Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Catto acende a chama das paixões fugazes na voltagem branda de 'Tomada'

Resenha de CD
Título: Tomada
Artista: Filipe Catto
Gravadora: Agência de Música / Radar Records
Cotação: * * *

Filipe Catto é cantor que arde na fogueira das paixões. O EP Saga (Independente, 2011) revelou intérprete de fôlego, de voz potente e canto quente. O talento vocal do artista gaúcho - radicado na cidade de São Paulo (SP) - foi confirmado por seu primeiro álbum, Fôlego (Universal Music, 2011). Após titubeante registro ao vivo de show (originalmente primoroso) em que o cantor flertou perigosamente com o brega por interferência dos chefões de sua ex-gravadora, Entre cabelos, olhos e furacões (Universal Music, 2013), Catto retoma as rédeas da carreira, volta para o trilho independente e reaparece neste mês de setembro de 2015 com seu segundo álbum, Tomada, produzido por Alexandre Kassin sob a direção artística de Ricky Scaff e do próprio Catto.  Disponível nas plataformas digitais a partir de 8 de setembro, mas já com o single Dias & noites (Filipe Catto) na web e no portal do projeto Natura musical, Tomada é disco menos inflamado do que Fôlego. Catto dosa a temperatura de seu canto (ainda) quente e acende em voltagem branda a chama das paixões fugazes, assunto do já citado single Dias & noites, música da lavra solitária do artista - melhor cantor do que compositor - que versa sobre amor e sexo em madrugadas que são armadilhas. O toque da guitarra tutti frutti de Luiz Carlini contribui decisivamente para manter a pressão deste rock que se conecta, pelo tom contemporâneo, com Partiu, composição tecnicamente inédita de Marina Lima, já que o registro feito pela cantora com Adriano Cintra em 2013 - ano em que a artista começou a cantar Partiu em shows - nunca chegou a ser lançado em disco. O registro de Catto conta com o violão de Marina e a guitarra de Carlini em outra incursão do cantor pelo universo do rock. Inspirada parceria de Catto com Moska, Depois de amanhã propõe reflexão sobre a perenidade de amor de tempo já ido, vivido na era da alta rotatividade das camas naufragadas. A canção ganha pegada pop no toque da banda - Danilo Andrade (teclados), Domenico Lancellotti (bateria e percussão), Kassin (baixo) e Pedro Sá (guitarra) - arregimentada para tocar nas 11 faixas do disco. "A morte é a esquina onde o amor termina", sentencia o escritor angolano José Eduardo Agualusa em verso de Auriflama, poema musicado pela cantora e compositora carioca Thalma de Freitas. Tomada é disco em que o ponto de fervura por vezes está mais nos versos das músicas sobre amores carnais do que na voz de Catto, mais andrógina do que no álbum Fôlego. Musicalmente, o toque nortista da guitarra de Felipe Cordeiro dá o tom de Auriflama. Embora tenha solicitado os serviços de Kassin, requisitado produtor carioca que tem diversificado seu leque de atuação nos estúdios diante de tamanha procura, Catto jamais se aproxima da estética cool. Tanto que, embora soe menos ardente em Tomada, o intérprete por vezes ainda peca pelo excesso. Joia romântica que batizou o segundo álbum do cantor e compositor pernambucano Zé Manoel, Canção & silêncio tem parte de sua beleza diluída no registro de Catto por conta do arranjo expansivo, pontuado por vocais proeminentes. A canção pede mais introspecção, mais silêncios. Balada do repertório da banda carioca Gang 90, Do fundo do coração (Taciana Barros e Júlio Barroso, 1985) faz sentido no repertório de disco que versa sobre noites princesas e secretas solidões remoídas na ressaca do amor e do sexo fugazes. Contudo, a participação de Ava Rocha na faixa peca pela injustificável discrição. Catto e Kassin não aproveitaram todo o potencial interpretativo dessa cantora carioca de presença forte e estranha. Canção de amor gay composta por Caetano Veloso com inspiração em Ilusão à toa (Johnny Alf, 1961), Amor mais que discreto (2007) se confirma menor - do ponto de vista melódico - dentro do grandioso cancioneiro do compositor baiano, mesmo que Catto experimente acertado tom de delicadeza a dar voz a essa canção lançada discretamente por Caetano em registro