Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Som do grupo Les pops perde fina ironia no segundo álbum, 'Delira e vai'

Resenha de CD
Título: Delira e vai
Artista: Les Pops
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2

Havia no excelente primeiro álbum do grupo carioca Les Pops, Quero ser cool (Discobertas / Microservice, 2011), uma fina ironia que perpassava todo o repertório assinado por Daniel Lopes, Rodrigo Bittencourt e Thiago Antunes. Era uma ironia quase mordaz que tirava onda com os vícios e egotrips do universo indie brasileiro. Em seu segundo álbum, Delira e vai, lançado em edição digital via Coqueiro Verde Records em 26 de janeiro deste ano de 2015, o grupo perde esse traço irônico que o diferenciava na cena pop carioca. É como se o Les Pops estivesse levando mais a sério e dando mais peso ao seu pop rock, que ganha melhor acabamento instrumental, como já sinalizara a música Flecha do tempo (Daniel Lopes), disparada na web em maio de 2014. O próprio Les Pops já passou por transformações significativas ao longo desses quatro anos que separam Quero ser cool de Delira e vai. Um dos três fundadores, Thiago Antunes, debandou. Os remanescentes Daniel Lopes (baixo e voz) e Rodrigo Bittencourt (guitarra e voz) recrutaram o baterista Carlos Salles e o tecladista Maycon Ananias para tocar neste segundo disco do Les Pops como músicos convidados. O que aprimorou o som do grupo. Mais recentemente, a cantora e atriz Luisa Micheletti passou a integrar oficialmente a formação do trio como vocalista. Mas a atuação de Luisa soa discreta no álbum dominado pelas composições e pelos vocais de Daniel Lopes e Rodrigo Bittencourt, cérebros do Les Pops. A voz da cantora até se faz ouvir no Valentine blues (Rodrigo Bittencourt) e na regravação de Samba meu (Rodrigo Bittencourt, 2007), música lançada e usada por Maria Rita como uma carta de princípios e apresentação de seu primeiro álbum de samba, mas Micheletti é coadjuvante na arquitetura de disco sustentado pelas produções autorais e intervenções vocais de Daniel Lopes e, sobretudo, de Rodrigo Bittencourt. Um bom disco que eventualmente soa mais roqueiro do que Quero ser cool em faixas como Adaga, parceria de Daniel com Rodrigo. Este sobressai mais, até porque duas das melhores canções da lavra daquele, Canastra (Daniel Lopes e André Aires) e Na valsa (Daniel Lopes e Mila Bartilotti), são tinham sido lançadas no terceiro álbum solo de Daniel Lopes, Input relâmpago (Coqueiro Verde Records, 2014). A propósito, o teor de novidade das dez músicas de Delira e vai poderia ser maior, já que Santinho (Rodrigo Bittencourt e Thiago Antunes, 2012), também já tinha sido lançada por Rodrigo em seu ótimo terceiro CD solo, Casa vazia (Independente, 2012), em registro mais interiorano do que essa gravação bem mais roqueira do Les Pops, encerrada em clima de jam. Valorizado por sua encorajadora música-título Delira e vai (Rodrigo Bittencourt), o segundo álbum do Les Pops apresenta duas outras músicas de Rodrigo Bittencourt, Anabela (de versos infames, mas de imediata empatia popular, e batida radiofônica que evoca o tecnopop dos anos 1980) e o pop rock Hurricane, que mostram que o Les Pops seduz mais quando perde o pudor de ser... pop.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Havia no excelente primeiro álbum do grupo carioca Les Pops, Quero ser cool (Discobertas / Microservice, 2011), uma fina ironia que perpassava todo o repertório assinado por Daniel Lopes, Rodrigo Bittencourt e Thiago Antunes. Era uma ironia quase mordaz que tirava onda com os vícios e egotrips do universo indie brasileiro. Em seu segundo álbum, Delira e vai, lançado em edição digital via Coqueiro Verde Records em 26 de janeiro deste ano de 2015, o grupo perde esse traço irônico que o diferenciava na cena pop carioca. É como se o Les Pops estivesse levando mais a sério e dando mais peso ao seu pop rock, que ganha melhor acabamento instrumental, como já sinalizara a música Flecha do tempo (Daniel Lopes), disparada na web em maio de 2014. O próprio Les Pops já passou por transformações significativas ao longo desses quatro anos que separam Quero ser cool de Delira e vai. Um dos três fundadores, Thiago Antunes, debandou. Os remanescentes Daniel Lopes (baixo e voz) e Rodrigo Bittencourt (guitarra e voz) recrutaram o baterista Carlos Salles e o tecladista Maycon Ananias para tocar neste segundo disco do Les Pops como músicos convidados. O que aprimorou o som do grupo. Mais recentemente, a cantora e atriz Luisa Micheletti passou a integrar oficialmente a formação do trio como vocalista. Mas a atuação de Luisa soa discreta no álbum dominado pelas composições e pelos vocais de Daniel Lopes e Rodrigo Bittencourt, cérebros do Les Pops. A voz da cantora até se faz ouvir no Valentine blues (Rodrigo Bittencourt) e na regravação de Samba meu (Rodrigo Bittencourt, 2007), música lançada e usada por Maria Rita como uma carta de princípios e apresentação de seu primeiro álbum de samba, mas Micheletti é coadjuvante na arquitetura de disco sustentado pelas produções autorais e intervenções vocais de Daniel Lopes e, sobretudo, de Rodrigo Bittencourt. Um bom disco que eventualmente soa mais roqueiro do que Quero ser cool em faixas como Adaga, parceria de Daniel com Rodrigo. Este sobressai mais, até porque duas das melhores canções da lavra daquele, Canastra (Daniel Lopes e André Aires) e Na valsa (Daniel Lopes e Mila Bartilotti), são tinham sido lançadas no terceiro álbum solo de Daniel Lopes, Input relâmpago (Coqueiro Verde Records, 2014). A propósito, o teor de novidade das dez músicas de Delira e vai poderia ser maior, já que Santinho (Rodrigo Bittencourt e Thiago Antunes, 2012), também já tinha sido lançada por Rodrigo em seu ótimo terceiro CD solo, Casa vazia (Independente, 2012), em registro mais interiorano do que essa gravação bem mais roqueira do Les Pops, encerrada em clima de jam. Valorizado por sua encorajadora música-título Delira e vai (Rodrigo Bittencourt), o segundo álbum do Les Pops apresenta duas outras músicas de Rodrigo Bittencourt, Anabela (de versos infames, mas de imediata empatia popular, e batida radiofônica que evoca o tecnopop dos anos 1980) e o pop rock Hurricane, que mostram que o Les Pops seduz mais quando perde o pudor de ser... pop.

Luca disse...

a banda só é boa se não se levar a sério Mauro, é isso?