Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 12 de abril de 2016

Rashid foca em cânones do rap brasileiro no audaz álbum 'A coragem da luz'

Resenha de álbum
Título: A coragem da luz
Artista: Rashid
Gravadora: Foco na Missão / Pommelo Distribuição
Cotação: * * * 1/2

As participações de Criolo e Mano Brown no estrelado primeiro álbum solo de Rashid, A coragem da luz, dão a medida da atual importância do valente rap do cantor e compositor paulistano Michael Dias Costa, nome emergente no universo do hip hop brasileiro que viveu parte dos 28 anos em Ijaci (MG), cidade do interior das Geraes. Contudo, Rashid - que já está em cena desde 2008, tendo lançado há seis anos o primeiro disco, o EP Hora de acordar (Um só caminho, 2010) - lança o primeiro álbum após os surgimentos de Racionais MC's e, sobretudo, das explosões de Criolo e Emicida nessa cena. Talvez por isso, a salutar audácia de A coragem da luz já soe sem aquela centelha de originalidade que realça a identidade original de um artista, como já sinaliza o introlúdio Cê já teve um sonho?, pontuado por breve toque de tamborim  e citação de música de Caetano Veloso, Desde que o samba é samba (1992). Já recorrente no universo do hip hop, a cadência bonita do samba está entranhada no ritmo de DNA - gravação produzida por Damien Seth - e alimenta a sensação de que Rashid por vezes repete fórmulas de manos que chegaram antes. Por mais que soe contundente, o discurso contra o poder consumista e contra o ódio ideológico das redes sociais - feito por Rachid em Laranja mecânica, faixa formatada pelo produtor Marechal com participação de Xênia França - já soa meio déjà vu. O que não tira o mérito do álbum e tampouco do rapper. Subvertendo por vezes a fórmula ao inserir sons tortos ao fim de Reis e rainhas, por exemplo, Rashid acaba se impondo ao término de A coragem da luz. Até porque músicas como Futuro / No meio do caminho evidenciam que as batidas são geralmente bem mais originais do que o discurso engajado e positivista que pauta rimas como as de Homem do mundo, faixa (produzida por Vitor Cabral) na qual Criolo faz intervenções nas partes melódicas do tema. Há também originalidade na batida jazzy da autobiográfica A cena, fonograma produzido pelo próprio Rashid com a vigorosa intervenção vocal da cantora Izzy Gordon. Ao versar sobre mundo "onde os pais enterram os filhos", como explicita no interlúdio jazzy Como estamos?, Rashid apresenta álbum atual que investe contra pragas contemporâneas como a intolerância religiosa e o fascismo entranhado em posts do Facebook. E, justiça seja feita, à medida em que avançam as 15 faixas, o álbum A coragem da luz vai ficando mais interessante e mais singular. Os flertes com o R&B em Segunda-feira e o soul em Depois da tempestade - faixa gravada por Rashid com o canto de Alexandre Carlo, vocalista da banda brasiliense de reggae Natiruts - sobressaem em disco que alcança pico de tensão no toque inusual da Orquestra Metropolitana, posto em Quem é, faixa formatada por Skelter. A simples presença de Mano Brown em Ruaterapia legitima o fonograma pilotado por Max de Castro. Gravado sob a direção musical do próprio Rashid, feita com Julio Mossil, A coragem da luz é álbum que bate em teclas de discos anteriores de Criolo e Emicida sem deixar de se revelar um trabalho bem consistente e instigante, de excelente acabamento, efeito da primorosa mixagem de Maurício Cersosimo (em 11 das 15 faixas) e da reluzente masterização feita por Tony Dawsey no estúdio Phantom Mastering, em Nova York (EUA). No fecho do disco, em que o Groove do vilão mixa batida eletrônica com coro infantil, Rashid já se mostra singular o suficiente para seguir pavimentando estrada com passos que são somente dele, embora o caminho seja similar ao de outros manos. Mesmo focado em cânones do hip hop brasileiro, Rashid cresce, aparece e evolui com álbum audaz, cumprindo a missão proposta por A coragem da luz. Foco nele!

