido pelo próprio Flanders com o maestro Arthur de Faria. Uma temporada fora de mim significa, em última instância, que Flanders saiu da persona artística construída no grupo que lhe deu projeção na cena indie para construir outra inédita identidade musical. O que Flanders faz no (com)passo passional do tango. Há um tango propriamente dito no fecho do álbum - Cuyaba tango (Hélio Flanders e Arthur de Faria), reminiscências de amores deixados na terra natal - e há toques de tango embutidos pelo sonoro bandoneon de Martin Sued em músicas como Major Luciana (Hélio Flanders e Julio Nnanga) e a bela composição que intitula o CD editado pela gravadora carioca Deck neste mês de setembro de 2015, Uma temporada fora de mim (Hélio Flanders). Mas seria incorreto caracterizar Uma temporada fora de mim como um disco de tango. O que perpassa e pauta o álbum - como Flanders já anunciara previamente - é a alma do tango, os sentimentos passionais recorrentes no universo da canção de tom melodramático. Uma temporada fora de mim versa sobre solidões, angústias, mágoas - motes de Um grito (Hélio Flanders), uma das nove composições autorais do disco. Há até um certo desespero nas entrelinhas dos versos de Onde a Terra acaba (Hélio Flanders), exemplo da beleza doída que pontua o álbum. "Eu vim de uma dor / Que arrasou o céu", situa Flanders em De onde você vem? (Hélio Flanders), faixa eleita o primeiro single do álbum e alvo de clipe em rotação na web. Flanders explora a região aguda de sua voz quente em De onde você vem?, evidenciando evolução como intérprete. Seus tons operísticos na faixa-vinheta Pronto per il mondo (Hélio Flanders) impressionam e remetem ao canto de Cida Moreira, convidada da faixa que representa um dos momentos de maior sensibilidade de álbum pungente em sua dor. Cida divide com Flanders a interpretação de Dentro do tempo que eu sou (Hélio Flanders), tema que embaralha nostalgias, solidões e urgências de viver. Bela balada lançada no álbum Rock'n'roll sugar darling (Independente, 2014) por Thiago Pethit, parceiro de Flanders na canção, Romeo se ajusta ao tempo denso e inquieto de Uma temporada fora de mim, reiterando a afinidade dos parceiros na arte da composição. Enfim, totalmente dentro de si, Hélio Flanders se engrandece como cantor e compositor com este inspirado solo da paixão. Seu disco solo tem conceito, princípio, meio e fim.

Luca disse...

raramente concordo com as críticas do Mauro mas desta aqui assino embaixo, disco perfeito mesmo

ADEMAR AMANCIO disse...

Desconheço,não sabia que Hélio Flanders tava no mundo.

lurian disse...

O disco é realmente primoroso. Ouço várias vezes esse clima meio porteño-existencialista. Ele e Cida Moreira acertaram em cheio em seus discos e aqui juntos!

Rhenan Soares disse...

Não acompanho o Vanguart. Ouvi algo quando apareceram e foi isso. Um tempo atrás vi um show deles, dentro da programação de um festival, e gostei. Mas, em geral, tenho um pouco de preguiça.

Achei o disco do Hélio muito bom. Tem um conceito claro na sonoridade. Gosto de "Major Luciana", da poesia de "Onde a terra acaba"... "Desespera / Mas não deixa a voz secar / Um antigo encontro te espera / Lá onde a terra acaba"... Isso é muito bom. A melhor do álbum, para mim. A faixa com a Cida também é lindíssima.

Mas não é um disco perfeito (jamé). "Um grito" parece poema musicado. Me incomoda e não acho que se nivele à maioria das faixas. Outra bobinha é a que dá nome ao disco. "Às vezes entendo, às vezes não / Às vezes me basto, às vezes não / Às vezes vivo, às vezes não / Às vezes sonho o que não é". Troço meio infantil, né... Pelo menos ele não usou o fatídico mote do "eu sou assim". Como compositor melhora muito em "De onde você vem?", por exemplo.

E essa parceria com o Pethit (uma das criaturas mais ~poser~ de que eu já tive notícia), socorrooo... pelo amor! "Baby eu acho foda quando você passa" + "Baby quando eu te vi eu não soube dizer / Se queria matar ou se queria meter". Troço pa-vo-ro-so. Um texto que não cabe no disco, descaradamente. Parece que enfiou para preencher espaço (só). E, na boa, esse mocinho, engomadinho, tentando vender um verbo como "meter" é risível (gargalhei, inclusive). Fico pensando que a família o deixou de castigo depois de ouvir o verso. Ou, no mínimo, o obrigou a lavar a boca com sabão. Não me convence, mas não me convence mesmo. A pessoa precisa merecer o uso de um "foda" e de um "meter", vai...

Mas enfim, ouvi o disco algumas vezes durante a semana e acho até que me acostumei mais com esse jeito meio lerdo de cantar que o Flanders (&cia.) tem.