Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 11 de março de 2015

Musical de trama folhetinesca ralenta canções de Odair na batida do rock

Resenha de musical
Título: Eu vou tirar você deste lugar - As canções de Odair José
Texto e direção: Sérgio Maggio
Elenco: 
Watusi, Jones de Abreu, Camila Guerra, Luiz Felipe Ferreira, Gabriela Correa,
              Rodrigo Mármore, Tainá Baldez e Renato Milan
Foto: Divulgação / Alexandre Magno

Cotação: * *
Musical em cartaz de quarta-feira a domingo, até 5 de abril de 2015, no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro (RJ) com ingresso a R$ 10 (inteira) e 5


Criado, produzido e estreado em Brasília (DF), sob a direção de seu idealizador Sérgio Maggio, o musical inspirado pelo cancioneiro do compositor goiano Odair José chegou ao Rio de Janeiro (RJ) neste mês de março de 2015 em temporada que se estende até 5 de abril no teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil. A novidade dessa temporada carioca é a substituição da cantora Maria Alcina por Watusi, nome artístico da cantora Maria Alice Conceição, vedete fluminense catapultada à fama nos anos 1970 por ter sido estrela do cabaré parisiense Moulin Rouge. Afastada há anos dos palcos, Watusi volta à cena como a cafetina Madame China na trama folhetinesca de Eu vou tirar você deste lugar, musical que se desvia da rota biográfica seguida pela maioria dos espetáculos do gênero. Sem o objetivo de contar a vida e obra de Odair José, Maggio pôs em cena um enredo inverossímil que gravita em torno do universo do cancioneiro popular do cantor e compositor goiano, alvo de preconceito das elites musicais dos anos 1970. A trama se situa em 1973, ano de repressão. De certa forma, Matias - personagem do ator Luiz Felipe Ferreira - personifica em cena a ideologia de Odair sem chegar a ser um alter-ego do artista. Matias é um jovem que se rebelou contra o sistema - personificado por seu pai, Odilon (Jones de Abreu) - e abraçou a música para veicular seus ideais. No caminho, Matias se depara com drogas, com censura e com a paixão por uma prostituta. Ou seja, estão em cena os arquétipos que compõem o universo das canções de Odair. Mas todas as questões abordadas pela trama são postas em cena de forma rasa. Os conflitos sócio-políticos insinuados pelo texto jamais são aprofundados. Fica a impressão de que o desenvolvimento (superficial) da trama é mero pretexto para a linear exposição das canções de Odair, compositor hábil na comunicação imediata com as classes mais marginalizadas pela sociedade através de músicas que falavam de amor, sexo, solidão e religião com a língua do povo. Desfilam pelo musical sucessos populares como Assim sou eu (Odair José e David Lima, 1972), Esta noite você vai ter que ser minha (José Pereira Jr. e Pisca), Cadê você? (Odair José, 1973), Revista proibida (Odair José, 1973), Eu, você e a praça (Odair José, 1973), Vida que não para (Odair José e Silva Santos, 1972) - exemplo de como o rock também fazia a cabeça de Odair José - e Deixe essa vergonha de lado (Odair José e Andreia Teixeira, 1973), Em elenco sem vozes imponentes, Watusi acaba sobressaindo pela interpretação mais pessoal. No todo, o musical ralenta o cancioneiro de Odair na batida do pop rock, executado em cena pelo quarteto de baixo, guitarra, violão e bateria que divide com o elenco o pequeno palco do teatro I do CCBB da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Com algumas interpretações que beiram a caricatura, o elenco pouco faz por um texto em si pouco sedutor. Além do mais, as canções nem sempre se ajustam ao enredo. É nítida, por exemplo, a artificialidade do entrecho criado ao fim somente para possibilitar a inclusão de Uma vida só (Pare de tomar a pílula) (Odair José, 1973), o maior sucesso da obra do cantor e compositor de Morrinhos (GO). Tampouco o arremate com A noite mais linda do mundo (Donizette e Marcelo, 1974) soa natural. Enfim, falta em cena o componente de verdade e naturalidade que moldou o cancioneiro de Odair José,  superior ao musical genérico que inspirou.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Criado, produzido e estreado em Brasília (DF), sob a direção de seu idealizador Sérgio Maggio, o musical inspirado pelo cancioneiro do compositor goiano Odair José chegou ao Rio de Janeiro (RJ) neste mês de março de 2015 em temporada que se estende até 5 de abril no teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil. A novidade dessa temporada carioca é a substituição da cantora Maria Alcina por Watusi, nome artístico da cantora Maria Alice Conceição, vedete fluminense catapultada à fama nos anos 1970 por ter sido estrela do cabaré parisiense Moulin Rouge. Afastada há anos dos palcos, Watusi volta à cena como a cafetina Madame China na trama folhetinesca de Eu vou tirar você deste lugar, musical que se desvia da rota biográfica seguida pela maioria dos espetáculos do gênero. Sem o objetivo de contar a vida e obra de Odair José, Maggio pôs em cena um enredo inverossímil que gravita em torno do universo do cancioneiro popular do cantor e compositor goiano, alvo de preconceito das elites musicais dos anos 1970. A trama se situa em 1973, ano de repressão. De certa forma, Matias - personagem do ator Luiz Felipe Ferreira - personifica em cena a ideologia de Odair sem chegar a ser um alter-ego do artista. Matias é um jovem que se rebelou contra o sistema - personificado por seu pai, Odilon (Jones de Abreu) - e abraçou a música para veicular seus ideais. No caminho, Matias se depara com drogas, com censura e com a paixão por uma prostituta. Ou seja, estão em cena os arquétipos que compõem o universo das canções de Odair. Mas todas as questões abordadas pela trama são postas em cena de forma rasa. Os conflitos sócio-políticos insinuados pelo texto jamais são aprofundados. Fica a impressão de que o desenvolvimento (superficial) da trama é mero pretexto para a exposição das canções de Odair, compositor hábil na comunicação imediata com as classes mais marginalizadas pela sociedade através de músicas que falavam de amor, sexo, solidão e religião com a língua do povo. Desfilam pelo musical sucessos populares como Assim sou eu (Odair José e David Lima, 1972), Esta noite você vai ter que ser minha (José Pereira Jr. e Pisca), Cadê você? (Odair José, 1973), Revista proibida (Odair José, 1973), Eu, você e a praça (Odair José, 1973), Vida que não para (Odair José e Silva Santos, 1972) - exemplo de como o rock também fazia a cabeça de Odair José - e Deixe essa vergonha de lado (Odair José e Andreia Teixeira, 1973), Em elenco sem vozes imponentes, Watusi acaba sobressaindo pela interpretação mais pessoal. No todo, o musical ralenta o cancioneiro de Odair na batida do pop rock, executado em cena pelo quarteto de baixo, guitarra, violão e bateria que divide com o elenco o pequeno palco do teatro I do CCBB da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Com algumas interpretações que beiram a caricatura, o elenco pouco faz por um texto em si pouco sedutor. Além do mais, as canções nem sempre se ajustam ao enredo. É nítida, por exemplo, a artificialidade do entrecho criado ao fim somente para possibilitar a inclusão de Uma vida só (Pare de tomar a pílula) (Odair José, 1973), o maior sucesso da obra do cantor e compositor de Morrinhos (GO). Tampouco o arremate com A noite mais linda do mundo (Donizette e Marcelo, 1974) soa natural. Enfim, falta em cena o componente de verdade e naturalidade que moldou o cancioneiro de Odair José, superior ao musical genérico que inspirou.