Mauro Ferreira no G1

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sábado, 30 de abril de 2016

Sem Xande e sem virar a mesa do pagode, Revelação segue o curso habitual

Resenha de álbum
Título: O bom samba continua - Ao vivo
Artista: Grupo Revelação
Gravadora: Deck
Cotação: * * *

Ao tentar vender a ideia de permanência, o título do 11º álbum do Grupo Revelação, O bom samba continua - Ao vivo, tem a missão de fazer o ouvinte acreditar que o grupo carioca de pagode, criado há 25 anos, vai se manter em evidência sem o vocalista Xande de Pilares. A debandada de Xande em 2014 para iniciar carreira solo - em saída que provocou desarmonia entre o cantor e integrantes antigos do Revelação como Mauro Jr. - pôs em dúvida o futuro do grupo. Mas o Revelação quer seguir em frente com o eficiente vocalista Davi Pereira e, justiça seja feita, o álbum ora lançado pela Deck - gravadora carioca no qual o grupo ingressou em 2001 e estourou em 2002 com o CD Ao vivo no Olimpo - é bem melhor do que o rasante voo populista feito pelo Revelação no CD e DVD 360º ao vivo (Universal Music, 2012), último trabalho com Xande. Há sambas realmente bons no repertório como Vai buscar sua felicidade (Helinho do Salgueiro e Marcio Paiva) - de refrão sedutor e melodioso - e, sobretudo, Pedaço de ilusão (Jorge Aragão, Sombrinha e Jotabê, 1981), pérola do pagode lapidada e lançada por Beth Carvalho há 35 anos. A questão é que a forçação de um clima ao vivo no disco deixou interpretações e arranjos por vezes lineares. O álbum foi inteiramente gravado em estúdio, com produção de Bira Hawaí, mas em forjado ambiente de disco ao vivo, com coro do público nas 20 músicas alocadas nas 18 faixas do álbum. Esse clima de entusiasmo artificial dilui a melancolia que embala sambas dolentes como Meu amor é um vício (Jorge Aragão e Marquinhos PQD, 2001), gravado originalmente pelo Revelação no álbum Nosso samba virou religião (BMG, 2001). E por falar em regravação, a frágil abordagem pagodeira de Segredos (Roberto Frejat, 2001) - sucesso pop da carreira solo do barão Frejat - soa dispensável em repertório que inclui sambas animados sem dar muita vez ao chororô do pagode romântico de cepa menos nobre. Para quem acompanha a discografia do Revelação, a pegada acelerada de sambas como Fuzuê (Diego Madeira, Leandro Ferreira e Fernando Rezende) e Amor ao ofício (Luiz Cláudio Picolé e Leandro Fab) vai soar bem familiar. Primeiro single do álbum, previamente apresentado em março deste ano de 2016, Cavaleiro sonhador (Mauro Jr. e Leandro Fab) sinaliza que nada mudou tanto assim no som e na voz do Grupo Revelação. Tanto que o fecho do disco agrega sambas - Trevo de paz (Ademir Fogaça) e Vara de família (Fred Camacho e Nei Lopes), entre outros - em clima de pagode de mesa. É nesse clima, na palma da mão, que o Revelação reabre Bar da neguinha (Flavinho Silva e Adilson Ribeiro, 2011), outro tema extraído do repertório referencial de Beth Carvalho. Enfim, mesmo sem o carisma de Xande de Pilares, o álbum mostra que o Revelação continua seguindo o curso habitual na estrada, transitando entre o samba dos nobres quintais e o pagode de romantismo bem trivial. Tudo indica que o grupo permanecerá...

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Ao tentar vender a ideia de permanência, o título do 11º álbum do Grupo Revelação, O bom samba continua - Ao vivo, tem a missão de fazer o ouvinte acreditar que o grupo carioca de pagode, criado há 25 anos, vai se manter em evidência sem o vocalista Xande de Pilares. A debandada de Xande em 2014 para iniciar carreira solo - em saída que provocou desarmonia entre o cantor e integrantes antigos do Revelação como Mauro Jr. - pôs em dúvida o futuro do grupo. Mas o Revelação quer seguir em frente com o eficiente vocalista Davi Pereira e, justiça seja feita, o álbum ora lançado pela Deck - gravadora carioca no qual o grupo ingressou em 2001 e estourou em 2002 com o CD Ao vivo no Olimpo - é bem melhor do que o rasante voo populista feito pelo Revelação no CD e DVD 360º ao vivo (Universal Music, 2012), último trabalho com Xande. Há sambas realmente bons no repertório como Vai buscar sua felicidade (Helinho do Salgueiro e Marcio Paiva) - de refrão sedutor e melodioso - e, sobretudo, Pedaço de ilusão (Jorge Aragão, Sombrinha e Jotabê, 1981), pérola do pagode lapidada e lançada por Beth Carvalho há 35 anos. A questão é que a forçação de um clima ao vivo no disco deixou interpretações e arranjos por vezes lineares. O álbum foi inteiramente gravado em estúdio, com produção de Bira Hawaí, mas em forjado ambiente de disco ao vivo, com coro do público nas 20 músicas alocadas nas 18 faixas do álbum. Esse clima de entusiasmo artificial dilui a melancolia que embala sambas dolentes como Meu amor é um vício (Jorge Aragão e Marquinhos PQD, 2001), gravado originalmente pelo Revelação no álbum Nosso samba virou religião (BMG, 2001). E por falar em regravação, a frágil abordagem pagodeira de Segredos (Roberto Frejat, 2001) - sucesso pop da carreira solo do barão Frejat - soa dispensável em repertório que inclui sambas animados sem dar muita vez ao chororô do pagode romântico de cepa menos nobre. Para quem acompanha a discografia do Revelação, a pegada acelerada de sambas como Fuzuê (Diego Madeira, Leandro Ferreira e Fernando Rezende) e Amor ao ofício (Luiz Cláudio Picolé e Leandro Fab) vai soar bem familiar. Primeiro single do álbum, previamente apresentado em março deste ano de 2016, Cavaleiro sonhador (Mauro Jr. e Leandro Fab) sinaliza que nada mudou tanto assim no som e na voz do Grupo Revelação. Tanto que o fecho do disco agrega sambas - Trevo de paz (Ademir Fogaça) e Vara de família (Fred Camacho e Nei Lopes), entre outros - em clima de pagode de mesa. É nesse clima, na palma da mão, que o Revelação reabre Bar da neguinha (Flavinho Silva e Adilson Ribeiro, 2011), outro tema extraído do repertório referencial de Beth Carvalho. Enfim, mesmo sem o carisma de Xande de Pilares, o álbum mostra que o Revelação continua seguindo o curso habitual na estrada, transitando entre o samba dos nobres quintais e o pagode de romantismo bem trivial. Tudo indica que o grupo permanecerá...

Marcelo Barbosa disse...

Ótima notícia e fiquei feliz com a sua resenha, Mauro. O Revelação é dos poucos grupos onde o samba é realmente samba e pagode (não o ritmo dos pseudos e sambregueiros de plantão!!) pós-Fundo de Quintal.
E fico feliz pela lembrança de Bar da Neguinha, samba pouco explorado pela Beth. Vou conferir!

Ps: a saída do ex-vocalista de repente acabou fazendo um bem. Aliás, por onde anda ele?