Mauro Ferreira no G1

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domingo, 25 de janeiro de 2015

'Bilac vê estrelas' se ilumina com música de Nei Lopes e verve do elenco

Resenha de musical de teatro
Título: Bilac vê estrelas - Uma comédia musical
Texto: Heloísa Seixas e Julia Romeu com base no livro de Ruy Castro
Direção: João Fonseca
Música e letra: Nei Lopes
Direção musical e arranjos: Luís Filipe de Lima
Elenco: André Dias, Izabella Bicalho, Tadeu Aguiar, Sérgio Menezes, Alice Borges, Reiner
              Tenente, Gustavo Klein, Jefferson Almeida e Saulo Segreto (em foto de Leo Aversa)
Cotação: * * *
Espetáculo em cartaz no Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de fevereiro de 2015

Exímio letrista, dono de obra musical associada ao universo do samba e à afirmação da negritude, o compositor carioca Nei Lopes abre o leque estilístico de seu cancioneiro com a criação da trilha sonora original do musical Bilac vê estrelas, espetáculo em cartaz no Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de fevereiro. Base do texto de Heloísa Seixas e Julia Romeu, o primeiro livro de ficção do escritor Ruy Castro - Bilac vê estrelas (Companhia das Letras, 2000) - está ambientado no Rio de Janeiro de 1903, o que fez Lopes se aventurar (com êxito) na composição de trilha sonora condizente com os sons de época anterior ao samba, gênero que germinaria na música brasileira nos anos 1910, nascendo oficialmente em novembro de 1916. No universo musical da belle époque carioca, ritmos como valsas e lundus se adequam ao roteiro de espetáculo dirigido por João Fonseca com o tom burlesco e um clima de chanchada já sugeridos pela narrativa original do livro. Lopes compôs 15 músicas, assinando sozinho melodias e letras que jamais traem sua função de ajudar a contar a história, impulsionando a ação de dramaturgia que se revela frágil ao longo dos 100 minutos do espetáculo. A música de Lopes confere vivacidade à encenação, valorizada também por elenco hábil na manutenção do tom burlesco do musical. Habilmente orquestrada pelo diretor musical Luis Filipe de Lima, a trilha sonora original do compositor combina humor e empostação, esta condizente com o estilo parnasiano dos versos do poeta carioca Olavo Bilac (1895 - 1968), interpretado com maestria em trabalho de composição feito por André Dias, talentoso ator já conhecido dos frequentadores de musicais do teatro carioca (O poeta e a palavra é um dos 15 temas do musical que ilustram a capacidade de  Lopes de extrapolar o universo do samba). Estrábico na figura composta por Dias, Bilac é o protagonista de delirante  trama de ficção construída com personagens reais. Entre eles, há o escritor José do Patrocínio (1854 - 1905), personagem do ator Sérgio Menezes. Dona da voz mais bela e potente do elenco, Izabella Bicalho - intérprete da farsante Eduarda Bandeira - tem seu grande momento musical em cena ao dar voz ao Solilóquio de Eduarda com sotaque português afinado com o disfarce português da personagem. Já Alice Borges imprime impagável vivacidade e humor à personagem Madame Labiche, usando sua imediata empatia com a plateia quando sola a Canção cigana, cujo refrão chegar a ser cantado em coro pelo público por conta da expressiva comunicabilidade da atriz. Experiente ator de musicais, Tadeu Aguiar mostra excelente trabalho de corpo, capaz de arrancar risos do público somente com o gestual imponente usado na composição do padre Maximiliano. Entrosado e cheio de verve, o elenco ilumina Bilac vê estrelas, deixando na sombra os pontos fracos do musical - como a dramaturgia e o cenário feio de Nello Marrese - e valorizando os pontos altos, como a trilha sonora de Nei Lopes, cuja maestria na escritura de letras é reiterada por versos como os de Tout le Riô, tema que brinca com o francesismo reinante no Rio dos anos 1900. Musical distante do suntuoso padrão Broadway que se estabeleceu na cena carioca ao longo dos anos 2000, Bilac vê estrelas tem o mérito de buscar linguagem brasileira para gênero tão valorizado atualmente pelos frequentadores do teatro carioca.