ao vivo de show. Já o rock Um milhão de novas palavras - parceria dos compositores emergentes César Lacerda e Fernando Temporão - é o ponto mais alto do disco. É rock cheio de atitude política que ecoa a poética incisiva de Cazuza (1958 - 1990) e que se impõe como porta-voz da crise que põe o Brasil na contramão da fé. Catto valoriza cada palavra da letra com sua interpretação enérgica. Na sequência, Íris & arco (Tiganá Santana, Thalma de Freitas e Gui Held) repõe o toque da guitarra do paraense Felipe Cordeiro em Tomada, mas o acento contemporâneo da gravação abafa qualquer tom regionalista. Os versos poéticos do tema sobressaem no registro. Faixa ambientada em atmosfera roqueira, Pra você me ouvir (Filipe Catto) retoma o tema central do disco - incertas de uma noite qualquer que terminam em quatro paredes delinquentes - com vocais (de Catto e Gabriela Riley) na pressão. Outro ponto alto do disco, Adorador - primeira parceria de Catto com o compositor carioca Pedro Luís - eleva novamente a voltagem de Tomada, deixando entrever a alma popular do cantor no arranjo que evoca clima de cabaré no toque do trombone de Marlon Sette e das guitarras de Manoel Cordeiro e de Felipe Cordeiro. Enfim, entre erros e acertos, o álbum representa salutar tomada de posição de Filipe Catto, que afasta o então rondante fantasma do brega e retoma o controle de sua discografia, ardendo com menor intensidade na fogueiras das paixões, mas ainda soando quente o suficiente para manter aceso o público que tem adoração por este ótimo cantor de tom inflamado.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Filipe Catto é cantor que arde na fogueira das paixões. O EP Saga (Independente, 2011) revelou intérprete de fôlego, de voz potente e canto quente. O talento vocal do artista gaúcho - radicado na cidade de São Paulo (SP) - foi confirmado por seu primeiro álbum, Fôlego (Universal Music, 2011). Após titubeante registro ao vivo de show (originalmente primoroso) em que o cantor flertou perigosamente com o brega por interferência dos chefões de sua ex-gravadora, Entre cabelos, olhos e furacões (Universal Music, 2013), Catto retoma as rédeas da carreira, volta para o trilho independente e reaparece neste mês de setembro de 2015 com seu segundo álbum, Tomada, produzido por Alexandre Kassin sob a direção artística de Ricky Scaff e do próprio Catto. Disponível nas plataformas digitais a partir de 8 de setembro, mas já com o single Dias & noites (Filipe Catto) na web e no portal do projeto Natura musical, Tomada é disco menos inflamado do que Fôlego. Catto dosa a temperatura de seu canto (ainda) quente e acende em voltagem branda a chama das paixões fugazes, assunto do já citado single Dias & noites, música da lavra solitária do artista - melhor cantor do que compositor - que versa sobre amor e sexo em madrugadas que são armadilhas. O toque da guitarra tutti frutti de Luiz Carlini contribui decisivamente para manter a pressão deste rock que se conecta, pelo tom contemporâneo, com Partiu, composição tecnicamente inédita de Marina Lima, já que o registro feito pela cantora com Adriano Cintra em 2013 - ano em que a artista começou a cantar Partiu em shows - nunca chegou a ser lançado em disco. O registro de Catto conta com o violão de Marina e a guitarra de Carlini em outra incursão do cantor pelo universo do rock. Inspirada parceria de Catto com Moska, Depois de amanhã propõe reflexão sobre a perenidade de amor de tempo já ido, vivido na era da alta rotatividade das camas naufragadas. A canção ganha pegada pop no toque da banda - Danilo Andrade (teclados), Domenico Lancellotti (bateria e percussão), Kassin (baixo) e Pedro Sá (guitarra) - arregimentada para tocar nas 11 faixas do disco. "A morte é a esquina onde o amor termina", sentencia o escritor angolano José Eduardo Agualusa em verso de Auriflama, poema musicado pela cantora e compositora carioca Thalma de Freitas. Tomada é disco em que o ponto de fervura por vezes está mais nos versos das músicas sobre amores carnais do que na voz de Catto, mais andrógina do que no álbum Fôlego. Musicalmente, o toque nortista da guitarra de Felipe Cordeiro dá o tom de Auriflama.

