Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Ao vivo, Francis navega por músicas novas e antigas sob a luz da inspiração

Resenha de show - Gravação ao vivo de CD e DVD
Evento: Festival Villa-Lobos
Título: Navega ilumina
Artista: Francis Hime (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Espaço Tom Jobim (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 23 de novembro de 2014
Cotação: * * * * 1/2

De todos os compositores brasileiros surgidos ao longo dos anos 1960, Francis Hime é o único que mantém a chama criativa na mesma altitude dos tempos de juventude e de consolidação da obra autoral. No show gravado ao vivo pelo artista carioca na cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 23 de novembro de 2014, o entrelaçamento de músicas de seu recém-lançado álbum de inéditas Navega ilumina - posto no mercado fonográfico neste mês de novembro de 2014 em CD editado via Selo Sesc - com títulos do cancioneiro dos anos 1970 e 1980 evidenciou o nivelamento da obra atual com o repertório de outrora. Com o fogo de uma vida profissional ainda em ebulição, o cantor, compositor, pianista e maestro carioca faz sua navegação por músicas novas e antigas sob a luz da mesma inspiração. O voo sinfônico de Passaredo (Francis Hime e Chico Buarque, 1975), por exemplo, alcançou a mesma altitude do novo samba Ilusão (Francis Hime, 2014), uma das várias grandes músicas do álbum Navega ilumina. Da mesma forma, a proximidade da primeira e da última parceria de Francis com o poeta e compositor carioca Vinicius de Moraes - Sem mais adeus (1963) e Maria da Luz (2014), alocadas lado a lado no roteiro - reforçou a equidade entre o cancioneiro de ontem e o de hoje. A voz do compositor pode até não ser o veículo mais ideal para expressar os sentimentos das canções mais densas. Tanto que, do ponto de vista vocal, a melhor interpretação do show foi a dada por Olivia Hime, convidada do bis, para Trocando em miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977), cantada sem drama, com a dose exata de emoção e melancolia pedida por essa canção de separação. Assim como Atrás da porta (Francis Hime e Chico Buarque, 1972) soou mais pungente quando a primeira parte da melodia foi soprada pelo sax soprano de Marcelo Bernardes, integrante da virtuosa big-band arregimentada pelo maestro para tocar no show dirigido por Flávio Marinho - sem invenções de moda, prejudiciais a um recital - e perpetuado na gravação feita no Espaço Tom Jobim. De todo modo, resultou magistral a apresentação captada pela gravadora Biscoito Fino - em parceria com o Canal Brasil - para edição de CD ao vivo e DVD programados para 2015. Ao piano, tocado com absoluta precisão no número solo Canção apaixonada (Francis Hime e Olivia Hime, 2014), o músico maestro regeu sua mini-orquestra e mostrou a exuberância de melodias como a do samba-enredo que batiza o disco e o show, Navega ilumina, parceria com o poeta Geraldo Carneiro cujos vocais femininos evocam por vezes a jobiniana Banda Nova. Regidos por seu maestro, soberano na apresentação feita com fluência e sem pausas para repetições (deixadas para depois do bis), os músicos da big-band tiveram realçados os toques de seus instrumentos. Se o violoncelo de Hugo Pilger sublinhou o lirismo de Minha (Francis Hime e Ruy Guerra, 1966), a flauta de Dirceu Leite ajudou Francis a levar o samba de tom bossa-novista Sessão de tarde (Francis Hime e Joana Hime, 2014). Já Cristina Braga - que entrou em cena na valsa Amorosa (Francis Hime e Olivia Hime, 2014) - brilhou, majestosa, em Cecília - Fantasia para harpa e orquestra (Francis Hime, 2014), tema arquitetado dentro dos rigores da música erudita. Em contrapartida, a graça de Lua de cetim (Francis Hime e Olivia Hime, 1981) não foi iluminada a contento no dueto sem viço da vocalista Eliza Lacerda com Francis. Mas são detalhes pequenos de grande show, encerrado no bis com a épica Parceiros (1984), composição de Francis com Milton Nascimento. Entre um samba novo como o questionador Mistério (2014) e um samba antigo como Amor barato (Francis Hime e Chico Buarque, 1981), o maestro reitera sua maestria na construção de melodias envolventes, não raro sublimes. Em águas passadas ou no produtivo tempo presente, o show Navega ilumina se acende sob a luz da contínua inspiração do grande Francis Hime.