Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Pethit vai para as cabeças (de baixo) com show 'Rock'n'roll sugar darling'

Resenha de show
Título: Rock'n'roll sugar darling
Artista: Thiago Pethit (em foto extraída de vídeo do YouTube)
Local: Teatro Paulo Autran - Sesc Pinheiros (São Paulo, SP)
Data: 15 de janeiro de 2015
Cotação: * * * * 

"Do you wanna touch me?", provocou Thiago Pethit, ao fazer a pergunta-refrão-título do glam rock lançado em 1973 pelo cantor inglês Gary Glitter e revivido pelo artista paulistano no seu show Rock'n'roll sugar darlingOh, yeah. O público majoritariamente gay que encheu o Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, na noite de 15 de janeiro de 2015, certamente queria tocar Pethit a julgar pelos gritos masculinos de "Gostoso!" ouvidos na plateia ao longo da fervida estreia nacional do show baseado no terceiro álbum do cantor e compositor. Em sintonia com a intencionalmente má reputação do álbum Rock'n'roll sugar darling, incluído entre os melhores discos de 2014 por Notas Musicais e pela revista Rolling Stone, Pethit entrou em cena libidinoso, erotizado - a ponto de mexer no pau como um Mick Jagger dos trópicos - e elétrico. Enfim, um roqueiro glam, afetado, mas afetuoso quando se dirigiu à plateia para agradecer a presença maciça e calorosa de seu público paulistano na estreia do novo show, introduzido pelo mesmo texto que abre o disco e no qual o ator Joe Dalessandro convida Pethit a trilhar a estrada do rock na pele de um anjo sujo e voluptuoso. Um rock marginal que come pelas beiradas da batida de Bo Diddley (1928 - 2008), genial cantor, compositor e norte-americano que transitou pelo blues com pegada roqueira. E que incorpora a onda pop eletrônica sem deixar de evocar o rock'n'roll dos anos 1950 e o glam rock da década de 1970. O show tem tudo isso, mas é mais quente do que o disco. Perceptível já no primeiro número musical feito após o texto da Intro (Thiago Pethit, 2014), a temperatura elevada inflama o tom já incandescente da composição-título Rock'n'roll sugar darling (Thiago Pethit, 2014), sucedida no roteiro pela já mencionado glam rock Do you wanna touch me? (Oh yeah) (Gary Glitter e Mike Leander, 1973). Em contrapartida, a quentura do show desfavorece as baladas de tom mais introspectivo como Perdedor (Thiago Pethit, 2014) - cantada no show em tom ligeiramente mais dark e entremeada pelo hino California dreamin' (John Phillips e Michele Philips, 1965) - e De trago em trago (Thiago Pethit, 2014), apresentada no início do bis em número somente de voz e guitarra de toque western (a de Pedro Penna). Mesmo Romeo (Thiago Pethit e Hélio Flanders, 2014) perde um pouco da beleza e da força em cena - exceto quando vem o refrão turbinado pelo coro acalorado do público. Mas nada apaga a beleza triste de Story in blue (Thiago Pethit, 2014) com sua evocação da era do doo wop e com a récita do texto Ain't got not desire (Kim Dallessandro). De todo modo, Rock'n'roll sugar darling é show ligado na tomada. Cheio de energia, Pethit apresenta essencialmente um show de rock, opção evidenciada pela luz geralmente quente saída das lâmpadas das placas luminosas que compõem o cenário. Um rock que tem algo de blues, como evidencia Honey bi (Thiago Pethit e Adriano Cintra, 2014). E que aclimata com perfeição músicas do álbum anterior do artista, Estrela decadente (Independente, 2012), disco que se afina com a atmosfera marginal de Rock'n'roll sugar darling. Tanto o rock Dandy darling (Thiago Pethit e Rafael Barion, 2012) como Devil in me (Thiago Pethit e Hélio Flanders, 2012) - número do bis em que o cantor, já endiabrado e possuído pelo espírito desassossegado do rock, cita Blue jeans (2011), tema da lavra da norte-americana Lana Del Rey -  se alinham com perfeição ao cancioneiro de Rock'n'roll sugar darling. Entre o convite aos prazeres escuros e escusos feito em 1992 (Thiago Pethit, 2014) e a advertência satânica de Voodoo (Thiago Pethit, 2014), o roqueiro afetado encarna Elvis Presley (1935 - 1977) com afeto para reviver o rockabilly Be-bop-a-lula (Gene Vincent, Donald Graves e Bill Davis, 1956), hit seminal do pioneiro cantor norte-americano Gene Vincent (1935 - 1971). Já Nightwalker (Thiago Pethit, 2010) - lembrança sagaz do repertório do primeiro álbum, Berlin, Texas (Independente, 2010) - reitera a naturalidade com que Pethit transita entre a atmosfera clubber e o clima retrô de um rock que embaralha Elvis e Rolling Stones na cena dândi. No fim, Quero ser seu cão (Thiago Pethit, 2014) reconduz o show ao tom rock'n'roll do início, sacramentado e (bem) amarrado no fecho do bis com o revival do clássico do grupo norte-americano The Stooges, I wanna be your dog (Dave Alexander, Ron Asheton, Scott Asheton e Iggy Pop, 1969). Como o próprio Pethit ironizou no meio da primeira apresentação do show, Rock'n'roll sugar darling é disco que fala para as cabeças de baixo. O libidinoso show segue a mesma linha. Pode vir quente que Pethit está fervendo e fervido em cena. Com o energizante show inspirado em seu melhor álbum, Pethit vai para as cabeças. Inclusive as cabeças de baixo... 

