Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Discobiografia de Ivone revela pré-história da vida e obra da dama do samba

Resenha de livro
Título: Dona Ivone Lara - A Primeira-dama do samba
Autor: Lucas Nobile
Editora: Sonoras
Cotação: * * * *

Se o jornalista Lucas Nobile somente tivesse detalhado a gênese de cada um dos 12 álbuns de Ivone Lara, o autor da discobiografia da cantora e compositora carioca - livro escrito para integrar a quarta edição do Sambabook, o projeto multimídia da empresa Musickeria - já teria prestado relevante serviço à bibliografia musical brasileira. Afinal, o descaso da indústria do disco com a obra fonográfica da artista é tamanho que vários títulos nobres de sua discografia - como Samba minha verdade, samba minha raiz (EMI-Odeon, 1978), Sorriso de criança (EMI-Odeon, 1979) e Ivone Lara (Som Livre, 1985) - jamais ganharam reedição no formato de CD. Sem falar que os dois últimos - Bodas de coral no samba brasileiro (Independente, 2010), álbum assinado com o parceiro Délcio Carvalho (1939 - 2013), e Baú da Dona Ivone (Independente, 2012) - sequer tiveram distribuição comercial. Só que Nobile vai além. Além de discorrer sobre os discos em si, dedicando um capítulo a cada álbum, o jornalista revela a a pré-história de Ivone Lara, agregando valor documental ao livro. Até porque essa pré-história é longa. É que 40 anos separam a criação da primeira composição de Ivone - o partido alto Tiê (Ivone Lara, Mestre Fuleiro e Tio Hélio, 1934), feito aos 12 anos em clima familiar - e a chegada do sucesso em 1974, ano em que Tiê ganhou seu primeiro registro fonográfico no álbum coletivo Quem samba, fica? Fica (EMI-Odeon) e ano em que a cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) gravou com sucesso o samba Alvorecer, uma das muitas obras-primas da lírica parceria de Ivone com Délcio Carvalho. O maior mérito do livro é contar a vida de Ivone Lara até esse momento de reconhecimento. Com rigor jornalístico, Nobile esclarece fatos fundamentais da biografia da artista. O mais relevante é a exposição do correto ano de nascimento de Ivone, 1922 - e não 1921, como se pensava até então e como consta na quase totalidade das publicações oficiais sobre a sambista. Nesse caso, o erro coletivo tem justificativa: a mãe de Ivone forjou outro ano de nascimento para a filha com o objetivo nobre de lhe acrescentar um ano de vida e, assim, permitir a entrada da então adolescente Ivone em colégio interno. Outra informação relevante é que, sem deixar de ressaltar o pioneirismo de Ivone ao abrir alas para as mulheres no mundo machista do samba (e das escolas de samba), o autor revela que, a rigor, a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola foi Carmelita Brasil, em 1959, na Unidos da Ponte. O que não diminui o feito de Ivone de ter entrado em 1965 para a ala de compositores da escola Império Serrano - então uma das quatro grandes do Carnaval carioca ao lado de Mangueira, Portela e Salgueiro - com sua assinatura no samba-enredo Os cinco bailes da história do Rio (Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau, 1965), há 50 anos.  Enfim, Ivone Lara - formada enfermeira em 1942, profissão que lhe garantiu o sustento pré-fama e uma aposentadoria ainda em vigor - teve uma vida bastante agitada antes de ingressar na carreira artística, a partir de 1970 (ano de sua primeira gravação em disco). Em seus capítulos iniciais, Dona Ivone Lara - A primeira-dama do samba reconta os fatos mais marcantes dessa vida, rememorando estripulias infantis e a criação da escola Prazer da Serrinha, na qual Ivone chegou a desfilar como porta-bandeira. Quando parte para analisar os discos da compositora que se tornou cantora nos anos 1970, Nobile não abre mão do espírito crítico, apontando com elegância as músicas e os títulos menos inspirados. Por mais que cometa uma imprecisão ao sentenciar o ineditismo de Candeeiro da vovó (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1996) na ocasião da gravação do álbum Bodas de ouro (Sony Music, 1997), ignorando que o samba já tinha sido lançado em disco um ano antes pelo grupo carioca Toque de Prima, o autor apresenta (disco)biografia  à altura da importância de Ivone Lara.