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ De todos os compositores brasileiros surgidos ao longo dos anos 1960, Francis Hime é o único que mantém a chama criativa na mesma altitude dos tempos de juventude e de consolidação da obra autoral. No show gravado ao vivo pelo artista carioca na cidade do Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 23 de novembro de 2014, o entrelaçamento de músicas de seu recém-lançado álbum de inéditas Navega ilumina - posto no mercado fonográfico neste mês de novembro de 2014 em CD editado via Selo Sesc - com títulos do cancioneiro dos anos 1970 e 1980 evidenciou o nivelamento da obra atual com o repertório de outrora. Com o fogo de uma vida profissional ainda em ebulição, o cantor, compositor, pianista e maestro carioca faz sua navegação por músicas novas e antigas sob a luz da mesma inspiração. O voo sinfônico de Passaredo (Francis Hime e Chico Buarque, 1977), por exemplo, alcançou a mesma altitude do novo samba Ilusão (Francis Hime, 2014), uma das várias grandes músicas do álbum Navega ilumina. Da mesma forma, a proximidade da primeira e da última parceria de Francis com o poeta e compositor carioca Vinicius de Moraes - Sem mais adeus (1963) e Maria da Luz (2014), alocadas lado a lado no roteiro - reforçou a equidade entre o cancioneiro de ontem e o de hoje. A voz do compositor pode até não ser o veículo mais ideal para expressar os sentimentos das canções mais densas. Tanto que, do ponto de vista vocal, a melhor interpretação do show foi a dada por Olivia Hime, convidada do bis, para Trocando em miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977), cantada sem drama, com a dose exata de emoção e melancolia pedida por essa canção de separação. Assim como Atrás da porta (Francis Hime e Chico Buarque, 1972) soou mais pungente quando a primeira parte da melodia foi soprada pelo sax soprano de Marcelo Bernardes, integrante da virtuosa big-band arregimentada pelo maestro para tocar no show dirigido por Flávio Marinho - sem invenções de moda, prejudiciais a um recital - e perpetuado na gravação feita no Espaço Tom Jobim. De todo modo, resultou magistral a apresentação captada pela gravadora Biscoito Fino - em parceria com o Canal Brasil - para edição de CD ao vivo e DVD programados para 2015. Ao piano, tocado com absoluta precisão no número solo Canção apaixonada (Francis Hime e Olivia Hime, 2014), o músico maestro regeu sua mini-orquestra e mostrou a exuberância de melodias como a do samba-enredo que batiza o disco e o show, Navega ilumina, parceria com o poeta Geraldo Carneiro cujos vocais femininos evocam por vezes a jobiniana Banda Nova. Regidos por seu maestro, soberano na apresentação feita com fluência e sem pausas para repetições (deixadas para depois do bis), os músicos da big-band tiveram realçados os toques de seus instrumentos. Se o violoncelo de Hugo Pilger sublinhou o lirismo de Minha (Francis Hime e Ruy Guerra, 1966), a flauta de Dirceu Leite ajudou Francis a levar o samba de tom bossa-novista Sessão de tarde (Francis Hime e Joana Hime, 2014). Já Cristina Braga - que entrou em cena na valsa Amorosa (Francis Hime e Olivia Hime, 2014) - brilhou, majestosa, em Cecília - Fantasia para harpa e orquestra (Francis Hime, 2014), tema arquitetado dentro dos rigores da música erudita. Em contrapartida, a graça de Lua de cetim (Francis Hime e Olivia Hime, 1981) não foi iluminada a contento no dueto sem viço da vocalista Eliza Lacerda com Francis. Mas são detalhes pequenos de grande show, encerrado no bis com a épica Parceiros (1984), composição de Francis com Milton Nascimento. Entre um samba novo como o questionador Mistério (2014) e um samba antigo como Amor barato (Francis Hime e Chico Buarque, 1981), o maestro reitera sua maestria na construção de melodias envolventes, não raro sublimes. Em águas passadas ou no produtivo tempo presente, o show Navega ilumina se acende sob a luz da contínua inspiração do grande Francis Victor Walter Hime.

CelloPiazza disse...

luxo puro !!! um artista desse quilate ainda em plena atividade... que privilégio da MPB !