Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Bambas vestem a camisa de Chico para fazer social no clube do samba

Resenha de CD e DVD
Título: Samba social clube ao vivo volume 6 - Uma homenagem a Chico Buarque
Artista: Vários
Gravadora: EMI / Universal Music
Cotação: * * * 

Já no sexto volume, Samba social clube é projeto fonográfico derivado do homônimo programa de  emissora carioca de rádio dedicada à MPB. O atual volume aproveita os 70 anos de vida de Chico Buarque - completados em junho deste ano de 2014 - para prestar homenagem ao compositor carioca através de gravações ao vivo de seus sambas. Bambas - em sua maioria do Rio de Janeiro (RJ), cidade aonde o registro do show foi feito na Fundição Progresso em 14 e 15 de março de 2104 - fazem social no clube da rádio e vestem a camisa de Chico. Nem todos se ajustam a essa elegante camisa, mas o resultado é bom, apesar do padrão uniforme dos arranjos e da inclusão equivocada do samba que abre o CD e o DVD, já que Sem compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro, 1954) - cantado por Zeca Pagodinho com direito a um jogo de cena com casal de bailarinos para realçar teatralmente o significado da letra - é samba gravado por Chico há 40 anos, mas não composto pelo artista. Na sequência, Beth Carvalho protagoniza um dos melhores momentos do show produzido por Paulão Sete Cordas. Mesmo sem veia dramática, a cantora acerta o tom de Gota d'água (1975) em interpretação que ganha teatralidade no fim, quando Beth se levanta da cadeira enquanto repete o verso final ao som do sax cortante de Eduardo Neves. Já Péricles põe sua voz a serviço de Apesar de você (1970) enquanto Roberta Sá faz A rosa (1980) desabrochar com sua habitual leveza. Partideiro versado, Martinho da Vila entra no clima da Homenagem ao malandro (1978) em número no qual os bailarinos são dispensáveis na cena. Xande de Pilares passa na avenida com Quem te viu, quem te vê (1966) sem realçar nuances e sentidos dos versos. Mariene de Castro cai no Samba do grande amor (1983) sem o calor de suas performances ao vivo. Já o Fundo de Quintal traz Vai levando (1975) com naturalidade para seu quintal. Mart'nália joga charme para cima de Deixe a menina (1980). Autointitulado O príncipe do pagode, Reinaldo carrega Piano na Mangueira (1992) em tom majestoso. Politizada, Leci Brandão traz Sonho de um Carnaval (1965) para sua realidade social. Mumuzinho energiza Cotidiano (1971). Teresa Cristina anuncia A volta do malandro (1985) com propriedade. Samba mais recente da seleção, assinado por Chico com Arlindo Cruz e Sombrinha, Deixa solto (2013) sobressai no quintal na adequada interpretação do novo parceiro Sombrinha, feita com o toque virtuoso do bandolim de Hamilton de Holanda. Serjão Loroza canta Partido alto (1972) como se estivesse pondo o bloco na rua. Dudu Nobre está em casa quando defende Vai trabalhar, vagabundo (1976) em clima de partido alto. Jorge Aragão chora direito em Meu caro amigo (Chico Buarque e Francis Hime, 1976). Já Almir Guineto não tem voz nem estômago para encarar Feijoada completa (1977). A insegurança do cantor com a letra é tamanha que seus olhos mal se desviam do teleprompter, obrigando João Elias e Luciana Bellini - diretores do vídeo - a usar planos mais gerais na edição do número de Guineto. Em tom oposto, Fabiana Cozza encara O meu guri (1981) com técnica e segurança. Já Arlindo Cruz realça a africanidade de Morena de Angola (1980), único número em que a presença de bailarinos contribui para o resultado final. Já Moacyr Luz se mostra sem voz e presença para encarar o enredo de Vai passar (1984), lendo a letra do samba. Marcelinho Moreira e Luiza Dionísio mostram - em A Rita (1965) e em Novo amor (1982), respectivamente - que o quintal do samba carioca continua dando novas vozes que se juntam às de veteranos como Monarco e Nelson Sargento, intérpretes de Homenagem à Velha Guarda (1980), samba de Monarco sem conexão aparente com a obra de Chico e - ainda por acima - equivocadamente creditado no DVD a Sivuca (1930 - 2006) e a Paulo César Pinheiro, autores de homônimo samba-choro gravado por Clara Nunes (1942 - 1983) em 1977. No fim, Neguinho da Beija-Flor entra na avenida e fecha o desfile com o samba-enredo Chico Buarque de Mangueira (Nelson Csipai, Nelson Dalla Rosa, Carlinhos das Camisas e Vilas Boas, 1997), arrematando homenagem sem grandes contribuições à obra de Chico Buarque, mas com bom momentos dentro de seu padrão convencional. Até porque os sambas em si são todos soberanos.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Já no sexto volume, Samba social clube é projeto fonográfico derivado do homônimo programa de emissora carioca de rádio dedicada à MPB. O atual volume aproveita os 70 anos de vida de Chico Buarque - completados em junho deste ano de 2014 - para prestar homenagem ao compositor carioca através de gravações ao vivo de seus sambas. Bambas - em sua maioria do Rio de Janeiro (RJ), cidade aonde o registro do show foi feito na Fundição Progresso em 14 e 15 de março de 2104 - fazem social no clube da rádio e vestem a camisa de Chico. Nem todos se ajustam a essa elegante camisa, mas o resultado é bom, apesar do padrão uniforme dos arranjos e da inclusão equivocada do samba que abre o CD e o DVD, já que Sem compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro, 1954) - cantado por Zeca Pagodinho com direito a um jogo de cena com casal de bailarinos para realçar teatralmente o significado da letra - é samba gravado por Chico há 40 anos, mas não composto pelo artista. Na sequência, Beth Carvalho protagoniza um dos melhores momentos do show produzido por Paulão Sete Cordas. Mesmo sem veia dramática, a cantora acerta o tom de Gota d'água (1975) em interpretação que ganha teatralidade no fim, quando Beth se levanta da cadeira enquanto repete o verso final ao som do sax cortante de Eduardo Neves. Já Péricles põe sua voz a serviço de Apesar de você (1970) enquanto Roberta Sá faz A rosa (1980) desabrochar com sua habitual leveza. Partideiro versado, Martinho da Vila entra no clima da Homenagem ao malandro (1978) em número no qual os bailarinos são dispensáveis na cena. Xande de Pilares passa na avenida com Quem te viu, quem te vê (1966) sem realçar nuances e sentidos dos versos. Mariene de Castro cai no Samba do grande amor (1983) sem o calor de suas performances ao vivo. Já o Fundo de Quintal traz Vai levando (1975) com naturalidade para seu quintal. Mart'nália joga charme para cima de Deixe a menina (1980). Autointitulado O príncipe do pagode, Reinaldo carrega Piano na Mangueira (1992) em tom majestoso. Politizada, Leci Brandão traz Sonho de um Carnaval (1965) para sua realidade social. Mumuzinho energiza Cotidiano (1971). Teresa Cristina anuncia A volta do malandro (1985) com propriedade. Samba mais recente da seleção, assinado por Chico com Arlindo Cruz e Sombrinha, Deixa solto (2013) sobressai no quintal na adequada interpretação do novo parceiro Sombrinha, feita com o toque virtuoso do bandolim de Hamilton de Holanda.

