Mauro Ferreira no G1

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sábado, 2 de maio de 2015

Tons pastéis do canto de Katia B impedem o samba do coletivo de soar 'noir'

Resenha de CD
Título: Samba noir
Artista: Coletivo Samba Noir
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * *

Grupo criado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a partir da união da cantora e compositora Katia B com o violonista Luís Filipe de Lima, o percussionista Marcos Suzano e o instrumentista Guilherme Gê, o Coletivo Samba Noir não soa tão noir no seu primeiro álbum, batizado com o nome do quarteto e recém-lançado no mercado fonográfico por vias independente. Ao abordar um punhado de sambas-canção, o grupo investe na fusão light de sons acústicos e eletrônicos. A questão é que o canto em tons pastéis de Katia B impede o adensamento da atmosfera esfumaçada e sombria dos cabarés e pianos bar - fontes de inspiração para o coletivo. Isso fica claro sobretudo em temas mais magoados como Aves daninhas (Lupicínio Rodrigues, 1954), samba-canção ouvido com suingue envolvente, mas sem o peso existencial posto em seus versos. Embora não seja inovadora, a sonoridade surgida da mistura de timbres mais tradicionais - representados pelo violão de sete cordas tocado por Luís Filipe de Lima - com os efeitos dos samples e pads de Guiherme Gê e com a percussão sutil de Suzano resulta elegante e até natural. A adição de elementos eventuais - como o piano de Egberto Gismonti que floreia Risque (Ary Barroso, 1952), os sopros de Carlos Malta em Pra que mentir? (Noel Rosa e Vadico, 1937) e a guitarra e a voz opaca de Arto Lindsay inseridas em Meu mundo é hoje (Eu sou assim) (Wilson Baptista e José Baptista, 1965)  - jamais atiçam fogo numa mistura de temperaturas amenas. Com seu clima de eletrobossa, Chove lá fora (Tito Madi, 1957) já dá a pista e o tom do som do coletivo ao abrir o álbum Samba noir. Por mais que o canto de Katia B esteja bem harmonizado com a sonoridade do disco, salta aos ouvidos a inadequação da vocalista para a interpretação de músicas como Ninguém me ama (Fernando Lobo e Antonio Maria, 1952). Tanto que adesão vocal de Jards Macalé no samba-canção Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957) indica a dimensão que o disco poderia ter alcançado com um canto de tonalidade mais noir. Como o samba-canção não é para vozes de tons pastéis, o som do coletivo nunca soa de fato noir em CD.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Grupo criado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a partir da união da cantora e compositora Katia B com o violonista Luís Filipe de Lima, o percussionista Marcos Suzano e o instrumentista Guilherme Gê, o Coletivo Samba Noir não soa tão noir no seu primeiro álbum, batizado com o nome do quarteto e recém-lançado no mercado fonográfico por vias independente. Ao abordar um punhado de sambas-canção, o grupo investe na fusão light de sons acústicos e eletrônicos. A questão é que o canto em tons pastéis de Katia B impede o adensamento da atmosfera esfumaçada e sombria dos cabarés e pianos bar - fontes de inspiração para o coletivo. Isso fica claro sobretudo em temas mais magoados como Aves daninhas (Lupicínio Rodrigues, 1954), samba-canção ouvido com suingue envolvente, mas sem o peso existencial posto em seus versos. Embora não seja inovadora, a sonoridade surgida da mistura de timbres mais tradicionais - representados pelo violão de sete cordas tocado por Luís Filipe de Lima - com os efeitos dos samples e pads de Guiherme Gê e com a percussão sutil de Suzano resulta elegante e até natural. A adição de elementos eventuais - como o piano de Egberto Gismonti que floreia Risque (Ary Barroso, 1952), os sopros de Carlos Malta em Pra que mentir? (Noel Rosa e Vadico, 1937) e a guitarra e a voz opaca de Arto Lindsay inseridas em Meu mundo é hoje (Eu sou assim) (Wilson Baptista e José Baptista, 1965) - jamais atiçam fogo numa mistura de temperaturas amenas. Com seu clima de eletrobossa, Chove lá fora (Tito Madi, 1957) já dá a pista e o tom do som do coletivo ao abrir o álbum Samba noir. Por mais que o canto de Katia B esteja bem harmonizado com a sonoridade do disco, salta aos ouvidos a inadequação da vocalista para a interpretação de músicas como Ninguém me ama (Fernando Lobo e Antonio Maria, 1952). Tanto que adesão vocal de Jards Macalé no samba-canção Volta (Lupicínio Rodrigues, 1957) indica a dimensão que o disco poderia ter alcançado com um canto de tonalidade mais noir. Como o samba-canção não é para vozes de tons pastéis, o som do coletivo nunca soa de fato noir em CD.

Rafael disse...

Eu tenho o álbum e adorei o mesmo... Achei o som deles chique, super elegante...

Dona Emengarda disse...

Para quem já ouviu "Volta" com Fafá de Belém e "Aves daninhas" com Terezinha de Jesus, fica puxado!

Unknown disse...

Acho que o crítico não escutou o trabalho com o devido cuidado, uma pena...

Unknown disse...

Acho que o crítico não escutou o trabalho com o devido cuidado, é uma pena não termos mais bons profissionais na área da crítica... Brasil, pátria educadora, SQN

lurian disse...

Eu acho que a ideia do grupo em nenhum momento era fazer um disco derramado na interpretação. Até porque esse nunca foi o lado explorado pela Katia B. O disco tem uma sofisticação que se pauta por outra linha...

ADEMAR AMANCIO disse...

E eu que nem sabia que a Fafá tivesse gravado "Volta".