Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


domingo, 29 de novembro de 2015

Moyseis escoa no funil ao seguir rota rítmica nacional do EP 'Made in Brasil'

Resenha de EP
Título: Made in Brasil
Artista: Moyseis Marques
Gravadora: Sarau Agência de Cultura Brasileira
Cotação: * * * *

Em setembro de 2013, Moyseis Marques extrapolou as fronteiras do Brasil e gravou na Califórnia (EUA) álbum calcado em voz e violão, Casual solo (Independente, 2014), no qual vislumbrou outros horizontes musicais sob a ótica da própria esquina, gravando reggae (Is this love, Bob Marley, 1978) e standard da canção norte-americana (The very thought of you, Ray Noble, 1934) em repertório que incluía sambas. Dois anos depois, o cantor, compositor e músico mineiro - criado no subúrbio carioca - volta a seguir rota rítmica exclusivamente nacional no EP sintomaticamente intitulado Made in Brasil e lançado neste mês de novembro de 2015 com seis músicas inéditas e autorais. Idealizado, produzido e arranjado pelo próprio Moyseis Marques, Made in Brasil se alinha e se afina com o tom do terceiro álbum do artista, Pra desengomar (Biscoito Fino, 2012), disco inteiramente autoral em que Marques abriu e expandiu parcerias, se firmando como compositor. "Eu sou made in Brasil / Do amarelo ao anil / Passei pela peneira, escoei no funil / Sapequei no forró, fiz samba no trem / Mergulhei na canção  / Mandei voz, violão", enumera em versos de Made in Brasil (Moyseis Marques), a ritmicamente diversificada música que dá nome ao EP gravado na cidade do Rio de Janeiro (RJ) entre agosto e setembro deste ano de 2015. Com bom repertório inteiramente inédito e autoral, o EP Made in Brasil parte do samba, mas vai além dele. O samba é o ritmo recorrente no disco, o ritmo que dita a cadência de Poeta é outro lance (Moyseis Marques), em cuja letra confessional o artista faz balanço lúcido de sua própria importância na música brasileira em versos como "Eu não sou Chico Buarque, nem Paulo Pinheiro, nem Nei, nem Aldir / Mas tenho a minha arte e uma pequena parte para contribuir". O Nei mencionado com admiração por Moyseis Marques é o carioca Nei Lopes, o letrista bamba que assina os versos de Profissional, musicados por Marques no compasso do samba-choro, mas gravados com um toque de samba de gafieira. Made in Brasil não explicita a origem mineira do artista, mas transita com desenvoltura pelos ritmos da nação nordestina. Parceria de Marques com Bena Lobo, A barca dos corações partidos é estilizado ijexá que resvala para o baião sintetizado na década de 40 pelo rei Luiz Gonzaga (1912 - 1989), nominalmente citado na letra da composição, cujo título foi batizado com o nome da companhia teatral que recentemente encenou no Rio o musical A ópera do malandro (Chico Buarque, 1977) com Moyseis na pele do protagonista Max Overseas, o malandro do título. A propósito, os atores-cantores do coletivo fazem coro na gravação. Ainda dentro da nação musical nordestina, Moyseis dá voz ao inflamado xote Madeixa, composto em parceria com Vidal Assis. Os versos erotizados remetem aos arretados temas recorrentes nos ritmos genericamente rotulados como forró. Completando o EP, Juntando os cacos é samba da peste, escrito em ponto de fervura sob ótica feminina e cantado em apropriado tom quente por Laila Garin, cantora e atriz que tem se destacado em musicais encenados no Rio de Janeiro. Quinto título da discografia de Moyseis Marques, Made in Brasil repõe o artista na diversificada rota nacional que o fez desengomar como compositor em 2012, conquistando admiradores ilustres como Chico Buarque.  Moyseis Marques é joia rara que já passou pela peneira e escoou no apertado funil.

