Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Samuel e Lô fazem 'feira moderna' para (re)vender hits do Clube e do Skank

Resenha de show - Gravação ao vivo de CD e DVD
Título: Multishow ao vivo - Samuel Rosa & Lô Borges
Artistas: Samuel Rosa e Lô Borges (em foto postada no Facebook oficial de Lô Borges)
Local: Cine Theatro Brasil (Belo Horizonte, MG)
Data: 8 de agosto de 2015
Cotação: * * * 1/5
Resenha feita a partir da transmissão ao vivo do show pelo Canal Bis

É sintomático que a primeira música do roteiro da gravação ao vivo do show Samuel Rosa & Lô Borges tenha sido Feira moderna (Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant, 1970), tocada com pegada de rock. Afinal, de certa forma, os artistas mineiros fizeram uma feira moderna no palco do Cine Theatro Brasil, em Belo Horizonte (MG), para (re)vender hits do Clube da Esquina e do grupo mineiro Skank para um público ávido por ouvir esse repertório de alto quilate. A revenda vai ser feita também em CD e DVD a serem editados via Sony Music no primeiro semestre de 2016 dentro da série Multishow ao vivo - motivo da gravação realizada em 7 e 8 de agosto com as participações realmente especiais de Fernanda Takai e Milton Nascimento (artistas de alma e vivência mineira) na apresentação do dia 8, transmitida ao vivo pelo Canal Bis. A gravação do show Samuel Rosa & Lô Borges - na estrada desde 1999 - eterniza conexão que, a rigor, começou há 19 anos quando Lô regravou um sucesso então recente do Skank, o pop reggae Te ver (Samuel Rosa, Lelo Zaneti e Chico Amaral, 1994), em seu álbum Meu filme (EMI Music, 1996). Sem músicas inéditas para forjar ar de novidade em um roteiro calcado no passado glorioso do Clube da Esquina e do Skank, o roteiro tem seu charme no fato de mostrar Samuel dando voz e guitarra aos standards do Clube - referência primordial na formação musical deste mineiro nascido e criado em Belo Horizonte (MG) - enquanto Lô transita como músico e cantor (meramente eficaz) por sucessos do Skank com a autoridade de ser um dos principais arquitetos das melodias do Clube, ficando atrás somente do genial Milton. A afinidade real entre os dois artistas - exposta já na primeira parceria de ambos, Dois rios (Samuel Rosa, Nando Reis e Lô Borges, 2003), estrategicamente alocada no bis - garante a harmonia do show em todos os sentidos. Samuel e Lô se alternam nos violões e nas guitarras enquanto apresentam um repertório calcado em sucessos, ainda que apareçam eventualmente lados B do Skank e do Clube da Esquina. Música menos conhecida do lendário álbum duplo de 1972 de Milton Nascimento e Lô Borges que oficializou a existência do movimento pop mineiro que misturou o som pacífico das Geraes com o rock que se ouvia e se fazia no mundo a partir da segunda metade dos anos 1960, Trem de doido (Lô Borges e Márcio Borges, 1972) é soft rock mineiro que entrou no roteiro a pedido de Samuel ("Essa música salvou a minha vida", exagerou o artista ao justificar em cena sua sugestão). Não por acaso, os lados B do Skank - Amores imperfeitos e As noites, parcerias de Samuel com Chico Amaral, ambas lançadas em 2003 - são de Cosmotron (Sony Music, 2003), álbum que enfatizou as conexões do grupo com o som feito nas esquinas de Minas ao longo dos anos 1970. O fato é que Samuel Rosa pega O trem azul (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972) de forma natural, com Lô entrando com a voz somente no refrão, tal como acontece em Três lados (Samuel Rosa e Chico Amaral, 2000), música irresistível do Skank pela potência pop, mas destoante do tom do show. Em contrapartida, Lô faz dueto com Samuel em músicas como Resposta (Samuel Rosa e Nando Reis, 1998), número de tom folk em que os artistas empunham seus respectivos violões, assim como em Sutilmente (Samuel Rosa e Nando Reis, 2008), música em que Lô canta somente o refrão. Primeira convidada da apresentação de 8 de agosto de 2015, a amapaense - radicada desde os nove anos de idade em Belo Horizonte (MG) - Fernanda Takai solou com a habitual graciosidade Balada do amor inabalável (Samuel Rosa e Fausto Fawcett), música que entrou no clima do show pelo toque dos teclados de Telo Borges, integrante de banda que destacou também o guitarrista Duca Rolim. Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant, 1972) ficou mais bonita em cena com o coro espontâneo do público nessa que é uma das músicas mais populares do álbum duplo Clube da Esquina (Odeon, 1972), como ressaltou Lô antes do número. O show faz mais sentido quando os cantores dividem de forma igualitária as interpretações das músicas, como Equatorial (Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges, 1979), música apresentada em festival estudantil de 1969 com os nomes de seus autores trocados - como Lô conta ao público em momento de humor - mas lançada em disco somente uma década mais tarde. No fim, Tudo que você podia ser (Lô Borges e Márcio Borges, 1971) acentuou a pegada de rock - já restaurada um número antes pela já mencionada música Trem de doido - e preparou o clima para a entrada triunfal de Milton Nascimento, que introduz Para Lennon & McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, 1970) com batida funkeada. A presença de Milton por si só já legitima o encontro de Samuel com Lô, mesmo que sua voz já não ostente a força divina de outrora. No fim, tudo acaba em rock, com um trio de guitarras encerrando Um girassol da cor de seu cabelo (Lô Borges e Márcio Borges, 1972), música cantada em dueto por Lô e Samuel. A feira de hits se sustenta pela modernidade atemporal do cancioneiro do Clube da Esquina e do repertório também já eterno do Skank, grupo herdeiro das revoluções do som feito nas Geraes nos anos 1970.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ É sintomático que a primeira música do roteiro da gravação ao vivo do show Samuel Rosa & Lô Borges tenha sido Feira moderna (Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant, 1970), tocada com pegada de rock. Afinal, de certa forma, os artistas mineiros fizeram uma feira moderna no palco do Cine Theatro Brasil, em Belo Horizonte (MG), para (re)vender hits do Clube da Esquina e do grupo mineiro Skank para um público ávido por ouvir esse repertório de alto quilate. A revenda vai ser feita também em CD e DVD a serem editados via Sony Music ainda neste ano de 2015 dentro da série Multishow ao vivo - motivo da gravação realizada em 7 e 8 de agosto com as participações realmente especiais de Fernanda Takai e Milton Nascimento (artistas de alma e vivência mineira) na apresentação do dia 8, transmitida ao vivo pelo Canal Bis. A gravação do show Samuel Rosa & Lô Borges - na estrada desde 1999 - eterniza conexão que, a rigor, começou há 19 anos quando Lô regravou um sucesso então recente do Skank, o pop reggae Te ver (Samuel Rosa, Lelo Zaneti e Chico Amaral, 1994), em seu álbum Meu filme (EMI Music, 1996). Sem músicas inéditas para forjar ar de novidade em um roteiro calcado no passado glorioso do Clube da Esquina e do Skank, o roteiro tem seu charme no fato de mostrar Samuel dando voz e guitarra aos standards do Clube - referência primordial na formação musical deste mineiro nascido e criado em Belo Horizonte (MG) - enquanto Lô transita como músico e cantor (meramente eficaz) por sucessos do Skank com a autoridade de ser um dos principais arquitetos das melodias do Clube, ficando atrás somente do genial Milton. A afinidade real entre os dois artistas - exposta já na primeira parceria de ambos, Dois rios (Samuel Rosa, Nando Reis e Lô Borges, 2003), estrategicamente alocada no bis - garante a harmonia do show em todos os sentidos. Samuel e Lô se alternam nos violões e nas guitarras enquanto apresentam um repertório calcado em sucessos, ainda que apareçam eventualmente lados B do Skank e do Clube da Esquina. Música menos conhecida do lendário álbum duplo de 1972 de Milton Nascimento e Lô Borges que oficializou a existência do movimento pop mineiro que misturou o som pacífico das Geraes com o rock que se ouvia e se fazia no mundo a partir da segunda metade dos anos 1960, Trem de doido (Lô Borges e Márcio Borges, 1972) é soft rock mineiro que entrou no roteiro a pedido de Samuel ("Essa música salvou a minha vida", exagerou o artista ao justificar em cena sua sugestão). Não por acaso, os lados B do Skank - Amores imperfeitos e As noites, parcerias de Samuel com Chico Amaral, ambas lançadas em 2003 - são de Cosmotron (Sony Music, 2003), álbum que enfatizou as conexões do grupo com o som feito nas esquinas de Minas ao longo dos anos 1970.

