Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Com conceito frágil, DVD que resume 30 anos de 'Rock in Rio' cai no karaokê

Resenha de CD e DVD
Título: Rock in Rio 30 anos - Box Brasil
Artista: vários
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 

♪ Para celebrar os 30 anos do Rock in Rio e as três décadas de pop rock no Brasil, já que a primeira edição do festival de Roberto Medina consolidou em 1985 a abertura do mercado roqueiro nativo, a empresa Musickeria idealizou projeto fonográfico - recém-posto no mercado pela gravadora Universal Music nos formatos de CD e DVD - com 30 gravações inéditas de sucessos do pop nacional, feitas por artistas desse universo pop sob a direção e produção musical de Liminha. Como geralmente acontece em projetos coletivos, o resultado dos covers oscila. Há quem honre a missão lhe confiada, como o rapper carioca Marcelo D2, que interpreta com pegada Samba makossa (Chico Science, 1994) - em homenagem ao mentor do movimento Mangue Beat, o pernambucano Chico Science (1966 - 1997) - e Polícia (Tony Bellotto, 1986), música dos Titãs que poderia figurar em qualquer disco de D2. Confirmando seu bom momento, Baby do Brasil energiza o rock Semana que vem (2003), de autoria de Pitty, que retribui com gravação digna de sucesso dos Novos Baianos associado à Baby, A menina dança (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972). Só que o hit de Baby no grupo baiano foi lançado 13 anos antes da primeira edição do Rock in Rio - o que expõe a fragilidade do conceito do projeto, reiterada quando Frejat dá voz à canção Na rua, na chuva, na fazenda, lançada por Hyldon em compacto de 1973. Posto isso, o Skank acerta o tom de Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, 1970) e de Andar com fé (Gilberto Gil, 1982). Mas há momentos típicos de karaokê. Quando Paulo Ricardo solta a voz em Tempo perdido (Renato Russo, 1986), com arranjo idêntico ao do registro original da Legião Urbana, o ouvinte / espectador tem a impressão de estar em karaokê. E por falar em Legião Urbana, a banda toca Toda forma de poder (Humberto Gessinger, 1986) e Por você (Maurício Barros, Roberto Frejat e Mauro Santa Cecília, 1999) sem soar como Legião - o que prova que a identidade da banda estava na voz de Renato Russo (1960 - 1996). A propósito, Dinho Ouro Preto - que, na primeira fase do Capital Inicial, dava a impressão de querer ser Russo - se realiza no seu karaokê ao dar voz a Quase sem querer (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Renato Rocha, 1986) - com citação de Será (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, 1985) - e a Geração coca-cola (Renato Russo, 1985). O clima de karaokê permanece quando o grupo Suricato revive com reverência Pro dia nascer feliz (Roberto Frejat e Cazuza, 1982), primeiro sucesso radiofônico do Barão Vermelho. Justiça seja feita: a banda de reggae Cidade Negra se afina com o tom esfumaçado de Legalize já (Marcelo D2 e Rafael Crespo, 1995), sucesso do álbum que projetou o Planet Hemp há 20 anos. Já o trio Os Paralamas do Sucesso reitera seu contínuo entrosamento mais ao defender Inútil (Roger Moreira, 1983) do que Tempos modernos (Lulu Santos, 1982). Enfim, entre karaokês e regravações bacaninhas, como a abordagem de Seu espião (Leoni, Paula Toller e Herbert Vianna, 1984) pelo grupo Pato Fu, fica a sensação de que o Rock in Rio merecia projeto mais azeitado, à altura da importância e da popularidade do festival. Faltou mais rigor no conceito.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Para celebrar os 30 anos do Rock in Rio e as três décadas de pop rock no Brasil, já que a primeira edição do festival de Roberto Medina consolidou em 1985 a abertura do mercado roqueiro nativo, a empresa Musickeria idealizou projeto fonográfico - recém-posto no mercado pela gravadora Universal Music nos formatos de CD e DVD - com 30 gravações inéditas de sucessos do pop nacional, feitas por artistas desse universo pop sob a direção e produção musical de Liminha. Como geralmente acontece em projetos coletivos, o resultado dos covers oscila. Há quem honre a missão lhe confiada, como o rapper carioca Marcelo D2, que interpreta com pegada Samba makossa (Chico Science, 1994) - em homenagem ao mentor do movimento Mangue Beat, o pernambucano Chico Science (1966 - 1997) - e Polícia (Tony Bellotto, 1986), música dos Titãs que poderia figurar em qualquer disco de D2. Confirmando seu bom momento, Baby do Brasil energiza o rock Semana que vem (2003), de autoria de Pitty, que retribui com gravação digna de sucesso dos Novos Baianos associado à Baby, A menina dança (Moraes Moreira e Luiz Galvão, 1972). Só que o hit de Baby no grupo baiano foi lançado 13 anos antes da primeira edição do Rock in Rio - o que expõe a fragilidade do conceito do projeto, reiterada quando Frejat dá voz à canção Na rua, na chuva, na fazenda, lançada por Hyldon em compacto de 1973. Posto isso, o Skank acerta o tom de Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, 1970) e de Andar com fé (Gilberto Gil, 1982). Mas há momentos típicos de karaokê. Quando Paulo Ricardo solta a voz em Tempo perdido (Renato Russo, 1986), com arranjo idêntico ao do registro original da Legião Urbana, o ouvinte / espectador tem a impressão de estar em karaokê. E por falar em Legião Urbana, a banda toca Toda forma de poder (Humberto Gessinger, 1986) e Por você (Maurício Barros, Roberto Frejat e Mauro Santa Cecília, 1999) sem soar como Legião - o que prova que a identidade da banda estava na voz de Renato Russo (1960 - 1996). A propósito, Dinho Ouro Preto - que, na primeira fase do Capital Inicial, dava a impressão de querer ser Russo - se realiza no seu karaokê ao dar voz a Quase sem querer (Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Renato Rocha, 1986) - com citação de Será (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo, 1985) - e a Geração coca-cola (Renato Russo, 1985). O clima de karaokê permanece quando o grupo Suricato revive com reverência Pro dia nascer feliz (Roberto Frejat e Cazuza, 1982), primeiro sucesso radiofônico do Barão Vermelho. Justiça seja feita: a banda de reggae Cidade Negra se afina com o tom esfumaçado de Legalize já (Marcelo D2 e Rafael Crespo, 1995), sucesso do álbum que projetou o Planet Hemp há 20 anos. Já o trio Os Paralamas do Sucesso reitera seu contínuo entrosamento mais ao defender Inútil (Roger Moreira, 1983) do que Tempos modernos (Lulu Santos, 1982). Enfim, entre karaokês e regravações bacaninhas, como a abordagem de Seu espião (Leoni, Paula Toller e Herbert Vianna, 1984) pelo grupo Pato Fu, fica a sensação de que o Rock in Rio merecia projeto mais azeitado, à altura da importância e da popularidade do festival. Faltou mais rigor no conceito.

