Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Rock de tom 'heavy' abafa melodias desiguais de Cañas no show 'Tô na vida'

Resenha de show
Título: Tô na vida
Artista: Ana Cañas (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de agosto de 2015
Cotação: * * * *

 Assim como o álbum Tô na vida (Guela Records / Slap, 2015) se impôs de imediato como o melhor título da discografia de Ana Cañas, o show Tô na vida se revela o melhor momento da artista paulistana nos palcos. Mesmo que o roteiro basicamente autoral recorra aos irregulares repertórios dos dois álbuns anteriores da cantora e compositora, sobretudo ao de Volta (Guela Records / Slap, 2012), o show resulta coeso porque a pegada heavy do power trio que divide o palco com Cañas - o guitarrista Lúcio Maia, o baterista Marco da Costa e, na estreia carioca do show, o baixista Rubens Farias - abafa e põe em segundo plano as melodias da compositora, de inspiração desigual. Tô na vida é um show de rock e, dentro dessa atmosfera roqueira, músicas como Diabo (Ana Cañas, 2012) - veículo para a cantora explorar os agudos de sua voz privilegiada - e Traidor (Ana Cañas, 2012) cresceram e reapareceram mais envolventes do que em shows anteriores, sendo que Traidor ganha um toque de blues, recorrente tanto no disco quanto no show. Urubu rei (Ana Cañas, 2012) - música que Cañas canta sentada, inicialmente de costas para a plateia - também nunca voou tão alto como no show Tô na vida. Em contrapartida, o show mais pesado da cantora desfavorece canções de armadura mais leve. A beleza da melodia da balada Esconderijo (Ana Cañas, 2012), por exemplo, se diluiu em cena porque a leveza da canção fica estranha na ambiência do show. Estranhezas à parte, a energia de Cañas é o combustível que abastece o show Tô na vida ao longo da execução do roteiro de 18 músicas. Em sua estreia carioca, em apresentação feita no Theatro Net Rio na noite de 26 de agosto de 2015, o show confirmou impressões deixadas pelo disco. Como o fato de a confessional música-título Tô na vida (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes, 2015) ser um dos títulos mais inspirados do cancioneiro autoral da compositora. E como o fato (esse mais incômodo...) e de o rock Mulher (Ana Cañas, 2015) parecer ser cópia dos rocks mais feministas de Rita Lee, cantora e compositora paulista que abriu alas cor-de-rosa choque no mundo machista do rock brasileiro. Portando eventualmente sua guitarra elétrica em cena, Cañas leva ao violão Hoje nunca mais (2015), balada que reitera a harmonia de sua parceria com o compositor e baixista carioca Dadi Carvalho. A propósito, outra balada de autoria da dupla, Será que você me ama? (2012), ganha peso neste show em que Cañas refaz o cover elétrico de Rock'n'roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant, 1971), tema do repertório do grupo inglês Led Zeppelin. Enfim, Ana Cañas parece ter se encontrado no rock após flertes eventuais com a MPB e com o pop romântico de Nando Reis. O álbum Tô na vida parece ser um desenvolvimento natural de Hein? (Sony Music, 2009), o segundo álbum da artista, produzido por Liminha e lançado em momento em que a carreira de Cañas ameaçou sair dos trilhos por conta de problemas pessoais da artista. Analisado em perspectiva, Volta foi o disco autoral de transição, que preparou o terreno e o clima para Tô na vida. Somente o tempo vai dizer se o abraço dado atualmente por Cañas no rock está sendo forte e verdadeiro o suficiente para manter a artista nesse trilho. Por ora, o que importa é que o show Tô na vida transpõe para o palco a coesão do álbum que o inspirou, confirmando o ótimo momento da artista.