Mauro Ferreira no G1

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domingo, 8 de novembro de 2015

Piadas musicais e políticas dos irmãos Caruso têm graça e variedade rítmica

Resenha de CD
Título: 30 anos de democracia - Que país é este?
Artista: Chico Caruoso e Paulo Caruso
Gravadora: Cedro Rosa
Cotação: * * * 1/2

A política do Brasil sempre pareceu ser uma piada. E Chico Caruso e Paulo Caruso - os gêmeos paulistanos que se irmanam na arte de fazer charge e música - não perdem uma. Piada. No CD 30 anos de democracia - Que país é este?, recém-lançado pela gravadora Cedro Rosa, os irmãos Caruso transformam em sons os escândalos e as situações da política nacional ao longo dos 30 anos de democracia, reinstaurada no Brasil em 1985. Da época de Tancredo Neves (1910 - 1985) - o presidente eleito que nunca assumiu - à era conturbada do governo de Dilma Rousseff, nada escapa da verve dos Caruso. Ao longo das 13 faixas do disco, espécie de caricatura musical dos políticos e da política, os Caruso fazem graça a partir das mazelas do país, atualizando uma tradição de sátira política musical iniciada no Brasil por nomes como o caricaturista e compositor carioca Nássara (1910-1996). A diversidade rítmica do disco impede que a piada fique repetitiva do ponto de vista musical. Tanto que o CD - gravado entre junho e julho deste ano de 2015 com produção musical de João Callado e Papito Mello - começa no ritmo italiano da tarantela e termina com o simulacro de uma bossa nova. A tarantela é o molho apropriado de Pizzolato pizzaiolo (Chico Caruso e Paulo Caruso), deliciosa tirada de onda com Henrique Pizzolato, o ex-diretor do Brasil arrolado na CPI do mensalão. Já a bossa é simulada para destilar a fina ironia de Brasil, país do futuro (Chico Caruso e Paulo Caruso). Entre uma e outra, os Caruso escorrem o óleo sujo da Operação Lava Jato em Delação premiada (Pablo Pessanha) e perfilam com sarcasmo o político mineiro José Dirceu na verborrágica Balada do Zé Dirceu (Balada do Cruzeiro do Oeste), cuja letra parece ser paródia das canções folks de Bob Dylan. Como a banda arregimentada para tocar com os irmãos é ficha limpa, incluindo virtuoses como Ary Dias (percussionista projetado no grupo A Cor do Som) e o próprio João Callado (no cavaquinho), o disco permanece no tom, sem se tornar uma piada do ponto de vista estritamente musical. Incrementada pelo sax tenor de Renato Aroeira, a banda descasca Abacaxi (Chico Caruso e Paulo Caruso) - faixa que cita Isto aqui o que é? (Ary Barroso) na cadência ufanista do samba-exaltação, gênero criado no ditatorial primeiro governo do presidente gaúcho Getúlio Vargas (1882-1954), para fazer a antiexaltação - e cai no suingue jazzístico das big-bands das décadas de 1930 e 1940 em Muda Brasil Tancredo jazz band (Chico Caruso, Paulo Caruso e Reinaldo Figueiredo). Pisando no atualmente minado campo rural, a moda de viola Itamar e Itapior (Chico Caruso e Paulo Caruso) faz troça sertaneja das mazelas do governo do ex-presidente Itamar Franco (1930-2011), comandante do Brasil na primeira metade dos anos 1990. Como o CD foi feito neste ano de 2015, sobra também - claro - para a presidente Dilma Rousseff, (mal)tratada no compasso do blues Cinquenta tons de Dilma e nas síncopes do samba de breque Sondagem (Paulo Pessanha), no qual os Caruso travam fictício diálogo entre Dilma e Lula com versos de duplo sentido político e até sexual. Enfim, Chico Caruso e Paulo Caruso não perdem a piada e ganham o ouvinte insatisfeito com os rumos da balzaquiana democracia brasileira e que se pergunta: que país é este?.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

♪ A política do Brasil sempre pareceu ser uma piada. E Chico Caruso e Paulo Caruso - os gêmeos paulistanos que se irmanam na arte de fazer charge e música - não perdem uma. Piada. No CD 30 anos de democracia - Que país é este?, recém-lançado pela gravadora Cedro Rosa, os irmãos Caruso transformam em sons os escândalos e as situações da política nacional ao longo dos 30 anos de democracia, reinstaurada no Brasil em 1985. Da época de Tancredo Neves (1910 - 1985) - o presidente eleito que nunca assumiu - à era conturbada do governo de Dilma Rousseff, nada escapa da verve dos Caruso. Ao longo das 13 faixas do disco, espécie de caricatura musical dos políticos e da política, os Caruso fazem graça a partir das mazelas do país, atualizando uma tradição de sátira política musical iniciada no Brasil por nomes como o caricaturista e compositor carioca Nássara (1910-1996). A diversidade rítmica do disco impede que a piada fique repetitiva do ponto de vista musical. Tanto que o CD - gravado entre junho e julho deste ano de 2015 com produção musical de João Callado e Papito Mello - começa no ritmo italiano da tarantela e termina com o simulacro de uma bossa nova. A tarantela é o molho apropriado de Pizzolato pizzaiolo (Chico Caruso e Paulo Caruso), deliciosa tirada de onda com Henrique Pizzolato, o ex-diretor do Brasil arrolado na CPI do mensalão. Já a bossa é simulada para destilar a fina ironia de Brasil, país do futuro (Chico Caruso e Paulo Caruso). Entre uma e outra, os Caruso escorrem o óleo sujo da Operação Lava Jato em Delação premiada (Pablo Pessanha) e perfilam com sarcasmo o político mineiro José Dirceu na verborrágica Balada do Zé Dirceu (Balada do Cruzeiro do Oeste), cuja letra parece ser paródia das canções folks de Bob Dylan. Como a banda arregimentada para tocar com os irmãos é ficha limpa, incluindo virtuoses como Ary Dias (percussionista projetado no grupo A Cor do Som) e o próprio João Callado (no cavaquinho), o disco permanece no tom, sem se tornar uma piada do ponto de vista estritamente musical. Incrementada pelo sax tenor de Renato Aroeira, a banda descasca Abacaxi (Chico Caruso e Paulo Caruso) - faixa que cita Isto aqui o que é? (Ary Barroso) na cadência ufanista do samba-exaltação, gênero criado no ditatorial primeiro governo do presidente gaúcho Getúlio Vargas (1882-1954), para fazer a antiexaltação - e cai no suingue jazzístico das big-bands das décadas de 1930 e 1940 em Muda Brasil Tancredo jazz band (Chico Caruso, Paulo Caruso e Reinaldo Figueiredo). Pisando no atualmente minado campo rural, a moda de viola Itamar e Itapior (Chico Caruso e Paulo Caruso) faz troça sertaneja das mazelas do governo do ex-presidente Itamar Franco (1930-2011), comandante do Brasil na primeira metade dos anos 1990. Como o CD foi feito neste ano de 2015, sobra também - claro - para a presidente Dilma Rousseff, (mal)tratada no compasso do blues Cinquenta tons de Dilma e nas síncopes do samba de breque Sondagem (Paulo Pessanha), no qual os Caruso travam fictício diálogo entre Dilma e Lula com versos de duplo sentido político e até sexual. Enfim, Chico Caruso e Paulo Caruso não perdem a piada e ganham o ouvinte insatisfeito com os rumos da balzaquiana democracia brasileira e que se pergunta: que país é este?.