Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Samba sobre Candeia brilha na linear safra 2015 das escolas da 'Série A'

Resenha de CD
Título: Sambas de enredo 2015 Série A
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

Amantes atentos do Carnaval carioca sabem que, não raro, as escolas da Série A - plataforma de acesso à elite do Grupo Especial - apresentam sambas de enredo mais inspirados do que os das agremiações do desfile principal. Desta vez, no entanto, não é bem assim. A safra da Série A para os desfiles do Carnaval de 2015 é regular, ficando no mesmo correto nível da safra do Grupo Especial. Ou seja, há pouco brilho. Escolas tradicionais como Estácio de Sá (cujo enredo celebra os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro) e Império da Tijuca (que celebra as águas doces do orixá Oxum) apresentam sambas dignos, mas ambos aquéns da expectativa gerada pelos respectivos históricos das agremiações no quesito. Produzido por Leonardo Bessa, o CD com os 15 sambas de enredo da Série A soa regular. Entre enredos tradicionais (como a negritude africana exaltada pelo bom samba da escola niteroiense Acadêmicos do Cubango) e mais contemporâneos (como o genérico tema da energia que alimenta o samba da Unidos da Porto da Pedra, agremiação de São Gonçalo), o desfile dos 15 sambas jamais chega a empolgar no disco. O destaque é o belo samba da Renascer de Jacarepaguá - pequena escola da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro (RJ) - que versa sobre o compositor carioca Candeia (1935 - 1978). O samba foi composto por Claudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina, cantora que abre o samba puxado por Evandro Malandro e Diego Nicolau. A letra alinha citações de sucessos do autor de O mar serenou (Candeia, 1975), Peixeiro grã-fino (Candeia e Bretas, 1978) e Zé Tambozeiro (Candeia e Vandinho, 1978), entre outros sambas. No mais, a safra soa linear. Se o Império Serrano exalta a fé em bom samba cuja letra cita uma das músicas mais conhecidas do cancioneiro de Gilberto Gil, Andar com fé (1982), a União do Parque Curicica se diferencia com enredo popular que celebra Arlindo Cruz, Martinho da Vila  e Monarco. Na mesma seara de homenagens, a Acadêmicos de Santa Cruz lembra o ator, cantor e compositor mineiro Grande Otelo (1915 - 1993) com samba menor do que o legado do grande Otelo. Já a Paraíso de Tuiuti segue trilha mais histórica ao falar sobre a expedição do aventureiro alemão Hans Staden (1525 - 1576) por terras indígenas do Brasil. Por sua vez, a Em Cima da Hora aposta em samba mediano sobre a influência árabe na cidade do Rio de Janeiro. Falta na letra a irreverência que pauta o samba da Alegria da Zona Sul, que exalta o orgulho de ser carioca com certa leveza. Enfim, por mais que uma escola acerte mais do que outra na escolha de seus sambas de enredo, a safra de 2015 da Série A do Carnaval carioca resulta esquecível. Ao menos no disco recém-lançado pela gravadora Som Livre. Mas é na avenida que um samba de enredo diz realmente a que veio, levantando a escola ou a jogando para baixo neste quesito crucial.

7 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Amantes atentos do Carnaval carioca sabem que, não raro, as escolas da Série A - plataforma de acesso à elite do Grupo Especial - apresentam sambas de enredo mais inspirados do que os das agremiações do desfile principal. Desta vez, no entanto, não é bem assim. A safra da Série A para os desfiles do Carnaval de 2015 é regular, ficando no mesmo correto nível da safra do Grupo Especial. Ou seja, há pouco brilho. Escolas tradicionais como Estácio de Sá (cujo enredo celebra os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro) e Império da Tijuca (que celebra as águas doces do orixá Oxum) apresentam sambas dignos, mas ambos aquéns da expectativa gerada pelos respectivos históricos das agremiações no quesito. Produzido por Leonardo Bessa, o CD com os 15 sambas de enredo da Série A soa regular. Entre enredos tradicionais (como a negritude africana exaltada pelo bom samba da escola niteroiense Unidos do Cubango) e mais contemporâneos (como o genérico tema da energia que alimenta o samba da Unidos da Porto da Pedra, agremiação de São Gonçalo), o desfile dos 15 sambas jamais chega a empolgar no disco. O maior destaque é o bonito samba sobre o compositor carioca Candeia (1935 - 1978) composto por Claudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina, cantora que abre o samba puxado no disco por Evandro Malandro e Diego Nicolau. A letra alinha citações de sucessos do autor de O mar serenou (Candeia, 1975), Peixeiro grã-fino (Candeia e Bretas, 1978) e Zé Tambozeiro (Candeia e Vandinho, 1978), entre outros sambas. No mais, a safra soa linear. Se o Império Serrano exalta a fé em bom samba cuja letra cita uma das músicas mais conhecidas do cancioneiro de Gilberto Gil, Andar com fé (1982), a União do Parque Curicica se diferencia com enredo popular que celebra Arlindo Cruz, Martinho da Vila e Monarco. Na mesma seara de homenagens, a Acadêmicos de Santa Cruz lembra o ator, cantor e compositor mineiro Grande Otelo (1915 - 1993) com samba menor do que o legado do grande Otelo. Já a Paraíso de Tuiuti segue trilha mais histórica ao falar sobre a expedição do aventureiro alemão Hans Staden (1525 - 1576) por terras indígenas do Brasil. Por sua vez, a Em Cima da Hora aposta em samba mediano sobre a influência árabe na cidade do Rio de Janeiro. Falta na letra a irreverência que pauta o samba da Alegria da Zona Sul, que exalta o orgulho de ser carioca com certa leveza. Enfim, por mais que uma escola acerte mais do que outra na escolha de seus sambas de enredo, a safra de 2015 da Série A do Carnaval carioca resulta esquecível. Ao menos no disco recém-lançado pela gravadora Som Livre. Mas é na avenida que um samba de enredo diz realmente a que veio, levantando a escola ou a jogando para baixo neste quesito crucial.

Marcelo Barbosa disse...

Recém lançado não, meu caro crítico. Foi lançado no fim de novembro.
Pra mim os destaques são: Renascer, Império Serrano em inspirado samba de Arlindo Cruz, Império da Tijuca (show do intérprete Pixulé), Estácio e Cubango.
Outros sambas medianos, mas que não comprometem!
O único abaixo da crítica é o da Porto da Pedra que tira leite de pedra num enredo pra lá de boi com abóbora.
Abs

Denilson Santos disse...

Não consegui perceber no texto qual é a escola de samba que vai cantar o samba em homenagem ao Candeia.

abração,
Denilson

Mauro Ferreira disse...

Tem razão, Denilson. Grato pelo toque. Já inseri no texto o nome da escola. Abs, MauroF

Marcelo Barbosa disse...

Renascer de Jacarepaguá, meu caro Denilson!

"O mar serenou na areia, Candeia! Candeia! Não basta ter inspiração, pra cantar samba se precisa muito mais....."

Samba lindo!

Abração

Marcelo Barbosa disse...

Mauro, meu caro, retifique por favor no texto, o correto é: Acadêmicos do Cubango e não Unidos do Cubango. Abs

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque, Marcelo. Abs, MauroF