Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 26 de maio de 2015

'Guelã' dá asas para Gadú voar livre em rota de sons e silêncios inesperados

Resenha de CD
Título: Guelã
Artista: Maria Gadú
Gravadora: Slap / Som Livre
Cotação: * * * *

 Bailando leve, Maria Gadú bota seu bloco free na rua com o lançamento de Guelã. Terceiro álbum de estúdio da cantora e compositora paulistana, Guelã dá asas para Gadú voar livre em rota intimamente pessoal, pautada pela estranheza, pelo inesperado. Em Guelã, CD produzido por Gadú com a colaboração do músico Federico Puppi, a artista completa o voo iniciado em um segundo (bom) álbum de estúdio, Mais uma página (Slap / Som Livre, 2011), em que a cantora já tentou corajosamente virar o disco, sinalizando que tentaria escapar da prisão do sucesso massivo de seu primeiro álbum, Maria Gadú (Slap / Som Livre, 2009). Para embarcar na atual viagem, Gadú pilotou sua guitarra (senha para o som do CD) e convocou novos tripulantes - Doga (percussão), Lancaster Pinto (baixo) e Tomaz Lenz (bateria), além do já mencionado Federico Puppi (no cello e no baixo) - para formar uma banda dos sem medo de subverter a fórmula do sucesso radiofônico. Mesmo a música mais palatável dentre as dez gravadas por Gadú em Guelã - O bloco (Maria Gadú e Maycon Ananias), já previamente apresentada como primeiro single do álbum - segue seu curso longe do trilho óbvio. Guelã é um disco feito de sons e silêncios em que a voz da cantora é mais um elemento dentro de um universo sonoro artesanal que inclui longas passagens instrumentais. Basta dizer que o canto de Gadú entra somente aos dois minutos da primeira música do CD, Suspiro (Maria Gadú). Se o belo álbum inaugural de 2009 apresentou grandes canções formatadas para o chamado grande público, entre alguns covers imaturos, Guelã torna suas canções grandes pela construção de um universo musical delicado e feminino, como explicitam Ela (Maria Gadú) e a oportuna releitura de Trovoa (Maurício Pereira, 2007), odes à mulher amada. Trovoa é a única música de lavra alheia e a única regravação do repertório essencialmente inédito e autoral. Guelã é um disco tão intimamente pessoal que talvez somente faça pleno sentido para a própria Gadú. Mas o que importa é que o disco põe a artista em movimento, criando uma sonoridade que inclui algo de rock em Semivoz (Maria Gadú, Maycon Ananias e James McCollum) e que cai em suingue próprio na rítmica levada pelos vocalises de Sadéku, parceria de Gadú com a artista cubana (de vivência cabo-verdiana) Mayra Andrade. Um dos trunfos do repertório, Tecnopapiro (Maria Gadú) é acerto de contas emocional entre uma mãe analógica e uma filha da era cibernética. Pela coesão da sonoridade moderna (mas jamais modernosa), Guelã valoriza músicas em si menores do que o conjunto do disco, caso de (Maria Gadú). Melodias como a de Vaga (Maria Gadú) se afinam com a estranheza provocada pela capa do disco, cuja arte é assinada por Luisa Corsini com Lua Leça e a própria Gadú. No fim, Aquária (Maria Gadú) fecha Guelã soando, até seus três minutos, como sedutor tema instrumental. Até que entra a voz de Gadú para cantar os versos "Dois pontos negros no céu / Focam seus olhos no mar / Tendo o silêncico no peito / Lendo o silêncio com os olhos / Faço silêncio de mim", perfeitos tradutores de disco que liberta Gadú da prisão do sucesso massivo.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Bailando leve, Maria Gadú bota seu bloco free na rua com o lançamento de Guelã. Terceiro álbum de estúdio da cantora e compositora paulistana, Guelã dá asas para Gadú voar livre em rota intimamente pessoal, pautada pela estranheza, pelo inesperado. Em Guelã, CD produzido por Gadú com a colaboração do músico Federico Puppi, a artista completa o voo iniciado em um segundo (bom) álbum de estúdio, Mais uma página (Slap / Som Livre, 2011), em que a cantora já tentou corajosamente virar o disco, sinalizando que tentaria escapar da prisão do sucesso massivo de seu primeiro álbum, Maria Gadú (Slap / Som Livre, 2009). Para embarcar na atual viagem, Gadú pilotou sua guitarra (alternada com seu violão) e convocou novos tripulantes - Doga (percussão), Lancaster Pinto (baixo) e Tomaz Lenz (bateria), além do já mencionado Federico Puppi (no cello e no baixo) - para formar uma banda dos sem medo de subverter a fórmula do sucesso radiofônico. Mesmo a música mais palatável dentre as dez gravadas por Gadú em Guelã - O bloco (Maria Gadú e Maycon Ananias), já previamente apresentada como primeiro single do álbum - segue seu curso longe do trilho óbvio. Guelã é um disco feito de sons e silêncios em que a voz da cantora é mais um elemento dentro de um universo sonoro artesanal que inclui longas passagens instrumentais. Basta dizer que o canto de Gadú entra somente aos dois minutos da primeira música do CD, Suspiro (Maria Gadú). Se o belo álbum inaugural de 2009 apresentou grandes canções formatadas para o chamado grande público, entre alguns covers imaturos, Guelã torna suas canções grandes pela construção de um universo musical delicado e feminino, como explicitam Ela (Maria Gadú) e a oportuna releitura de Trovoa (Maurício Pereira, 2007), odes à mulher amada. Trovoa é a única música de lavra alheia e a única regravação do repertório essencialmente inédito e autoral. Guelã é um disco tão intimamente pessoal que talvez somente faça pleno sentido para a própria Gadú. Mas o que importa é que o disco põe a artista em movimento, criando uma sonoridade que inclui algo de rock em Semivoz (Maria Gadú, Maycon Ananias e James McCollum) e que cai em suingue próprio na rítmica levada pelos vocalises de Sadéku, parceria de Gadú com a artista cubana (de vivência cabo-verdiana) Mayra Andrade. Um dos trunfos do repertório, Tecnopapiro (Maria Gadú) é acerto de contas emocional entre uma mãe analógica e uma filha da era cibernética. Pela coesão da sonoridade moderna (mas jamais modernosa), Guelã valoriza músicas em si menores do que o conjunto do disco, caso de Há (Maria Gadú). Melodias como a de Vaga (Maria Gadú) se afinam com a estranheza provocada pela capa do disco, cuja arte é assinada por Luisa Corsini com Lua Leça e a própria Gadú. No fim, Aquária (Maria Gadú) fecha Guelã soando, até seus três minutos, como sedutor tema instrumental. Até que entra a voz de Gadú para cantar os versos "Dois pontos negros no céu / Focam seus olhos no mar / Tendo o silêncico no peito / Lendo o silêncio com os olhos / Faço silêncio de mim", perfeitos tradutores de disco que liberta Gadú da prisão do sucesso massivo.

