Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 23 de março de 2015

Sá faz barulho ao unir sexo, suingue black e eletrônica em 'BLAM! BLAM!'

Resenha de CD
Título: BLAM! BLAM!
Artista: Jonas Sá
Gravadora: Coqueiro Verde Records / Pommelo Distribuição / RockIt!
Cotação: * * * * 1/2

Ao lançar seu primeiro álbum, Anormal (Slap / Som Livre, 2007), Jonas Sá foi apresentado com pompa ao mercado fonográfico por Arnaldo Antunes em texto escrito pelo ex-titã para integrar o material promocional do disco. Mas o fato é que o cantor e compositor carioca - irmão do guitarrista Pedro Sá - se mostrou normal demais naquele álbum irregular em que Sá pareceu tão somente ecoar o popsambalanço de Lulu Santos. Oito anos depois, Jonas Sá faz enfim barulho bom com BLAM! BLAM!. Em seu segundo (ótimo) álbum, pilotado pelo próprio Jonas Sá com coprodução do mano Pedro, o artista se desvia do trilho pop de Anormal com explosiva mistura de sexo, eletrônica e suingue black - o que justifica a exposição alegórica da genitália feminina na capa criada por Júlia Rocha a partir de foto de Jorge Bispo (e também dos peitos vistos na colagem do poster-encarte assinada pelo artista argentino Molokid). "Ouço a tua carne / O som da respiração / O ranger da cama / Acende a minha emoção", dispara Jonas no canto em falsete de Gigolô (Jonas Sá), faixa introduzida por instrumental à moda do som do cantor norte-americano Barry White (1944 - 2003). A matéria-prima de BLAM! BLAM! é o balanço da música negra norte-americana. Há ecos de James Brown (1933 - 2006) e cia. ao longo das 13 faixas do álbum. É impossível, por exemplo, ouvir Sexy Savannah (Jonas Sá e Ricardo Dias Gomes) sem pensar no suingue funky da música de Prince - até porque a música foi feita em inglês. Mas BLAM! BLAM! passa o balanço dessa música negra pelo filtro contemporâneo da eletrônica. Nesse sentido, Fundo de olhar (Jonas Sá e Alberto Continentino) mostra bem como produtor e músicos beberam da fonte do som da Motown sem cair na tentação de fazer remake desse som em BLAM! BLAM!. As interferências eletrônicas saltam aos ouvidos neste disco quente. Já na música que abre o CD, 8 bit (Jonas Sá), ruídos ocupam os 25 segundos iniciais da faixa até que a voz de Jonas entra em cena para cantar os versos de letra nervosa, tensa. Em sintonia com a inquietude das músicas, a sonoridade de BLAM! BLAM! é incisiva, como mostra a trama de sintetizadores e guitarras que pauta Não vai rolar (Jonas Sá e Domenico Lancellotti), música cantada em uníssono por Jonas com Ana Cláudia. Jonas pilota boa parte dos instrumentos, mas a sonoridade estupenda de BLAM! BLAM! é resultado da junção de dream team de músicos da cena contemporânea. Tocam no disco Alberto Continetino (baixo), Domenico Lancellotti (bateria), Gustavo Benjão (guitarra), Pedro Sá (violão e guitarra), Rafael Rocha (percussão) e Stéphane San Juan (bateria), parceiro de Jonas em J'espère, Adéle, canção levada em francês de tom lânguido. Um dos destaques do repertório inédito e autoral de BLAM! BLAM!, Chat roulette (Jonas Sá e Mariano Marovatto) explicita o conteúdo sexual do disco na batida funky que sustenta o canto próximo do passo do rap. Ruídos eletrônicos esquentam mais o clima da faixa. Em temperatura mais amena, Safo (Jonas Sá) esboça atmosfera de latinidade romântica para mostrar, como diz a letra, o lado feminino do galanteador. Com sonoridade construída apenas com os vocais de Jonas e o baixo acústico de Alberto Continentino, Egoísmo (Jonas Sá) volta a esbanjar testosterona para explicitar nos versos "Só penso em mim / Sumindo / Dentro de você" as verdadeiras intenções do ególatra. Sim, BLAM! BLAM! é um disco que pensa somente naquilo, entranhado em becos maus da Copacabana que serve de cenário noturno para a aventura de sexo e morte narrada por Perdidas na noite (Jonas Sá). O desejo também pulsa e move Ah, Monalisa!, música de Jonas letrada por Arnaldo Antunes no clima do disco. Já Asesino (Jonas Sá) leva BLAM! BLAM! para universo distante - a mente atormentada de um matador - com seus versos em espanhol e levada meio western. Mesmo uma canção de formato mais convencional e (quase) pop, como Tua cor (Jonas Sá), ganha ruídos eletrônicos e o tom vermelho do tesão que impregna o repertório. No fim, Não é adeus (Jonas Sá) promete a volta do artista, funcionando como anticlímax de disco quente, sexual e desbocado. BLAM! BLAM! é disco para quem gosta de cair no suingue do ranger acalorado da cama.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Ao lançar seu primeiro álbum, Anormal (Slap / Som Livre, 2007), Jonas Sá foi apresentado com pompa ao mercado fonográfico por Arnaldo Antunes em texto escrito pelo ex-titã para integrar o material promocional do disco. Mas o fato é que o cantor e compositor carioca - irmão do guitarrista Pedro Sá - se mostrou normal demais naquele álbum irregular em que Sá pareceu tão somente ecoar o popsambalanço de Lulu Santos. Oito anos depois, Jonas Sá faz enfim barulho bom com BLAM! BLAM!. Em seu segundo (ótimo) álbum, pilotado pelo próprio Jonas Sá com coprodução do mano Pedro, o artista se desvia do trilho pop de Anormal com explosiva mistura de sexo, eletrônica e suingue black - o que justifica a exposição alegórica da genitália feminina na capa criada por Júlia Rocha a partir de foto de Jorge Bispo (e também dos peitos vistos na colagem do poster-encarte assinada pelo artista argentino Molokid). "Ouço a tua carne / O som da respiração / O ranger da cama / Acende a minha emoção", dispara Jonas no canto em falsete de Gigolô (Jonas Sá), faixa introduzida por instrumental à moda do som do cantor norte-americano Barry White (1944 - 2003). A matéria-prima de BLAM! BLAM! é o balanço da música negra norte-americana. Há ecos de James Brown (1933 - 2006) e cia. ao longo das 13 faixas do álbum. É impossível, por exemplo, ouvir Sexy Savannah (Jonas Sá e Ricardo Dias Gomes) sem pensar no suingue funky da música de Prince - até porque a música foi feita em inglês. Mas BLAM! BLAM! passa o balanço dessa música negra pelo filtro contemporâneo da eletrônica. Nesse sentido, Fundo de olhar (Jonas Sá e Alberto Continentino) mostra bem como produtor e músicos beberam da fonte do som da Motown sem cair na tentação de fazer remake desse som em BLAM! BLAM!. As interferências eletrônicas saltam aos ouvidos neste disco quente. Já na música que abre o CD, 8 bit (Jonas Sá), ruídos ocupam os 25 segundos iniciais da faixa até que a voz de Jonas entra em cena para cantar os versos de letra nervosa, tensa.

