Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Arthur Nogueira cresce como cantor e revela poesias em belo show roqueiro

Resenha de show
Título: Sem medo nem esperança
Artista: Arthur Nogueira (em foto de Diego Ciarlariello)
Local: Teatro do Sesc Belenzinho (São Paulo, SP)
Data: 23 de agosto de 2015
Cotação: * * * * 1/2

Nada do que Arthur Nogueira fez, por mais feliz, esteve à altura do show que o cantor e compositor paraense apresentou na noite de ontem, 23 de agosto de 2015, no palco do teatro do Sesc Belezinho, em São Paulo (SP), a cidade que Nogueira escolheu para viver de música. O que mais impressionou no show de lançamento do álbum Sem medo nem esperança (Joia Moderna, 2015) foi o desabrochar do artista como cantor. Desenvolta e potente, a voz grave do cantor ecoou viçosa em cena, valorizando repertório essencialmente autoral. Parceiro do compositor e poeta carioca Antonio Cícero em Sem medo nem esperança (2015), uma das músicas mais elogiadas do atual álbum da cantora baiana Gal Costa, Estratosférica (Sony Music, 2015), Nogueira mostrou em cena que já independe do aval de Gal para crescer e aparecer como artista. Alto sobre o azul (e outras cores) da intensa luz de Miló Martins, o cantor revelou poesias - suas e alheias - apresentadas em forma de música. Sem medo nem esperança é essencialmente show de rock, mas que transita também pelo universo da música eletrônica contemporânea - sobretudo na parte final, quando o cantor se joga na pista de Eye shark (Arthur Nogueira e Letícia Novaes, 2015) e de Truques (Arthur Nogueira e Antonio Cícero, 2014) - e pela delicadeza das canções. Um dos trunfos do álbum Sem medo nem esperança, a canção Volta (2015) - parceria de Arthur Nogueira com o poeta Omar Salomão - fecha o show lindamente, em anticlímax, remetendo à abertura da apresentação, iniciada com a balada Fim do céu (Arthur Nogueira, Michel Seilman e Adonis, 2015). O roteiro resultou bem amarrado, sinalizando que, na obra autoral de Arthur, as letras eventualmente são mais sedutoras do que as melodias. Tal supremacia é evidente em Vaga (Marina Wisnik e Arthur Nogueira, 2015), por exemplo. Mas a sonoridade roqueira do repertório em cena - som sustentado pela entrosada banda formada pelo diretor musical do show, Arthur Kunz (bateria), com Allen Alencar (guitarra), João Paulo Deogracias (baixo e teclados) e Xavier Francisco (percussão e bateria eletrônica) - atenuou o eventual desequilíbrio, justamente por conta da firme pegada do rock. Aliado à marcação incisiva da bateria de Kunz, o toque cortante da guitarra de Allen Alencar desencapou Por um fio (Slackline) (Arthur Nogueira, 2015), evidenciando a potência do som. Além de crescer em cena na voz de Nogueira, em registro ao vivo que rivaliza com a gravação de estúdio de Gal pelo arranjo grandioso, o rock Sem medo nem esperança é linkado poeticamente e sagazmente no roteiro com Esperança cansa, música de Karina Buhr, lançada pela cantora e compositora baiana (de vivência pernambucana) em seu primeiro álbum, de 2010. "Minha paciência é a razão", sentencia Nogueira através de verso de Buhr. Usando da razão, Nogueira escolheu dois convidados - Cida Moreira e José Paes Lira, o Lirinha - que valorizaram muito o show pelas afinidades poéticas com o anfitrião. Introduzido por solo vocal da cantora em Fawn (Tom Waits e Katheleen Brennan, 2002), um dos temas mais sublimes do cancioneiro do norte-americano Tom Waits, o dueto com Cida em For today I'm a boy (Antony Hegarty, 2005) - joia do grupo norte-americano Antony and the Johnsons - se revelou afinado e em sintonia com a música que Nogueira cantara anteriormente, O que você quiser (Marcelo Segreto e Arthur Nogueira, 2015), já que ambas versam sobre a alternância dos gêneros masculino e feminino nas circunstâncias da vida humana. Enfim, Nogueira cresceu e apareceu na estreia de seu show Sem medo nem esperança, impondo sobretudo sua grave voz masculina, boa surpresa em cena indie povoada por cantautores com mais conceito do que voz. Nogueira tem ambos.