Unknown disse...

de cara é o melhor disco da gadú! não é muito longo nem muito curto!
as músicas estão totalmente num mpb alternativo, (o q pessoalmente me agrada aos ouvidos...)já pode entrar para os melhores discos lançados esse ano.

Rafael disse...

Disco fraquíssimo, para mim um dos mais péssimos de sua carreira.

Unknown disse...

só deixando a ressalva sobre minha opinião anterior q ainda acho "obloco" uma música fraca como single de lançamento... afinal ela mostrou q guelã não será um disco massivo como seus trabalhos anteriores... ou posso estar enganado, também... rs

Unknown disse...

Eu também adorei o disco! Só o fato dela ter feito algo bem diferente, de ter dado a cara pra bater, já esta valendo. Mas como se não bastasse isso, o disco é muito interessante e intuitivo.Pra uma cantora no seu 3º disco, já buscar uma nova sonoridade...tem que ter muita fibra. Sucesso!

Fabio disse...

Mto bom, o melhor dela até agora. Tem de entrar no clima. Disco curtíssimo, apenas 34minutos. Bravo Gadú!

Unknown disse...

Ouvi com atenção e cheguei a uma triste constatação: achei o resultado final muito ruim. A produção é caprichada, os arranjos são interessantes, a sonoridade resultante também, mas, de modo geral, as letras são muito ruins e mal construídas - parece texto do Pedro Bial em dia de eliminação do Big Brother - e os parceiros parecem não acrescentar nada. É louvável a intenção da artista em não se repetir, mas qual o problema em reconhecer suas limitações como letrista e se juntar a parceiros que realmente acrescentem qualidade as letras das músicas?
Para mim, este CD soa uma viagem ególatra da Gadu.
Parece que o mais importante de tudo é se expressar com um trabalho autoral, não importando muito a qualidade final.

Cristiano Melo disse...

"Guelã é um disco tão intimamente pessoal que talvez somente faça pleno sentido para a própria Gadú"

Discordo, Mauro... há tempos um álbum não havia sido feito tão somente para mim.

Unknown disse...

Guelã é um disco tão intimamente pessoal que talvez somente faça pleno sentido para a própria Gadú"

Também discorto, pois pra mim é o mais perfeito.