Mauro Ferreira disse...

Em sintonia com a inquietude das músicas, a sonoridade de BLAM! BLAM! é incisiva, como mostra a trama de sintetizadores e guitarras que pauta Não vai rolar (Jonas Sá e Domenico Lancellotti), música cantada em uníssono por Jonas com Ana Cláudia. Jonas pilota boa parte dos instrumentos, mas a sonoridade estupenda de BLAM! BLAM! é resultado da junção de dream team de músicos da cena contemporânea. Tocam no disco Alberto Continetino (baixo), Domenico Lancellotti (bateria), Gustavo Benjão (guitarra), Pedro Sá (violão e guitarra), Rafael Rocha (percussão) e Stéphane San Juan (bateria), parceiro de Jonas em J'espère, Adéle, canção levada em francês de tom lânguido. Um dos destaques do repertório inédito e autoral de BLAM! BLAM!, Chat roulette (Jonas Sá e Mariano Marovatto) explicita o conteúdo sexual do disco na batida funky que sustenta o canto próximo do passo do rap. Ruídos eletrônicos esquentam mais o clima da faixa. Em temperatura mais amena, Safo (Jonas Sá) esboça atmosfera de latinidade romântica para mostrar, como diz a letra, o lado feminino do galanteador. Com sonoridade construída apenas com os vocais de Jonas e o baixo acústico de Alberto Continentino, Egoísmo (Jonas Sá) volta a esbanjar testosterona para explicitar nos versos "Só penso em mim / Sumindo / Dentro de você" as verdadeiras intenções do ególatra. Sim, BLAM! BLAM! é um disco que pensa somente naquilo, entranhado em becos maus da Copacabana que serve de cenário noturno para a aventura de sexo e morte narrada por Perdidas na noite (Jonas Sá). O desejo também pulsa e move Ah, Monalisa!, música de Jonas letrada por Arnaldo Antunes no clima do disco. Já Asesino (Jonas Sá) leva BLAM! BLAM! para universo distante - a mente atormentada de um matador - com seus versos em espanhol e levada meio western. Mesmo uma canção de formato mais convencional e (quase) pop, como Tua cor (Jonas Sá), ganha ruídos eletrônicos e o tom vermelho do tesão que impregna o repertório. No fim, Não é adeus (Jonas Sá) promete a volta do artista, funcionando como anticlímax de disco quente, sexual e desbocado. BLAM! BLAM! é CD para quem gosta de cair no suingue do ranger da cama.

Rafael disse...

Mauro, você pode me confirmar se a relação de faixas do disco é esta?

Jonas Sá

Álbum: "Blam! Blam!" (2015)

Gravadora: Coqueiro Verde

1. 8 Bit (Jonas Sá)
2. Não Vai Rolar (Jonas Sá/Domenico Lancellotti)
3. Gigolô (Jonas Sá)
4. J'Espere, Adele (Jonas Sá/Rô Tapajós/Stephane San Juan)
5. Fundo de Olhar (Jonas Sá/Alberto Continentino)
6. Chat Roulette (Jonas Sá/Mariano Marovatto)
7. Safo (Jonas Sá)
8. Egoísmo (Jonas Sá)
9. Perdidos Na Noite (Jonas Sá)
10. Ah, Monalisa! (Jonas Sá/Arnaldo Antunes)
11. Sexy Savannah (Jonas Sá/Ricardo Dias Gomes)
12. Asesino (Jonas Sá)
13. Tua Cor (Jonas Sá)
14. Não É Adeus (Jonas Sá)

Raffa disse...

Esse disco tá demais. Um dos melhores de 2015, com certeza!