Sergio Costa disse...

Olá Mauro Ferreira, editor desse excelente Blog.
Tomo a liberdade de te convidar a fazer parte e comentários, num Blog que criei recentemente, sobre a identificação das pessoas que estão nas capas dos antigos Long Plays. Há uma tremenda dificuldade de se conhecer os nomes dos modelos que compuseram tão belas capas. Se conhecer alguns deles, por favor, use o comentário identificando-os.
Aliás esse convite é extensivo a todos os leitores desse Blog.
Segue o link:
http://quemsoueunacapadodisco.blogspot.com.br
Desde já muito obrigado
Sergio
(PS) o Blog não é de caráter comercial

Henrique disse...

Mauro, quais são as canções interpretadas por Fernanda Abreu e Paula Toller?

Victor Moraes, disse...

Eu jurava que era uma "compilação" de apresentações feitas nos festivais anteriores que, tipo, "selecionaram".
Esse projeto então foi gravado agora? Tudo inédito? Em que palco?
Nem fiquei sabendo. Vai os artistas nem queriam que soubéssemos.



obs.: parabéns a Universal Music por NÃO ter colocado Ivete Sangalo.Já merece uma estrela a mais por isso!

Mauro Ferreira disse...

Henrique, Fernanda canta 'Onde você mora?' e 'Palco'. Paula canta 'Vou deixar', do Skank. Sim, Victor, as gravações são inéditas e foram realizadas na Cidade das Artes, sem divulgação prévia. Abs, MauroF