Mauro Ferreira no G1

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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Euterpe vai além do sertão e das águas do Norte em 'Batida brasileira 2'

Resenha de CD
Título: Batida brasileira 2
Artista: Euterpe
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * 1/2

Longe demais das capitais, Euterpe - nome artístico de Andressa Nascimento, cantora e compositora natural de Boa Vista, Roraima - vem construindo discografia centrada nos sons do Norte do Brasil, mas não restrita a eles. Gravou três CDs como uma das vozes do Coral Canarinhos da Amazônia, atuou como vocalista da banda Roraima Reggae e iniciou sua obra fonográfica solo, já com o nome artístico de Euterpe, com a edição no fim de 2009 de Batida brasileira, álbum gravado sob a direção artística do produtor roraimense Eliakin Rufino. Batida brasileira foi o primeiro título de trilogia que ganhou seu segundo volume em janeiro deste ano de 2015. Gravado sob direção musical e arranjos do baixista Ney Conceição, Batida brasileira 2 gira ao redor dos sons do Norte, mas expande seu arco geográfico até pontos distantes como a cidade do Rio de Janeiro (RJ), celebrada no samba O Rio é mar, uma das seis parcerias de Euterpe com Eliakin Rufino registradas no disco. Trunfo da faixa, a bossa jazzy do piano de Luiz Otávio Paixão reverbera em outra parceria da cantora com seu produtor, Coração campeão. Há também suingue carioca, de tom mais descolado, no toque dos metais que fazem Loura linda (Euterpe e Eliakin Rufino) - inusitada resposta ao rap Lôraburra, lançado por Gabriel o Pensador em seu primeiro álbum, de 1993 - balançar com ginga. Batida brasileira 2 é disco pautado por tamanha leveza contemporânea no canto de Euterpe e em sua arquitetura instrumental que acaba se desviando dos clichês da música do Norte - ainda que haja salutar brasilidade em faixa como Viola goiana, tema composto por Euterpe a partir de versos do poeta Gilberto Mendonça Teles e gravado com o toque do acordeom de Mestrinho. De certa forma, Batida brasileira 2 abre janela até para o pop em faixas como Alguém, parceria menos sedutora de Euterpe com Eliakin Rufino, sem deixar de marcar posição e território nortistas. Aliás, a opção por abrir o CD com regravação de Sertão das águas (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1990) - faixa de leveza sustentada pela percussão precisa de Robertinho Silva - já explicita de cara a intenção de Euterpe de dar voz às veredas sertanejas do grande Norte do Brasil. Duas faixas depois, Casa de Cesária - a mais bonita melodia dentre as seis músicas assinadas por Euterpe com Rufino em Batida brasileira 2 - cruza o oceano para se banhar nas águas da ilha de São Vicente em música que cita literalmente Cesaria Évora (1941 - 2011), cantora que se tornou embaixatriz musical de Cabo Verde. O álbum também se banha na praia do reggae em Don Juan (Vagabundo), música feita pelo compositor Naldo Maranhão (do Amapá) a partir de versos do poeta britânico George Gordon Byron (1788 - 1824) traduzidos para o português por outro poeta, o paulistano Álvares de Azevedo (1831 - 1852). Contudo, Batida brasileira 2 recusa a nostalgia ou qualquer ranço folclórico. "Entre o passado e o futuro / Fico com o presente", ressalta Euterpe ao longo dos versos de Fico com o presente, mais uma parceria da cantora com Rufino. A letra diz muito sobre o CD. Longe demais das capitais, Euterpe  tenta quebrar a represa que impede que outras águas banhem o grande sertão brasileiro.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ Longe demais das capitais, Euterpe - nome artístico de Andressa Nascimento, cantora e compositora natural de Boa Vista, Roraima - vem construindo discografia centrada nos sons do Norte do Brasil, mas não restrita a eles. Gravou três CDs como uma das vozes do Coral Canarinhos da Amazônia, atuou como vocalista da banda Roraima Reggae e iniciou sua obra fonográfica solo, já com o nome artístico de Euterpe, com a edição no fim de 2009 de Batida brasileira, álbum gravado sob a direção artística do produtor roraimense Eliakin Rufino. Batida brasileira foi o primeiro título de trilogia que ganhou seu segundo volume em janeiro deste ano de 2015. Gravado sob direção musical e arranjos do baixista Ney Conceição, Batida brasileira 2 gira ao redor dos sons do Norte, mas expande seu arco geográfico até pontos distantes como a cidade do Rio de Janeiro (RJ), celebrada no samba O Rio é mar, uma das seis parcerias de Euterpe com Eliakin Rufino registradas no disco. Trunfo da faixa, a bossa jazzy do piano de Luiz Otávio Paixão reverbera em outra parceria da cantora com seu produtor, Coração campeão. Há também suingue carioca, de tom mais descolado, no toque dos metais que fazem Loura linda (Euterpe e Eliakin Rufino) - inusitada resposta ao rap Lôraburra, lançado por Gabriel o Pensador em seu primeiro álbum, de 1993 - balançar com ginga. Batida brasileira 2 é disco pautado por tamanha leveza contemporânea no canto de Euterpe e em sua arquitetura instrumental que acaba se desviando dos clichês da música do Norte - ainda que haja salutar brasilidade em faixa como Viola goiana, tema composto por Euterpe a partir de versos do poeta Gilberto Mendonça Teles e gravado com o toque do acordeom de Mestrinho. De certa forma, Batida brasileira 2 abre janela até para o pop em faixas como Alguém, parceria menos sedutora de Euterpe com Eliakin Rufino, sem deixar de marcar posição e território nortistas. Aliás, a opção por abrir o CD com regravação de Sertão das águas (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1990) - faixa de leveza sustentada pela percussão precisa de Robertinho Silva - já explicita de cara a intenção de Euterpe de dar voz às veredas sertanejas do grande Norte do Brasil. Duas faixas depois, Casa de Cesária - a mais bonita melodia dentre as seis músicas assinadas por Euterpe com Rufino em Batida brasileira 2 - cruza o oceano para se banhar nas águas da ilha de São Vicente em música que cita literalmente Cesaria Évora (1941 - 2011), cantora que se tornou embaixatriz musical de Cabo Verde. O álbum também se banha na praia do reggae em Don Juan (Vagabundo), música feita pelo compositor Naldo Maranhão (do Amapá) a partir de versos do poeta britânico George Gordon Byron (1788 - 1824) traduzidos para o português por outro poeta, o paulistano Álvares de Azevedo (1831 - 1852). Contudo, Batida brasileira 2 recusa a nostalgia ou qualquer ranço folclórico. "Entre o passado e o futuro / Fico com o presente", ressalta Euterpe ao longo dos versos de Fico com o presente, mais uma parceria da cantora com Rufino. A letra diz muito sobre o CD. Longe demais das capitais, Euterpe tenta quebrar a represa que impede que outras águas banhem o grande sertão brasileiro.