10 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Em setembro de 2013, Moyseis Marques extrapolou as fronteiras do Brasil e gravou na Califórnia (EUA) álbum calcado em voz e violão, Casual solo (Independente, 2014), no qual vislumbrou outros horizontes musicais sob a ótica da própria esquina, gravando reggae (Is this love, Bob Marley, 1978) e standard da canção norte-americana (The very thought of you, Ray Noble, 1934) em repertório que incluía sambas. Dois anos depois, o cantor, compositor e músico mineiro - criado no subúrbio carioca - volta a seguir rota rítmica exclusivamente nacional no EP sintomaticamente intitulado Made in Brasil e lançado neste mês de novembro de 2015 com seis músicas inéditas e autorais. Idealizado, produzido e arranjado pelo próprio Moyseis Marques, Made in Brasil se alinha e se afina com o tom do terceiro álbum do artista, Pra desengomar (Biscoito Fino, 2012), disco inteiramente autoral em que Marques abriu e expandiu parcerias, se firmando como compositor. "Eu sou made in Brasil / Do amarelo ao anil / Passei pela peneira, escoei no funil / Sapequei no forró, fiz samba no trem / Mergulhei na canção / Mandei voz, violão", enumera em versos de Made in Brasil (Moyseis Marques), a ritmicamente diversificada música que dá nome ao EP gravado na cidade do Rio de Janeiro (RJ) entre agosto e setembro deste ano de 2015. Com bom repertório inteiramente inédito e autoral, o EP Made in Brasil parte do samba, mas vai além dele. O samba é o ritmo recorrente no disco, o ritmo que dita a cadência de Poeta é outro lance (Moyseis Marques), em cuja letra confessional o artista faz balanço lúcido de sua própria importância na música brasileira em versos como "Eu não sou Chico Buarque, nem Paulo Pinheiro, nem Nei, nem Aldir / Mas tenho a minha arte e uma pequena parte para contribuir". O Nei mencionado com admiração por Moyseis Marques é o carioca Nei Lopes, o letrista bamba que assina os versos de Profissional, musicados por Marques no compasso do samba-choro, mas gravados com um toque de samba de gafieira. Made in Brasil não explicita a origem mineira do artista, mas transita com desenvoltura pelos ritmos da nação nordestina. Parceria de Marques com Bena Lobo, A barca dos corações partidos é estilizado ijexá que resvala para o baião sintetizado na década de 40 pelo rei Luiz Gonzaga (1912 - 1989), nominalmente citado na letra da composição, cujo título foi batizado com o nome da companhia teatral que recentemente encenou no Rio o musical A ópera do malandro (Chico Buarque, 1977) com Moyseis na pele do protagonista Max Overseas, o malandro do título. A propósito, os atores-cantores do coletivo fazem coro na gravação. Ainda dentro da nação musical nordestina, Moyseis dá voz ao inflamado xote Madeixa, composto em parceria com Vidal Assis. Os versos erotizados remetem aos arretados temas recorrentes nos ritmos genericamente rotulados como forró. Completando o EP, Juntando os cacos é samba da peste, escrito em ponto de fervura sob ótica feminina e cantado em apropriado tom quente por Laila Garin, cantora e atriz que tem se destacado em musicais encenados no Rio de Janeiro. Quinto título da discografia de Moyseis Marques, Made in Brasil repõe o artista na diversificada rota nacional que o fez desengomar como compositor em 2012, conquistando admiradores ilustres como Chico Buarque. Moyseis Marques é joia rara que já passou pela peneira e escoou no apertado funil.

Marcos Rizzo disse...

Craque! Esse sabe o caminho. Reverencia Aldir, Nei, PC Pinheiro, Chico Buarque... Não aguento mais "sambistas" influenciados por Arlindo Cruz, Xande de Pilares, Sombrinha, etc.

Vladimir disse...

Oi Mauro

Acho que o "Brasil" do título é com "z"!!

Abraço

Mauro Ferreira disse...

Oi, Vladimir, apesar de a fonte do título do EP dar margem a essa confusão, o 'Brasil' do Moyseis é mesmo com 's'. Abs, MauroF

Anônimo disse...

Acontece que Chico, Aldir e Paulo César Pinheiro não são sambistas. Nada mais legítimo que os sambistas se influenciem nas obras de Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Claudio Jorge, Mauro Diniz, Jovelina Pérola Negra ... O que causa estranheza é existir um grupo de músicos que vivem do samba, infestam a Lapa e outras rodas com apresentações que julgam mais legítimas, justamente por negar no seu repertório a geração de "pagodeiros" surgida no fim da década de 70.

Vladimir disse...

Oi Mauro

É que como na própria "tatuagem" do braço, mostrado na capa, a palavra Brasil esteja gravada com "z", achei que o título também assim seria!

Abraço

Unknown disse...

Moyses é Genial, sou fão da arte dele! Parabéns Mauro pelo teu blog, sou fã demais!

Marcos Rizzo disse...

Putz, PC Pinheiro não é sambista? Escreveu 5 sambas de enredo, foi parceiro de João Nogueira, Mauro Duarte, Baden Powell, etc. Compõe com Moacyr Luz, Eduardo Gudin e de quebra foi casado com Clara Nunes. Além de todos os seus discos serem formados por sambas.

André Luís disse...

Esperando um CD completo, e não essa "amostra grátis" de EP.

Caleidoscópica disse...

Boa tarde a todos.
O Made in Brasil, tem um "S" invertido para mostrar que Moyseis está fazendo um caminho diferenciado, como cantor e compositor, apaixonado pelo samba, mas admitindo novos ritmos, novas formas, um repertório elaborado e que se esquiva da pressa e imediatismo que o mercado sugere. Mas não um Brasil com "Z", pois não tem a ver com americanizar. Nada mais brasileiro que o projeto Made in Brasil. Nada contra o pagode, mas tudo a ver com música de qualidade em qualquer gênero. Porque as pessoas querem rotular? Precisa? É música!

"Recebeu influências das mais diversas vertentes, como a africana, os ritmos nordestinos, o choro, o reggae, ou seja, um verdadeiro liquidificador de ritmos e influências e que decanta com originalidade toda essa massa de informação, transformando tudo isso em música popular brasileira original."