Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Em disco de estúdio, Ivete e Criolo empalidecem seu reverente tributo a Tim

Resenha de CD
Título: Viva Tim Maia!
Artistas: Ivete Sangalo & Criolo
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 

Bastou anunciar que Criolo e Ivete Sangalo iriam estrear show com o repertório de Tim Maia (1942 - 1998) para que a turma da oposição se manifestasse efusivamente. Sobrinho de Tim, Ed Motta chegou a declarar publicamente em rede social seu desprezo pelo projeto. Contudo, contra todos os prognósticos negativos, a cantora baiana e o rapper paulistano se saíram bem ao vivo diante da missão ingrata de cantar os sucessos do Síndico diante da plateia de convidados que assistiu à estreia nacional do show Viva Tim Maia! - idealizado para a quarta edição do projeto Nivea Viva - na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em 31 de março de 2015. Se Ivete se conteve e mostrou certa intimidade com o soul, sem fazer as intervenções efusivas que geralmente empanam o brilho de suas interpretações, Criolo se revelou bom cantor fora do universo de seu rap miscigenado, valorizando números como a balada de acento soul Ela partiu (Tim Maia e Beto Cajueiro, 1975). Reverente aos arranjos das gravações originais feitas nos anos 1970 e 1980 por Tim (cantor e compositor carioca que traduziu o funk e soul norte-americanos para o idioma musical do Brasil), a direção musical de Daniel Ganjaman contribuiu para que o show se transformasse quase num baile black, com roteiro que enfileirou todos os hits do Síndico. Infelizmente, o álbum gravado em estúdio e recém-lançado pela gravadora Universal Music, Viva Tim Maia!, empalidece o tributo, diluindo o calor dos arranjos e das interpretações. Criada a partir de foto de Leo Aversa, a capa simplória do CD deixa a impressão de que o disco foi feito somente por questão contratual. Gravado pelo produtor Daniel Ganjaman e por Fernando Rocha no estúdio El Rocha, em São Paulo (SP), o álbum já peca por reproduzir parcialmente o show, perpetuando somente 12 dos 27 números do roteiro original. Em contrapartida, o  disco equilibra com precisão as participações de Criolo e Ivete. Nos shows, ela cantava muito mais do que ele. No CD, são quatro duetos e quatro solos para cada um. Só que o resultado é decepcionante. Faixas como o dueto em Não quero dinheiro (Só quero amar) (Tim Maia, 1971) e como Réu confesso (Tim Maia, 1973) - samba-soul cantado por Ivete - se ressentem da ausência de graves mais poderosos. As interpretações também resultam insatisfatórias, no geral. Se Ivete jamais expressa a melancolia que acinzenta Azul da cor do mar (Tim Maia, 1970), diluindo o espírito soul da canção, Criolo jamais expõe a dor (de corno) que pauta Me dê motivo (1983), sofrido baladão da dupla de compositores hitmakers Michael Sullivan & Paulo Massadas, autores da canção solar Um dia de domingo (1985), cantada por Ivete e Criolo sem sequer roçar a beleza do antológico dueto de Tim com Gal Costa que alavancou as vendas de álbum da fase mais pop da cantora baiana, Bem bom (RCA, 1985). Mas cabe ressaltar que Criolo encara Coroné Antonio Bento (João do Valle e Luiz Wanderley, 1970) com valentia, fazendo valer sua ascendência nordestina. Musicalmente, Ganjaman brilha mais quando sua direção musical soa menos reverente aos arranjos das gravações originais das músicas. Objeto da melhor interpretação de Ivete no disco, Telefone (Nelson Kaê e Beto Correia, 1986), por exemplo, toca bonito no toque do neosoul. Já Chocolate (Tim Maia, 1970) - solo de Criolo - ganha o sabor do samba. No todo, contudo, a reverência é excessiva. O arranjo de Primavera (Cassiano e Silvio Roachel, 1970) - balada soul cantada por Criolo - é demasiadamente calcado na gravação original de Tim. Da mesma forma, o arranjo de Você e eu, eu e você (Juntinhos) (Tim Maia, 1980) exemplifica a devoção de Ganjaman ao suingue da Vitória Régia, a banda arregimentada por Tim para seus irresistíveis shows. Entre mais baixos do que altos, merece menção honrosa o dueto de Criolo e Ivete em Lábios de mel (Cleonice e Edson Trindade, 1979), boa surpresa de roteiro centrado nos sucessos radiofônicos de Tim Maia. Enfim, Viva Tim Maia! é disco aquém dos talentos de Criolo e Ivete Sangalo, além de reiterar que, a rigor, ninguém canta o repertório de Tim com a propriedade do saudoso cantor. Chame o Síndico se quiser ouvir Tim Maia!