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Exímio letrista, dono de obra musical associada ao universo do samba e à afirmação da negritude, o compositor carioca Nei Lopes abre o leque estilístico de seu cancioneiro com a criação da trilha sonora original do musical Bilac vê estrelas, espetáculo em cartaz no Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de fevereiro. Base do texto de Heloísa Seixas e Julia Romeu, o primeiro livro de ficção do escritor Ruy Castro - Bilac vê estrelas (Companhia das Letras, 2000) - está ambientado no Rio de Janeiro de 1903, o que fez Lopes se aventurar (com êxito) na composição de trilha sonora condizente com os sons de época anterior ao samba, gênero que germinaria na música brasileira nos anos 1910, nascendo oficialmente em novembro de 1916. No universo musical da belle époque carioca, ritmos como valsas e lundus se adequam ao roteiro de espetáculo dirigido por João Fonseca com o tom burlesco e um clima de chanchada já sugeridos pela narrativa original do livro. Lopes compôs 15 músicas, assinando sozinho melodias e letras que jamais traem sua função de ajudar a contar a história, impulsionando a ação de dramaturgia que se revela frágil ao longo dos 100 minutos do espetáculo. A música de Lopes confere vivacidade à encenação, valorizada também por elenco hábil na manutenção do tom burlesco do musical. Habilmente orquestrada pelo diretor musical Luis Filipe de Lima, a trilha sonora original do compositor combina humor e empostação, esta condizente com o estilo parnasiano dos versos do poeta carioca Olavo Bilac (1895 - 1968), interpretado com maestria em trabalho de composição feito por André Dias, talentoso ator já conhecido dos frequentadores de musicais do teatro carioca (O poeta e a palavra é um dos 15 temas do musical que ilustram a capacidade de Lopes de extrapolar o universo do samba). Estrábico na figura composta por Dias, Bilac é o protagonista de delirante trama de ficção construída com personagens reais. Entre eles, há o escritor José do Patrocínio (1854 - 1905), personagem do ator Sérgio Menezes. Dona da voz mais bela e potente do elenco, Izabella Bicalho - intérprete da farsante Eduarda Bandeira - tem seu grande momento musical em cena ao dar voz ao Solilóquio de Eduarda com sotaque português afinado com o disfarce português da personagem. Já Alice Borges imprime impagável vivacidade e humor à personagem Madame Labiche, usando sua imediata empatia com a plateia quando sola a Canção cigana, cujo refrão chegar a ser cantado em coro pelo público por conta da expressiva comunicabilidade da atriz. Experiente ator de musicais, Tadeu Aguiar mostra excelente trabalho de corpo, capaz de arrancar risos do público somente com o gestual imponente usado na composição do padre Maximiliano. Entrosado e cheio de verve, o elenco ilumina Bilac vê estrelas, deixando na sombra os pontos fracos do musical - como a dramaturgia e o cenário feio de Nello Marrese - e valorizando os pontos altos, como a trilha sonora de Nei Lopes, cuja maestria na escritura de letras é reiterada por versos como os de Tout le Riô, tema que brinca com o francesismo reinante no Rio dos anos 1900. Musical distante do suntuoso padrão Broadway que se estabeleceu na cena carioca ao longo dos anos 2000, Bilac vê estrelas tem o mérito de buscar linguagem brasileira para gênero tão valorizado atualmente pelos frequentadores do teatro carioca.

Luca disse...

Nei Lopes não é isso tudo não, me cite dez músicas dele que ficaram na história...

taurusrio disse...

Poxa que triste e burro comentario do senhor Lucas . Quer dizer que se o senhor mede importancia e sucesso de compositores com seus hits na parada de sucesso , imagino que seus idolos sao Valeska Popozuda , Bruxinha e a Xuxa.
Viva Nei Lopes e seu caminhao de musicas, livros e poesias belissimas e relevantes.
Um Abraco