Mauro Ferreira disse...

O fato é que Samuel Rosa pega O trem azul (Lô Borges e Ronaldo Bastos, 1972) de forma natural, com Lô entrando com a voz somente no refrão, tal como acontece em Três lados (Samuel Rosa e Chico Amaral, 2000), música irresistível do Skank pela potência pop, mas destoante do tom do show. Em contrapartida, Lô faz dueto com Samuel em músicas como Resposta (Samuel Rosa e Nando Reis, 1998), número de tom folk em que os artistas empunham seus respectivos violões, assim como em Sutilmente (Samuel Rosa e Nando Reis, 2008), música em que Lô canta somente o refrão. Primeira convidada da apresentação de 8 de agosto de 2015, a amapaense - radicada desde os nove anos de idade em Belo Horizonte (MG) - Fernanda Takai solou com a habitual graciosidade Balada do amor inabalável (Samuel Rosa e Fausto Fawcett), música que entrou no clima do show pelo toque dos teclados de Telo Borges, integrante de banda que destacou também o guitarrista Duca Rolim. Paisagem da janela (Lô Borges e Fernando Brant, 1972) ficou mais bonita em cena com o coro espontâneo do público nessa que é uma das músicas mais populares do álbum duplo Clube da Esquina (Odeon, 1972), como ressaltou Lô antes do número. O show faz mais sentido quando os cantores dividem de forma igualitária as interpretações das músicas, como Equatorial (Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges, 1979), música apresentada em festival estudantil de 1969 com os nomes de seus autores trocados - como Lô conta ao público em momento de humor - mas lançada em disco somente uma década mais tarde. No fim, Tudo que você podia ser (Lô Borges e Márcio Borges, 1971) acentuou a pegada de rock - já restaurada um número antes pela já mencionada música Trem de doido - e preparou o clima para a entrada triunfal de Milton Nascimento, que introduz Para Lennon & McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, 1970) com batida funkeada. A presença de Milton por si só já legitima o encontro de Samuel com Lô, mesmo que sua voz já não ostente a força divina de outrora. No fim, tudo acaba em rock, com um trio de guitarras encerrando Um girassol da cor de seu cabelo (Lô Borges e Márcio Borges, 1972), música cantada em dueto por Lô e Samuel. A feira de hits se sustenta pela modernidade atemporal do cancioneiro do Clube da Esquina e do repertório também já eterno do Skank, grupo herdeiro das revoluções do som feito nas Geraes nos anos 1970.

noca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mauro Ferreira disse...

Noca, eu não quis dizer que o show tem caráter primordialmente mercantilista. A real afinidade entre Lô e Samuel está ressaltada em várias passagens do texto. Abs, MauroF

noca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristiano RM disse...

Um salve pra Milton! Um registro belíssimo como esse será, os mineiros agradecem de pé! ^^

Luca disse...

O tom do texto é positivo, o título é que dá uma impressão errada

ADEMAR AMANCIO disse...

Será que os artistas fizeram o show de graça? Quanta bobagem.