Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Entre a roda de samba e a balada, Xande persevera em alegre disco solo

Resenha de CD
Título: Perseverança
Artista: Xande de Pilares
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

A música consumida em larga escala no Brasil está cada vez mais associada à balada - não o gênero de canção, mas o termo que significa diversão noturna - e ostenta alto índice de rejeição ao chororô romântico. Seja pagode ou música sertaneja, o tom a ser buscado é o da alegria industrializada. Guiado pelo produtor Leandro Sapucahy, Xande de Pilares - cantor e compositor carioca projetado como vocalista do Grupo Revelação - segue esse caminho em algumas das 14 músicas de seu primeiro CD solo, Perseverança, cortejando o público feminino com alto astral. Não é por acaso que a faixa escolhida para promover o álbum nas rádios, na TV e na web é um samba intitulado Elas estão no controle (André Renato, Rhuan André e Lucas Oliveira). Outro samba, Fui pra balada (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Rafael Bernini), reitera a conexão do disco com esse universo noturno, refeita em outras faixas. Sintoma de amor (Xande de Pilares, Leandro Fab, Pretinho da Serrinha e Fred Camacho), por exemplo, é em essência uma cantada passada no eleitorado feminino. Tema do recém-estreado filme Made in China, no qual Xande atua como ator, A senha (Xande de Pilares, André Renato e Gilson Bernini) até carrega na sensualidade, passando do ponto. Se o repertório do Grupo Revelação oscilou nos últimos anos entre o pagode plebeu e o samba colhido nos nobres quintais cariocas, Xande - discursos à parte - parece optar pela batucada dos tantãs em repertório majoritariamente autoral. Os arranjos - divididos entre Wilson Prateado, Ivan Paulo, Boris e Valério Brair - priorizam a percussão, pondo a cozinha em evidência. Se o instrumental é tradicional, o tom é atual, para cima. Clareou (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) é samba que ilumina discurso positivista. Pode ser hit! Já a música-título Perseverança (Zé Roberto), cantada de início a capella, soa como biográfica carta de intenções do artista. Mesmo quando o tema é a falta de amor, Xande evita o baixo astral, como mostram os sambas Se eu fosse você (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Aluísio Machado) - joia de tom quase dolente - e Manda a polícia me  prender (André Renato e Leandro Fab). Logo você (André Renato, Xande de Pilares e Gilson Bernini) tampouco faz drama ao detectar falsa amizade. Envoltos em roda mais tradicional, os sambas Mundo novo (Xande de Pilares e Helinho do Salgueiro) e Pagode formado (Xande de Pilares, Gilson Bernini e André Renato) exaltam a força do próprio samba em versos metalinguísticos. Não contagiam como o persistente Samba de Arerê (Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Mauro Jr., 1999), mas jogam Perseverança em onda mais duradoura. No fim, Orgulho negro (Xande de Pilares, Arlindo Cruz e Pretinho da Serrinha) cavuca raízes plantadas no terreirão do samba e reafirma a força da raça em grande estilo. No equilíbrio delicado entre as tradições do fundo do quintal e o discurso que acena para o mulherio das baladas, Xande de Pilares persevera.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ A música consumida em larga escala no Brasil está cada vez mais associada à balada - não o gênero de canção, mas o termo que significa diversão noturna - e ostenta alto índice de rejeição ao chororô romântico. Seja pagode ou música sertaneja, o tom a ser buscado é o da alegria industrializada. Guiado pelo produtor Leandro Sapucahy, Xande de Pilares - cantor e compositor carioca projetado como vocalista do Grupo Revelação - segue esse caminho em algumas das 14 músicas de seu primeiro CD solo, Perseverança, cortejando o público feminino com alto astral. Não é por acaso que a faixa escolhida para promover o álbum nas rádios, na TV e na web é um samba intitulado Elas estão no controle (André Renato, Rhuan André e Lucas Oliveira). Outro samba, Fui pra balada (Xande de Pilares, Gilson Bernini e Rafael Bernini), reitera a conexão do disco com esse universo noturno, refeita em outras faixas. Sintoma de amor (Xande de Pilares, Leandro Fab, Pretinho da Serrinha e Fred Camacho), por exemplo, é em essência uma cantada passada no eleitorado feminino. Tema do recém-estreado filme Made in China, no qual Xande atua como ator, A senha (Xande de Pilares, André Renato e Gilson Bernini) até carrega na sensualidade, passando do ponto. Se o repertório do Grupo Revelação oscilou nos últimos anos entre o pagode plebeu e o samba colhido nos nobres quintais cariocas, Xande - discursos à parte - parece optar pela batucada dos tantãs em repertório majoritariamente autoral. Os arranjos - divididos entre Wilson Prateado, Ivan Paulo, Boris e Valério Brair - priorizam a percussão, pondo a cozinha em evidência. Se o instrumental é tradicional, o tom é atual, para cima. Clareou (Serginho Meriti e Rodrigo Leite) é samba que ilumina discurso positivista. Pode ser hit! Já a música-título Perseverança (Zé Roberto), cantada de início a capella, soa como biográfica carta de intenções do artista. Mesmo quando o tema é a falta de amor, Xande evita o baixo astral, como mostram os sambas Se eu fosse você (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Aluísio Machado) - joia de tom quase dolente - e Manda a polícia me prender (André Renato e Leandro Fab). Logo você (André Renato, Xande de Pilares e Gilson Bernini) tampouco faz drama ao detectar falsa amizade. Envoltos em roda mais tradicional, os sambas Mundo novo (Xande de Pilares e Helinho do Salgueiro) e Pagode formado (Xande de Pilares, Gilson Bernini e André Renato) exaltam a força do próprio samba em versos metalinguísticos. Não contagiam como o persistente Samba de Arerê (Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Mauro Jr., 1999), mas jogam Perseverança em onda mais duradoura. No fim, Orgulho negro (Xande de Pilares, Arlindo Cruz e Pretinho da Serrinha) cavuca raízes plantadas no terreirão do samba e reafirma a força da raça em grande estilo. No equilíbrio delicado entre as tradições do fundo do quintal e o discurso que acena para o mulherio das baladas, Xande de Pilares persevera.