Mauro Ferreira disse...

Serjão Loroza canta Partido alto (1972) como se estivesse pondo o bloco na rua. Dudu Nobre está em casa quando defende Vai trabalhar, vagabundo (1976) em clima de partido alto. Jorge Aragão chora direito em Meu caro amigo (Chico Buarque e Francis Hime, 1976). Já Almir Guineto não tem voz nem estômago para encarar Feijoada completa (1977). A insegurança do cantor com a letra é tamanha que seus olhos mal se desviam do teleprompter, obrigando João Elias e Luciana Bellini - diretores do vídeo - a usar planos mais gerais na edição do número de Guineto. Em tom oposto, Fabiana Cozza encara O meu guri (1981) com técnica e segurança. Já Arlindo Cruz realça a africanidade de Morena de Angola (1980), único número em que a presença de bailarinos contribui para o resultado final. Já Moacyr Luz se mostra sem voz e presença para encarar o enredo de Vai passar (1984), lendo a letra do samba. Marcelinho Moreira e Luiza Dionísio mostram - em A Rita (1965) e em Novo amor (1982), respectivamente - que o quintal do samba carioca continua dando novas vozes que se juntam às de veteranos como Monarco e Nelson Sargento, intérpretes de Homenagem à Velha Guarda (1980), samba de Monarco sem conexão aparente com a obra de Chico e - ainda por acima - equivocadamente creditado no DVD a Sivuca (1930 - 2006) e a Paulo César Pinheiro, autores de homônimo samba-choro gravado por Clara Nunes (1942 - 1983) em 1977. No fim, Neguinho da Beija-Flor entra na avenida e fecha o desfile com o samba-enredo Chico Buarque de Mangueira (Nelson Csipai, Nelson Dalla Rosa, Carlinhos das Camisas e Vilas Boas, 1997), arrematando homenagem sem grandes contribuições à obra de Chico Buarque, mas com bom momentos dentro de seu padrão convencional. Até porque os sambas em si são todos soberanos.

Roberto de Brito disse...

Faltou a Marrom nesse time!

Marcelo Barbosa disse...

Desde o primeiro volume é impressionante como a minha cantora se destaca. Ela realmente é uma SUMIDADE no assunto, sobra e entende MUITO do riscado. Sempre segura e precisa!
O samba ainda precisa MUITO de você, querida Beth.
Abs e gostei da resenha, Mauro.

Luiz Leite disse...

Concordando com o Marcelo Barbosa. Beth é o samba e o samba é Beth.

Luiz Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ADEMAR AMANCIO disse...

Sem compromisso - é a cara do Chico.