Mauro Ferreira no G1

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domingo, 30 de agosto de 2015

Disco quente, com pegada e baladas, 'LOV' soa à altura da voz de Toni Platão

Resenha de álbum digital
Título: LOV
Artista: Toni Platão
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * * *
♪ Disco disponível por ora somente em edição digital

Dono de uma das vozes mais potentes da geração roqueira projetada no universo pop brasileiro dos anos 1980, Toni Platão - nome artístico de Antônio Rogério Coimbra, cantor e compositor carioca revelado naquela década como vocalista da banda carioca Hojerizah - merecia ter tido uma carreira solo de maior reconhecimento popular e artístico. Em carreira solo desde 1994, Platão seguiu receitas estragadas de gravadoras, lançou discos esporádicos e, quando ameaçou fazer real sucesso com o CD Negro amor (Som Livre, 2006), descumpriu a promessa, embora esse belo álbum tenha gerado DVD requintado, Pros que estão em casa (EMI Music, 2008), filmado em estúdio (em preto e branco) e batizado com o nome da música mais conhecida do grupo Hojerizah. Decorridos sete anos, Platão reaparece de surpresa no mercado fonográfico neste mês de agosto de 2015 com LOV, álbum produzido por Berna Ceppas que conecta Platão a alguns dos melhores músicos da cena musical carioca, como o baixista carioca Dadi Carvalho, o guitarrista Pedro Sá e os bateristas Marcelo Callado e Stephan San Juan (na percussão), entre outros virtuoses. A surpresa é grande porque LOV - álbum batizado com sigla da expressão em latim Labor omnia vincit (O trabalho tudo vence) - se impõe como o melhor e o mais coeso título da espaçada discografia de Platão. LOV é um disco quente, de pegada que não se dilui ao longo de suas breve nove músicas. A produção musical de Berna Ceppas valoriza as canções - de linguagem simples e direta, como enfatiza Platão - com arranjos cheios de vigor e energia concentrada. Com metais em brasa, orquestrados por Felipe Pinaud, a inédita Dias estranhos (Toni Platão) já dá a pista certa da temperatura aquecida do disco exemplarmente mixado no estúdio Monoaural, no Rio de Janeiro (RJ), por Daniel Carvalho (a masterização de Ricardo Garcia também contribuiu para manter o brilho do som). Na sequência, a também inédita Magia negra (Donni Araújo) mantém LOV no mesmo ponto de fervura com predomínio de sons orgânicos, ainda que a faixa embuta beats programados por Ceppas. LOV é um disco de pegada e de baladas. Duas delas, também inéditas, merecem menções honrosas. Gravada com adesões da bateria de João Barone e do acordeom de Rodrigo Ramalho, Deve ser isso que se chama amor é uma das canções mais inspiradas da lavra de Alvin L - um hit em potencial se entrar em rotação na trilha sonora de uma novela. Com o mesmo poder de sedução, Já é tarde (2014) é power balada de autoria do compositor Márvio dos Anjos, integrante da banda indie carioca Cabaret. Parceria inédita de Cabelo com Platão, Você não sabe o que te espera dialoga com a linguagem popular do cancioneiro de artistas como o cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013) com o requinte caloroso do disco. Os metais do arranjo evocam o universo mariachi da música mexicana. Em sintonia com esse universo da canção popular, Platão tira do baú uma joia rara do repertório do cantor capixaba Paulo Sérgio (1944 - 1980), Agora quem parte sou eu, composição do paulistano Demétrius, lançada por Paulo Sérgio em álbum de 1972 e revivida por Platão com arranjo moderno - no qual sobressai o órgão de Roberto Pollo - que jamais desfigura a arquitetura da canção. Na sequência, com mais reverência, Platão dá voz a uma das baladas mais conhecidas do repertório do cantor e compositor norte-americano Alice Cooper, I never cry (Alice Cooper e Dick Wagner, 1976), hit no Brasil por conta de sua propagação na trilha sonora da novela Duas vidas (TV Globo, 1976). Aos 52 anos, com a voz ainda em forma, Platão canta I never cry somente com o toque da guitarra de Pedro Sá. Mais ousada ainda é a recriação de Volta por cima (Paulo Vanzolini, 1962), samba que ganha metais e toques de soul e blues no registro demolidor de Platão. Por fim, tudo acaba em (algo de) samba, com molho tropical posto na versão em português da canção My cherie amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969), escrita por Ronnie Von para seu álbum A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais (Philips, 1969). Enfim, sem aviso prévio, Toni Platão lança seu melhor disco. LOV soa com a intensidade (e à altura) de sua voz ainda viçosa.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Dono de uma das vozes mais potentes da geração roqueira projetada no universo pop brasileiro dos anos 1980, Toni Platão - nome artístico de Antônio Rogério Coimbra, cantor e compositor carioca revelado naquela década como vocalista da banda carioca Hojerizah - merecia ter tido uma carreira solo de maior reconhecimento popular e artístico. Em carreira solo desde 1994, Platão seguiu receitas estragadas de gravadoras, lançou discos esporádicos e, quando ameaçou fazer real sucesso com o CD Negro amor (Som Livre, 2006), descumpriu a promessa, embora esse belo álbum tenha gerado DVD requintado, Pros que estão em casa (EMI Music, 2008), filmado em estúdio (em preto e branco) e batizado com o nome da música mais conhecida do grupo Hojerizah. Decorridos sete anos, Platão reaparece de surpresa no mercado fonográfico neste mês de agosto de 2015 com LOV, álbum produzido por Berna Ceppas que conecta Platão a alguns dos melhores músicos da cena musical carioca, como o baixista carioca Dadi Carvalho, o guitarrista Pedro Sá e os bateristas Marcelo Callado e Stephan San Juan (na percussão), entre outros virtuoses. A surpresa é grande porque LOV - álbum batizado com sigla da expressão em latim Labor omnia vincit (O trabalho tudo vence) - se impõe como o melhor e o mais coeso título da espaçada discografia de Platão. LOV é um disco quente, de pegada que não se dilui ao longo de suas breve nove músicas. A produção musical de Berna Ceppas valoriza as canções - de linguagem simples e direta, como enfatiza Platão - com arranjos cheios de vigor e energia concentrada. Com metais em brasa, orquestrados por Felipe Pinaud, a inédita Dias estranhos (Toni Platão) já dá a pista certa da temperatura aquecida do disco exemplarmente mixado no estúdio Monoaural, no Rio de Janeiro (RJ), por Daniel Carvalho (a masterização de Ricardo Garcia também contribuiu para manter o brilho do som). Na sequência, a também inédita Magia negra (Donni Araújo) mantém LOV no mesmo ponto de fervura com predomínio de sons orgânicos, ainda que a faixa embuta beats programados por Ceppas. LOV é um disco de pegada e de baladas. Duas delas, também inéditas, merecem menções honrosas. Gravada com adesões da bateria de João Barone e do acordeom de Rodrigo Ramalho, Deve ser isso que se chama amor é uma das canções mais inspiradas da lavra de Alvin L - um hit em potencial se entrar em rotação na trilha sonora de uma novela. Com o mesmo poder de sedução, Já é tarde é power balada de autoria do compositor Márvio dos Anjos, integrante da banda indie carioca Cabaret.