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ As participações de Criolo e Mano Brown no estrelado primeiro álbum solo de Rashid, A coragem da luz, dão a medida da atual importância do valente rap do cantor e compositor paulistano Michael Dias Costa, nome emergente no universo do hip hop brasileiro que viveu parte dos 28 anos em Ijaci (MG), cidade do interior das Geraes. Contudo, Rashid - que já está em cena desde 2008, tendo lançado há seis anos o primeiro disco, o EP Hora de acordar (Um só caminho, 2010) - lança o primeiro álbum após os surgimentos de Racionais MC's e, sobretudo, das explosões de Criolo e Emicida nessa cena. Talvez por isso, a salutar audácia de A coragem da luz já soe sem aquela centelha de originalidade que realça a identidade original de um artista, como já sinaliza o introlúdio Cê já teve um sonho?, pontuado por breve toque de tamborim e citação de música de Caetano Veloso, Desde que o samba é samba (1992). Já recorrente no universo do hip hop, a cadência bonita do samba está entranhada no ritmo de DNA - gravação produzida por Damien Seth - e alimenta a sensação de que Rashid por vezes repete fórmulas de manos que chegaram antes. Por mais que soe contundente, o discurso contra o poder consumista e contra o ódio ideológico das redes sociais - feito por Rachid em Laranja mecânica, faixa formatada pelo produtor Marechal com participação de Xênia França - já soa meio déjà vu. O que não tira o mérito do álbum e tampouco do rapper. Subvertendo por vezes a fórmula ao inserir sons tortos ao fim de Reis e rainhas, por exemplo, Rashid acaba se impondo ao término de A coragem da luz. Até porque músicas como Futuro / No meio do caminho evidenciam que as batidas são geralmente bem mais originais do que o discurso engajado e positivista que pauta rimas como as de Homem do mundo, faixa (produzida por Vitor Cabral) na qual Criolo faz intervenções nas partes melódicas do tema. Há também originalidade na batida jazzy da autobiográfica A cena, fonograma produzido pelo próprio Rashid com a vigorosa intervenção vocal da cantora Izzy Gordon. Ao versar sobre mundo "onde os pais enterram os filhos", como explicita no interlúdio jazzy Como estamos?, Rashid apresenta álbum atual que investe contra pragas contemporâneas como a intolerância religiosa e o fascismo entranhado em posts do Facebook. E, justiça seja feita, à medida em que avançam as 15 faixas, o álbum A coragem da luz vai ficando mais interessante e mais singular. Os flertes com o R&B em Segunda-feira e o soul em Depois da tempestade - faixa gravada por Rashid com o canto de Alexandre Carlo, vocalista da banda brasiliense de reggae Natiruts - sobressaem em disco que alcança pico de tensão no toque inusual da Orquestra Metropolitana, posto em Quem é, faixa formatada por Skelter. A simples presença de Mano Brown em Ruaterapia legitima o fonograma pilotado por Max de Castro. Gravado sob a direção musical do próprio Rashid, feita com Julio Mossil, A coragem da luz é álbum que bate em teclas de discos anteriores de Criolo e Emicida sem deixar de se revelar um trabalho bem consistente e instigante, de excelente acabamento, efeito da primorosa mixagem de Maurício Cersosimo (em 11 das 15 faixas) e da reluzente masterização feita por Tony Dawsey no estúdio Phantom Mastering, em Nova York (EUA). No fecho do disco, em que o Groove do vilão mixa batida eletrônica com coro infantil, Rashid já se mostra singular o suficiente para seguir pavimentando estrada com passos que são somente dele, embora o caminho seja similar ao de outros manos. Mesmo focado em cânones do hip hop brasileiro, Rashid cresce, aparece e evolui com álbum audaz, cumprindo a missão proposta por A coragem da luz. Foco nele!

Unknown disse...

Esse álbum tem me consumido os dias. Estava aguardando uma crítica sua e, como na maioria das vezes, não me decepcionei. Ótimas ponderações para um álbum realmente bom.

Leandro Soares disse...

Vou ouvir com atenção ⚠ Leandro

Luca disse...

disco do c... merecia mais estrelas, rap não é tudo igual, é o ouvido classe média dos críticos que ouvem tudo como se fosse a mesma coisa...