14 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Se o jornalista Lucas Nobile somente tivesse detalhado a gênese de cada um dos 12 álbuns de Ivone Lara, o autor da discobiografia da cantora e compositora carioca - livro escrito para integrar a quarta edição do Sambabook, o projeto multimídia da empresa Musickeria - já teria prestado relevante serviço à bibliografia musical brasileira. Afinal, o descaso da indústria do disco com a obra fonográfica da artista é tamanho que vários títulos nobres de sua discografia - como Samba minha verdade, samba minha raiz (EMI-Odeon, 1978), Sorriso de criança (EMI-Odeon, 1979) e Ivone Lara (Som Livre, 1985) - jamais ganharam reedição no formato de CD. Sem falar que os dois últimos - Bodas de coral no samba brasileiro (Independente, 2010), álbum assinado com o parceiro Délcio Carvalho (1939 - 2013), e Baú da Dona Ivone (Independente, 2012) - sequer tiveram distribuição comercial. Só que Nobile vai além. Além de discorrer sobre os discos em si, dedicando um capítulo a cada álbum, o jornalista revela a a pré-história de Ivone Lara, agregando valor documental ao livro. Até porque essa pré-história é longa. É que 40 anos separam a criação da primeira composição de Ivone - o partido alto Tiê (Ivone Lara, Mestre Fuleiro e Tio Hélio, 1934), feito aos 12 anos em clima familiar - e a chegada do sucesso em 1974, ano em que Tiê ganhou seu primeiro registro fonográfico no álbum coletivo Quem samba, fica? Fica (EMI-Odeon) e ano em que a cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) gravou com sucesso o samba Alvorecer, uma das muitas obras-primas da lírica parceria de Ivone com Délcio Carvalho. O maior mérito do livro é contar a vida de Ivone Lara até esse momento de reconhecimento. Com rigor jornalístico, Nobile esclarece fatos fundamentais da biografia da artista. O mais relevante é a exposição do correto ano de nascimento de Ivone, 1922 - e não 1921, como se pensava até então e como consta na quase totalidade das publicações oficiais sobre a sambista. Nesse caso, o erro coletivo tem justificativa: a mãe de Ivone forjou outro ano de nascimento para a filha com o objetivo nobre de lhe acrescentar um ano de vida e, assim, permitir a entrada da então adolescente Ivone em colégio interno. Outra informação relevante é que, sem deixar de ressaltar o pioneirismo de Ivone ao abrir alas para as mulheres no mundo machista do samba (e das escolas de samba), o autor revela que, a rigor, a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola foi Carmelita Brasil, em 1959, na Unidos da Ponte. O que não diminui o feito de Ivone de ter entrado em 1965 para a ala de compositores da escola Império Serrano - então uma das quatro grandes do Carnaval carioca ao lado de Mangueira, Portela e Salgueiro - com sua assinatura no samba-enredo Os cinco bailes da história do Rio (Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau, 1965), há 50 anos. Enfim, Ivone Lara - formada enfermeira em 1942, profissão que lhe garantiu o sustento pré-fama e uma aposentadoria ainda em vigor - teve uma vida bastante agitada antes de ingressar na carreira artística, a partir de 1970 (ano de sua primeira gravação em disco). Em seus capítulos iniciais, Dona Ivone Lara - A primeira-dama do samba reconta os fatos mais marcantes dessa vida, rememorando estripulias infantis e a criação da escola Prazer da Serrinha, na qual Ivone chegou a desfilar como porta-bandeira. Quando parte para analisar os discos da compositora que se tornou cantora nos anos 1970, Nobile não abre mão do espírito crítico, apontando com elegância as músicas e os títulos menos inspirados. Por mais que cometa uma imprecisão ao sentenciar o ineditismo de Candeeiro da vovó (Ivone Lara e Délcio Carvalho, 1996) na ocasião da gravação do álbum Bodas de ouro (Sony Music, 1997), ignorando que o samba já tinha sido lançado em disco um ano antes pelo grupo carioca Toque de Prima, o autor apresenta (disco)biografia à altura da importância de Ivone Lara.

Rafael disse...

Esse livro deve estar maravilhoso mesmo... Salve Dona Ivone Lara!!!

Marcelo Barbosa disse...

Está erradíssimo o autor. Carmelita Brasil foi a primeira mulher a PRESIDIR uma escola de samba. Depois veio Pildes Pereira na Unidos de Vila Isabel e após elas surgiram Ruça na Vila e Therezinha Monte na Unidos do Cabuçu.
No aguardo do livro. Já comprei os outros produtos. Abs

Mauro Ferreira disse...

Marcelo. De acordo com Nobile, além de presidir a Unidos da Ponte, Carmelita Brasil assinava sambas-enredos na escola desde 1959. abs, MauroF

Marcelo Barbosa disse...

Aliás Mauro, seria uma ótima se você ou outros pesquisadores relançassem a discografia e os títulos que não foram comercializados de Dona Ivone. Ando feito doido procurando o Baú de Dona Ivone e o Bodas de Coral e NADA! Abs

Marcelo Barbosa disse...

Desconheço essa informação, aliás, nunca ouvi um samba da Unidos da Ponte com a Dona Carmelita como vencedora. Poderia compor, mas samba vencedor, nunca vi nenhum creditado a ela.
De qualquer forma agradeço, Mauro.

Cláudio disse...

Marcelo, os 2 estão à venda no mercado livre:
(Bastante caros)

http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-691396951-cd-bau-da-dona-ivone-lara-monarco-beth-carvalho-aurea-mar-_JM

http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-686189835-cd-dona-ivone-lara-e-delcio-carvalho-ao-vivo-rarissimo-_JM

Cláudio disse...

Mauro,
O único verdadeiramente inédito em CD é "samba minha verdade, samba minha raiz". O sorriso de criança saiu em edição nacional (pequena tiragem) e o da som livre saiu em edição japonesa.

Mauro Ferreira disse...

Claudio, ok quanto ao disco de 1985 ter sido editado no Japão. Mas desconheço essa edição do Sorriso de criança. Vc não está confundindo com o 'Sorriso negro'? abs, MauroF

Cláudio disse...

Não, Mauro. Eu tenho os 2: sorriso negro e sorriso de criança. Um da warner e o outro da EMI.

Marcelo Barbosa disse...

Obrigado, Claudio! Abração!

Marcelo Barbosa disse...

O preço da caixa do Djavan que venho namorando há meses. Só que com esse preço eu prefiro ficar sem. Uma pena! De qualquer forma agradeço, Cláudio. Abs

Dona Emengarda disse...

"Entre as primeiras mulheres compositoras de sambas-enredo propriamente ditos, o pioneirismo, segundo os registros históricos, cabe a Carmelita Brasil, fundadora e primeira presidente da escola de Samba Unidos da Ponte, de São João de Meriti. Ela assinou, sozinha ou em parceria, os sambas de 1958 a 1961, e o de 1964." (Nei Lopes)

Cláudio disse...

Mauro,
O nr. do CD é 421170-2 de 1997. Dona Ivone Lara Sorriso de Criança.