Mauro Ferreira disse...

Embora tenha solicitado os serviços de Kassin, requisitado produtor carioca que tem diversificado seu leque de atuação nos estúdios diante de tamanha procura, Catto jamais se aproxima da estética cool. Tanto que, embora soe menos ardente em Tomada, o intérprete por vezes ainda peca pelo excesso. Joia romântica que batizou o segundo álbum do cantor e compositor pernambucano Zé Manoel, Canção & silêncio tem parte de sua beleza diluída no registro de Catto por conta do arranjo expansivo, pontuado por vocais proeminentes. A canção pede mais introspecção, mais silêncios. Balada do repertório da banda carioca Gang 90, Do fundo do coração (Taciana Barros e Júlio Barroso, 1985) faz sentido no repertório de disco que versa sobre noites princesas e secretas solidões remoídas na ressaca do amor e do sexo fugazes. Contudo, a participação de Ava Rocha na faixa peca pela injustificável discrição. Catto e Kassin não aproveitaram todo o potencial interpretativo dessa cantora carioca de presença forte e estranha. Canção de amor gay composta por Caetano Veloso com inspiração em Ilusão à toa (Johnny Alf, 1961), Amor mais que discreto (2007) se confirma menor - do ponto de vista melódico - dentro do grandioso cancioneiro do compositor baiano, mesmo que Catto experimente acertado tom de delicadeza a dar voz a essa canção lançada discretamente por Caetano em registro ao vivo de show. Já o rock Um milhão de novas palavras - parceria dos compositores emergentes César Lacerda e Fernando Temporão - é o ponto mais alto do disco. É rock cheio de atitude política que ecoa a poética incisiva de Cazuza (1958 - 1990) e que se impõe como porta-voz da crise que põe o Brasil na contramão da fé. Catto valoriza cada palavra da letra com sua interpretação enérgica. Na sequência, Íris & arco (Tiganá Santana, Thalma de Freitas e Gui Held) repõe o toque da guitarra do paraense Felipe Cordeiro em Tomada, mas o acento contemporâneo da gravação abafa qualquer tom regionalista. Os versos poéticos do tema sobressaem no registro. Faixa ambientada em atmosfera roqueira, Pra você me ouvir (Filipe Catto) retoma o tema central do disco - incertas de uma noite qualquer que terminam em quatro paredes delinquentes - com vocais (de Catto e Gabriela Riley) na pressão. Outro ponto alto do disco, Adorador - primeira parceria de Catto com o compositor carioca Pedro Luís - eleva novamente a voltagem de Tomada, deixando entrever a alma popular do cantor no arranjo que evoca clima de cabaré no toque do trombone de Marlon Sette e das guitarras de Manoel Cordeiro e de Felipe Cordeiro. Enfim, entre erros e acertos, o álbum representa salutar tomada de posição de Filipe Catto, que afasta o então rondante fantasma do brega e retoma o controle de sua discografia, ardendo com menor intensidade na fogueiras das paixões, mas ainda soando quente o suficiente para manter aceso o público que tem adoração por este ótimo cantor de tom inflamado.

Rafael disse...

Catto nunca erra... Esse disco dele deve estar fenomenal!!! Achei pouco ter dado 3 estrelas para o álbum...

