Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Fundo dá voz à outra geração em 'Só felicidade' sem sair de seu quintal

Resenha de CD
Título: Só felicidade
Artista: Fundo de Quintal
Gravadora: LGK Music / Radar Records
Cotação: * * *

É provável - ou até mesmo certo - que o Fundo de Quintal jamais vá alcançar novamente a relevância que teve para o universo do samba ao longo dos anos 1980, década em que o grupo carioca concentrou grandes compositores (Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Sombrinha, sobretudo) e músicos que deram o tom do - excelente - pagode da época enquanto forneciam repertório para cantoras antenadas com a nova cultura do samba (Beth Carvalho, sobretudo). Até porque a formação do Fundo de Quintal já é outra há tempos. Mas isso não tem impedido o grupo de lançar álbuns dignos que jamais mancham a memória da turma originária do bloco Cacique de Ramos. Só felicidade - disco de inéditas lançado em dezembro de 2014 pela gravadora LGK Music com distribuição da Radar Records - mantém o bom nível de seu antecessor Nossa verdade (Biscoito Fino, 2011). Com a diferença de que, neste CD que saúda o próprio samba em boa parte de suas 14 faixas, o Fundo dá voz a compositores de gerações posteriores à sua - Leandro Fab, Pretinho da Serrinha, Luiz Cláudio Picolé, André Rocha, Mauro Jr. e Renan Pereira - sem sair efetivamente de seu quintal. O repertório soa coeso. Até porque a cozinha maravilhosa do grupo - sustentada pelos veteranos remanescentes Bira Presidente, Sereno e Ubirany - sobressai no álbum produzido e arranjado com a habitual competência pelo maestro Rildo Hora. Disco que marca a volta do vocalista e cavaquinista Mario Sérgio ao grupo, após afastamento de seis anos, Só felicidade é disco que prioriza o samba feito no fundo dos quintais cariocas, ainda que tenha uma música, Tudo de bom (Mário Sérgio, Xixa e Edson Sorriso), alinhada com o tom do pagode romântico reinante nas paradas de samba. Em sintonia com o título Só felicidade, o disco esbanja alegria e bom astral em sambas que versam sobre o próprio samba. Partido de alta qualidade que abre o álbum, Deita que eu vou pro samba (Ronaldinho e Zeca do Cavaco) dá o tom festivo do CD. Na sequência, Vem devagar (Renan Pereira, André Rocha e Leandro Fab) segue passo sincopado que evoca o miudinho dos terreiros de outrora. Eu quero é mais (Claudemir e André Renato) reitera que a batucada dos tantãs do grupo continua chamando para o samba. Fora dos quintais cariocas, Hoje tem festa (Mário Sérgio e Bandeira Brasil) celebra a Bahia, "terra da felicidade" e das festas afro-brasileiras citadas na letra, enquanto o ótimo Som Brasil (Sereno e Moacyr Luz) saúda o pernambucano ritmo do maracatu, "baque virado feito samba" na definição dos versos do samba. Ponto baixo do CD, Encontro marcado (André Renato e Sereno) é samba menos sedutor que trata de tema espiritualista - o conforto obtido no encontro diário com o Deus da crença dos compositores - que se afina com o tom de Agenda de Deus (Renan Pereira, Leandro Fab e Lobinho Paz). De todo modo, a religião do Fundo de Quintal é o samba, como o grupo reitera em verso de Esqueço da hora (Fred Camacho, Pretinho da Serrinha e Almir Guineto), bom samba que eleva novamente o astral do disco, mantido alto em Carioca da gema (Vagner Gordo e Mozart do Cavaco) e em Pra que deixar pra manhã? (Claudemir, André Renato e Marquinho Índio). Destaque do repertório, Din din din (Mário Sérgio e Ronaldinho) é partido que confirma a alta qualidade da cozinha do Fundo de Quintal. No fim, o samba-título Só felicidade (Sereno e André Renato) - lançado nas rádios e na web meses antes do CD - e Trilha sonora (Leandro Fab, Mauro Jr. e Luiz Cláudio Picolé) arrematam o disco no tom feliz que pauta o repertório. "Eu sou a voz do povo / Tô aí de novo pra qualquer parada / Sem quebrar corrente / Pra quem não vê problema / Sou de misturar", avisa o Fundo de Quintal nos versos iniciais de Trilha sonora. O recado está dado. Sim, o Fundo de Quintal tem sabido se misturar sem quebrar a corrente lançada pelo próprio grupo no fim dos distantes anos 1970. A relevância não é a mesma, mas samba ainda é no quintal do Fundo.