O blog Notas Musicais está na cidade de São Paulo (SP) a convite da gravadora Joia Moderna

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Nada do que Arthur Nogueira fez, por mais feliz, esteve à altura do show que o cantor e compositor paraense apresentou na noite de ontem, 23 de agosto de 2015, no palco do teatro do Sesc Belezinho, em São Paulo (SP), a cidade que Nogueira escolheu para viver de música. O que mais impressionou no show de lançamento do álbum Sem medo nem esperança (Joia Moderna, 2015) foi o desabrochar do artista como cantor. Desenvolta e potente, a voz grave do cantor ecoou viçosa em cena, valorizando repertório essencialmente autoral. Parceiro do compositor e poeta carioca Antonio Cícero em Sem medo nem esperança (2015), uma das músicas mais elogiadas do atual álbum da cantora baiana Gal Costa, Estratosférica (Sony Music, 2015), Nogueira mostrou em cena que já independe do aval de Gal para crescer e aparecer como artista. Alto sobre o azul (e outras cores) da intensa luz de Miló Martins, o cantor revelou poesias - suas e alheias - apresentadas em forma de música. Sem medo nem esperança é essencialmente show de rock, mas que transita também pelo universo da música eletrônica contemporânea - sobretudo na parte final, quando o cantor se joga na pista de Eye shark (Arthur Nogueira e Letícia Novaes, 2015) e de Truques (Arthur Nogueira e Antonio Cícero, 2014) - e pela delicadeza das canções. Um dos trunfos do álbum Sem medo nem esperança, a canção Volta (2015) - parceria de Arthur Nogueira com o poeta Omar Salomão - fecha o show lindamente, em anticlímax, remetendo à abertura da apresentação, iniciada com a balada Fim do céu (Arthur Nogueira, Michel Seilman e Adonis, 2015). O roteiro resultou bem amarrado, sinalizando que, na obra autoral de Arthur, as letras eventualmente são mais sedutoras do que as melodias. Tal supremacia é evidente em Vaga (Marina Wisnik e Arthur Nogueira, 2015), por exemplo. Mas a sonoridade roqueira do repertório em cena - som sustentado pela entrosada banda formada pelo diretor musical do show, Arthur Khunz (bateria), com Allen Alencar (guitarra), João Paulo Deogracias (baixo e teclados) e Xavier Francisco (percussão e bateria eletrônica) - atenuou o eventual desequilíbrio, justamente por conta da firme pegada do rock. Aliado à marcação incisiva da bateria de Khunz, o toque cortante da guitarra de Allen Alencar desencapou Por um fio (Slackline) (Arthur Nogueira, 2015), evidenciando a potência do som. Além de crescer em cena na voz de Nogueira, em registro ao vivo que rivaliza com a gravação de estúdio de Gal pelo arranjo grandioso, o rock Sem medo nem esperança é linkado poeticamente e sagazmente no roteiro com Esperança cansa, música de Karina Buhr, lançada pela cantora e compositora baiana (de vivência pernambucana) em seu primeiro álbum, de 2010. "Minha paciência é a razão", sentencia Nogueira através de verso de Buhr. Usando da razão, Nogueira escolheu dois convidados - Cida Moreira e José Paes Lira, o Lirinha - que valorizaram muito o show pelas afinidades poéticas com o anfitrião. Introduzido por solo vocal da cantora em Fawn (Tom Waits e Katheleen Brennan, 2002), um dos temas mais sublimes do cancioneiro do norte-americano Tom Waits, o dueto com Cida em For today I'm a boy (Antony Hegarty, 2005) - joia do grupo norte-americano Antony and the Johnsons - se revelou afinado e em sintonia com a música que Nogueira cantara anteriormente, O que você quiser (Marcelo Segreto e Arthur Nogueira, 2015), já que ambas versam sobre a alternância dos gêneros masculino e feminino nas circunstâncias da vida humana. Enfim, Arthur Nogueira cresceu e apareceu na estreia de seu show Sem medo nem esperança, impondo sobretudo sua grave voz masculina, boa surpresa nesta cena indie povoada por cantautores com mais conceito do que voz.

Unknown disse...

Parabéns Arthur! Cresça muito!!! 🎶
José Maria Bezerra (Belém - PA).

Victor Moraes, disse...

Mauro, aproveitando o post "rock", tem alguma novidade da carreira do Chico Chico (Chicão Eller)? Ele não para de tocar na MPB Fm e sequer achei alguma coisa sobre. Só entrevistas sobre uma banda, mas na rádio ele aparece como solo.