Rhenan Soares disse...

Rafael ainda não ouviu o disco, mas achou três estrelas pouco. Eu concordo, três é pouco. Esperava mais de "Tomada". Tô bem ansioso pra ouvir depois de ler a resenha. Principalmente a parceria com o Pedro Luís e a música do César Lacerda com o Temporão - além de serem bons compositores, têm uma visão política interessante. E, poxa, eu curto muito "Amor mais que discreto", deve ter ficado ótima.

Adorei o single "Dias e noites", mas a bateria do Domênico ficou bem irritante, hã? Achei chato nível íssimo. Tipo, abaixa isso, pelo amor, que quero ouvir aqui o homem cantando. =P

p.s.: cotação boa pro moço baixar a bola um tiquim.

Victor Moraes, disse...

Depois que ouvir, volto aqui pra comentar. Mas, pelas palavras do Mauro, acho que minha faixa favorita será "Adorador".
Acompanhando Catto desde o EP Saga, acho que esperei de Tomada o mesmo impacto do carro-chefe de Fôlego, Adoração. Acabei não curtindo tanto a música nova, já liberada. Talvez sejam porque meus ouvidos andam mais para coisas leves, como Dia Perfeito (Fôlego), no momento.
Confesso ansiedade pelo disco, vou ouvir com todo carinho.
Ouvi Canção & Silêncio na voz o compositor e acho que irei concordar com Mauro. A canção onde delicadeza. Mas vou adentrar na proposta do disco ao ouvir.

Douglas Carvalho disse...

Ainda não ouvi o disco, mas Catto me arrepia da cabeça aos pés com sua voz lindíssima.

Filipe Catto e Simone Mazzer: as duas grandes vozes dos anos 2000!

@Kamp70 disse...

Boa noite,

o bom de não ser especialista é que posso falar do que sinto com a voz de Filipe Catto.
A primeira vez em que o ouvi foi num programa de TV, cantando uma música que eu odiava: Garçon..
Desse dia em diante e lá se vão dois anos já ouvi mais músicas do que na minha vida antes de Catto todinha(45 now), e coisas de Nelson Cavaquinho, Cartola, Tulipa Ruiz, Pélico,Jeneci, Édith Piaf, Nina Simone, Jeff Buckley e Reginaldo Rossi(Que que tem?Aprendi a respeitar). Isso sem contar a quantidade enorme de gente nova e que não aparece na "grande mídia" e com quem O Catto fez algum trabalho ou parceria.
Ele é multi em vários sentidos, apaixona quem o ouve e mais ainda quem o conhece.Ele abusa nas interpretações e por isso tem arrastado gente por onde passa e muita gente querendo vê-lo cantando de perto por esse Brasil afora.
Depois de ouvir "Tomada" vem a opinião sobre esse CD. Mas de cara sabendo que será a opinião totalmente parcial de fã apaixonada.

Kátia

Luca disse...

Catto é um dos protegidos do Mauro, se ele deu três estrelas, imagino que esse disco deve tá bem fraco

Unknown disse...

Catto é maravilhoso! Mauro, você já ouviu Flaira Ferro? Eu fiquei fã desde o primeiro momento que ouvi o cd dela. É bailarina, atriz, compositora e interprete pernambucana, atualmente em SP. É linda! Poesia pura! Também sugiro que escute as minhas conterrâneas Sandyalê e Héloa. Abraços! Cesar.

Rhenan Soares disse...

Chocado de como o disco ficou fraco. Absurdo a voz do Catto estar sub-valorizada em praticamente o álbum inteiro. Um dos piores trabalhos do Kassin (que deveria rejeitar mais trabalhos, na minha opinião). No geral as músicas são bem medianas (nível não merecer registro), incluindo a parceria com o Moska. Mas gostei de Adorador, Auriflama (+ ou -) e da versão de Amor mais que discreto. Essa Um milhão de novas palavras poderia ter uma letra melhor, né...