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Bastou anunciar que Criolo e Ivete Sangalo iriam estrear show com o repertório de Tim Maia (1942 - 1998) para que a turma da oposição se manifestasse efusivamente. Sobrinho de Tim, Ed Motta chegou a declarar publicamente em rede social seu desprezo pelo projeto. Contudo, contra todos os prognósticos negativos, a cantora baiana e o rapper paulistano se saíram bem ao vivo diante da missão ingrata de cantar os sucessos do Síndico diante da plateia de convidados que assistiu à estreia nacional do show Viva Tim Maia! - idealizado para a quarta edição do projeto Nivea Viva - na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), em 31 de março de 2015. Se Ivete se conteve e mostrou certa intimidade com o soul, sem fazer as intervenções efusivas que geralmente empanam o brilho de suas interpretações, Criolo se revelou bom cantor fora do universo de seu rap miscigenado, valorizando números como a balada de acento soul Ela partiu (Tim Maia e Beto Cajueiro, 1975). Reverente aos arranjos das gravações originais feitas nos anos 1970 e 1980 por Tim (cantor e compositor carioca que traduziu o funk e soul norte-americanos para o idioma musical do Brasil), a direção musical de Daniel Ganjaman contribuiu para que o show se transformasse quase num baile black, com roteiro que enfileirou todos os hits do Síndico. Infelizmente, o álbum gravado em estúdio e recém-lançado pela gravadora Universal Music, Viva Tim Maia!, empalidece o tributo, diluindo o calor dos arranjos e das interpretações. Criada a partir de foto de Leo Aversa, a capa simplória do CD deixa a impressão de que o disco foi feito somente por questão contratual. Gravado pelo produtor Daniel Ganjaman e por Fernando Rocha no estúdio El Rocha, em São Paulo (SP), o álbum já peca por reproduzir parcialmente o show, perpetuando somente 12 dos 27 números do roteiro original. Em contrapartida, o disco equilibra com precisão as participações de Criolo e Ivete. Nos shows, ela cantava muito mais do que ele. No CD, são quatro duetos e quatro solos para cada um.

Mauro Ferreira disse...

Só que o resultado é decepcionante. Faixas como o dueto em Não quero dinheiro (Só quero amar) (Tim Maia, 1971) e como Réu confesso (Tim Maia, 1973) - samba-soul cantado por Ivete - se ressentem da ausência de graves mais poderosos. As interpretações também resultam insatisfatórias, no geral. Se Ivete jamais expressa a melancolia que acinzenta Azul da cor do mar (Tim Maia, 1970), diluindo o espírito soul da canção, Criolo jamais expõe a dor (de corno) que pauta Me dê motivo (1983), sofrido baladão da dupla de compositores hitmakers Michael Sullivan & Paulo Massadas, autores da canção solar Um dia de domingo (1985), cantada por Ivete e Criolo sem sequer roçar a beleza do antológico dueto de Tim com Gal Costa que alavancou as vendas de álbum da fase mais pop da cantora baiana, Bem bom (RCA, 1985). Mas cabe ressaltar que Criolo encara Coroné Antonio Bento (João do Valle e Luiz Wanderley, 1970) com valentia, fazendo valer sua ascendência nordestina. Musicalmente, Ganjaman brilha mais quando sua direção musical soa menos reverente aos arranjos das gravações originais das músicas. Objeto da melhor interpretação de Ivete no disco, Telefone (Nelson Kaê e Beto Correia, 1986), por exemplo, toca bonito no toque do neosoul. Já Chocolate (Tim Maia, 1970) - solo de Criolo - ganha o sabor do samba. No todo, contudo, a reverência é excessiva. O arranjo de Primavera (Cassiano e Silvio Roachel, 1970) - balada soul cantada por Criolo - é demasiadamente calcado na gravação original de Tim. Da mesma forma, o arranjo de Você e eu, eu e você (Juntinhos) (Tim Maia, 1980) exemplifica a devoção de Ganjaman ao suingue da Vitória Régia, a banda arregimentada por Tim para seus irresistíveis shows. Entre mais baixos do que altos, merece menção honrosa o dueto de Criolo e Ivete em Lábios de mel (Cleonice e Edson Trindade, 1979), boa surpresa de roteiro centrado nos sucessos radiofônicos de Tim Maia. Enfim, Viva Tim Maia! é disco aquém dos talentos de Criolo e Ivete Sangalo, além de reiterar que, a rigor, ninguém canta o repertório de Tim com a propriedade do saudoso cantor. Chame o Síndico se quiser ouvir Tim Maia!

Rafael disse...

O resultado é mesmo decepcionante... Tim Maia não merecia um tributo tão chinfrim desses...

Rafael disse...

O resultado é mesmo decepcionante... Tim Maia não merecia um tributo tão chinfrim desses...

Fabio disse...

Gostei dos metais e até me surpreendi com a voz do Criolo.

Unknown disse...

Penso que "ninguém" é um termo muito forte, Mauro. Até porque esse alguém, que já mostrou ser capaz de se apropriar de forma particular do repertório de Tim e ser muito bem-sucedida nisso, existe. Marisa Monte!

Victor Moraes, disse...

Quando as coisas saem do palco pro estúdio nos causa estranheza. O estúdio plastifica, dilui, enlata com conservantes, o trabalho dos artistas nessas ocasiões. Parece que entram no clima do ar condicionado do lugar. É um medo de "subtonar" ou não ficar radiofônico suficiente... Também esses discos são feitos igual a pedido no drive-thru. Com direito a gosto de embalagem no recheio.

Coisas do Sertão disse...

Emanuel Andrade disse..

Sinceramente concordo com tudo que se disse acima.Agora, me perdoem os fãs: Marisa Monte??? Não tem coisa mais xarope naquele disco de estreia do que ela cantando Chocolate e Ando Meio Desligado. Ali, se salva ainda Candeia e a xaropante Bem que se quis. Tim Maia? Só Tim! Raul Seixa? Só Raul.

Unknown disse...

Tributo válido somente foi com a Sandrinha de Sa.

peu almeida disse...

Gal Costa canta lindamente '' VOCÊ '' e Imunização Racional.Cd Aquele Frevo Axé(1998).