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ "Do you wanna touch me?", provocou Thiago Pethit, ao fazer a pergunta-refrão-título do glam rock lançado em 1973 pelo cantor inglês Gary Glitter e revivido pelo artista paulistano no seu show Rock'n'roll sugar darling. Oh, yeah. O público majoritariamente gay que encheu o Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, na noite de 15 de janeiro de 2015, certamente queria tocar Pethit a julgar pelos gritos masculinos de "Gostoso!" ouvidos na plateia ao longo da fervida estreia nacional do show baseado no terceiro álbum do cantor e compositor. Em sintonia com a intencionalmente má reputação do álbum Rock'n'roll sugar darling, incluído entre os melhores discos de 2014 por Notas Musicais e pela revista Rolling Stone, Pethit entrou em cena libidinoso, erotizado - a ponto de mexer no pau como um Mick Jagger dos trópicos - e elétrico. Enfim, um roqueiro glam, afetado, mas afetuoso quando se dirigiu à plateia para agradecer a presença maciça e calorosa de seu público paulistano na estreia do novo show, introduzido pelo mesmo texto que abre o disco e no qual o ator Joe Dalessandro convida Pethit a trilhar a estrada do rock na pele de um anjo voluptuoso. Um rock marginal que come pelas beiradas da batida de Bo Diddley (1928 - 2008) cantor, compositor e norte-americano que transitou pelo blues com pegada roqueira. E que incorpora a onda pop eletrônica sem deixar de evocar o rock'n'roll dos anos 1950 e o glam rock da década de 1970. O show tem tudo isso, mas é mais quente do que o disco. Perceptível já no primeiro número musical feito após o texto da Intro (Thiago Pethit, 2014), a temperatura elevada inflama o tom já incandescente da composição-título Rock'n'roll sugar darling (Thiago Pethit, 2014), sucedida no roteiro pela já mencionado glam rock Do you wanna touch me? (Oh yeah) (Gary Glitter e Mike Leander, 1973). Em contrapartida, a quentura do show desfavorece as baladas de tom mais introspectivo como Perdedor (Thiago Pethit, 2014) - cantada no show em tom ligeiramente mais dark e entremeada pelo hino California dreamin' (John Phillips e Michele Philips, 1965) - e De trago em trago (Thiago Pethit, 2014), apresentada no início do bis em número somente de voz e guitarra de toque western (a de Pedro Miranda). Mesmo Romeo (Thiago Pethit e Hélio Flanders, 2014) perde um pouco da beleza e da força em cena - exceto quando vem o refrão turbinado pelo coro acalorado do público. Mas nada apaga a beleza triste de Story in blue (Thiago Pethit, 2014) com sua evocação da era do doo wop e com a récita do texto Ain't got not desire (Kim Dallessandro). De todo modo, Rock'n'roll sugar darling é show ligado na tomada. Cheio de energia, Pethit apresenta essencialmente um show de rock, opção evidenciada pela luz geralmente quente saída das lâmpadas das placas luminosas que compõem o cenário. Um rock que tem algo de blues, como evidencia Honey bi (Thiago Pethit e Adriano Cintra, 2014). E que aclimata com perfeição músicas do álbum anterior do artista, Estrela decadente (Independente, 2012), disco que se afina com a atmosfera marginal de Rock'n'roll sugar darling.

Mauro Ferreira disse...

Tanto o rock Dandy darling (Thiago Pethit e Rafael Barion, 2012) como Devil in me (Thiago Pethit e Hélio Flanders, 2012) - número do bis em que o cantor, já endiabrado e possuído pelo espírito desassossegado do rock, cita Blue jeans (2011), tema da lavra da norte-americana Lana Del Rey - se alinham com perfeição ao cancioneiro de Rock'n'roll sugar darling. Entre o convite aos prazeres escuros e escusos feito em 1992 (Thiago Pethit, 2014) e a advertência satânica de Voodoo (Thiago Pethit, 2014), o roqueiro afetado encarna Elvis Presley (1935 - 1977) com afeto para reviver o rockabilly Be-bop-a-lula (Gene Vincent, Donald Graves e Bill Davis, 1956), hit seminal do pioneiro cantor norte-americano Gene Vincent (1935 - 1971). Já Nightwalker (Thiago Pethit, 2010) - lembrança sagaz do repertório do primeiro álbum, Berlin, Texas (Independente, 2010) - reitera a naturalidade com que Pethit transita entre a atmosfera clubber e o clima retrô de um rock que embaralha Elvis e Rolling Stones na cena dândi. No fim, Quero ser seu cão (Thiago Pethit, 2014) reconduz o show ao tom rock'n'roll do início, sacramentado e (bem) amarrado no fecho do bis com o revival do clássico do grupo norte-americano The Stooges, I wanna be your dog (Dave Alexander, Ron Asheton, Scott Asheton e Iggy Pop, 1969). Como o próprio Pethit ironizou no meio da primeira apresentação do show, Rock'n'roll sugar darling é disco que fala para as cabeças de baixo. O libidinoso show segue a mesma linha. Pode vir quente que Pethit está fervendo e fervido em cena. Com o energizante show inspirado em seu melhor álbum, Pethit vai para as cabeças. Inclusive as cabeças de baixo...

Pedro Progresso disse...

disco ótimo, show muito bonito, banda afinada. em cena Pethit é ótimo. ele é pra palco mesmo, apesar de ser um cantor mediano, sem muita destreza ao vivo.
ótima resenha, Mauro.

frederico alves disse...

Não consigo gostar desse cara acho hype demais supervalorizado

Unknown disse...

Esse cara se acha!
Mais pose do que música.
Gostoso?
É, realmente tem gosto pra tudo...

ADEMAR AMANCIO disse...

Cabeça de baixo! epa!