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Assim como o álbum Tô na vida (Guela Records / Slap, 2015) se impôs de imediato como o melhor título da discografia de Ana Cañas, o show Tô na vida se revela o melhor momento da artista paulistana nos palcos. Mesmo que o roteiro basicamente autoral recorra aos irregulares repertórios dos dois álbuns anteriores da cantora e compositora, sobretudo ao de Volta (Guela Records / Slap, 2012), o show resulta coeso porque a pegada heavy do power trio que divide o palco com Cañas - o guitarrista Lúcio Maia, o baterista Marco da Costa e, na estreia carioca do show, o baixista Rubens Farias - abafa e põe em segundo plano as melodias da compositora, de inspiração desigual. Tô na vida é um show de rock e, dentro dessa atmosfera roqueira, músicas como Diabo (Ana Cañas, 2012) - veículo para a cantora explorar os agudos de sua voz privilegiada - e Traidor (Ana Cañas, 2012) cresceram e reapareceram mais envolventes do que em shows anteriores, sendo que Traidor ganha um toque de blues, recorrente tanto no disco quanto no show. Urubu rei (Ana Cañas, 2012) - música que Cañas canta sentada, inicialmente de costas para a plateia - também nunca voou tão alto como no show Tô na vida. Em contrapartida, o show mais pesado da cantora desfavorece canções de armadura mais leve. A beleza da melodia da balada Esconderijo (Ana Cañas, 2012), por exemplo, se diluiu em cena porque a leveza da canção fica estranha na ambiência do show. Estranhezas à parte, a energia de Cañas é o combustível que abastece o show Tô na vida ao longo da execução do roteiro de 18 músicas. Em sua estreia carioca, em apresentação feita no Theatro Net Rio na noite de 26 de agosto de 2015, o show confirmou impressões deixadas pelo disco. Como o fato de a confessional música-título Tô na vida (Ana Cañas, Lúcio Maia e Arnaldo Antunes, 2015) ser um dos títulos mais inspirados do cancioneiro autoral da compositora. E como o fato (esse mais incômodo...) de o rock Mulher (Ana Cañas, 2015) parecer ser cópia dos rocks mais feministas de Rita Lee, cantora e compositora paulista que abriu alas cor-de-rosa choque no mundo machista do rock brasileiro. Portando eventualmente sua guitarra elétrica em cena, Cañas leva ao violão Hoje nunca mais (2015), balada que reitera a harmonia de sua parceria com o compositor e baixista carioca Dadi Carvalho. A propósito, outra balada de autoria da dupla, Será que você me ama? (2012), ganha peso neste show em que Cañas refaz o cover elétrico de Rock'n'roll (Jimmy Page, John Paul Jones, John Bonham e Robert Plant, 1971), tema do repertório do grupo inglês Led Zeppelin. Enfim, Ana Cañas parece ter se encontrado no rock após flertes eventuais com a MPB e com o pop romântico de Nando Reis. O álbum Tô na vida parece ser um desenvolvimento natural de Hein? (Sony Music, 2009), o segundo álbum da artista, produzido por Liminha e lançado em momento em que a carreira de Cañas ameaçou sair dos trilhos por conta de problemas pessoais da artista. Analisado em perspectiva, Volta foi o disco autoral de transição, que preparou o terreno e o clima para Tô na vida. Somente o tempo vai dizer se o abraço dado atualmente por Cañas no rock está sendo forte e verdadeiro o suficiente para manter a artista nesse trilho. Por ora, o que importa é que o show Tô na vida transpõe para o palco a coesão do álbum que o inspirou, confirmando o ótimo momento da artista.

Rafael disse...

Grande show, grande disco, grande cantora!!!

Carlos Vinicios disse...

Saber o qnt a cantora se importa em melhorar a qualidade de sua carreira, entre cds e show, torna tudo ainda melhor. Cañas é forte e tem uma voz linda, espero acompanhar uma carreira longa e de vasta dedicação.

Rhenan Soares disse...

Maravilhosa. Ana teve um ótimo reflexo para desviar do que a sugava além da conta. Tá linda, ótima. O disco é incrível, não consigo desapegar... Ainda não consegui ver o show novo, mas vi uma apresentação há pouco tempo, em Brasília, e ela destruiu a minha vida. Fico bem feliz, porque, para mim, o talento da Ana está no topo da geração "neodivas". Entregue, honesta... me convenceu desde o início.