Mauro Ferreira disse...

Parceria inédita de Cabelo com Platão, Você não sabe o que te espera dialoga com a linguagem popular do cancioneiro de artistas como o cantor e compositor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013) com o requinte caloroso do disco. Os metais do arranjo evocam o universo mariachi da música mexicana. Em sintonia com esse universo da canção popular, Platão tira do baú uma joia rara do repertório do cantor capixaba Paulo Sérgio (1944 - 1980), Agora quem parte sou eu, composição do paulistano Demétrius, lançada por Paulo Sérgio em álbum de 1972 e revivida por Platão com arranjo moderno - no qual sobressai o órgão de Roberto Pollo - que jamais desfigura a arquitetura da canção. Na sequência, com mais reverência, Platão dá voz a uma das baladas mais conhecidas do repertório do cantor e compositor norte-americano Alice Cooper, I never cry (Alice Cooper e Dick Wagner, 1976), hit no Brasil por conta de sua propagação na trilha sonora da novela Duas vidas (TV Globo, 1976). Aos 52 anos, com a voz ainda em forma, Platão canta I never cry somente com o toque da guitarra de Pedro Sá. Mais ousada ainda é a recriação de Volta por cima (Paulo Vanzolini, 1972), samba que ganha metais e toques de soul e blues no registro demolidor de Platão. Por fim, tudo acaba em (algo de) samba, com molho tropical posto na versão em português da canção My cherie amour (Stevie Wonder, Henry Cosby e Sylvia Moy, 1969), escrita por Ronnie Von para seu álbum A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nuncamais (Philips, 1969). Enfim, sem aviso prévio, Toni Platão lança seu melhor disco. LOV soa com a intensidade (e à altura) de sua voz ainda viçosa.

Rafael disse...

Pra ter ganhado 5 estrelas do Mauro, esse disco deve estar muito bom mesmo... Tomara que saia em edição física, pois ainda não ouvi o álbum...