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ É provável - ou até mesmo certo - que o Fundo de Quintal jamais vá alcançar novamente a relevância que teve para o universo do samba ao longo dos anos 1980, década em que o grupo carioca concentrou grandes compositores (Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Sombrinha, sobretudo) e músicos que deram o tom do - excelente - pagode da época enquanto forneciam repertório para cantoras antenadas com a nova cultura do samba (Beth Carvalho, sobretudo). Até porque a formação do Fundo de Quintal já é outra há tempos. Mas isso não tem impedido o grupo de lançar álbuns dignos que jamais mancham a memória da turma originária do bloco Cacique de Ramos. Só felicidade - disco de inéditas lançado em dezembro de 2014 pela gravadora LGK Music com distribuição da Radar Records - mantém o bom nível de seu antecessor Nossa verdade (Biscoito Fino, 2011). Com a diferença de que, neste CD que saúda o próprio samba em boa parte de suas 14 faixas, o Fundo dá voz a compositores de gerações posteriores à sua - Leandro Fab, Pretinho da Serrinha, Luiz Cláudio Picolé, André Rocha, Mauro Jr. e Renan Pereira - sem sair efetivamente de seu quintal. O repertório soa coeso. Até porque a cozinha maravilhosa do grupo - sustentada pelos veteranos remanescentes Bira Presidente, Sereno e Ubirany - sobressai no álbum produzido e arranjado com a habitual competência pelo maestro Rildo Hora. Disco que marca a volta do vocalista e cavaquinista Mario Sérgio ao grupo, após afastamento de seis anos, Só felicidade é disco que prioriza o samba feito no fundo dos quintais cariocas, ainda que tenha uma música, Tudo de bom (Mário Sérgio, Xixa e Edson Sorriso), alinhada com o tom do pagode romântico reinante nas paradas de samba. Em sintonia com o título Só felicidade, o disco esbanja alegria e bom astral em sambas que versam sobre o próprio samba. Partido de alta qualidade que abre o álbum, Deita que eu vou pro samba (Ronaldinho e Zeca do Cavaco) dá o tom festivo do CD. Na sequência, Vem devagar (Renan Pereira, André Rocha e Leandro Fab) segue passo sincopado que evoca o miudinho dos terreiros de outrora. Eu quero é mais (Claudemir e André Renato) reitera que a batucada dos tantãs do grupo continua chamando para o samba. Fora dos quintais cariocas, Hoje tem festa (Mário Sérgio e Bandeira Brasil) celebra a Bahia, "terra da felicidade" e das festas afro-brasileiras citadas na letra, enquanto o ótimo Som Brasil (Sereno e Moacyr Luz) saúda o pernambucano ritmo do maracatu, "baque virado feito samba" na definição dos versos do samba. Ponto baixo do CD, Encontro marcado (André Renato e Sereno) é samba menos sedutor que trata de tema espiritualista - o conforto obtido no encontro diário com o Deus da crença dos compositores - que se afina com o tom de Agenda de Deus (Renan Pereira, Leandro Fab e Lobinho Paz). De todo modo, a religião do Fundo de Quintal é o samba, como o grupo reitera em verso de Esqueço da hora (Fred Camacho, Pretinho da Serrinha e Almir Guineto), bom samba que eleva novamente o astral do disco, mantido alto em Carioca da gema (Vagner Gordo e Mozart do Cavaco) e em Pra que deixar pra manhã? (Claudemir, André Renato e Marquinho Índio). Destaque do repertório, Din din din (Mário Sérgio e Ronaldinho) é partido que confirma a alta qualidade da cozinha do Fundo de Quintal. No fim, o samba-título Só felicidade (Sereno e André Renato) - lançado nas rádios e na web meses antes do CD - e Trilha sonora (Leandro Fab, Mauro Jr. e Luiz Cláudio Picolé) arrematam o disco no tom feliz que pauta o repertório. "Eu sou a voz do povo / Tô aí de novo pra qualquer parada / Sem quebrar corrente / Pra quem não vê problema / Sou de misturar", avisa o Fundo de Quintal nos versos iniciais de Trilha sonora. O recado está dado. Sim, o Fundo de Quintal tem sabido se misturar sem quebrar a corrente lançada pelo próprio grupo no fim dos distantes anos 1970. A relevância não é a mesma, mas samba ainda é no quintal do Fundo.

Unknown disse...

Fundo de quintal é fundo de quintal dispensa apresentações e podem passar mais 100 anos que sempre serão referencia pra quem gosta e faz música salve FUNDO DE QUINTAL

Unknown disse...

O fundo de quintal despença apresentações são os grandes professores. Foi, são e sempre serão referencia pra quem gosta e pra quem faz música. SALVE FUNDO DE QUINTAL ..AXÉ